terça-feira, 6 de outubro de 2009

JESUS MORREU POR TODOS?



Por R. C. Sproul

Um dos pontos mais controvertidos da teologia reformada tem a ver com o terceiro item de nossa lista de itens do Capítulo Cinco. É a expiação limitada. Este tem sido um tal problema de doutrina que há multidões de cristãos que dizem que abraçar a maioria das doutrinas do calvinismo, mas saem do barco bem aqui.

Referem-se a si mesmos como os calvinistas dos “quatro pontos“. O ponto que não podem sustentar é a expiação limitada. Freqüentemente tenho pensado que, para ser um calvinista de quatro pontos, é preciso que a pessoa não entenda pelo menos um dos cinco pontos. É difícil imaginar que a pessoa possa entender os outros quatro pontos do calvinismo e negar a expiação limitada. Existe sempre a possibilidade, contudo, da feliz inconsistência pela qual as pessoas sustentam diferentes pontos de vista ao mesmo tempo.

A doutrina da expiação limitada é tão complexa que, para tratá-la adequadamente, seria preciso um volume completo. Nem mesmo dediquei um capítulo inteiro a ela neste volume, porque um capítulo inteiro não lhe faria justiça. Eu pensei em não mencioná-la de todo, porque existe o perigo de que dizer pouco sobre ela seja pior do que não dizer nada. Mas penso que o leitor merece pelo menos um breve resumo da doutrina e assim procederei – com cuidado porque o assunto requer um tratamento mais profundo do que posso conceder aqui.

A questão da expiação limitada tem a ver com a pergunta: “Por quem Cristo morreu? Ele morreu por todos ou somente pelos eleitos?“

Todos concordamos que o valor da expiação de Cristo foi suficientemente grande para cobrir os pecados de todos os seres humanos. Também concordamos que sua expiação é verdadeiramente oferecida a todos os seres humanos. Qualquer pessoa que coloca sua confiança na morte expiatória de Jesus Cristo certamente receberá os completos benefícios dessa propiciação. Estamos também confiantes de que, qualquer que responde à oferta universal do Evangelho será salvo.

A questão é: “Para quem a expiação foi designada?“

Deus mandou Jesus ao mundo meramente para tornar a salvação possível às pessoas? Ou Deus tinha alguma coisa mais definida em mente? (Roger Nicole, o eminente teólogo batista, prefere chamar a expiação limitada de “Expiação Definida”).

Alguns argumentam que tudo o que expiação limitada significa é que os benefícios da expiação são limitados aos crentes que satisfazem as condições necessárias de fé. Isto é, embora a expiação de Cristo fosse suficiente para cobrir os pecados de todos os homens e para satisfazer a justiça de Deus contra todo pecado, ela efetiva a salvação somente para os crentes. A fórmula diz: Suficiente para todos, eficiente somente para os eleitos.

Esse ponto simplesmente serve para nos distinguir dos universalistas, que crêem que a expiação assegurou salvação para todos. A doutrina da expiação limitada vai além disso. Refere-se à questão mais profunda da intenção do Pai e do Filho na cruz. Declara que a missão e morte de Jesus foi restrita a um número limitado – a seu povo, suas ovelhas.

Jesus foi chamado de “Jesus” porque Ele salvaria seu povo de seus pecados (Mt 1.21). O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas (Jo 10.15). Essas passagens são encontradas freqüentemente no Novo Testamento.

A missão de Cristo era de salvar os eleitos. “E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.39).
Não tivesse havido um número fixo de contemplados por Deus quando Ele designou que Cristo morresse, então os efeitos da morte de Cristo teriam sido incertos. E possível que a missão de Cristo tivesse sido uma tristeza e completo fracasso.

A propiciação de Jesus e sua intercessão são obras conjuntas de seu sumo sacerdócio. Ele explicitamente exclui os não eleitos de sua grande oração sumo sacerdotal: “…não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus…” (Jo 17.9). Cristo morreu por aqueles por quem Ele não orou?

A questão essencial aqui diz respeito à natureza da oferta de Jesus. A oferta de Jesus inclui tanto expiação quanto a propiciação. Expiação envolve a remoção que Cristo faz de nossos pecados “para fora” (ex) de nós. Propiciação envolve uma satisfação pelo pecado “perante ou na presença de” (pro) Deus.

O arminianismo tem uma oferta que é limitada em valor. Não cobre o pecado dos incrédulos. Se Jesus morreu por todos os pecados de todos os homens, se Ele expiou todos os nossos pecados e propiciou todos os nossos pecados, então todos seriam salvos. Uma oferta potencial não é uma oferta verdadeira. Jesus realmente fez oferta pelos pecados de suas ovelhas.

O maior problema com a expiação definida ou limitada é encontrado nas passagens que as Escrituras usam referentes à morte de Cristo “por todos” ou pelo “mundo todo”. O mundo por quem Cristo morreu não pode significar a família humana inteira. Deve referir-se à universalidade dos eleitos (povo de todas as tribos e nações), ou à inclusão dos gentios em acréscimo ao mundo dos judeus. Foi um judeu que escreveu que Jesus não morreu meramente por nossos pecados, mas pelos pecados do mundo todo. Será que a palavra nossos refere-se aos crentes ou aos judeus crentes?

Precisamos nos lembrar de que um dos pontos cardeais do Novo Testamento refere-se à inclusão dos gentios no plano da salvação de Deus. A salvação era dos judeus, mas não restrita aos judeus. Onde quer que seja dito que Cristo morreu por todos, algum limite precisa ser acrescentado, ou a conclusão teria de ser o universalismo ou a mera expiação potencial.

A expiação de Cristo foi real. Ela efetivava tudo o que Deus e Cristo pretendiam dela. O desígnio de Deus não foi e não pode ser frustrado pela incredulidade humana. O Deus soberano soberanamente enviou seu Filho para propiciar pelo seu povo.

Nossa eleição é em Cristo. Somos salvos por Ele, nele e para Ele. O motivo para nossa salvação não é meramente o amor que Deus tem por nós. É especialmente baseada no amor que o Pai tem pelo Filho. Deus insiste que seu Filho verá o trabalho de sua alma e ficará satisfeito. Nunca houve a menor possibilidade de que Cristo pudesse ter morrido em vão. Se o homem está verdadeiramente morto no pecado e preso ao pecado, uma mera expiação potencial ou condicional não somente pode ter acabado em fracasso, como muito certamente teria acabado em fracasso.

Os arminianos não têm razão verdadeira para crer que Jesus não morreu em vão. São deixados com um Cristo que tentou salvar a todos, mas na realidade não salvou ninguém.

6 comentários:

  1. Acho todas essas colocações interessantes. Particularmente não sou calvinista, mas tenho a plena convicção de que nosso livre arbítrio encontra limite na soberania divina. Desse modo, também não sou arminiano. Não quero crer que eu escolho o meu destino, pelo que a própria palavra diz que Ele é quem nos escolheu... Também compreendo que o calvinismo não exime o homem da responsabilização pessoal, uma vez que o que é sopesado é a intenção do coração para aplicação do juízo... São discussões muito interessantes, mas, gosto de firmar-me na simplicidade da salvação, relacionado ao aspecto da fé...
    Por que devemos complicar tanto a doutrina da salvação? A salvação resume-se a crer que Jesus foi morto por nossos pecados, cumprindo o propósito da justiça; ressuscitou ao terceiro dia como a primícia dos que dormem; que nos arrebatará nas nuvens e voltará para implementação do Seu Reino... Crer e receber a Cristo como único e suficiente Salvador; ser selado pelo Espírito e ter sua vida e mente transformada a fim de compreender a boa, agradável e perfeita vontade de Deus... Conservar-se na fé, não desviando nem para direita nem para esquerda, buscando diligentemente firmar-se no caminho proposto pelo evangelho, não se movendo facilmente do seu entendimento... Certo que assim, de modo algum, Ele riscará nosso nome do Livro da Vida...
    Gosto de crer nessa simples mensagem bíblica... A doutrina da predestinação pode trazer ao adepto uma sensação de superioridade em relação aos demais pecadores que não são crentes em Cristo... E muito pior ainda é o arminianismo, que pode trazer uma sensação de superioridade ao propósito de Deus e, conseqüentemente, à Sua soberania, em face do livre arbítrio humano: ora é muita pretensão do homem achar que é ele que aceita a Cristo...
    Firmo-me na simplicidade do evangelho... Creio que isso me é suficiente para salvação.

    A paz do Senhor! Excelente texto e muito elucidativo também!

    Jordanny Silva

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  2. Ai... Ultimamente esse assunto de expiação limitada tem dado uma loucura na minha kbça!!!

    "A fórmula diz: Suficiente para todos, eficiente somente para os eleitos."
    Concordo com isso aí, mas já vi alguns (calvinistas de 5 pontos) dizerem que isso está errado. Que, na verdade, o sacrifício de Cristo não é suficiente para todos, que é suficiente e eficiente só para os eleitos.

    E agora???

    Em Cristo,
    Débora Silva Costa
    http://ferazao-bang.blogspot.com/

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  3. Caro irmão, estou seguindo o seu blog. Textos bastantes meditativos e inspirados. Que Eterno te abençoe e continue escrevendo assim...
    Faça uma visita ao meu blog quando tiveres tempo www.caminhandocomgraca.blogspot.com
    Um abraço em Cristo
    Mário Celso

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  4. Graça e paz Jordanny. Obrigado pela visita e pelo comentário. Eu tenho um amigo que diz o seguinte: "Eu não sou nem calvinista e nem arminiano, eu fico com a Bíblia". Eu creio que você está no caminho certo. Por que te digo isso? Eu creio na predestinação e não consigo ver outra alternativa bíblica que me leve a pensar diferente, mas também sei que eu sou livre para tomar decisões que podem alterar a minha comunhão com Deus ou não, entenda bem, comunhão, não perda da salvação. Pois quem é eleito não perde o que Deus já conquistou para ele, mas também não vive na prática do pecado como muitos pensam. Agora, independente de ser calvinista ou arminiano, todos nós dependemos de Jesus.
    Fique na Paz!
    Pr Silas

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  5. prefiro esta expiação limitada que a expiação pregada pelos adventistas. Jesus deu a vida pelas ovelhas, não deu sua vida pelos lobos . Ele comprou multidão de todas as nações tribos e linguas. Não comprou todas as nações tribos e linguas. De sorte que com o coração se cre e com a boca se faz confissão pela salvação, ... mas nem todos crerão. Romanos 10.10 e vseguintes

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  6. Concordo parcialmente com o texto. Creio, segundo a Bíblia, que o Senhor morreu por todos, uma vez que é concenso que o sacrifício vicário do Messias é suficiente para perdão dos pecados de cada ser humano que existiu e existirá nesta terra.

    A questão é que muitos, infelizmente, se recusarão a crer no evangelho, sendo condenados por tal razão.

    Com todo o respeito, rejeito totalmente, segundo meu entendimento bíblico, a crença calvinista de que Deus escolheu alguns para a salvação e outros para a perdição.

    Permeada na onisciênscia divina, está a presciência do Senhor. Ele e somente Ele, sabe de cada um que será salvo e de cada um que será condenado; pois sabe, de antemão, quem o aceitará e quem o renegará.

    Mas isso não significa que Deus elegeu alguns para serem condenados. O Eterno não tem prazer na morte do ímpio e deseja que todos cheguem ao conhecimento da verdade.

    Uma vez que o homem tem arbítrio livre para rejeitar ou seguir a Deus, muitos serão condenados, infelizmente.

    Respeitosamente

    Um abraço em Cristo

    Rodrigo

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