João A. de Souza filho
“Da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra”
Vez que outra me deparo com as fraquezas dos homens e mulheres de Deus do passado, apresentados na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11. Qualquer pregador e escritor inteligente poderá desconstruir e falar negativamente das vidas de Abraão, Isaque e Jacó; qualquer pregador, se quiser, poderá pincelar de preto e branco a vida de Davi e descolorir a beleza dos personagens da Bíblia. Se alguém quiser desacreditar a vida e a biografia de cada pessoa citada em Hebreus, terá argumentação suficiente para fazê-lo.
Todos cometeram erros. Noé, o grande intercessor, vacilou, embriagou-se, e amaldiçoou o seu filho. Abraão, o amigo de Deus, diante dos reis, temeu e mentiu. Isaque também. Jacó, e os patriarcas – exceção de José – foram enganadores e mentirosos. Gideão se prostituiu espiritualmente fazendo uma estola sacerdotal. Davi, homem segundo o coração de Deus, no auge do reino adulterou e foi homicida. Salomão, que de Deus recebeu tanta sabedoria e conhecimento, cedeu ante os prazeres da carne.
É preciso ler Hebreus 11 pela ótica de Deus. Eram pessoas que fraquejaram? Sim! E como fraquejaram! Mas Deus não os vê como nós os vemos. Deus os vê como seres humanos, sujeitos a fraquezas; e os vê como pessoas de fé, e vencedoras. A vida desses personagens é-nos exposta como exemplo de fé que supera a fraqueza. Estão ali para nos incentivar a seguir na jornada da vida cristã, apesar das fraquezas.
As fraquezas tendem a levar ao desânimo, e a única maneira do obreiro ser um vitorioso, é aprender a depender de Deus em tudo o que faz, pois a coisa que Deus mais valoriza nos seus servos é a humildade seguida de quebrantamento. Quantos de nós oscilamos e lutamos todos os dias entre a unção e a fraqueza? Sentimos que estamos cheios do Espírito Santo, que temos poder; admiramo-nos de que os demônios se agitam com nossa presença, curamos os enfermos e profetizamos, fazemos obras gloriosas e, no entanto, cedemos diante do pecado. Uma verdadeira guerra se trava dentro de nós. Unção e fraqueza convivem lado a lado – dentro de nós, numa luta sem tréguas!
Um místico, citado por Arintero disse: “Às vezes Deus deixa nos melhores santos algumas fraquezas e, por mais que queiram não conseguem desvencilhar-se delas, nem corrigir-se, para que sintam sua própria fraqueza, e ver o que seriam sem a graça de Deus. Só as fraquezas impedem que nos vangloriemos dos favores que de Deus recebemos... Não devemos, pois, nos inquietar nem nos entristecer pelas faltas que poderíamos cometer – como fazem os orgulhosos que se turbam e desmaiam quando miram suas fraquezas – mas tirar delas forças.” 1
Cuidando do nosso caminhar
Quero exemplificar a questão da fraqueza usando a visão que Ezequiel teve dos querubins. O profeta descreve os querubins como seres diferentes, com seis asas. Com duas asas cobrem o rosto, com duas cobrem os pés e com as outras duas voam. Imagino que encobrem o rosto por serem belos, e precisam encobrir os pés, por causa da imperfeição. Ainda que seus pés brilhem como o bronze polido, os querubins têm pés de vaca! A Bíblia diz que são de bezerros! “As suas pernas eram direitas, a planta de cujos pés era como a de um bezerro, e luzia como o brilho de bronze polido” (Ez 1.7). Quer dizer, têm pernas de homem, mas pés de bezerro! Imagine-se um homem, com pé de vaca!
A glória que brilha sobre seus rostos serve para esconder a fraqueza!
Nossos pés, ao que se depreende das Escrituras também são símbolos de imperfeição, e Deus quer que nos apresentemos diante dele como somos. Os sapatos que usamos encobrem a feiúra de nossos pés. Nenhum homem, ao que parece gosta de expor seus pés; não os acha belo. Por isso usa os melhores calçados, não apenas para escondê-los e protegê-los, mas também para poder caminhar mais confortavelmente. Moisés apresenta-se calçado diante da sarça e Deus lhe pede que se aproxime descalço! Josué está diante do anjo, calçado, pronto para a guerra e este pede que Josué tire os sapatos: “Descalça as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é santo” (Js 5.15). Os pés falam de nosso caminhar e da nossa imperfeição. Por isso queremos protegê-los.
Paulo afirma: “E os que nos parecem menos digno no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra” (1 Co 12.23). Se um homem estiver vestido de finos trajos, mas os sapatos estiverem sujos, não combinando com a cor ou se o homem estiver descalço, toda perfeição e beleza da pessoa desaparecem pela feiúra dos pés!
Assim somos nós, os obreiros. Somos fracos quando estamos diante de Deus e do povo. Temos uma aura de glória celestial sobre nossas cabeças quando pregamos o evangelho, e os pés empoeirados da caminhada. No entanto, como um querubim que, apesar de tanta glória tem pés como de bezerro, os pés dos pregadores recebem o brilho celestial que encobre sua imperfeição! Parece que Deus vê os nossos pés sob o ângulo de sua glória: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7).
O obreiro pode recender ao perfume de Deus, ao brilho de sua glória, mas Deus sempre deixa um quê de imperfeição para mantê-lo humilde diante dele. Na vida familiar uma esposa que não entende seu ministério; um filho que se desvia; um negócio que emperra; uma calúnia que o atordoa; um pecado do qual não consegue se desvencilhar; qualquer coisa, para que olhe para seus pés e se envergonhe de sua imperfeição. O obreiro quando olha para o espelho e vê refletido nele a glória de Deus tem a tendência de se exaltar, mas ao olhar para os seus pés, não pode fazer outra coisa senão chorar!
Paulo poderia se gloriar das tantas revelações e visões.
Paulo tinha uma fraqueza; os pregadores e santos têm fraquezas. Os santos caminham com fraquezas. Deixe-me dizer isto: Certas marcas de pecado jazem em nossa mente a fim de lembrar-nos de que somos salvos e vivemos por causa da graça de Deus. Paulo orou três vezes - mas Deus não afastou a imagem que o oprimia. Deus conhecia a fraqueza de Paulo e indicou-lhe que teria de conviver com ela toda a vida. A resposta de Deus?
“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo...” (2 Co 12.9).
“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7). A glória opera em vasos imperfeitos! E nossa imperfeição está ali, apontando para nós, dizendo-nos que precisamos de Deus, sempre!
Deus deixa certas falhas nos seus filhos para que aprendam a depender exclusivamente dele. A glória e a graça de Deus vêm sobre nós escondendo nossas fraquezas. Assim como os pés de bezerro - feios - brilham com a glória de Deus, nosso caminhar é santificado por sua glória! Todos os que aparecem na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11 possuíam fraquezas: Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, etc. Algumas, fraquezas inadmissíveis hoje pela liderança da igreja!
Sara é lembrada por sua fé, e não porque duvidou. Abraão, por sua fé, e não porque mentiu. Noé por sua fé, e não porque se embriagou e amaldiçoou o filho.
Uma frase do escritor aos Hebreus resume a vida desses heróis da fé: “da fraqueza tiraram força” (Hb 11.34).
No meio das tribulações - sejam elas devido a erros cometidos, a falhas humanas ou vindas diretamente de Satanás, o peso de glória é eterno, acima de toda comparação (2 Co 4.18). Porque a glória que sobre nós brilha vem de Deus. Apenas refletimos a glória dele!
Pois o que de Deus recebemos é depositado em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa!
1 [i]ARINTERO, Padre I.G. notas e rodapé, La Evolución Mística,Vol. 91 p. 418 – BAC – Espanha
Fonte: pastor joao
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