sábado, 3 de dezembro de 2016

ATITUDES EM RELAÇÃO AO VERBO



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: João 1.10-13

INTRODUÇÃO

João, depois de ter mostrado o Verbo como aquele que veio trazer luz espiritual ao homem que andava em densas trevas em relação a Deus, agora nos mostra como o mundo o recebeu. Como o mundo se posicionou diante do Seu Criador. Como o mundo agiu diante do Deus encarnado. Como muitos o rejeitaram e como muitos o receberam.

Essa mesma postura continua hoje, pois o homem não mudou. A Pessoa de Jesus ainda gera muito incômodo em muitas pessoas. Pois, como disse o próprio Senhor, os homens amaram mais as trevas que a luz (Jo 3.19). E por que os homens amaram mais as trevas? Em primeiro lugar, porque a luz incomoda. Faz doer os olhos do entendimento. Causa um mal estar na consciência. Em segundo lugar, porque revela todas as coisas. Tudo que antes estava oculto é revelado, e para muitas pessoas isso não lhes agrada.

A luz de Cristo que tem incomodado tantas pessoas hoje é refletida através da sã doutrina. Através da Sua Palavra pregada sem ocultar a verdade que liberta. Como disse o apóstolo Paulo a Timóteo:

“Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2Tm 4.2-4 – NVI).

A sã doutrina divide, confronta, separa, julga, convence, repreende, chama a atenção, exorta e refuta o erro. Nenhuma dessas coisas goza de alta estima no pensamento pós-moderno. Entretanto, a saúde da igreja depende de mantermos a verdade com firmeza, pois, onde convicções fortes não são toleradas, o discernimento não pode sobreviver [1].

Mas assim como existem aqueles que odeiam a Luz, há aqueles que a buscam. São aquelas pessoas que se veem na total dependência de Deus e sabem que só através de Sua amorosa direção andarão seguras neste mundo. São aquelas pessoas que amam a luz e nela se regozijam. Veja o que nos fala o Salmo 119.105,106:

“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho. Prometi sob juramento e o cumprirei: vou obedecer às tuas justas ordenanças” (NVI). 

João no texto que lemos nos mostra a atitude do mundo em relação a Jesus e a Sua mensagem, daqueles que o rejeitaram como também dos que o receberam. Podemos destacar quatro pontos importantes aqui:

EM PRIMEIRO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA O VERBO EM RELAÇÃO AO MUNDO (Jo 1.10).

Em Cristo, Deus está relacionado diretamente a este mundo conhecido como kosmos. João usa esse conceito 79 vezes e demonstra as várias relações de Deus com o kosmos. Somos informados no Evangelho de João que “Deus amou o mundo de tal maneia que deu se Filho unigênito...” (Jo 3.16). “Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.17). Somos informados de que Cristo é “o Cordeiro de Deus que tira [carrega] o pecado do mundo” (Jo 1.29); “o Salvador do mundo” (Jo 4.42); “o pão de Deus é aquele que... dá vida ao mundo” (Jo 6.63); “a luz do mundo” (Jo 8.12; 9.5; 12.46). Fala-se do Espírito Santo como o Consolador que irá condenar ou “convencer o mundo” (Jo 16.8) [2]. Por “mundo” subentendem-se o mundo de pessoas, alienado de Deus, que, nas palavras de Paulo, “que desprezaram o conhecimento de Deus” (Rm 1.28 – NVI), apesar de, “desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas” (Rm 1.20 – NVI) [3]. Sendo tais pessoas indesculpáveis.

O versículo 10 do texto que lemos nos traz a palavra “mundo” três vezes:
“Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu” (NVI). 

1º - O Verbo estava no mundo. O Verbo sempre esteve presente no mundo. Antes de ele vir a Terra Ele já estava reinando no mundo, pois Ele reina em toda a criação desde o princípio. Quando João diz que “o Verbo estava no mundo”, está falando a respeito de Sua encarnação. Como lemos no verso quatorze:

“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (NVI).

2º - O Verbo criou o mundo. O mundo é de Deus, criado por Ele através do Logos. Vemos isso no verso três:

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (NVI).

O Verbo é o agente divino na criação do universo. Foi Ele quem trouxe à existência as coisas que não existiam. Deus disse: “Haja luz”. E houve luz (Gn 1.3). O Verbo é a palavra criadora de Deus, por meio de quem todas as coisas foram feitas, tanto as visíveis como as invisíveis, tanto as terrenas como as celestiais (Cl 1.16) [4].

3º - O Verbo foi ignorado pelo mundo. Por que a nação de Israel rejeitou Jesus Cristo? Porque “não o conheceu”. O povo de Israel era espiritualmente ignorante. Jesus é a “verdadeira Luz” – a Luz original da qual toda outra luz é cópia –, mas os judeus contentaram-se com as cópias. Tinham Moisés e a Lei, o templo e os sacrifícios, mas não entendiam que essas “luzes” apontavam para a verdadeira Luz, a conclusão e a consumação da religião do Antigo Testamento [5].

Isso é um alerta par todos nós hoje. Muitas vezes ficamos encantados com as coisas aparentes a tal ponto que perdemos o foco do que devemos adorar.

Veja o que aconteceu com a igreja de Éfeso (Ap 2.1-4). Corremos este mesmo perigo! 
 
Em um estilo majestoso, João retrata o fato, o propósito e o resultado da vinda de Jesus ao mundo. O fato: ele estava no mundo. O propósito: ele veio para o que era seu. O resultado: mas os seus não o receberam. João coloca, assim, em chocante contraste a oferta divina e a rejeição humana [6].

EM SEGUNDO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA QUE O VERBO FOI REJEITADO (Jo 1.10,11).

A Igreja está vivendo um período extremamente difícil onde a sã doutrina tem sido substituída pelo pragmatismo (corrente de ideias que prega que a validade de uma doutrina é determinada pelo seu bom êxito prático – o importante é o que dá certo e não o que é certo). As igrejas que pensam assim abandonaram a suficiência das Escrituras e a substituíram por doutrinas falsas. A sã doutrina gera no coração do pecador consciência de que ele está perdido e de que precisa do Salvador, ele pode até rejeitar o Senhor Jesus, mas consciente de seus erros.

A. W. Tozer enumera cinco razões pelas quais os Seus O rejeitaram e porque as pessoas ainda hoje O rejeitam:

1 – Mudança nas prioridades. A primeira razão para a rejeição de Cristo tem a ver com prioridades. Receber Jesus enquanto Ele estava aqui teria significado uma possível perda financeira. Temos o exemplo do jovem rico (veja Mt 19.16-29). As pessoas no tempo de Jesus não O recebiam porque amavam mais o dinheiro do que amavam a Deus.

Por que as pessoas não O recebem hoje? A resposta é simples e, mesmo assim, complicada. Receber Jesus Cristo conforme Ele exige ser recebido requer dar as costas a tudo, o que poderia significar perda financeira. Caso determinadas pessoas, algum dia, quisesse seguir Jesus Cristo, teriam de, por exemplo, sair de um negócio lucrativo. Mas há pessoas que pensam que podem glorificar Jesus onde estão.

E Tozer vai além, diz ele que, se as coisas continuarem a ir de mal a pior nos círculos evangélicos logo chegará o momento em que imprimiremos João 3.16 no fundo de um copo de cerveja, de modo que, quando um companheiro beber e olhar para o fundo, “verá a salvação irradiar na sua direção”. Além disso, hotéis de beira de estrada disporão meninas que, além de oferecerem seus “favores”, distribuirão pequenas mensagens bíblicas. Você não pode ser cristão e fazer algumas coisas. É melhor esclarecer isso agora.

2 – Mudança de hábito. A segunda razão tem a ver com nossos hábitos. Para os judeus, receber Jesus significaria mudar a maneira de eles viverem. O que não é diferente nos dias de hoje.

Exemplos de maus hábitos na igreja: Cultuar ou orar com o celular ligado. Chegar atrasado às reuniões da Igreja. Gostar de fofoca. Só buscar ao Senhor quando se vê em apuros. Sair, antes do término, das reuniões da Igreja. Passar uma “temporada boa” sem se reunir com os demais irmãos. Dar razão a um interlocutor que maltrata a Igreja, os irmãos da Igreja e os oficiais da Igreja. Dormir durante as reuniões da Igreja. Passar o culto no maior bate papo com a pessoa sentada ao lado. Administrar, ele próprio, o dízimo. Convidar pessoas para virem às reuniões da Igreja e não comparecer! Não meditar, com verdadeiro amor, na Palavra de Deus. Visitar todas as “igrejas” que lhe fazem um convite. Repetir “nossa” como um mantra (“Nossa” vem de “nossa senhora”, entende? Ou quer que eu desenhe) [7].

3º - Limpeza pessoal. A terceira razão pela qual recusaram Cristo tem a ver com a limpeza pessoal. Aceitá-Lo significaria uma limpeza completa do interior. Algumas pessoas preferem a sujeira ao Filho de Deus. Preferem as trevas a irem para a luz (Jo 3.19).

4º - Mudança de direção. A quarta razão pela qual não aceitam Jesus é o fato de isso significar uma mudança completa para eles. Significaria uma limpeza completa da casa, de seu interior, e uma renúncia do eu. Veja o que Jesus disse a respeito de quem quer segui-lo:

“Então Jesus disse aos seus discípulos: Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24 – NVI).

Isso gera a morte do "eu", e matar o "eu" é mais difícil do que parece.

5º - Amamos mais o pecado. Ninguém pode compreender o cristianismo, a menos que esteja dentro dele. Ninguém que ama o pecado vive o verdadeiro cristianismo. A tragédia é que O temos rejeitado no coração porque queremos os nossos próprios caminhos [8]. 

João não está pensando só no que aconteceu quando o Verbo veio a Sua própria terra, mas no que vinha acontecendo durante toda a história de Israel. Veja o que o Senhor nos fala pela boca do profeta Jeremias:

“Desde a época em que os seus antepassados saíram do Egito até o dia de hoje, eu lhes enviei os meus servos, os profetas, dia após dia. Mas eles não me ouviram nem me deram atenção. Antes, tornaram-se obstinados e foram piores do que os seus antepassados” (Jr 7.25,26 – NVI).

Com Jesus a história só estava se repetindo como já vinha acontecendo há anos a fio. Os judeus viram suas obras e ouviram as suas palavras. Observaram a sua vida perfeita. Jesus deu-lhes inúmeras oportunidades de compreender a verdade, de crer e de receber a salvação. Jesus é o caminho, mas se recusaram a andar com ele (Jo 66-71). Ele é a vida, mas o crucificaram! [9].

EM TERCEIRO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA QUE O VERBO FOI ACEITO (Jo 1.12).

“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (NVI).

Aqui cai por terra aquele velho ditado que diz que “todos são filhos de Deus”. Há, inclusive, uma música popular que diz no refrão: “Todos somos filhos de Deus, só não falamos a mesma língua” [10]. No entanto, esse é um ledo engano. Na verdade todos nós somos criaturas de Deus, pois Ele é o criador de todas as coisas.

Não basta nascer para se tornar filho de Deus; na verdade é necessário morrer para se tornar Seu filho. Como disse o apóstolo Paulo:

“Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20 – ARA).

Assim como Deus tem seus filhos, o diabo também tem os seus:

“Desta forma sabemos quem são os filhos de Deus e quem são os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não procede de Deus, tampouco quem não ama seu irmão” (1Jo 3.10 – NVI).

Como ocorre o novo nascimento e o que prova que a pessoa nasceu de novo?

1º - O novo nascimento ocorre quando a pessoa recebe Jesus como seu salvador pessoal. Receber aquele que é a Palavra de Deus significa depositar a fé nele, jurar fidelidade a ele, e também, de maneira muito prática, acreditar que ele é o que diz ser [11]. Esse nascimento não é natural, mas espiritual como Jesus explicou a Nicodemos (Jo 3.3-6). Esse nascimento é mediante a fé em Jesus.

2º - A salvação é mediante a graça (Ef 2.8,9). A salvação procede de Deus agindo através da Sua graça no coração do homem perdido. Veja o que o apóstolo Paulo nos fala em Ef 2.8,9: 

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (NVI).

3º - A prova de que a pessoa nasceu de novo. O que revela que uma pessoa nasceu de novo, entre muitas provas, creio que seja a de que essa pessoa passa a ser habitado pelo Espírito Santo. Veja o que nos fala Rm 8.9:

“Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (NVI). 

Muitas pessoas pensam que por ser bons pais, bons cidadãos, terem boa conduta perante a sociedade, serem honestas etc. são filhos de Deus. Cornélio é um exemplo de um homem bom, religioso, bem visto pela sociedade, tanto gentílica quanto judaica, no entanto não era salvo. Veja o que o próprio texto em Atos nos conta:

Havia em Cesaréia um homem chamado Cornélio, centurião do regimento conhecido como Italiano. Ele e toda a sua família eram religiosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus. Certo dia, por volta das três horas da tarde, ele teve uma visão. Viu claramente um anjo de Deus que se aproximava dele e dizia: “Cornélio!” Atemorizado, Cornélio olhou para ele e perguntou: “Que é, Senhor?” O anjo respondeu: “Suas orações e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus. Agora, mande alguns homens a Jope para trazerem um certo Simão, também conhecido como Pedro, que está hospedado na casa de Simão, o curtidor de couro, que fica perto do mar. Depois que o anjo que lhe falou se foi, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado religioso dentre os seus auxiliares e, contando-lhes tudo o que tinha acontecido, enviou-os a Jope (At 10.1-8 – NVI).

"O Espírito me disse que não hesitasse em ir com eles. Estes seis irmãos também foram comigo, e entramos na casa de um certo homem. Ele nos contou como um anjo lhe tinha aparecido em sua casa e dissera: “Mande buscar, em Jope, a Simão, chamado Pedro. Ele lhe trará uma mensagem por meio da qual serão salvos você e todos os da sua casa”. Quando comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles como sobre nós no princípio" (At 11.12-15 – NVI).

Através desse texto vemos claramente que a salvação não é pelas obras, mas mediante a graça de Deus (Ef 2.8,9).

4º - O novo nascimento gera novo comportamento. Quem teve um encontro real com Cristo não vive na prática de velhos hábitos, não quero dizer com isso que tal pessoa não peque, mas que é uma pessoa que não vive na prática do pecado. Veja o que nos diz 1Jo 3.9:

“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (ARA).

Veja também Cl 3.1-10:

Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória. Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria. É por causa dessas coisas que vem a ira de Deus sobre os que vivem na desobediência, as quais vocês praticaram no passado, quando costumavam viver nelas. Mas agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador (NVI). 

Para se tornar filho de Deus e entrar nesta família é preciso receber Aquele que é a Palavra como seu único e suficiente salvador.

EM QUARTO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA QUE O VERBO VEIO PARA SALVAR O MUNDO (Jo 1.13).

“Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (ARA).

A salvação sai das fronteiras de Israel e se estende para o mundo inteiro. Pessoas de todas as tribos, raças e povos, que recebem Cristo, receberão poder de serem feitas não apenas filhos de Abraão, mas filhos de Deus, de fazerem parte da família de Deus. Esse poder é conferido não aos que se julgam merecedores por suas obras, mas aos que creem no Seu Nome [12]. Para os judeus a salvação era só para eles. A ideia que eles tinham era que o restante do mundo não tinha nenhum merecimento a salvação que lhes fora entregue.

Por terem sido escolhidos como nação eleita o orgulho lhes cegou o entendimento para ver o que a própria Escritura dizia em relação a Deus e como Ele queria que Israel se posicionasse em relação aos gentios. Várias passagens das Escrituras revelam o amor de Deus manifestado gratuitamente aos gentios que exerceram fé no Santo de Israel, como por exemplo, Raabe (Js 6.1-27); Rute (Rt 1– 4 ); Naamã (2 Rs 5.1-19), e os ninivitas (Jn 3.1-10). Se isso não bastasse, o Senhor prometera tornar os gentios o seu povo (Is 11.1,10; 421-5; 52.15; 65.1; compare com Mt 12.18-21; At 15.14-18; Rm 9.25-30; 10.19-21; 15.8-12, 19-21).

Outro detalhe interessante é que o versículo 13 antecipa a declaração mais completa sobre o novo nascimento, que será feita no capítulo 3. Lá se enfatiza a diferença entre as duas ordens: “O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito” (Jo 3.6) [13].

João mostra que para se tornar filho de Deus não ocorre de forma natural. Para se tornar filho de Deus tem que haver uma intervenção divina na pessoa, e ele nos apresenta isso de três maneiras negativas:

 1º - Não se é filho de Deus por ser judeu - Os quais não nasceram do sangue. Hereditariedade – ninguém recebe a salvação por herança. Em outras palavras: filho de crente não é crentinho. Toda pessoa precisa ter sua própria experiência com Deus. Para os judeus bastava ser judeu para herdar a vida eterna, no entanto Jesus deixou bem claro que tal coisa era uma ideia distorcida que eles tinham.

Muitos líderes religiosos criam que por serem judeus e religiosos que isso lhes bastava, mas Jesus mostrou-lhes que eles eram filhos do diabo e não de Deus (Jo 8.44).

2º - Não se é filho de Deus por vontade própria - Nem da vontade da carne, nem da vontade do homem. Eu não me torno filho de Deus pela minha própria vontade. Como dizem alguns: “Eu passei para crente”. A mudança de religião não traz salvação para a pessoa. Ninguém irá para o céu por ser evangélico ou ser um religioso. Veja o que Paulo nos fala em Rm 9.15,16:

“Pois ele diz a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão”. Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus” (NVI).

3º - Se é filho de Deus pela vontade de Deus - mas de Deus. Este direito de nascimento divino não tem nada a ver com laços raciais, nacionais ou familiares. O que nos leva a sermos filhos de Deus vem da graça e misericórdia de Deus agir em nossos corações.

E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição? Que dizer, se ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como ele diz em Oséias: “Chamarei “meu povo” a quem não é meu povo; e chamarei “minha amada” a quem não é minha amada”, e: “Acontecerá que, no mesmo lugar em que se lhes declarou: “Vocês não são meu povo”, eles serão chamados “filhos do Deus vivo” (Rm 9.22-26 – NVI).

Não depende de mim nem muito menos de você, mas de Deus usar de Sua misericórdia.

CONCLUSÃO

O texto que nós meditamos mostra que o Senhor Jesus veio a este mundo buscar o perdido, mas que muitos dos que estavam perdidos não se viam perdidos. Esse é o grande problema da humanidade ainda hoje. Muitos confiam em seus próprios méritos para chegar ao céu. Muitos acreditam que por serem boas pessoas mereçam ser salvas. Outras por sua vez creem que para tal é necessário ter uma religião. Outros já pensam que todos irão ser salvos, pois todos somos filhos de Deus “só não falamos a mesma língua”.

O mundo continua sem reconhecer Jesus, por isso cada um pensa de um jeito e agem segundo as suas próprias vontades.

No entanto, o texto de João é claro em afirmar que para nos tornarmos filhos de Deus é necessário crer no Seu Filho Jesus e tê-lo como senhor de nossas vidas. Fora de Jesus não há salvação, pois só Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Pense nisso!  

Notas

1 – MacArthur, John. A Guerra Pela Verdade. Editora Fiel, São José dos Campos, SP, 2014: p. 244.
2 – Peters, George W. Teologia Bíblica de Missões. Editor CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 11ª impressão, 2015: p. 47.
3 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 41.
4 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 27.
5 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo vol. 5. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 368.  
6 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 31.
7 – Magela, Geraldo. Maus hábitos dos crentes. http://pastorgeraldomagela.blogspot.com.br/2009/07/maus-habitos-dos-crentes.html, acessado em 02/12/16.
8 – Tozer, A. W. E Ele Habitou Entre Nós. Graça Editorial, Rio de Janeiro, RJ, 2014, p: 74-80.
9 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo vol. 5. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 369.  
10 – Música O Mundo. Compositor: André Abujamra.
11 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 43.
12 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 32.
13 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 43.

Um comentário:

  1. Bom Dia! Gostei muito do blog de vcs, sou nova e estou construindo o meu blog, onde posto vários estudos da Bíblia Sagrada. Quando der... dá uma passadinha lá. O endereço é: https://sabrinasrn.blogspot.com.br/ me segue lá. Paz de Cristo!!!

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