Por Fabio Campos
Grande parte da igreja tem dado pouca importância a um assunto tão importante, a saber, o divórcio seguido do novo casamento. Esta é uma questão recorrente que demanda a opinião dos líderes e dos pastores no seio da igreja.
Ao ser perguntado a respeito, julguei não ser bom dar uma resposta simplista, e por isso me empreendi no estudo deste artigo. Uma obra que me ajudou a elaborar este estudo foi “Casamento, Divórcio e Novo Casamento”, do Rev. Hernandes Dias Lopes. No decorrer, os irmãos vão perceber (pelas referências bibliográficas) que tirei muita coisa deste livro.
Com temor me propus a estudar e escrever o artigo, a fim de ajudar aqueles que, em certo ponto, estão ou passaram, por tal situação. Como é da obrigação de todo cristão, tudo deve ser tratado a luz da Bíblia, buscando conhecer a vontade de Deus, a qual é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2). Toda e qualquer opinião que contradita as Escrituras, para o bem de nossa alma, deve ser rejeitada com veemência, como está escrito: “... seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3.4).
A Palavra de Deus é mais importante do que a opinião dos homens. As ciências humanas, as escolas psicológicas, a doutrina dos ativistas sociais, a opinião dos terapeutas e conselheiros matrimoniais devem se sujeitar à autoridade absoluta da verdade divina. O tempo passa, os costumes mudam, os valores morais se alteram, mas a Palavra de Deus permanece para sempre [1]. O sábio tem a mente de Cristo. Então, o que Deus pensa acerca do divórcio e do novo casamento?
O CASAMENTO COMO INSTITUIÇÃO DIVINA
Antes de tudo precisamos salientar que o “casamento” é uma instituição divina e não humana como afirma o marxismo. Com toda infelicidade o marxismo coloca a família como mera criação da burguesia e a classifica como algo prejudicial e destrutivo [2]. Walter Kaise Jr. diz que o casamento é um dom de Deus aos homens e às mulheres. Deus não somente criou o casamento, mas também o abençoou [3].
O Reverendo Hernandes Dias Lopes diz que “os filhos de um homem são parte dele mesmo, mas sua esposa é ele mesmo” [4]. Na ordem de prioridades, o cônjuge vem primeiro do que os próprios filhos, pois os filhos não ficarão para sempre na casa de seus pais. Somente a morte separará o casal temente a Palavra de Deus.
O livro de Provérbios ensina que o casamento é um compromisso bilateral entre um homem e uma mulher e condena o adultério como quebra dessa aliança conjugal (Pv 2.16,17) [5]. O casamento foi a única instituição criada por Deus antes da queda. Kaiser comenta que a perspectiva teológica de Gênesis 2 é que Deus criou um jardim para proporcionar prazer ao homem, animais para servi-lo, e a mulher para fazer-lhe companhia [6]. O primeiro e mais importante propósito do matrimonio é glorificar a Deus (1 Co 10.31).
O DIVÓRCIO
Stephen Arterburn, no livro “A batalha de todo homem” diz que se os cristãos se ocupassem totalmente dos propósitos de Deus, isso se refletiria primeiro em nossos casamentos [7]. Muitos divórcios acontecem porque os casais não conhecem os ensinamentos de Deus e nem buscam conhecê-los.
O casamento foi instituído por Deus, o divórcio pelos homens. O casamento é ordenado por Deus, o divórcio não. O casamento agrada a Deus, o divórcio não, ao contrário, Deus odeia o divórcio. Deus permite o divórcio (dentro dos limites estabelecidos na sua palavra os quais vamos tratar), mas jamais ordena. O divórcio jamais foi o ideal de Deus para a família [8].
Infelizmente a sociedade preocupa-se mais com a cerimônia do casamento do que manter o casamento. O divórcio produz muito sofrimento, pois separa o que Deus uniu. Nossa opinião a respeito não deve ser baseada no conceito moderno daqueles que estimulam o divórcio, pois por mais que em algumas situações o divórcio é necessário (trataremos isso a seguir), ele não é uma coisa boa em si mesmo. D. A. Carson diz que o divórcio jamais deve ser encarado como uma ordenança divina ou uma opção moral neutra. Ele é uma evidencia clara de pecado, o pecado da dureza de coração [9]. Portanto, o divórcio é consequência do pecado e não da expressão da vontade de Deus, pois Ele odeia o divórcio (Ml 2. 10-16).
Antes de passarmos para o próximo tópico, “quando o divórcio é permitido”, é importante frisar que o divórcio é uma coisa horrenda aos olhos de Deus. Não há divórcio sem dor, sem trauma, sem feridas, sem vitimas. É impossível rasgar o que marido e mulher se tornaram (uma só carne) sem causar sofrimento. Embora a sociedade pós-moderna esteja fazendo apologia do divórcio, os princípios de Deus não mudaram, nem jamais mudarão [10].
QUANDO O DIVÓRCIO É PERMITIDO
Existem apenas duas causas que legitimam o divórcio: “A infidelidade conjugal” e o “abandono do cônjuge”. Quando Jesus foi interrogado pelos fariseus a respeito do assunto, o debate entre a escola dos rabinos Hillel e Shammai era a lente pelo qual decidia esta questão. Havia uma grande tensão teológica entre estas duas linhas de interpretação.
Hillel defendia uma posição liberal e dizia que o marido podia divorciar-se de sua esposa por praticamente qualquer motivo, enquanto que Shammai defendia uma posição restrita e radical, dizendo que Moisés referia-se especificamente ao pecado sexual (Dt 24.1) [11]. Jesus, todavia, não somente usou a linha de Shammai, mas trouxe luz sobre ela, dizendo, neste aspecto, que a imoralidade era a única cláusula de exceção por Ele estabelecida (Mt 19. 3-12).
Ele ainda foi mais afundo quando disse que no princípio não foi assim, mas com a queda, devido ao pecado o qual endureceu o coração do homem, esta condição foi “permitida (e não ordenada) para que a vítima tivesse a escolha de se apartar do adúltero (Mt 19.8,9). Hendriksen diz que a infidelidade marital é um ataque à própria essência do vínculo matrimonial. Neste caso, o cônjuge que trai está ‘separando’ o que Deus uniu [12]. O próprio Deus divorciou-se de Israel devido a sua infidelidade (Jr 3. 6-8).
Outra situação que legitima o divórcio é o abandono do cônjuge (1 Co 7.15). Paulo trata desta questão com a igreja de corinto. Se o cônjuge abandonar o seu parceiro (a), continuando na obstinação do seu pecado, o abandonado poderá demandar o divórcio.
Outra coisa que por inferência podemos, com muito cuidado, julgar, é a ameaça da integridade física de uma das partes. Eu tive uma triste experiência na família onde a “não separação” terminou em uma tragédia. É necessário ter prudência! Agressão física não é caso para pastor tratar, mas sim a polícia. O conceituado interprete das Escrituras, Adam Clarke, entende que Moisés percebeu que se o divórcio não fosse permitido em alguns casos, as mulheres poderiam ser expostas a grandes dificuldades e sofrimentos pela crueldade de seus maridos [13].
QUANDO O NOVO CASAMENTO É PERMITIDO
Por mais arrepios que se tire dos “ultraconservadores” legalistas, a Bíblia legitima o novo casamento à vítima em três situações: 1) adultério (Mt 19.9); 2) o abandono do cônjuge obstinado (1 Co 7.15) e 3) a viuvez (7. 2-3). Precisamos, contudo, reafirmar que a Bíblia é enfática em proibir o novo casamento por motivo banal, ou seja, quando o motivo do divórcio é outro a não ser por causa destes três contextos [14].
Aos que estão pensando em se separar, planejando um novo casamento, lembre-se que se o divórcio não ocorrer pelas formas legítimas (conforme tratamos), o novo casamento também não será legítimo. Fora disso o casamento não é aceitável aos olhos de Deus e o novo casamento constitui-se em adultério. Robert Plekker corretamente afirma que aos olhos de Deus, o marido divorciado ainda está casado com a primeira esposa [15]. Podemos enganar o nosso pastor, os nossos familiares e amigos, mas é impossível enganar a Deus. Ele sabe das intenções do coração, e o que o homem semear, isso também colherá (Gl 6.7).
O divórcio não é uma solução sábia para a crise no casamento. Pelo contrário, o divórcio tem demonstrado ser mais um problema do que uma solução, capaz de gerar mais sofrimento e frustração. A psicóloga Diane Medved afirma que alguns casais chegaram à conclusão de que o divórcio é mais perigoso e destrutivo do que tentar permanecer juntos [16].
Portanto, você só terá um novo casamento legítimo aos olhos de Deus, se também o motivo do divórcio for legítimo aos olhos de Deus. Somente onde acontece o divórcio legítimo, abre-se a porta para a entrada das novas núpcias.
O PERDÃO
Eu sou casado e corroboro com o dizer: “casamento é somente para os fortes”. Como somos pecadores, e a dureza do nosso coração nos impede muitas vezes de perdoar o nosso cônjuge. Quando você não “encontrar” motivo para perdoar o seu cônjuge, olhe para ele como um “irmão em Cristo”; se ainda julgar não haver motivo, lembre-se que Jesus disse que deveríamos perdoar os nossos inimigos. Dura é essa palavra para nós que somos maus. Por isso preciso cuidar do meu casamento mesmo estando de pé para que eu não venha a cair (1 Co 10.12).
Eu já tive contato com muitos casais que estavam por a triz de assinar a carta de divórcio, mas que ao deixa-se serem ministrados pelo Espírito, o Senhor os honrou com uma alegria dobrada. Lembre-se que Deus deu o divórcio a Israel (Jr 3. 6-8), contudo, Ele não desistiu da sua noiva. Foi busca-la no prostíbulo (Os 3.2), pagou por ela com o seu próprio sangue, e através deste pagamento, o sangue do Seu Filho Jesus, a reconciliou consigo mesmo (2 Co 5.19).
Mesmo a “vítima” precisa trazer a memória o seu percentual de culpa para a atual situação. Até o ofendido tem a sua parcela de culpa, pois demandamos o perdão divino (Mt 6.12). Quem não precisa de misericórdia? Este é o pressuposto que deve ser analisado em face às sugestões do divórcio.
Hernandes Dias Lopes diz que “quem não perdoa como Deus perdoa se fecha para a vida de Deus” [17]. E ainda: “É impossível fazer a oração do Senhor sem espírito perdoador. Se o nosso coração é um poço de mágoa e vingança, não podemos orar como o Senhor nos ensinou, pois estaremos pedindo juízo sobre a nossa cabeça em vez de misericórdia, condenação em vez de perdão. O perdão é o remédio para as tensões conjugais, não o divórcio” [18]. O caminho da reconciliação é melhor do que o atalho do repúdio. A reconciliação é mais segura e conduz a um destino mais feliz [19].
Deus é um Deus de milagres que se alegra na misericórdia (Mq 7.18). Não há impossíveis para Ele. Não apenas tapa os fossos escuros do nosso passado vergonhoso, mas Ele constrói pontes de um novo e vivo relacionamento. Perdão implica em restauração [20]. Quando há o genuíno arrependimento, creio que vale apena deixar o Espírito Santo ministrar o perdão de Deus que faz novas todas as coisas.
AOS DIVORCIADOS
O apóstolo Paulo disse que os divorciados pelos motivos legítimos poderão casar-se novamente, entretanto, seria bom que ficassem solteiros. Contudo, porém, não se dominam, então que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado (1 Co 7. 8-9), no entanto que seja no Senhor ( 1 Co 7.39) para não incorrer no “julgo desigual”.
Aos que se divorciaram fora das cláusulas permitidas por Deus, têm duas opções: 1) não se case, ficando assim solteiro ou 2) se reconcilie com o seu cônjuge (1 Co 7.10-11). A nota do comentário bíblico Moody traz o seguinte parecer: “No caso de uma separação desaprovada, Paulo destaca duas possibilidades. A esposa que não se case, tempo presente, enfatizando o estado permanente. Ou então, que se reconcilie com seu marido, tempo aoristo, enfatizando um acontecimento de uma vez por todas, em separações subsequentes” [21].
Fica o alerta de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério" (Mt 19.9 NVI).
CONCLUSÃO (palavra pastoral)
Não poderia terminar este assunto sem ao menos procurar um conselho pastoral. Por isso fui buscar uma orientação do meu pastor, aproveitando assim de sua experiência ministerial da qual, pelo tempo, ainda não possuo. A igreja precisa ser o hospital para a restauração das pessoas que passaram por este processo doloroso do divórcio.
Não podemos ser simplistas a respeito do assunto. Não há graça sem a misericórdia; os legalistas, pautados na Lei, se achegam com as pedras nas mãos; lembrando que o Diabo “usa a Lei” para acusar (e com “verdade” e razão) os filhos de Deus. Todavia, a alguém que usou a mesma Lei (que é santa, boa e perfeita) para condenar o pecado na carne e justificar pela graça os que creem; a saber, Cristo Jesus, o Senhor.
Ele foi o único que pôde bater de frente com a Lei sem ser condenado. Assim como os religiosos que detinham as pedras nas mãos para condenar a mulher pega no ato do adultério, tiveram que dar um passo para trás sob a pergunta do Senhor (Jo 8. 1-11); assim também a Lei, a qual fora cumprida perfeitamente na Pessoa do Filho, teve que dar um passo para trás mediante a apresentação do sangue puro do Cordeiro que tira o pecado do mundo.
Posto isso, as vítimas desta “desgraça”, o divórcio, precisam ser acolhidas com misericórdia no seio da igreja. Ainda que repudiemos o divórcio, devemos acolher o divorciado. Quem passou por este processo antes da conversão, estes, tiveram o seu passado apagado pela misericórdia de Deus, pois o Senhor não leva em conta o tempo da ignorância (At 17.30; 1 Tm 1.13). Tudo de antes se fez novo (2 Co 5.17). Sendo assim, se estiverem casados, permaneçam casados; se forem divorciados, em Cristo, poderão se casar novamente, constituindo agora uma família sob os preceitos do Senhor (1 Co 7.1-2).
Para os cristãos que se divorciaram conhecendo a verdade, a ordem bíblica, se o divórcio não foi pelas cláusulas legítimas (conforme tratado), permaneçam solteiros (1 Co 7.11). Se você divorciou sem a autorização bíblica e casou-se novamente, não peque duas vezes; permaneça casado (1 Co 7.10). Todavia, todos aqueles que procederam neste erro, deliberadamente, banalizando o matrimonio, Deus os julgará (Hb 13.4). O assunto é mais sério do que imaginamos; separar o que Deus uniu é rebelar-se contra o próprio Senhor. Se você estiver passando por esta situação, busque ajuda de um casal capaz, maduro, que poderá auxilia-lo nestas questões.
Todos nós precisamos escutar pessoas que têm algo a nos acrescentar. Escrevi este artigo vigiando para que eu não caia. Assim, minha opinião foi baseada na razão e não na emoção; todos nós temos o conhecimento de coisas que, em vez ou outra, precisam ser lembradas por outrem através da razão em detrimento da nossa emoção.
Que Deus nos ajude, fortalecendo os casais na alegria do Senhor, preservando nos corações dos cônjuges o respeito mútuo. Foi como disse o Rev. Hernandes Dias Lopes: "Casamento é como uma conta bancária, se você sacar mais do que deposita, você vai a falência" [22].
Pense nisto!
“Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará”. – Hebreus 13.4 (AFC).
Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,
Soli Deo Gloria!
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Notas:
[1] DIAS LOPES, Hernandes. Casamento, divórcio e novo casamento. São Paulo, SP; Hagnos, 2005, p. 10.
[2] Faculdade Teológica Betesda. Curso de teologia. Modulo V, p. 143.
[3] Hernandes Dias Lopes. Op. Cit. 2005: p. 24.
[4] Ibid, p.30.
[5] Ibid, p. 37.
[6] Ibid, p. 38.
[7] ARTERBURN, Stephen & STOEKER, Fred. A batalha de todo homem. São Paulo, SP; Mundo Cristão, 2004, p. 207.
[8] Hernandes Dias Lopes. Op. Cit. 2005: p. 100.
[9] Ibid, p. 103.
[10] Ibid, p. 35.
[11] Ibid, p. 106.
[12] Ibid, p. 108.
[13] Ibid, p. 103.
[14] Ibid, p. 140.
[15] Ibid, p. 142.
[16] Ibid, p. 16.
[17] Ibid, p. 122.
[18] Ibid, p. 123.
[19] Ibid, p. 127.
[20] Ibid, p. 129.
[21] F. HARISSON, Everett. Comentário Bíblico Moody. Volume II. Batista Regular, 2010. São Paulo, SP, p. 444.[22] Hernandes Dias Lopes. Op. Cit. 2005: p. 10.
Fonte: Fabio Campos
Não concordo sobre a conclusão do segundo casamento.
ResponderExcluirGraça e paz Bruno.
ResponderExcluirQual a conclusão que você chegou em relação ao segundo casamento? Se você tiver uma conclusão bíblica compartilhe conosco, pois muitas vezes erramos em nossas conclusões.
Obrigado pelo comentário.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
A bíblia só legítima o novo casamento com a viuvez, o restante apontado, não procede!
ResponderExcluirE quando ambos casados caem em adultério, duas famílias são destruídas e eles resolvem se casar para acertar sua vida com Deus? Como o PR e os irmãos devem agir nesse caso?
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