Por Pr. Elben César
“Vivo o tempo todo no limiar da derrota.” Eugene Peterson
Eugene
Peterson, 80 anos, professor emérito de teologia da espiritualidade no
Regente College, em Vancouver, Canadá, é autor de vários livros e de uma
paráfrase contemporânea da Bíblia, intitulada “A Mensagem”, publicada
no Brasil pela Editora Vida.
Além de confessar que
vive “o tempo todo no limiar da derrota”, Peterson é suficientemente
honesto para acrescentar: “Coloco todos os dias o amor em risco. Não há
nada em que eu seja pior do que em amar. Saio-me muito melhor na
competição que no amor. Sou muito melhor em responder a meus instintos e
ambições de ir na frente e deixar minha marca do que em entender como
amar meu semelhante. Estou treinado e preparado em habilidades egoístas,
em fazer coisas à minha maneira” (“Um Ano com Eugene Peterson”, p. 35).
Por
causa desse risco e de muitos outros, que variam de pessoa para pessoa,
não há quem não precise fazer orações diferentes daquelas que fazemos
normalmente. Elas seriam como gritos de socorro, orações humildes,
precisas e até mesmo radicais. Elas são necessárias em vista da natureza
humana que nunca muda. Estamos sempre sujeitos a impulsos pecaminosos,
que vêm, vão e voltam. Não se pode negar nem subestimar as “forças
espirituais do mal que vivem nas alturas” (Ef 6.12). Vez por outra nos
encontramos em uma circunstância sufocante. A soma dos acontecimentos
nos leva ao chamado “dia mau” (Ef 6.13), quando a batalha entre a carne e
o Espírito toma grandes proporções.
Todos temos
capacidade positiva (quando ela nos conduz para o bem) e capacidade
negativa (quando ela nos conduz para o mal). Somos capazes de realizar
coisas incríveis de um lado ou de outro. Temos coragem tanto para
entregar nosso corpo para ser queimado em benefício do nome de Jesus
quanto para negar o nome dele em sua presença e no momento em que ele
mais precisa de nós.
Uma pessoa pode assassinar o
próprio irmão por causa de uma explosão de inveja, a exemplo de Caim (Gn
3.10). Pode matar toda a população masculina de uma cidade por causa de
uma explosão de vingança, a exemplo de Simeão e Levi (Gn 34.25). Pode
roubar uma bela capa babilônica, 200 barras de prata e uma barra de ouro
por causa de uma explosão de ganância, a exemplo de Acã (Is 7.21).
A
falta de domínio próprio na área da sexualidade levou os homens de
Sodoma, “tanto os moços como os velhos”, a cercar a casa de Ló para ter
relações sexuais com os anjos que ele hospedava (Gn 19.4-5). Levou Rubem
a deitar-se com a mãe de Dã e Naftali, seus irmãos por parte de pai (Gn
35.22). Levou a mulher de Potifar a caluniar José, porque ele se negou a
ir para a cama com ela (Gn 39.7-20). Levou Davi, o cantor de Israel, a
deitar-se com Bate-Seba, esposa de Urias, um dos seus trinta valentes
(2Sm 11.2-4). Levou Amnom a forçar e violentar Tamar, sua irmã por parte
de pai (2Sm 13.10-14). Levou o cristão de Corinto a possuir a própria
madrasta, o mesmo crime de Rubem (1Co 5.1). O apóstolo Pedro declara que
os falsos mestres com os quais ele lidava agiam por instinto, como
animais selvagens, e não podiam “ver uma mulher sem a desejarem” (2Pe
2.14).
De sã consciência, ninguém tem condições de
dizer que pode dispensar as orações radicais de livramento.
Principalmente aqueles que conseguiram, a duras penas, deixar o álcool,
as drogas, a pornografia e a prostituição, quando tremendamente tentados
a voltar à antiga dependência. Em meio a essa dura batalha, precisamos
olhar para os montes e clamar: “De onde virá o meu socorro?” (Sl 121.1).
As
orações radicais nunca serão feitas por pessoas presunçosas e
autossuficientes, incapazes de admitir a sua fragilidade. Porém, quando
reconhecem que não conseguem negar-se a si mesmas no “dia mau”, elas
dobram os joelhos e fazem as tais orações: Ó Deus, derrota-me! Destrona-me! Dobra-me! Esmaga-me! Submete-me! Vence-me! Amém e amém!
Fonte: Ultimato
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