Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Salmo 116.12-14
INTRODUÇÃO
Ao
findar o ano e se iniciar outro devemos olhar para trás e reavaliar a nossa
vida em todas as áreas: familiar, secular, financeira e, principalmente, na
espiritual. Será que fomos melhores crentes que no ano anterior? Será que
atingimos um patamar mais elevado em nosso conhecimento bíblico e prático ou
simplesmente continuamos os mesmos crentes de sempre? Não avançamos em nada,
isso quando não se regride.
E
como em todo início de ano nós fazemos promessas, ainda que ninguém saiba, de
que seremos melhores, que nos esforçaremos para estar mais presente junto à
família, na igreja, ler a Bíblia toda... Tudo isso faz parte de um recomeço,
pois o ano que se inicia nos trás a ideia de um novo recomeço. Por que o ano é
novo, apesar de ficarmos mais velhos. Mas de nada adianta planejarmos o novo
ano se nós não olharmos para trás e não revermos como foi a nossa vida no ano
anterior. O ano novo traz às pessoas a necessidade de balanço do ano que passou
e também a reflexão sobre resoluções para o ano que se inicia.
Este
salmo nos leva a pensar nisso – embora este salmo não fala de ano novo, mas nos
leva a pensar em novas oportunidades, pois o salmista estava à beira da morte,
no entanto o Senhor o livrou. O salmista olha para trás e vê o quanto o Senhor
foi bom para com ele. Apesar de ter passado por lutas e dificuldades; observe os
versos 8 a 11:
Pois tu me livraste da morte, os meus olhos, das
lágrimas e os meus pés, de tropeçar, para que eu pudesse andar diante do Senhor
na terra dos viventes. Eu cri, ainda que tenha dito: "Estou muito
aflito". Em pânico eu disse: "Ninguém merece confiança". (NVI).
O
Salmo 116 registra a gratidão do salmista por ter sido liberto de um mal que o
estava levando à morte. Ele buscou a face do Senhor e o Senhor ouviu a sua
oração (vs. 8,9). O salmista agradeceu, realizando sacrifícios e oferecendo
votos, tudo isso em consonância com a lei mosaica. Ele foi grato a Deus pelo
bem recebido. Este Salmo tornou-se um modelo de agradecimento para aqueles que
tinham se recuperado de enfermidades ou de outras crises pessoais, e tem sido
lido com esse propósito até hoje.
Depois
de ter sido liberto, o salmista desejava expressar sua gratidão ao Senhor (v.
12), o que fez de quatro maneiras. Em
primeiro lugar, levou ao santuário uma oferta de ação de graças (v. 17; Lv
3; 7.11-21). Em segundo lugar, como
parte desse sacrifício, o sacerdote derramou uma porção de vinho sobre o altar,
simbolizando a vida do adorador sendo derramada para servir ao Senhor. Em terceiro lugar, o sacerdote separou
uma parte da oferta a ser usada numa refeição depois do sacrifício, na qual o
adorador compartilhava seu alimento e sua alegria com sua família e amigos.
Nessa refeição, o salmista invocou o Senhor e agradeceu publicamente a ele por
suas misericórdias. Em quarto lugar,
depois da cerimônia e da refeição, o salmista começou a cumprir as promessas
(votos) que havia feito ao Senhor durante seu tempo de grande sofrimento e
perigo (vv. 14, 18) [1].
Diante
desse texto eu quero pensar com você sobre fazer votos. É válido fazer os votos
hoje? Se a resposta for sim como devo fazê-lo? Para isso devemos entender o que
é um voto segundo a Bíblia para depois pensar em fazê-los ou não.
EM PRIMEIRO LUGAR, O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE FAZER
VOTOS A DEUS?
No
Antigo Testamento era muito comum fazer votos, tanto que muitos deles foram
registrados. Alguns inclusive direcionados pelo próprio Deus. Veja por exemplo
o voto de nazireu (Nm 6.1-21). A Bíblia nos fala de algumas pessoas que tinham
o voto de nazireado: Sansão (Jz 15.5), Samuel (1Sm 1.11) e João Batista (Lc
1.15). Estes foram homens escolhidos por Deus para obras específicas e
especiais. No chamamento desses homens, o Senhor requereu que eles cumprissem o
voto do nazireado. Só para esclarecer, Jesus não tinha sido consagrado a esse
voto. Veja Lc 7.33,34:
Pois veio João Batista, não comendo pão, nem bebendo
vinho, e dizeis: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e
dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! (ARA).
1º
- Nos tempos do Antigo Testamento as pessoas faziam diversos tipos de votos a
Deus. Um exemplo disso nós encontramos
em Gênesis 28.20-22, onde Jacó promete dizimar se contasse com a presença de
Deus em sua jornada. Veja o texto:
Então Jacó fez um voto, dizendo: "Se Deus estiver
comigo, cuidar de mim nesta viagem que estou fazendo, prover-me de comida e
roupa, e levar-me de volta em segurança à casa de meu pai, então o Senhor será
o meu Deus. E esta pedra que hoje coloquei como coluna servirá de santuário de
Deus; e de tudo o que me deres certamente te darei o dízimo" (NVI).
Veja
que o voto não era impossível de ser cumprido por Jacó e foi feito diretamente
com Deus. Os votos eram feitos com frequência nesse período e, por essa razão,
encontramos no capítulo 30 de Números várias orientações escritas por Moisés
com respeito ao cumprimento de votos feitos a Deus. A pessoa deveria pensar bem
antes de fazer um voto, analisando se conseguiria ou não cumpri-lo. Um voto
feito a Deus não deveria ser considerado levianamente e, portanto, não deveria
ser feito precipitadamente:
“Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não
tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de
ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá
pecado em ti” (Dt 23.21,22).
“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em
cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que
não votes do que votes e não cumpras” (Ec
5.4,5).
Observe
que o voto não era obrigado, mas no momento que a pessoa fazia deveria não
tardar em cumpri-lo.
2º
- No Novo Testamento, Jesus ensinou que o ideal é não fazermos juramentos ou
promessas. Isso não quer
dizer que não possamos fazer, mas que devemos ter o cuidado, acima de tudo,
responsabilidade com as nossas palavras.
“Vocês também ouviram o que foi dito aos seus
antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez
diante do Senhor’. Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelo céu,
porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem
por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jure pela sua cabeça,
pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo” (Mateus 5.33-36). Seja
o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno
(verso 37).
Hoje
em dia, algumas pessoas tentam usar votos e promessas para barganhar com Deus,
esquecendo-se do sentido original do voto: a
consagração e gratidão a Deus. Por isso que quando fazemos um voto a Deus,
não o façamos com a intenção de forçá-lo a nos abençoar mais. Primeiro porque
já fomos abençoados com toda sorte de bênçãos. Veja o que Paulo nos fala em Ef
1.3:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões
celestiais em Cristo” (NVI).
E
outra coisa, as bênçãos de Deus, inclusive a salvação, vêm pela graça e não por
nossos méritos próprios: “Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de
obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9). Tudo o que fazemos em nossa
vida cristã, deve ser como um agradecimento pela salvação recebida.
Warren
W. Wiersbe diz que não devemos considerar nossos votos como um “suborno santo”, uma forma de pagarmos
Deus por sua ajuda, pois o salmista certamente sabia que a vontade de Deus não
pode ser influenciada por dádivas humanas (Jó 41.11; Rm 11.35) [2].
EM SEGUNDO LUGAR, ANTES DE FAZERMOS ALGUM VOTO DEVEMOS
OBSERVAR ALGUMAS ORIENTAÇÕES.
No
Novo Testamento, principalmente de acordo com as palavras de Jesus o ideal, segundo
Mt 5.33-36, é não fazermos juramentos, promessas ou votos (principalmente os
impossíveis de serem cumpridos). Nossa palavra deve ser sim, sim; não, não.
Devemos ser honestos em nossa vida e não necessitarmos de juramentos (Mt 5.37).
1º
- Se você fez algum voto a Deus
possível de ser cumprido, cumpra-o sem demora (Ec 5.4-5). Ninguém é obrigado a fazer voto algum, mas em
cumpri-lo sim. Jesus deixou bem claro que a palavra do cristão deve ser sim sim
e não não, pois o maligno é que age contrário a isso.
2º
- Não faça votos que não possa cumprir. Se você fez um voto a Deus impossível de ser cumprido, por causa de
sua natureza humana, ou que viole os princípios divinos, arrependa-se e peça
perdão a Deus e não faça isso novamente. E não faça votos para outros cumprirem
(filho, marido, esposa...).
Jefté
fez um voto tolo, impensado e que lhe causou grande sofrimento. Ele fez um voto
para o “outro” realizar – no caso em questão, o voto impensado e precipitado
recaiu sobre a sua filha (Jz 11.30,31, 34,35).
E Jefté fez este voto ao Senhor: "Se entregares
os amonitas nas minhas mãos, aquele que vier saindo da porta da minha casa ao
meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor,
e eu o oferecerei em holocausto". Quando Jefté chegou à sua casa em Mispá,
sua filha saiu ao seu encontro, dançando ao som de tamborins. E ela era filha
única. Ele não tinha outro filho ou filha. Quando a viu, rasgou suas vestes e
gritou: "Ah, minha filha! Estou angustiado e desesperado por tua causa,
pois fiz ao Senhor um voto que não posso quebrar" (NVI).
3º
- Não seja precipitado em fazer votos. Se foi feito um voto precipitado que não esteja em harmonia com os
propósitos divinos é preciso arrepender-se e confessar o pecado. Um voto é
coisa muito séria, e não deve ser tratado de maneira leviana. Pois os votos
podem ser mal-empregados. A própria lei adverte contra isso, assim como os
ensinamentos de sabedoria e os livros dos profetas (Dt 23.21-23; Pv 20.25; Jr
44.25). Saul propunha-se tanto a fazer votos insensatos como a não cumpri-los
(1Sm 14.24-28; 19.6). Votos por impulso podem não ser cumpridos, o que desperta
a ira de Deus.
Antes
de fazer qualquer voto devemos nos lembrar de quatro coisas básicas:
1
- Todo voto deve agradar a Deus: Lv 22.17-23.
2
- Todo voto deve ser pago a Deus: Dt 12.11; Sl 22.25; 65.1; Ec 5.4.
3
- Todo voto será lembrado por Deus: Gn 31.13.
4
- Todo voto deve ser feito para Deus: Gn 28.20.
Não
brinque com o voto feito a Deus. Hernandes Dias Lopes diz Sansão fez pouco caso
de seus votos de consagração e perdeu o vigor de seu testemunho. Perdeu sua
força e sua visão. Perdeu sua dignidade e sua própria vida. Vocacionado para
ser o libertador do seu povo, tornou-se cativo. Porque desprezou os princípios
de Deus, o nome de Deus foi insultado num templo pagão por sua causa. Sansão
brincou com o pecado e o pecado o arruinou. Sansão não escutou conselhos e fez
manobras erradas na vida [3].
EM TERCEIRO LUGAR, CREIO QUE DEVEMOS FAZER VOTOS HOJE
PARA UMA VIDA ESPIRITUAL MAIS ELEVADA.
Concordo
com A. W. Tozer quando disse que algumas pessoas rejeitam a ideia de fazer
votos, mas na Bíblia você encontrará muitos grandes homens de Deus que foram
dirigidos por alianças, promessas, votos e compromissos. O salmista não era
avesso a fazer votos. "Os votos que
fiz, eu os manterei, ó Deus", disse ele. "Render-te-ei ações de graça" (Sl 56.12).
Meu
conselho nessa questão é que se você está realmente preocupado com seu avanço espiritual
– a obtenção de novo poder, nova vida, nova alegria e novo reavivamento pessoal
dentro de seu coração –, será bom fazer certos votos e empenhar-se por
cumpri-los. Se você falhar, prostre-se em humilhação, arrependa-se e comece
novamente, mas sempre leve em consideração os votos feitos. Eles irão ajudar a
harmonizar seu coração com os vastos poderes que fluem do trono onde Cristo
está assentado, à destra de Deus [4].
Como
já falamos voto não é barganha, muito menos suborno
santo como pagamento pelas bênçãos recebidas. Mas antes de qualquer coisa o
voto tem o sentido original de consagração
e gratidão a Deus, ou seja, o voto tem como ponto central a glória de Deus
através de uma vida consagrada a Ele.
A.
W. Tozer nos diz que devemos fazer cinco votos para obtermos poder espiritual.
São eles: Trate Seriamente com o Pecado. Não Seja Dono de Coisa Alguma. Nunca
se Defenda. Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. Nunca Aceite
Qualquer Glória [5].
Votos
como estes são bem diferentes do que temos visto por aí em certas igrejas.
Estes são votos que nos afastam do pecado e nos aproximam de Deus; são votos
que nos levam a refletir sobre nossa vida espiritual e de como devemos vigiar
para não sermos canal de maldição e não de bênção na vida das outras pessoas.
Tais votos não são fáceis de por em prática, mas são excelentes para nos deixar
com uma vida exemplar e mais santa.
Vamos
pensar nesses cinco votos.
Primeiro
voto: Trate Seriamente com o Pecado.
O pecado tem sido disfarçado nestes dias, aparecendo com novos nomes e caras. O
pecado é chamado por diversos nomes enfeitados – qualquer nome, menos pelo que
ele realmente é. Por exemplo, os homens já não ficam mais sob convicção de
pecados; eles têm um complexo de culpa. Em lugar de confessar suas culpas a
Deus, para se livrarem delas, deitam-se num divã e tentam relatar o que sentem
a um homem que deve conhecer melhor tudo sobre eles. Após algum tempo, a
resposta dada é que eles foram profundamente desapontados quando tinham dois
anos, ou alguma coisa semelhante. Supõe-se que isso os fará sentirem-se melhor.
A
Bíblia é muito clara em relação ao pecado e as suas consequências. Em Romanos
6.23 nos diz que o salário do pecado é a
morte, se é a morte não podemos negligenciar esse fato. No entanto, é
exatamente isso que em muitas igrejas se tem feito.
Veja
o que nos diz Davi no Salmo 32.1-5 nos diz:
“Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada,
cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade
e em cujo espírito não há dolo. Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os
meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava
dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.
Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse:
confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do
meu pecado” (ARA).
O
pecado é uma fraude. Promete prazer e paga com o desgosto. Faz propaganda de
liberdade, mas escraviza. Levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a
morte. Tem um aroma sedutor, mas ao fim cheira a enxofre. Só os loucos zombam
do pecado. O pecado é maligníssimo. Ele é pior do que a pobreza, do que a
solidão, do que a doença. Enfim, o pecado é pior do que a própria morte. Esses
males todos não podem destruir sua alma nem afastar você de Deus, mas o pecado
arruína seu corpo, sua alma e afasta você eternamente de Deus [6].
Por
isso eu quero convidá-lo a rever a sua vida e a tomar muito cuidado com o
pecado. Ele seduz, mas o seu fim é caminho de morte. Ele pode ser doce em nossa
boca, mas amargo como fel em nosso ventre. O pecado é algo tão sério que foi
por causa dele que o nosso Senhor morreu na cruz. Veja o que nos diz Pedro em
sua primeira carta:
“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre
o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a
justiça; por suas feridas vocês foram curados” (1Pe 2.24 – NVI).
Veja
também Isaías 53.5,6:
“Mas ele foi transpassado por causa das nossas
transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos
trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal
qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio
caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (NVI).
Por
isso que a Bíblia nos diz que o pecado deve ser confessado e deixado. Veja o
que nos fala 1 João 1.9-10; 2.1,2:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos
que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra
não está em nós. Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não
pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus
Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos
nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (NVI).
Precisamos
tratar firmemente com o pecado em nossa vida. Lembremo-nos sempre disso. “O reino de Deus não é comida nem bebida”,
disse o apóstolo Paulo, “mas justiça, e
paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). A justiça repousa à porta do
reino de Deus. “A alma que pecar, essa
morrerá” (Ez 18. 4, 20) [7].
Leve
o pecado a sério!
Segundo
voto: Não Seja Dono de Coisa Alguma.
Com isso, não quero dizer que não possamos possuir coisas. Quero dizer que
devemos ser libertos do senso de possuí-las. Esse senso de posse é o que nos
embaraça.
Não
há dúvidas de que esse apego excessivo às coisas é um dos mais danosos hábitos
que alguém pode ter. Como é uma atitude bastante natural no ser humano,
raramente reconhecemos a malignidade dela; mas suas consequências são trágicas.
Como nos alertou Paulo em sua carta em 1 Timóteo 6.9,19:
“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em
armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a
mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos
os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se
atormentaram com muitos sofrimentos” (1Tm
6.9,10 –NVI).
A
avareza é a sede insaciável de uma quantidade cada vez maior de algo que
acreditamos ser necessário para nos fazer sentir verdadeiramente satisfeitos.
Pode ser a sede de dinheiro ou das coisas que o dinheiro pode comprar, pode
também ser a sede de cargos e de poder. Jesus deixou claro que a vida
verdadeira não depende da abundância de posses. Não negou que temos certas
necessidades básicas (Mt 6.32; 1Tm 6.17). Apenas afirmou que não tornaremos a
vida mais rica adquirindo mais coisas [3].
Terceiro
voto: Nunca se Defenda. Todos nós
nascemos com o desejo de defender-nos. E caso insista em defender a si mesmo,
Deus permitirá que você o faça. Porém, se você entregar sua defesa a Deus,
então Ele o defenderá. Ele disse a Moisés certa vez: “Serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários”
(Ex 23.22).
Fazer
um voto de nunca se defender pode parecer algo plenamente absurdo. Há em nós um
mecanismo automático de defesa que nos leva a reagir, por vezes de forma
violenta, frente a menor ameaça. Chamamos isso de instinto de defesa. O
instinto de defesa, por exemplo, surge como uma ação de preservação frente a
uma ameaça. Todas as vezes que uma pessoa se sente ameaçada o instinto de
defesa, que também pode ser chamado de instinto de preservação do ego entra em
ação. É pela via da proteção que o instinto de defesa surge na vida.
São
três tipos de proteção:
Proteção física
– quando uma pessoa percebe que a sua integridade física é ameaçada ela tende a
se defender desta ameaça até mesmo agredindo o agressor. Essa reação é tão
legitima que a lei a reconhece como uma ação em legítima defesa.
Proteção emocional ou psíquica – quando uma pessoa percebe que as suas emoções, os
seus sentimentos, a percepção de si mesma é ameaçada ela tende a se defender.
Por exemplo: frente a uma fofoca, uma calúnia ou uma acusação à pessoa também
busca se defender. A lei também faculta processar uma pessoa frente a uma
calúnia ou difamação moral.
Proteção espiritual – o homem é um ser religioso por natureza, e quando ele percebe que
existe uma ameaça espiritual que ronda a sua vida ele busca a religião para se
proteger dos espíritos malignos.
No
Velho Testamento a lei da retribuição era muito bem representada a partir da
expressão: “olho por olho, dente por
dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento,
golpe por golpe” (Êx. 21.24,25). É a conhecida lei de talião, cujo
significado é pena igual à ofensa.
Quando
falamos “nunca se defenda” queremos
dizer duas coisas básicas:
1º
- Não seja uma pessoa vingativa.
A vontade muitas vezes é retribuir com a mesma moeda a pessoa que nos
prejudicou, mas não é isso que a Bíblia nos ensina. Veja o que o Senhor Jesus
nos diz em Mateus 5.38-48:
Vocês ouviram o que foi dito: “Olho por olho e dente
por dente”. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na
face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e
tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar
com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas
àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado. Vocês ouviram o que foi dito: “Ame
o seu próximo e odeie o seu inimigo”. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e
orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu
Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e
derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que
recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E se saudarem apenas
os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!
Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês (NVI).
Veja
o que o apóstolo Paulo nos fala também em Romanos 12.19-21:
Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus
a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor.
Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede,
dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça
dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem (NVI).
“Se vocês ouvirem atentamente o que ele disser e
fizerem tudo o que lhes ordeno, serei inimigo dos seus inimigos, e adversário
dos seus adversários” (Êx 23.22 – NVI).
A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena. Seu Madruga
2º
- Não se preocupe em defender a sua reputação. Não existe nada que nos afete mais do que sermos
atingidos em nossa reputação. A. W. Tozer diz que: “Sua reputação é o que os outros pensam que você é, e se surgir alguma
história sobre você, a grande tentação é tentar correr para acabar com ela”.
Mas
a coisa mais difícil é encontrar a pessoa que deu origem a difamação. Chegar ao
final de uma história e descobrir quem foi que inventou todo o boato contra a
nossa reputação é difícil. O fofoqueiro é além de tudo um covarde. Além de ele
usar as pessoas para passar uma inverdade, ele sempre se esconde nas
insinuações e se esquiva dizendo: “mas eu não quis dizer isso”.
Se
estivermos convictos da nossa relação de compromisso perante Deus não temos o
que temer. Pois Deus atuará em nossa defesa, e nós precisamos crer nisso. Mas
se o que estão falando a nosso respeito procede temos que mudar a nossa
conduta.
Reputação é o que as pessoas pensam ao meu respeito.
Caráter é o que eu sou quando ninguém está me olhando. D. L. Moody
Quarto
voto: Nunca Passe Adiante Algo que Prejudique Alguém. “O amor cobre
multidão de pecados” (1 Pe 4.8). O fofoqueiro não tem lugar no favor de Deus.
Se você sabe alguma coisa que possa vir a obstruir ou ferir a reputação de um
dos filhos de Deus, enterre-a para sempre.
AS TRÊS PENEIRAS
Um
rapaz procurou Sócrates e disse-lhe que precisava contar-lhe algo sobre alguém.
Sócrates
ergueu os olhos do livro que estava lendo e perguntou:
-
O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?
-
Três peneiras? - indagou o rapaz.
-
Sim! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar dos outros é um
fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Suponhamos que
seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você
vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do
próximo? Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda
pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa?
Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta?
Arremata
Sócrates:
-
Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você e seu irmão iremos
nos beneficiar.
Caso
contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o
ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas do planeta.
A
fofoca é diferente de compartilhar informações de duas maneiras:
1
- Intenção. Os fofoqueiros
muitas vezes têm o objetivo de se elevar ao custo de fazer com que outras
pessoas se pareçam más; também exaltam-se como uma espécie de repositórios de
conhecimento.
2
- O tipo de informações compartilhadas. Os fofoqueiros falam dos erros e defeitos dos outros, ou revelam
detalhes potencialmente embaraçosos ou vergonhosos sobre a vida alheia sem o
seu conhecimento ou aprovação. Mesmo se não tiverem má intenção, ainda é
fofoca.
Mas
o que a Bíblia tem a falar sobre a fofoca? Vejamos:
Tiago
nos fala do mau uso da língua – Tg 3.1-12. Vejamos outros textos – 1Tm 5.11-13;
Pv 11.13, 20.19, 18.19, 26.22; Lv 19.16; Rm 1.29,30; 2Ts 3.11).
Cuidado
com a sua língua.
Quinto
voto: Nunca Aceite Qualquer Glória.
Deus é zeloso de Sua glória e não a dará a ninguém. Ele não irá nem mesmo
compartilhar Sua glória com quem quer que seja. É muito natural, diria eu, que
as pessoas esperem que talvez seu serviço cristão lhes dê uma oportunidade de
demonstrar seus talentos. Verdadeiramente querem servir ao Senhor, mas também
querem que os demais saibam que estão servindo ao Senhor. Elas querem ter
reputação entre os santos. Este é um terreno muito perigoso: buscar reputação
entre os santos. Já é ruim o bastante procurar reputação no mundo, mas é pior
procurar reputação entre o povo de Deus. Nosso Senhor desistiu de Sua
reputação, e devemos fazer isso também.
Nós
vivemos para glorificar o nome do Senhor e não o nosso próprio nome. Tome
cuidado para não querer a glória que pertence ao Senhor, o diabo a quis e foi
lançado do céu (Is 14.12-14; Ez 28.12-15).
Jesus
nos alertou a respeito do perigo quando o mundo nos tratar bem:
“Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois
assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lc 6.26 – NVI).
Paul
Washer conta que “John Wesley estava pregando pelo país, montado em seu cavalo,
meditando na palavra de Deus. Ele percebeu que em três dias ninguém o tinha
perseguido, ninguém o tinha caçado, ninguém o tinha amaldiçoado, ninguém tinha
tentado bater em seu corpo com paus e pedras. Então ele desceu de seu cavalo, e
começou a orar e indagar em seu coração. Ele disse: “Deus, eu me tornei um
homem carnal? Minha mensagem se tornou tão mundana que ninguém mais me
persegue?” Exatamente neste momento de sua oração um fazendeiro que odiava John
Wesley, o viu orando, pegou um tijolo, e jogou nele, que passou raspando o seu
nariz. Então Wesley louvou ao Senhor, dizendo: “Deus, muito obrigado! Agora sei
que o Senhor confirmou seu favor por mim”. Então quando você se levanta e
pessoas aplaudem é meio assustador, você espera que seja um reflexo de piedade
de ambas as partes, mas você nunca tem certeza. Precisamos entender que o
cristianismo nunca será amigo deste mundo. O cristianismo sustenta o único
caminho para a salvação deste mundo, eles nunca serão amigos. O cristianismo
nunca se mistura as exigências do mundo, mas as exigências deste mundo se
misturam a ele”.
CONCLUSÃO
Fazer
votos, talvez você esteja se perguntando se esse é o caminho certo a percorrer;
eu só posso lhe dizer que independentemente de você fazer esses votos ou não,
deveria, pelo menos, se abster de não praticá-los. Pois a vida crucificada é
uma vida de renúncia, de consagração ao Senhor, por isso que não temos como
fugir desses votos. Poderíamos incluir ai: mais tempo de oração, ler a mais a
Bíblia e estudá-la com mais dedicação, ler mais livros evangélicos ou livros
edificantes, ser mais amigo, mais dedicado à igreja, dar melhor testemunho no
trabalho, na escola, na faculdade, ser melhor pai, mãe, filho, marido, esposa...
Esses
votos não passam de molhar os pés no Rio da Vida, quando na verdade devemos
atravessá-lo à nado (Ez 47.1-5). Mas para atravessá-lo devemos começar molhando
os pés.
Faça
esses votos e diga para si mesmos: “Com ajuda de Deus irei cumpri-los!”
Pense
nisso!
Notas:
1 – Wiersbe, Warren W. Comentário
Bíblico Expositivo vol. 3. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 286.
2 – Ibid, p: 286.
3 – Lopes, Hernandes Dias. Mel
na caveira de um leão morto. http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/mel-na-caveira-de-um-leao-morto/
acessado em 20/12/16.
4 – Tozer. A. W. Cinco votos
para obter poder espiritual. Editora dos Clássicos, São Paulo, SP, 2004: p. 8.
5 – Ibid, p: 4.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Cuidado com o pecado. http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/cuidado-com-o-pecado/
acessado em 21/12/16.
7 – Tozer. A. W. Cinco votos
para obter poder espiritual. Editora dos Clássicos, São Paulo, SP, 2004: p. 11.
8 – Wiersbe, Warren W. Novo
Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo. Editora Geográfica, Santo André,
SP, 2012, p. 286.
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