sexta-feira, 18 de março de 2011

O valor das doutrinas


Por Charles Colson e Anne Morse

Quando paramos de levar a sério as verdades históricas da igreja, enfraquecemos nosso testemunho, geralmente com grandes consequências.

“Nós caímos em um abismo no qual a reafirmação do óbvio é o primeiro dever do homem inteligente”. Escritas em 1939, as palavras de George Orwell parecem ser endereçadas aos líderes da igreja biblicamente iletrada de hoje.

A coisa mais óbvia a ser dita sobre o Cristianismo é que ele se apóia em fatos históricos: a Criação, a Encarnação, e a Ressurreição. Desde que nossas doutrinas sejam uma reivindicação da verdade, elas não podem ser meros simbolismos. É importante lembrar a forma como celebramos a Ressurreição, que geralmente é ofuscada pelo esplendor da Páscoa.

Para mim, é evidente que a doutrina é importante. Há alguns anos, eu visitei o Sri Lanka, logo depois de o bispo anglicano David Jenkins ter rejeitado a doutrina da Ressurreição como uma “brincadeira mágica com os ossos” (mais tarde foi revelado que ele havia citado um texto erroneamente). O líder do nosso ministério, que me acompanha palas prisões do país, disse que a notícia custou muitas conversões, porque budistas e hindus usaram isso para convencer as pessoas de que o Cristianismo é baseado em uma simples travessura.

Claramente, quando nós paramos de levar a sério as verdades históricas da igreja, nós enfraquecemos nosso testemunho, geralmente com grandes consequências. Por exemplo, grupos de estudantes islâmicos fazem proselitismo afirmando que os cristãos adoram três Deuses: Pai, Mãe, e Filho. De onde eles tiraram essa ideia? Dos cristãos egípcios do século VII, que abandonaram a Bíblia e abraçaram essa heresia.

Um estudo do Pew Forum on Religion and Public Life, feito a alguns anos,revelou uma excessiva ignorância doutrinária entre os cristãos americanos. 57% das pessoas acreditam que pessoas que seguem outras religiões poderão usufruir a vida eterna. O resultado foi tão inesperado que o fórum repetiu o estudo, perguntando questões mais específicas. As respostas permaneceram inalteradas. Surpreendentemente, cerca da metade disse que qualquer um, inclusive ateus, irão para o céu. Céu para o ateu? Essa é a antiga heresia do universalismo.

A indiferença às verdades do evangelho é percebida em outras esferas também, como entre as pessoas que é defendem os “fatos, e não a crença”, e na infinita discussão sobre as novas formas de “entender” ou “fazer” teologia. Alguns aderem à antigas heresias, que dizem que as doutrinas devem ser extraídas de experiências íntimas, de sentimentos pessoais. Isso é uma versão do Gnosticismo.

Há aqueles que querem adaptar o Cristianismo a era pós-moderna, ou desenvolver sua teologia publicamente com não-cristãos, ajudando a formular o resultado. Sim, nós precisamos contextualizar a mensagem para que as pessoas do nosso tempo e cultura entendam a verdade que nós proclamamos. Mas isso é radicalmente diferente de mudar a verdade cristã que os pais da igreja definiram em seus concílios.

Como um repórter noticiou, mesmo quando os cristãos conhecem as doutrinas verdadeiras, eles temem dizer a verdade com receio de ofender os outros. Por quê eu deveria impor minha verdade aos outros? É um pensamento que define muitos de nossos crentes.

É por isso que J. I. Packer, no seu octogésimo aniversário, disse que o grande desafio dos evangélicos é recatequizar nossas igrejas. Mais do que nunca, os cristãos precisam ter a capacidade de falar corajosamente sobre a esperança que eles escondem dentro de si.

É claro que a fé pessoal é importante, mas não é suficiente. E sim, a doutrina tem sido ensinada de forma seca e insatisfatória. Mas como Dorothy Sayers notou, uma vez que nós entendemos o que as doutrinas cristãs ensinam, “O dogma é o drama”.

A determinação de restaurar a fé ortodoxa – a fé que “de uma vez por todas foi entregue” (Jd 1.3) – nos leva a Reforma, de quem nós somos herdeiros. Uma nova ênfase na doutrina ortodoxa poderia, também, transformar a igreja e a cultura atual.

Há alguns anos eu visitei Atenas e escalei uma rocha chamada Monte de Marte. Eu fiquei no lugar onde eu imaginava que Paulo tinha se confrontado no Areópago, o sábio homem no centro cultural do mundo. Paulo desafiou os atenienses referindo-se à sua própria cultura e seus falsos altares, e depois pregou o evangelho, proclamando que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos.

É a mesma mensagem que eu prego nas prisões hoje em dia. Eu penso que é bem mais divertido permanecer em uma crença que dura dois mil anos do que pular de uma para outra.

Poucas pessoas aceitaram o convite que Paulo fez naquele dia para seguirem Cristo. Mas bilhões seguiram Paulo desde aquela época porque Cristo tem um poder inevitável. Ele tem o poder de impedir que Satanás controle nossas almas e de transformar alegremente nossas vidas.

Orwell estava certo: em uma crise, nós geralmente temos o dever de reafirmar o óbvio. E a Páscoa é um bom momento para os cristãos reverem sua confusão doutrinária, irmã das verdades óbvias do Cristianismo.

O maior desafio dos cristãos atuais é não reinventar o Cristianismo, mas descobrir seus ensinamentos mais importantes.

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