sexta-feira, 18 de março de 2011

O encolhimento da alma de Darwin


Por John Piper

Depois de beber por muito tempo nas cisternas rachadas dos prazeres da vida mundana, muitos perderam quase toda a capacidade de alegra-se em Deus — muito parecido com o que aconteceu com Charles Darwin. Perto do fim da vida, ele escreveu uma autobiografia para seus filhos, e expressou uma queixa:

Até a idade de trinta anos ou um pouco mais, a poesia em suas muitas formas deu-me grande prazer, e já como menino na escola eu gostava muito de Shakespeare.

Antes eu me deliciava consideravelmente em quadros, e muito em música. Agora, já há muitos anos, não consigo ler uma linha de poesia sequer: tentei ler Shakespeare, e ele pareceu-me tão bobo que me deu nojo. Igualmente, perdi todo gosto por quadros ou música. Conservei algum gosto pelas paisagens, mas já não me dão prazer especial como antigamente.

Minha mente parece ter-se tornado uma máquina que extrai leis gerais de grandes compilações de fatos, mas não consigo imaginar por que isso causou a atrofia apenas daquela parte do cérebro da qual os gostos mais elevados dependem. A perda desses gostos é a perda de felicidade, e pode prejudicar o intelecto, talvez até o caráter moral, enfraquecendo a parte emocional da nossa natureza.

Os cultos de adoração por todo o país apresentam as cicatrizes desse processo. Para muitos, o cristianismo tornou-se a extração de leis doutrinárias gerais de coletâneas de fatos bíblicos. Todavia, o espanto e admiração infantis morreram. A paisagem, poesia e música da majestade de Deus secaram como um pêssego esquecido no fundo da geladeira.

E a ironia é que auxiliamos e aumentamos o processo de encolhimento ao dizer às pessoas que não devem buscar seu próprio prazer, especialmente na adoração. Damos a entender de mil maneiras que a virtude de uma ação diminui na proporção em que você gosta de fazê-la, e que fazer algo porque o deixa feliz é mau. Essa noção paira como um gás na atmosfera cristã.

Fonte: O Cristão Hedonista

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