Por Thiago Ibrahim
Os Evangelhos nos mostram que o centro
do ministério de Jesus era cumprir a vontade do Pai. Toda sua vida foi
devotada a servi-lo com amor, fazendo tudo conforme o plano de Deus, o
Soberano. Uma das questões que muito têm me trazido à reflexão nesses
últimos dias é a questão do capital envolvido na comunidade cristã, bem
como a forma como ele é tratado em nossa sociedade. O centro da
sociedade da qual fazemos parte é o capital. Compra-se, vende-se, tudo
gira em torno do dinheiro. E é esse o ponto que quero destacar nos
ensinamentos do Mestre sobre a nossa vida.
Quero chamar
sua atenção, leitor, para o que vemos em Mateus 22.15-22, onde Jesus
nos dá uma lição de vida e deixa bem claro que os que ressuscitaram com
Ele procuram as coisas que têm origem no alto (Cl 3.1-2) e sabem
diferenciar o que é para Deus e o que é dessa vida.
No trecho de Mateus em questão os
enviados dos fariseus e de Herodes, que tentavam incriminar Jesus usando
as próprias palavras do Mestre, vêm até Ele e lhe fazem uma pergunta:
“É certo pagar impostos a Cesar ou não?” (v. 17). É importante lembrar
que essa pergunta foi feita com a intenção de acusarem Jesus, dependendo
da resposta, já que o mestre era visto como uma ameaça para o sistema
em questão. Vamos esclarecer um pouco mais o contexto da época: a nação
de Israel estava sofrendo sob o poder de Roma (Herodes era o governador
daquela localidade) e ao mesmo tempo os fariseus – Judeus – esperavam a
vinda de um Messias supostamente libertador político, que livraria
Israel da tirania do governo romano.
Agora, coloque-se no lugar de Jesus
tendo dar uma resposta que não comprometesse um lado nem o outro. Que
resposta você daria? Sua resposta seria evasiva? Você sairia sem
responder à questão levantada pelos fariseus e herodianos? A pergunta
era uma, digamos, pegadinha, já que se respondesse que não, correria o
risco de ser preso como traidor de Roma, já se respondesse sim, seria
visto pelos judeus como apoiador do regime tirano, logo, não seria Jesus
o Messias prometido. Era uma questão difícil.
Continuando a leitura do capítulo você
verá que a resposta de Jesus é a mais surpreendente e profunda de todas.
O Mestre pede que a pessoa que lhe perguntou mostre a moeda que era
usada pra pagar o imposto (1 denário)[1]. Agora Jesus pede que lhe digam
de quem é a imagem que está na moeda e a resposta óbvia é “de César”.
Aí, então, Jesus aplica o golpe de misericórdia respondendo da forma que
só a própria sabedoria saberia responder: “Dêem a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus”. Jesus consegue com isso responder à
pergunta que tinha o objetivo de incriminá-lo e seus acusadores o deixam
admirados com sua sabedoria.
Vimos a maravilhosa sabedoria de Jesus
em se desvencilhar daqueles que procuravam lhe acusar de traidor, porém o
mais impressionante é a grande sabedoria contida na resposta de Jesus e
que podemos aplicar à nossa vida cristã. Vamos refletir sobre o “Dar a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus”?
Quantas vezes nos vemos fazendo o
contrário do ensinamento de Jesus, ou seja, dando a César o que é de
Deus e a Deus o que é de César? Quando fazemos isso demonstramos que
ainda não morremos para o mundo (Cl 3.1), mas estamos vivendo de acordo
com o sistema de valores deste século. E é exatamente essa confusão que
tem feito a igreja dos nossos dias perder sua essência.
A igreja perde sua essência quando nós –
seus membros – achamos que por meio das contribuições financeiras
conseguiremos alcançar o favor de Deus sobre suas vidas e que por
“darmos” a Deus ele é obrigado a nos devolver em dobre ou 7 vezes mais,
como se estivéssemos pagando um tributo a um governante e cobrando de
volta em saúde, saneamento, educação, etc. A igreja perde sua essência
quando em vez de entregar a sua vida a Deus, entrega apenas os seus
bens. Estamos passando por uma crise de identidade por não sabermos
fazer essa diferença. Precisamos entender que o nosso Deus não precisa
de moedas. Ele não deseja só o nosso dinheiro, ele quer toda a nossa
vida.
Em resumo, dar a Deus o que lhe é devido
implica dedicar-lhe não o seu dinheiro, mas principalmente o seu tempo,
a sua vida. Dar a Deus o que lhe é devido implica vivermos uma vida
santa e de comunhão com o Eterno, fazendo o que lhe agrada, buscando em
primeiro lugar os Reino de Deus e sua Justiça e tendo fé de que tudo do
que precisamos para viver nos será concedido conforme sua vontade. Que
vivamos um cristianismo sem César.
Soli Deo Gloria!
[1] O denário – que você pode ver na
imagem que ilustra esse texto – era a moeda corrente no império romano e
que correspondia a 1 dia de trabalho. A palavra dinheiro deriva do daí.
Fonte: Napec
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