sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um Cristianismo simples



Por Robson T. Fernandes

Antes de qualquer coisa é preciso entender que em primeira ou em última instâncias todo cristão terá seu conjunto de crenças, mesmo que este não receba um título teológico formal. Isso é o resultado natural e decorrente do estudo da Bíblia.

Alguém que estuda a Bíblia sempre terá uma opinião sobre quem é Jesus, Deus, Trindade, Inspiração, Salvação, volta de Cristo etc., e o fato desse conjunto de pensamentos receber um título teológico não significa que o cristianismo está perdendo a sua simplicidade.

Portanto, o problema não está, tão simplesmente, no título que se dá a doutrina, mas ao conteúdo desta. Então, a questão que diz respeito ao estudo das doutrinas bíblicas diz repeito sim, diretamente, a forma como se vive o cristianismo. A manifestação do simples cristianismo, como muitos colocam, implica diretamente na prática do entendimento que se tem do que é cristianismo, ou seja, da doutrina – e isso nem sempre é tão simples assim. Alguns dizem que Cristo se preocupava apenas com a restauração da vida eterna e do relacionamento sadio dos membros da humanidade. Mas, o fato é que Ele o fazia com base no conjunto de doutrinas reveladas no AT, que são a sombra do conjunto doutrinário revelado do NT. Um belo exemplo disso é o estudo do conteúdo e da mensagem de Suas parábolas, a exemplo de Marcos 4:12. Essa restauração da vida eterna e do relacionamento sadio dos membros da humanidade, como muitos colocam, era feita de forma doutrinária e nem sempre era tão fácil assim de se compreender, como os próprios discípulos Lhe afirmaram: “E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?” (Mt 13:10).

Além do mais, o estudo sistemático da Bíblia faz parte da manifestação do simples cristianismo. Portanto, vamos continuar estudando os diversos assuntos bíblicos, recebam eles título teológicos formais ou não. Isso deve fazer parte de um cristianismo simples mas ao mesmo tempo sadio, especialmente porque existe uma diferença entre ser um cristão simples e ser um cristão desconhecedor dos princípios cristãos, recebam eles títulos teológicos ou não.

Quando alguém critica o estudo bíblico teológico, afirmando que isso põe a perder a simplicidade do cristianismo, está, ao mesmo tempo, ensinando que o estudo de assuntos doutrinários não é tão importante assim, o que de fato não condiz com a realidade. Alguns dizem que estas diferenças interpretativas são insignificantes. Isso também não condiz com a realidade dos fatos bíblicos e nem com a história do cristianismo primitivo. Vou explicar:

1. As parábolas de Jesus eram realmente difíceis de entender, inclusive pelos próprios discípulos que estavam habituados com a leitura do AT (Mc 9:32);

2. Os textos do apóstolo Paulo nem sempre são tão simples e fáceis de se compreender, como alguns pensam. Vejamos o exemplo de Romanos 9;

3. O Apocalipse, escrito pelo apóstolo João, o amado, não é tão simples assim;

4. O próprio apóstolo Pedro reconhece a dificuldade e a falta de “simplicidade” de alguns aspectos importantes que fazem parte do cristianismo, em 2Pe 3:16.

Então, diante de tudo o que foi dito, eu entendo que o ser humano tem a liberdade e o direito de pensar, mas ninguém poderá dizer que os conceitos da teologia são insignificantes, porque todo ser que lê a Bíblia forma um conceito com base na sua própria interpretação. Então, se está ignorando a interpretação de um teólogo de modo formal, está formando sua própria teologia de modo informal. Ninguém que estude a Bíblia com seriedade poderá afirmar que o estudo de assuntos bíblicos, sejam eles fáceis ou complexos, deve ser visto como perda da simplicidade do cristianismo, porque na verdade, na verdade mesmo, nem sempre é tão simples ser cristão. Se ser cristão fosse tão simples assim não teríamos a gama de diferenças existentes hoje, especialmente no cenário brasileiro. E tudo isso porque muitos querem viver um suposto “cristianismo simples” e sem atentar para a importância de sua complexidade em muitos aspectos doutrinários.

Por último, entendo que o cristianismo deve ser vivido de forma simples (me refiro a simplicidade de vida), mas, não nos termos que muitos têm colocado em nossos dias para respaldar a ignorância, descaso, ausência de saber, privação e abstinência de um conhecimento bíblico coerente.

Espero ter contribuído com algo.

Deus lhe abençoe em Cristo.

Fonte: NAPEC

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