quinta-feira, 23 de julho de 2009

A relação entre Kierkegaard e apologética


Meus primeiros contatos com o pensamento de Kierkegaard (1813-1855) foram através de leituras apologéticas ortodoxas (Geisler, Turek, Craig, Schaeffer e outros). Via de regra, Kierkegaard é sempre rotulado como alguém que prestou um desserviço ao cristianismo. E em quase todos textos que li, salvo o livro de W.L. Craig, ele é acusado de ser fideísta e irracionalista.

No entanto, quando comecei a ler os textos de Kierkegaard em primeira mão, não segundo os pressupostos dos apologistas, minha visão sobre este apaixonado cristão mudou muito. Há de se entender o contexto de sua época, e suas angustiosas relações com a vida, com a igreja e consigo mesmo, para entender seu pensamento.

Sua repulsa contundente em relação a apologética estava intimamente associada ao seu conceito sobre a igreja luterana estatal dinamarquesa, onde quase se tornou pastor. De acordo com Kierkegaard, a igreja luterana de sua época, tinha transformado a fé cristã em uma religiosidade estática, burocratizada, fria e sem vida. Um de seus biógrafos nos revela que "toda sua vida constitui uma intensa experiência da contraposição entre aquilo que considerava ser o cristianismo em seu significado mais profundo e as roupagens exteriores com as quais se revestia a igreja luterana de seu tempo. Para Kierkegaard, a vivência mais profunda do cristianismo é a vivência e a certeza da fé" (CIVITA, Coleção Pensadores, 1974). O que pensava Kierkegaard sobre a defesa da fé?

"Vê-se agora que extraordinária tolice se comete defendendo o cristianismo, como se trai assim o restrito conhecimento do homem, e como essa tática, ainda que inconsciente, tem, sub-repticiamente, partida ligada com o escândalo, fazendo do cristianismo uma coisa tão lamentável, que por fim é necessário advogar sua causa para o salvar [...] Advogar desacredita sempre [...] Declaro incrédulo aquele que o defenda. Se crê, o entusiasmo de sua fé, nunca é uma defesa, é sempre um ataque, uma vitória: um crente é um vendedor [...] Como admirar-se que a nossa gente, depois disto - por não sentir defensável a própria atitude - sinta necessidade de defender o cristianismo [...] quase como o pastor quando prova em três pontos a eficácia das orações, tanto elas tem baixado o preço que tem necessidade de três pontos para recuperar um pouquinho de prestigio". O que kierkegaard quer dizer?

Ele quer dizer que a maior evidência que se pode dar aos não cristãos, não são os argumentos (ainda que eles sejam importantes a posteriori), mas uma vida absolutamente apaixonada e mergulhada em amor. Kierkegaard ironicamente diz que jamais passará pela cabeça de um verdadeiro apaixonado provar ou defender seu amor em três pontos, visto que alguma coisa vale mais mais que todos os pontos juntos e que qualquer defesa: ele ama. Não diga que amas, ame de verdade e todos saberão!

2 comentários:

  1. Precisávamos viver um cristianismo desinteressado, desapegado. Sem arrogância de"filho do rei". Um cristianismo sal e luz!

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    1. Graça e paz Rubcler.
      Só posso dizer AMÉM as suas palavras.
      Fique na Paz!
      Pr. Silas Figueira

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