sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A excelência do corpo de Cristo


Por Pr. João A. de Souza Filho

“Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3.10).

Vez que outra é preciso voltar ao tema da Igreja. E Igreja com letra maiúscula, porque sempre que escrevo a respeito da Igreja em sua universalidade e totalidade faço-o com I maiúsculo e quando me refiro a igreja como corpo da localidade ou instituição escrevo-a com i minúsculo. É questão de estética, apenas.

E meus leitores entendem esta didática.

Venho pensando nesses últimos dias sobre a excelência da Igreja, o corpo de Cristo. E veja bem. Não se consegue ver a Igreja olhando-se para o que se imagina ser igreja em nossa nação. Quando tentamos olhar para a igreja, o que vemos? Instituições, denominações, associações, comunidades, igrejas locais, igrejas extra-local, etc. Olhando-se para a materialidade da igreja – quer dizer, tentando vê-la em seu aspecto exterior – o que se vê é um corpo alquebrado, fraco e doentio, destinado ao fracasso, mas, quando nossos olhos espirituais passam além do que é material, conseguimos enxergar a excelência do corpo de Cristo. É um organismo vivo, ativo. Santo.

Essa era a visão de Paulo. Ele conseguia ver a Igreja como agente e comunicadora da “multiforme sabedoria de Deus”. E conseguia vê-la levando a sabedoria de Deus aos governos do mundo espiritual – quer sejam dominações espirituais de Deus ou as dominações satânicas.

Neste sentido não há com o que se preocupar. Até os anjos anelam perscrutar o evangelho que a igreja tem para oferecer ao mundo (1 Pe 1.12), o que indica que os anjos estão atentos à mensagem da Igreja. – Quem sabe decepcionados com o que estão ouvindo dos púlpitos. Por outro lado, ao ouvirem a essência do Evangelho não conseguem entender como uma raça caída é restaurada novamente à imagem e glória do Criador.

Paulo tentou explicar o que é a Igreja e, para tanto usou de várias ilustrações: Lavoura, sacerdócio, nação, edifício, templo, corpo, e, no entanto, não conseguiu – inda que usando essas figuras – explicar a transcendentalidade da Igreja. Somos corpo, mas somos lavoura. Somos templo e somos sacerdócio. Só que não somos de Roma, nem de Salt Lake City, de Istambul, da Grécia, de Londres, de Örebro na Suécia, de Belém, no Brasil, de Madureira, da Convenção do Sul, ou do Norte, de Springfield ou de Nova Iorque, da Congregação ou dos Congregacionais. Não importa se o governo é de presbíteros, de bispos, de apóstolos, pastores ou de patriarcas: As sedes das igrejas instituições e os títulos dizem nada.

Porque não se consegue ver a Igreja através dos vitrais coloridos, das vestes ornamentais, da coreografia, da liturgia, dos nomes, nem mesmo através da simplicidade de galpões, barracões ou de qualquer local que abrigue os cristãos. Costumamos dizer que ali está a igreja, mas nossa mente finita sempre a vê como um grupo particular, sob direção de alguém. Limitada ao tempo e ao espaço.

Quem sabe é preciso meditar no que escreveu Inácio de Antioquia para a igreja de Esmirna: “Onde Jesus está aí está a verdadeira Igreja Católica”.1 Não essa igreja católica de Roma, mas a Igreja Católica, ou Igreja Universal. E não confunda Católica com Roma, nem Universal com a igreja cujo bispo-primaz é Edir Macedo. Entenda: A palavra católica quer dizer, universal.

Exteriormente, quando prego entre os luteranos os irmãos de lá me perguntam a que Sínodo pertenço. Se prego entre os presbiterianos, perguntam de que presbitério faço parte. Quando estou entre os Batistas me perguntam a que convenção pertenço; se na Assembléia de Deus, de que ministério sou. Entre os Metodistas querem saber minha Região e nas Comunidades querem saber quem é minha “cobertura”, porque todos enxergam a igreja pela capa da instituição, pela referência doutrinária dos métodos de batismo, de ceia, da liturgia dos cultos, ou da pretensa “autoridade espiritual”.

E no entanto eu não os vejo pela cor da instituição. Eu os vejo além da estrutura de governo. Pela pequena fresta espiritual de minha limitação humana, consigo enxergar o corpo de Cristo, majestoso, autêntico, perfeito, santo, que ora se manifesta como noiva adornada, ore se apresenta como lavoura viçosa, como templo magnífico, e como edifício imponente; que se manifesta como corpo, e é possível vê-la bela, imponente, a menina dos olhos de Deus!

É essa visão plena que me leva a trabalhar entre meus irmãos da Assembléia de Deus – como fiz nos últimos anos, e como me criticaram por isso – ou no outro extremo com os anglicanos e episcopais. É a partir dessa visão que podemos enxergar os santos em toda parte. E posso lhe assegurar: O corpo é majestoso e perfeito. Basta olhá-lo com olhos diferentes.

As picuinhas, o mau cheiro, a politicagem, a soberba, a vaidade do nome e da tradição não representam a cara da Igreja. Representam, isso sim, a cara da igreja com i pequeno, a igreja pequena, humana e institucional, ainda que com milhões de adeptos, porque a Igreja corpo de Cristo é magnificente e misteriosa. Inigualável, incomparável e indescritível.

É para essa Igreja que trabalho. Porque o Chefe espiritual dela é Jesus, o Filho de Deus.

1 Bruce, F.F. em The Spreading Flame, p 210. EERDMANS, Londres.

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