Por Leonardo Gonçalves
Cada dia que passa fica mais difícil descrever o cristianismo. São tantas as agremiações, denominações e seitas pseudocristãs, que fica difícil dizer qual instituição representa melhor a "religião" de Cristo.
Tenho que confessar um pecado (ou seria virtude?): Tenho pouquíssima fé nas instituições religiosas. Acredito na igreja universal dos santos, no corpo de Cristo, a noiva do Cordeiro, mas dou pouco crédito à maioria das associações religiosas que conheço. Claro que há exceções; conheço igrejas locais que ainda representam bem o cristianismo, mas devo admitir que elas são bem poucas.
Outra coisa que é difícil descrever é o tal do cristão. O católico acha que é cristão. O evangélico também diz que é. Recentemente conheci um espírita seguidor de Kardec que jura que é cristão. Mas afinal, quem é o cristão, de fato?
Sem dúvida essa é uma das perguntas mais difíceis que já me fizeram, e eu poderia escrever toda uma enciclopédia sobre o tema, e nem assim extinguir o assunto. Cristianismo é um tema intenso, é uma gama de virtudes, de conceitos, de sentimentos, e até de defeitos. Porém, tentarei ser objetivo na minha explanação, e assim expressar um pouco daquilo que, no meu entender, são marcas de um verdadeiro cristão.
Em primeiro lugar, um cristão é alguém com uma convicção profunda acerca de quem ele é. Ele tem um enorme sentido de auto-conhecimento. Sabe avaliar a si mesmo, e o faz com certa freqüência. Na verdade, o Espírito de Deus operou na vida dele de uma maneira tão intensa que retirou aquela máscara que antes havia, levando-o a um encontro com ele mesmo (Jo 16.8). Um cristão sabe que é imperfeito, pecador, insuficiente, dependente. Cristãos verdadeiros não são ególatras, não vivem determinando bençãos, nem se consideram o centro do universo. Antes, são humildes e reconhecem que nada são, exceto Nele (At 17.28; Cl 1.16-17).
Um cristão é também uma pessoa que tem uma convicção profunda acerca de quem Deus é. Tal convicção não é apenas intelectual, mas volitiva e emocional. Ele crê em Deus com todo seu coração, com toda a sua alma e todo o seu intelecto (Mt 22.37), e é isso que lhe confere equilíbrio. Imagine quão terrível seria para um homem conhecer-se tal como é: pecador, injusto, desleal, lascivo, e não conhecer nem ser habitado por aquEle que contrasta todas as nossas vicissitudes com as Suas perfeições. Isso traria ao nosso coração uma profunda angústia. Aliás, essa é a razão porque tem tanta gente suicidando, gente insatisfeita consigo mesmo e com o resto do mundo. Saber que somos maus, e que vivemos em um mundo mau é frustrante. A menos que essa maldade seja contrabalançada pela bondade de Deus, nada mais fará sentido. Mas o cristão sabe que Deus existe, que ele é bom, e que demonstrou essa bondade ao enviar seu filho Jesus para morrer por nós. Deus é aquele que perdoa nossas maldades, e nos ama ainda que sejamos maus. Ele não espera até que sejamos santos para depois amar-nos: ele nos amou quando ainda estamos no pecado (Rm 5.8). E quando permitimos este amor nos envolver, somos transformados por este mesmo amor (2Co 5.17).
Finalmente, creio que um cristão é alguém que aprendeu a ver as pessoas como Deus as vê. Nós precisamos extirpar da nossa mente aquela idéia “religiosa” de que no mundo existem dois tipos de pessoas: As que são boas e as que são más. Nós gostamos das pessoas boas, mas nos afastamos daqueles que são maus. Alguns chamam isso de santidade. Deus chama isso de omissão. Não existem, ao menos aos olhos de Deus, pessoas boas nem pessoas más: existem apenas pessoas arrependidas e pessoas não arrependidas. Cristãos e ímpios não são definidos na esfera da bondade e da maldade. Todos os homens são maus (Rm 3.10). O que separa o cristão do não-cristão é o arrependimento. O cristão é um cara que sabe que é mau, e que fez muita maldade, e por isso precisa de um salvador (que é Jesus). Ele não é um cara bom, mas alguém normal, que luta contra os maus pensamentos, contra os desejos pecaminosos, e apesar de vencer muitas vezes estes desejos, algumas vezes fracassa.
Quando Deus olha para as pessoas, por mais pecadoras e perdidas que elas sejam, ele não as rejeita por causa dos seus pecados: ele as ama, e o faz incondicionalmente. Deus olha para o mundo e vê gente que precisa de carinho, de consolo, de salvação. O cristão é assim também: ele olha para uma pessoa e vê além dos defeitos. Ele vê alguém que precisa ser amado, consolado, que precisa de Deus.
Jesus nos ensina isso. Certa vez, Jesus vinha de percorrer as cidades, sinagogas e povoados, e viu uma grande multidão. No meio daquelas pessoas, tinha gente de toda espécie: adúlteros, ladrões, prostitutas, bêbados... Enfim, todo tipo de gente. Uma multidão de judeus seguindo o rabi. E quem era aquela multidão?
Para Roma, eram um monte de vassalos, filhos de uma nação tributária, um povo escravizado, pequeno e sem muito valor.
Para os discípulos, uma gente azucrinante, que vivia espremendo o mestre em busca de um milagre. Eles eram uma grande dor de cabeça para eles, apenas isso.
Porém Jesus, ao olhar para aquela multidão, viu “ovelhas sem pastor” (Mt 9.36).
Caro amigo,
Como você se vê? Quem é aquela pessoa que você olha todos os dias no espelho? A auto-suficiencia é um engodo pós-moderno que nada tem com o cristianismo. O ímpio pensa que é; o crente verdadeiro sabe que nada é, exceto em Deus.
Quem é Deus para você? Um personagem que preenchia as histórias da infância, ou o Pai amoroso com quem você se relaciona todos os dias? Deus é um conceito mais no seu vocabulário, um mero substantivo, ou é o Deus-homem que morreu na cruz a dois milênios para perdoar os teus pecados?
E quem são os outros, na sua opinião? Vizinhos importunos, pessoas sem importância, ou gente que precisa da sua solidariedade, gente que você deve amar com toda sua força, pois são a imagem de Deus?
Fonte: púlpito cristão
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