Por Alessandro Cristian
Nessa minha recente caminhada cristã, tenho observado os diferentes tipos de sermão que “batem cartão” em nossos púlpitos. É claro que, dada a criatividade dos pregadores, o assunto é vasto. Na presente postagem relaciono apenas dez dos estilos de pregação que podem ser observados em nosso meio:
Sermão “carapuça”: é aquele pregado quando o preletor tem uma diferença mal-resolvida com um dos presentes e, embora o templo esteja cheio, com centenas de pessoas ávidas por ouvir a exposição da Palavra, o sermão inteiro é utilizado para mandar recado àquele único desafeto.
Sermão “E daí?”: pregação em que são utilizadas técnicas de retórica, hermenêutica e homilética, com o pregador demonstrando todo o seu conhecimento histórico e teológico, porém sem contextualização, sem uma possibilidade de aplicação pessoal daquelas informações. Dessa maneira, as palavras passam por sobre a cabeça da audiência que, com aquela cara de interrogação, parece querer perguntar: “E daí? O que é que eu tenho a ver com isso?”
Sermão “espada”: “esse é o tipo de discurso cortante, penetrante, profundo”, pensarão alguns. Antes fosse. Como é então? Comprido e chato.
Sermão antropocêntrico: o homem e seus “sonhos” são o assunto central. Vontade de Deus? Que nada! “Não desista dos seus sonhos”! Vida eterna? Esqueça! “Receba a bênção agooooooora!”. Exposição permeada por frases para “elevar a moral” da audiência, do tipo “você nasceu para vencer”, “há poder em suas palavras”, “a vitória é sua”, e por aí vai. Ok, sabemos que o cristão é mais que vencedor, que somos bem-aventurados, etc., etc., etc. O problema é que, nesse tipo de sermão Jesus raramente aparece. A ênfase recai no homem, como se de nós mesmos pudéssemos algo (1). Moral da história: igrejas abarrotadas de pessoas apegadas a um materialismo exacerbado, espiritualmente fraca e suscetível a quaisquer ventos de doutrina.
Sermão cristocêntrico: temos um exemplo básico em Atos 2.22-36. Começa com “Jesus Nazareno”, é recheado de citações ao Mestre, e termina com “Deus o fez Senhor e Cristo”. Ou seja, Jesus é o cerne. Ainda se ouve, mas esse tipo de sermão anda em falta...
Sermão “suco de quermesse”: profundo como uma bacia d’água. Substancioso como um envelope de “tang” diluído em uma piscina olímpica.
Sermão “bala perdida”: palavras disparadas aleatoriamente, sem conexão alguma com o texto base, e entrecortado por “Glória a Deus” e “Aleluia”, utilizados para preencher os vácuos. “Se acertar em alguém, amém”, pensa o pregador.
Sermão “feira-livre”: nesse, o preletor se mostra azedo como um limão e ao mesmo tempo amargo como um jiló. Inicia pendurando uma melancia no pescoço no afã de aparecer. Em seguida despeja um monte de abobrinhas na audiência, distribui bananas e descasca o abacaxi em cima dos opositores. Pega alguns irmãos e os utiliza como “laranjas”, citando suas vidas a título de ilustração. E chora as pitangas ao expor ao povo os pepinos que tem enfrentado. Resumo da ópera: tem tanto conteúdo quanto um pastel de vento.
Sermão “míssil teleguiado”: direcionado. Com endereço pré-estipulado. Também conhecido como Espírito Santo de ouvido. Explico: o pregador fica sabendo por intermédio de terceiros que um membro, um casal, ou uma família daquela congregação está passando por determinado problema. A partir daí, direciona a palavra, como se a tivesse recebido por revelação do Espírito Santo. Com pretensa autoridade, aproveita para sentar a pua!
Sermão “contos da carochinha”: durante essa ministração você ouve de tudo: historinhas, testemunhos, ilustrações mil, anedotas. Citações bíblicas e Palavra de Deus, que é bom, nada!
Soli Deo Gloria
Alessandro Cristian
(1) Em João 15.5, Jesus nos diz: “Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer” (g.m.).
Fonte: Em construção...
Muito bem colocado. Precisamos acordar para o que é que caracteriza um sermão bíblico, cristocêntrico e relevante para os ouvintes.
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