Por Flávio Santos
Leia Mateus 15.21-28
Essa narrativa é significativa, pois marca a única vez que Jesus sai do território de Israel. Jesus está em Tiro e Sidom. Região dos fenícios. Flávio Josefo diz que dos Fenícios, os de Tiro são os que mais têm os piores sentimentos contra os judeus.
Estando fora dos limites palestinos, uma mulher siro-fenícia vem ao Seu encontro buscando a libertação da sua filha que estava endemoninhada. Jesus entende que a mulher tem um problema grave. Os discípulos também entendem, e pedem a Jesus que libere uma palavra sobre ela, cure a sua filha e livre-se da importunação.
Porém, a missão de Jesus é para as ovelhas perdidas da casa de Israel. Então, Jesus, no processo, decide despertar uma fé verdadeira nela. Que fosse para além de fronteiras e tradições.
Jesus gerou fé por meio do silêncio. A Mulher apresenta a sua situação: uma filha terrivelmente endominhada. Jesus não responde nada. Fica em silêncio. Um falta de resposta constrangedora. O silêncio de Jesus poderia ter gerado incredulidade, paralisação ou afastamento, mas, ao contrário gerou fé verdadeira.
C.S. Lewis, em seu livro a Anatomia de uma dor, escrito após ter perdido sua esposa para o câncer diz: Volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara, ao som do ferrolho sendo passado duas vezes do lado de dentro. Depois disso, silêncio. Bem que você poderia dar as costas e ir embora. Quanto mais espera, mais enfático o silêncio se torna. Não há luzes nas janelas. Talvez seja uma casa vazia. Será que, algum dia, chegou a ser habitada?
Dói perceber Jesus em silêncio. Porém o silêncio não pode nos fazer perder a visão de Deus. O silêncio fez a mulher aproximar-se de Jesus. Existem momentos na vida que estamos gritando a um Jesus distante. Que não conhecemos de perto. Que não olhamos nos olhos. Que não percebemos a sua presença. O silêncio de Jesus é pedagógico: quer nos ensinar a aproximação. Transforma grito em palavra. Silêncio, no evangelho, é aproximação.
Jesus gerou fé por meio de uma migalha. Parece estranho a mulher querer uma migalha. Mas quando estamos perto de Jesus, suas palavras fazem sentido. Ele diz que não era bom tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Isso gerou na mulher um desejo e uma fé que queria comer as migalhas da mesa de Jesus.
A palavra usada para se referir aos cachorrinhos é Kúnaria. Existiam três tipos de aplicações que poderiam ser feitas a esta palavra. Primeiro, às mulheres da vida. Segundo, aos cães vira-latas da rua. E, terceiro, aos cachorrinhos de colo, aqueles que comem da mesa de seus donos. Jesus usa essa última aplicação para sua expressão: tirar dos filhos e dar aos cachorrinhos.
Ela entendeu!
Jesus fala em tom de graça e não de exclusão. A mulher capta a mensagem e o tom, ela está diante da mesa, não de um homem rico, mas da mesa do Rei dos reis, e as migalhas são como pão da mesa. Então diz, no processo da fé, que até os cachorrinhos comem da mesa de seus donos. Jesus conseguiu o que queria. A mulher agora tem uma fé verdadeira que não fosse só para um instante de cura, mas para toda vida.
Algumas pessoas estão deixando de comer pão da mesa de Jesus porque não querem começar pelas migalhas. Jesus oferece migalhas para ensiná-la que melhor do que o que se come em Suas mãos, são as mãos que oferecem a comida.
Ela conseguiu tirar os olhos das mãos e colocar em Jesus. E, no final, come pão. Tem sua filha liberta. A mulher comeu pão porque quis migalha. A migalha que cai da mesa se torna pão quando nos contentamos com o que Jesus nos oferece e temos fé para receber o que quer que venha Dele.
Jesus gerou fé por meio do encontro com Ele. A fé da mulher nasceu e cresceu no processo. Ela começa chamando Jesus de Filho de Davi e termina chamando de Senhor. Ela conhecia Jesus como Filho de Davi. O messias político que veio libertar Israel da opressão Romana. Ela O conhecia como profeta poderoso em palavras e milagres. Mas depois do encontro, o chama de Senhor. Agora ela O conhece como Soberano sobre todas as coisas.
O encontro com Jesus transformou pedido em oração. Ela começa fazendo um pedido a um homem poderoso e termina orando ao Senhor Deus. A fé que Jesus instala em nós como bem, muda a maneira como nos relacionamos com Ele. A partir do encontro a relação com Jesus não é mais de palavras decoradas ou condicionadas por alguma coisa, mas oração livre e sincera.
No encontro, a visão da mulher sobre Jesus mudou. A fé a fez vê-Lo como realmente é. Senhor e soberano que pode ficar em silêncio e oferecer migalha para produzir fé.
E você! Quer entrar no processo de tornar-se uma pessoa de fé?
Fonte: NAPEC
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