sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Quando é que o crente de berço é salvo?


Por Maurício Zágari

Eu fui convertido muito tarde na minha vida, já com 24 anos. O curioso é que estudei numa escola de padres dos 10 aos 17 anos e lá tínhamos aula de religião semanalmente. Ou seja, com 18 anos eu conhecia as histórias da Biblia de trás pra frente. Repare no verbo que eu usei: conhecia. Depois, com 18 para 19 anos comecei a frequentar uma igreja de uma certa denominação evangélica tradicional. Gostava dos cultos, achava o pessoal legal e até tocava baixo no grupo de louvor. Mas não vivia em novidade de vida. Não compreendia o Evangelho. Repare no verbo que eu usei: compreendia. Às vezes me pegava me digladiando com o pastor por questões como “por que Jesus cria um pessoa se já sabe que antes de criá-lá que ela vai ao inferno?” ou “por que Jesus teve de sofrer e morrer pra nos salvar, não bastava um decreto divino?”. Eu era intelectualmente interessado pelo Evangelho. A Bíblia pra mim era uma questão cerebral. Com o início da minha vida profissional afastei-me daquela igreja e passei a me dedicar muito à profissão. Até que, enfim, com 24 anos, numa denominaçao pentecostal, fui alcançado pela graça de Deus, após um longo processo de dor (que não cabe relatar aqui agora) e ali eu passei a viver o Evangelho. Repare no verbo que usei: viver.

Então, hoje eu vejo por experiência própria que existe uma grande diferença entre aqueles que frequentam uma igreja: há os que conhecem, os que compreendem e os que vivem Cristo.

Isso me remete aos cristãos de berço. Aqueles que nasceram em lar evangélico. Frequentam a igreja desde sempre, sabem as bistórias da Biblia porque foram à escolinha bíblica infantil, aceitam o sacrifício salvifico de Jesus mas… em que momento de fato são salvos? Porque eu olho em volta e vejo “cristãos”, muitos deles até filhos, netos e parentes de pastores, que não demonstram em suas vidas fruto do Espirito. Não têm paciência. Domínio próprio é algo de que só ouviram falar vagamente Nao promovem a paz, amam uma discussãozinha e uma contenda. E por aí vai.

Além disso, não mostram postura cristã. Nao pacificam, mas botam sempre lenha na fogueira. São insubmissos, rebeldes, respondões, não respeitam seus cônjuges, não oram, não leem a Bíblia, têm zero de devocionalidade, são iracundos… Enfim, podem até não roubar ou matar (o que um bom ateu também não faz) mas não demonstram o comportamento mínimo esperado de um cristão. Não investem tempo orando pelos filhos. Brigam intempestivamente por qualquer coisa. Falam mal dos outros pelas costas. São fofoqueiros. Dificilmente resolvem uma diferença com argumentos e diálogo, mas sim com birras, brigas e bate-bocas. Mas todo domingo, por puro hábito, batem seu cartãozinho de ponto no culto da igreja porque, afinal, foi o que lhes ensinaram que é o certo a fazer. E acham que Deus está feliz da vida com eles – afinal, são de berço evangélico e batizados. Conhecem e compreendem. “Uhu, Jesus me ama”. Mas não vivem esse Jesus.

Como eu passei por essas três fases e conheço bem cada uma e o comportamento de quem se encaixa em cada uma, cometeria a ousadia de dizer que os tais não são salvos. Porque é como diz Tiago 2.18, “Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.” E mais: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e tremem!” (Tg 2.19) Os demônios creem! E tremem! Mas isso é o mínimo. Porque, vamos combinar, fazer uma profissão de fé e se batizar é acoisa mais fácil que tem. Frequentar cultos… basta sentar num banco e às vezes ficar de pé. Agora… viver conforme Cristo determinou no dia a dia, na sua casa, no seu trabalho, com sua família e com os colegas de profissão, no supermercado e no shopping são outros quinhentos bem diferentes. Como o crente de berço reage quando alguém o ofnde? Ou quando pede algo ao chefe no trabalho e recebe um “não”? Ou quando o professor o trata com injustiça na sala de aula?

Abrir mão da sua natureza respondona, egoísta, insubmissa às autoridades, materialista, mimada e tomar a cruz para seguir Cristo, isso sim é o que eu quero ver. Aliás, eu não, Deus.

Muitos e muitos e muitos crentes de berço estarão entre os que no grande e temível dia dirão: “Senhor, Senhor”. E aqui me permitam fazer uma paráfrase apócrifa da Biblia. Os tais chegarão e dirão: “Senhor, nasci de pais cristãos, fui apresentado como bebê na igreja, frequentei os cultos e as escolinhas, fui aos retiros, trabalhei até em departamentos, casei virgem, chorei com as mãos levantadas na hora do louvor e de vez em quando até fazia uma oração”. E, mais uma vez, me atrevo à ousadia de parafrasear apocrifamente o texto das Escrituras e imagino que Jesus responderia: “Você me conhecia e compreendia, mas não me viveu. Pois a cada vez que te chamei para conversar em oração você preferiu ver televisão. Cada vez que você tinha de se submeter às decisões do seu superior hierárquico no trabalho, em casa ou na igreja você o tratou com respostas agressivas e rebeldia. Cada vez que te chamei para ouvir a minha voz você ignorou minha Palavra e preferiu ir ao shopping do que ler as Escrituras. Cada vez que te toquei para ouvir alguém em sofrimento você concluiu que alguma outra pessoa podia fazer isso no seu lugar. Cada vez que você ou um dos teus ficou doente sempre o médico era lembrado antes da oração. Cada vez que te chamei para ler livros que falam sobre mim você deu uma desculpa para não ler e assim aprender mais sobre o padrão de comportamento que Eu queria que você seguisse. Cada vez que te chamei para uma vida de devocionalidade diária você se entregou a uma rotina de atividades materialistas e tinha sempre uma desculpa. Cada vez que te chamei para tirar momentos de reflexão e meditação sobre minhas Escrituras e como aquilo afetava seu comportamento em família, no trabalho ou mesmo em sociedade você preferiu ir ao salão fazer unha, malhar na academia ou simplesmente ficar sem fazer nada”. Ao fim do que o Senhor diria: “Logo, apartai-vos de mim, pois nunca vos conheci”.

A coisa é séria. Se você percebe que na sua igreja há crentes de berço cuja forma de proceder faz o termo “crente” te fazer perguntar “mas crente em quê?” e não são salvos, evangelize-os! Pregue o Evangelho para eles. E repare que não estou dizendo nem “discipule-os”, mas “evangelize-os”. Pois o discipulado vem após a conversão e se esforçar por discipular quem não passou pelo novo nascimento é pura perda de tempo. Pois não se discipula ossos secos. Primeiro a carne tem de cobri-los e por fim o discipulado será feito.

Não adianta tentarmos nos enganar. Há muitos frequentadores de igrejas desde a época em que usavam fraldas, a quem chamamos “irmãos em Cristo”, que não são nossos irmãos em Cristo. Não passaram da morte para a vida. Não estão dispostos a tomar sua Cruz para seguir Cristo. Querem uma vida de moleza. E também moleza espiritual. “Sou crente mesmo, batizado, vou aos cultos, então tá tudo certo”. E mal sabem que no final vão para o inferno.

Duras palavras? E desde quando Jesus disse que a coisa seria fácil?

Diante disso, o que fazer? Orar, meus irmãos. Orar pelos perdidos: aqueles que estão perdidos fora mas também dentro das igrejas. Orar pela conversão dos crentes de berço que conhecem e compreendem mas não vivem. Orar pela salvação da pessoa que está ao teu lado no banco da igreja. Você não sabe. Mas ela pode estar cantando todos os louvores de cor e caminhando a passos largos para o abismo, simplesmente porque vive ela, mas Cristo não vive nela.

E que Deus tenha misericórdia de cada um de nós.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

2 comentários:

  1. Muito interessante o texto, e tem um linhagem de pensamento certa, porém ele está imcompleto. Mas no seu teor original ele está correto, que é sobre "cristãos" não cristãos. Num sentido mais abrangente deveria ser analizado o que é realmente "frequentar a Igreja"?

    Seria reamente possivel, de acordo com a Palavra frequentar uma Igreja? Obviamente que não, já que segundo a Palavra a Igreja é um conjunto de pessoas que fazem parte do Corpo de Cristo. Frequentá-lá não seria possivel já que os verdadeiros cristãos em comunhão são a Igreja. A Igreja orgânica é impossivel de ser frequentada porque o Corpo de Cristo é impossível de ser frequentado. Você simplesmente faz parte dele sem necessidade de frequentar um local.

    A matéria também ficou imcompleta porque não citou os cristãos salvos fora da instituição legal como exemplos a ser dado a estes frequentadores de templos de berço que não são cristãos.

    Ser cristão não implica em: "ser necessário fazer parte de alguma instituição legal, mas sim viver como Cristo viveu". O erro talvez parta das próprias instituições religiosas.

    É natural que um crente de berço pense assim. Faremos uma comparação.
    Um crente afiliado a tal organição religiosa tem um filho que não quer se conveniar, porém o filho é educado, piedoso, dedicado e que vive sobre um intenso amor pelas pessoas, pois sabe faz assim porque assim Jesus mandou. No entanto o pai deste exímio rapaz se sente infeliz porque o filho não quer frequentar o templo, sente que o filho não é cristão por causa disso, pois nao frequenta e nem é conveniado a nenhuma "igreja". Por este fato ele acha que o filho não conhece o evangelho. Depois de muito tentar finalmente ele consegue que o filho se torne membro da "igreja" e que realmente se torne "crente". Então o rapaz agora domingueiro e cheio de sí como "salvo" não sente mais necessidade de amar as pessoas de forma natural. Na maioria das vezes agora ele é amigo da "cobra" pois virou as costas a inúmeras pessoas que lhe haviam sido verdadeiras amigas.Não consegue ser totalmente sicero com aqueles antigos amigos e corta volta dos mesmos. Agora ele nem sempre consegue ser natural como era, por causa da performance necessária que a igreja exige. Ele afinal tinha se tornado um hipocrita fariseu, e o pai dele estava orgulhoso pois afinal tinha ensinado o "caminho" da salvação ao rapaz.

    Infelizmente é assim a psicologia da irmandade. Com certos rituais de práticas e costumes eles acham que se eximem de praticar a perfeição cristã, a piedade, amor e misericórdia.

    Mas este erro vem da propria instituição. Ela deve dizer firmemente.

    --- Não é necessário que venham até aqui, contanto que pratiquem a caridade, comunhão com os outros irmãos, etc etc. Este aqui é apenas mais um lugar como qualquer outro, aqui não é a casa de Deus. Procurem por ele dentro de vocês mesmo. Falem com ele da onde estiverem.

    A verdade é esta, mas ninguém quer dizer.
    Seguir a Jesus não é suficiente para os cristãos atuais, eles tem que ser conveniado a algum tipo de clube gospel. Alguma invencionice para o controle da massa. Paulo não pregava nem ao menos abria filial aonde o evangelho já havia chegado por outra pessoa. Não era intenção dele a sucesso das Igrejas Paulinas, mas apenas levar o nome de cristo.
    Hoje o que se vê e a necessidade carnal de muitos irmãos de levarem o logotipo de suas instituições aonde já existem outras milhares, pois para ele seria uma vergonha o nome da tal instituição não aparecer na ultima pesquisa de organizaçoes religiosas com mais membros. De certa forma pregam a Jesus por competição.

    O erro é da propria religão. Não devem reclamar. O frequentar um templo é tido por milhões de cristãos como de fato estar servindo a Deus. E isso é um erro das "igrejas".

    Deus abençoe

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  2. Graça e paz Elias.
    Eu entendi muito bem o seu posicionamento, mas o Zágari está falando sobre pessoas que muitas vezes são criadas dentro de uma instituição cristã ou até mesmo são filhos de crentes em Jesus, mas eles mesmos nunca tiveram uma experiência real de conversão. São jovens que muitas vezes estão acostumados com aquele ambiente e vivem no que foram ensinados, mas vivenciam isso como uma experiência transformadora e real do agir do Espírito Santo em suas vidas.
    O estar em uma "igreja", templo, não quer dizer que a pessoa esteja servindo a Deus, mas o prazer de estar na presença de Deus muitas vezes, ou a maioria das vezes, nos levam a estar em um templo. Mas não é necessário um templo para servir a Deus, isso ainda é resquício da cultura católica em nosso meio.
    Fique na Paz!
    Pr. Silas Figueira

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