sábado, 28 de janeiro de 2017

NATANAEL UM PRECONCEITUOSO QUE ENCONTROU JESUS


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: João 1.43-51

INTRODUÇÃO

O texto que lemos mostra-nos o início do ministério de Jesus. João Batista estava dando testemunho a respeito Jesus quando dois de seus discípulos passaram a segui-Lo (Jo 1.35-40). Um deles era André irmão de Simão Pedro que o leva a Cristo (Jo 1.41,42). No dia seguinte, ou seja, no quarto dia, Jesus propõe uma viagem para a Galiléia, lá Ele encontra Filipe e o chama e ele passa a ser um de seus discípulos. Assim como André que evangelizou seu irmão, Filipe procura em seguida seu amigo Natanael para evangelizá-lo.

É interessante destacar que tanto Filipe quanto Natanael aparecem mais no Evangelho de João do que nos outros Evangelhos. Natanael só é mencionado aqui no Evangelho de João, embora, alguns estudiosos creiam que ele seja o apóstolo Bartolomeu, pois Filipe e Bartolomeu sempre aparecem juntos (Mt 10.3; Mc 3.18 e Lc 6.14). F. F. Bruce diz que Bartolomeu era o seu sobrenome – que significa filho de Tolomai ou Ptolomeu [1]. Natanael aparece no Evangelho de João, no primeiro e último capítulo (Jo 21.2), seu nome significa “Dom de Deus”. Ele era galileu, da cidade de Caná; cidade esta que ficava próxima a Nazaré. E a forma de sua pergunta deixa claro que Nazaré não gozava de boa reputação entre os outros galileus. Por isso que Filipe não só falou que havia encontrado o Messias prometido na Lei e nos profetas, mas chamou Natanael para vir vê-lo.

O que podemos aprender com esse texto? Quais lições ele tem a nos apresentar?

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR NOS SALVA PARA ALCANÇARMOS OUTROS (Jo 1.43,44).

No momento em que Filipe foi chamado por Jesus ele encontrou Natanael e imediatamente ele fala a respeito do seu maravilhoso encontro com o Mestre. Esse encontro com Jesus o levou a anunciar aos outros. Há muitas formas de levar uma pessoa a Cristo, não existe um método rígido de evangelismo. Nós não podemos engessar o método, mas permitir que o Espírito Santo aja de forma livre através de nossas vidas.

1º - Porque nem todas as pessoas virão a Cristo da mesma forma. O reverendo Hernandes Dias Lopes citando John Charles Ryle diz que há diversidade de operações na salvação de almas. Todos os verdadeiros cristãos foram regenerados pelo mesmo Espírito, lavados no mesmo sangue, servem ao único Senhor, creem na mesma verdade e andam pelos mesmos princípios divinos. Mas nem todos são convertidos da mesma maneira. Nem todos passam pela mesma experiência. Na conversão, o Espírito Santo age de forma soberana. Ele chama cada um conforme sua vontade [2]. Vejamos alguns exemplos:

a) Para Saulo de Tarso se converter foi necessário ele passar por uma experiência extraordinária (At 9.3-6).
b) Para Zaqueu bastou o Senhor se hospedar em sua casa (Lc 19.1-10).
c) Para o endemoninhado gadareno foi necessário libertá-lo primeiro da sua prisão espiritual (Mc 5.8,18-20).
d) Para o oficial do rei foi necessário a cura de seu filho (Jo 4.46-53).
e) Para Natanael foi necessário a Palavra juntamente com a revelação de quem ele era e onde estava (Jo 1.45-49). 

Mas observe que todos eles foram apresentados a Jesus e foi o Senhor Jesus quem manifestou o Seu poder e a Sua graça na vida de cada um deles. Se o Senhor não se manifestar de forma salvadora, por mais que as pessoas vejam milagres, não irão se converter, pois quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito santo (Jo 16.8).

2º - Porque o evangelismo pessoal é uma obrigação de todo salvo (1Co 9.16,17). O texto de 1 Coríntios 9.16,17 é um imperativo para que todo salvo anuncie o Evangelho. Veja o que Paulo nos fala:

“Quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! Porque, se prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação, estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada”.

Esse texto não significa que o crente deve pregar a palavra constrangido ou forçado; e sim que, por se tratar de uma testemunha do Senhor Jesus (At 1.8), foi convidado para testificar da sua salvação (At 26.22), a fim de que os que ouvirem seu testemunho possam saber a razão da esperança que há nele (1Pe 3.15). Somente o crente pode afirmar com convicção quem ele era, quem ele é, e quem ele será, ou seja: era um perdido pecador (Rm 3.23), candidato à morte eterna (Rm 6.23; Ap 21.8) e à condenação (Jo 5.24); porém, hoje, é um pecador redimido (Tt 2.14), libertado por Jesus (Jo 8.34); e, no futuro, estará eternamente na presença do Senhor (1Ts 4.17), nos céus (Fl 3.20), possuindo o corpo imortal e incorruptível (1Co 15.51-54) [3].

A Bíblia nos fala “que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” ( Is 52.7 – NVI).

A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE DEVEMOS USAR AS ESCRITURAS PARA APRESENTAR CRISTO AOS PERDIDOS (Jo 1.43).

Quando Filipe procurou Natanael ele falou a respeito daquele que constava nas Escrituras. Jesus se revela na Palavra e nós só podemos conhecê-Lo através da Palavra. Há muitas pessoas que dizem conhecer Jesus, mas o Jesus que eles conhecem muitas vezes não consta na Bíblia.

Vemos através desse texto que o Evangelho não é uma nova religião, mas a revelação plena do que o Senhor havia falado através de Moisés, nos profetas e nos salmos, como disse Jesus em Lucas 24.44:

E disse-lhes: “Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (NVI).

Foi o que o diácono Filipe fez ao apresentar Cristo ao etíope que vinha de Jerusalém. Diz o texto que ele vinha lendo o profeta Isaías e Filipe através do texto das Escrituras que ele vinha lendo lhe apresentou-lhe as boas novas de Jesus (At 8.32-35).

Jesus se revela nas escrituras e é nela e por não conhecê-la as pessoas tem cometido vários erros. O próprio Jesus alertou aos saduceus que foram lhe procurar:

“Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29 – ARA).

1º - Para apresentar Jesus eu não posso me envergonhar do Evangelho (Rm 1.16,17). Citando mais uma vez o apóstolo Paulo, ele escrevendo aos romanos ele disse em Rm 1.16,17:

Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé” (NVI).

Não há salvação fora de Jesus e não há como conhecermos o Senhor Jesus fora do Evangelho. É no Evangelho que Ele se revela, é através do Evangelho que conhecemos o que o Senhor Jesus veio fazer por nós, é nas páginas da Bíblia que encontramos direção para nossa vida. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que não se envergonhava do Evangelho. Como podemos nos envergonhar de tão grande salvação que nos é revelada nele?

O Evangelho nos revela o amor de Deus por nós. Através do Evangelho eu entendo que o Senhor não veio ao mundo para simplesmente resolver os meus problemas físicos, emocionais ou mesmo espirituais, mas para me livrar da ira futura. Nas páginas da Bíblia Sagrada é que eu descubro que o Senhor veio a este mundo, se esvaziou de Sua glória para morrer na cruz do Calvário e ressuscitou ao terceiro dia pagando um alto preço pelos nossos pecados e nos salvar.

Isso me lembra a história de um ateu que chegou para um cristão e lhe perguntou se ele acreditava no inferno e que as pessoas que não tinham Jesus como seu salvador pessoal iriam para lá, e que esse sofrimento era eterno. O cristão então lhe disse que acreditava. O ateu olhando firmemente para ele lhe disse: “Você como cristão é uma das pessoas mais cruéis que eu já conheci. Você é uma pessoa egoísta, mesquinha e sem amor ao próximo”. Nisso o cristão lhe perguntou por que ele estava falando isso a seu respeito. E o ateu então lhe respondeu: “Eu posso ser ateu, mas se você crê nesse inferno e na salvação que você diz que Jesus veio trazer ao mundo, porque você nunca me falou a respeito disso?”.

2º - Devemos apresentar Jesus com intrepidez e convicção (Jo 1.44). Observe como Filipe chega para Natanael e lhe conta que havia encontrado Aquele que contava na Lei e nos profetas. Eu não consigo ler esse texto sem vê-lo todo empolgado e convicto em suas palavras. Temos que ter convicção em apresentar o Salvador Jesus, afinal de contas nós estamos falando do salvador do mundo e não de um personagem fictício. 

Há uma história muito interessante sobre George Whitefield, reconhecido como um dos maiores pregadores do Grande Despertamento do século XVIII e a história contada sobre David Hume, filósofo escocês e também deísta, indo ouvir a pregação de Whitefield.

David Hume era um filósofo britânico deísta do século dezoito que rejeitava o cristianismo histórico. Um amigo uma vez o encontrou correndo ao longo de uma rua de Londres e o perguntou onde ele estava indo. Hume respondeu que ele ia ouvir George Whitefield pregar. ‘Mas certamente,’ seu amigo perguntou assustado, ‘você não acredita no que Whitefield prega, acredita?’ ‘Não, eu não,’ respondeu Hume, ‘mas ele sim’.

O que está faltando na vida de muitos crentes hoje é convicção e firmeza doutrinária. Eu tenho examinado alguns seminaristas e tenho participado de alguns concílios e, geralmente, há uma falta de convicção doutrinária na maioria deles. Saem do seminário flutuando entre uma teologia e outra, mas até aí tudo bem, triste é vermos pastores antigos agindo assim também. São pastores que são arminianos calvinistas, tradicionais neopentecostais, pregam a Palavra, mas utilizam de sincretismo religioso nos cultos, que fazem uma salada doutrinária e empurram tudo goela abaixo do povo. Ao invés de servirem alimento sólido servem palha. Ao invés de serem bíblicos são hereges. Ao invés de serem sólidos na fé são levados por vento de doutrina. Ao invés de serem espirituais são mundanos. Vivem de modismos gospel e não são firmados nos marcos antigos.

Jesus não é um produto a ser vendido, mas temos que apresentá-lo com convicção, pois afinal de contas nós estamos apresentando a Pessoa mais importante deste mundo. Mas para isso eu tenho que conhecê-Lo. Eu me lembro de quando eu trabalhava em uma loja, uma moça foi comprar um fogão. Fui até ela para atendê-la e ela então me pergunta se eu poderia lhe dizer se aquele fogão era de acendimento automático. Eu olhei para o fogão, mas eu não sabia nada a respeito do fogão. Então lhe disse: “Éeee?”. Ela me olhou e disse mesmo assim: “O teu ‘é’ não me convenceu, vou comprar em outro lugar”. E saiu me deixando com a cara de bobo. A partir daquele dia eu passei a conhecer “bem” todos os produtos da loja, não só fogões. Como disse Paulo a Timóteo:

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15 – ARA).

Esse é o X da questão. Será que estamos manejando bem a Palavra da verdade? Ou será que mal lemos o Novo Testamento? Observe que Filipe quando apresenta Jesus a Natanael ele sabia o que estava escrito a respeito dEle nos profetas e na Lei.

Mais triste que ver o povo cristão semianalfabeto em relação a Bíblia é vermos líderes totalmente analfabetos em relação a ela. Creio que estamos vivendo o tempo do profeta Oséias. Veja o que o Senhor nos fala a respeito da liderança e das consequências do seu desleixo em praticar a Lei do Senhor:

“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. Quanto mais estes se multiplicaram, tanto mais contra mim pecaram; eu mudarei a sua honra em vergonha. Alimentam-se do pecado do meu povo e da maldade dele têm desejo ardente. Por isso, como é o povo, assim é o sacerdote; castigá-lo-ei pelo seu procedimento e lhe darei o pago das suas obras. Comerão, mas não se fartarão; entregar-se-ão à sensualidade, mas não se multiplicarão, porque ao SENHOR deixaram de adorar. A sensualidade, o vinho e o mosto tiram o entendimento” (Os 4.4-11 – NVI).

O que mais temos visto hoje são crentes totalmente envolvidos com o pecado, gente que vive na prostituição, na bebedeira, na pouca vergonha; jovens sem compromisso com o Senhor, mas dentro da igreja parecem santos, coisa que estão longe de ser. Líderes descompromissados com a verdade, mas que é o retrato do povo e o povo sendo a cara de seus líderes. Falta intrepidez, falta convicção, mas o mal maior é que falta temor.

A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE AINDA HÁ MUITAS PESSOAS PRECONCEITUOSAS NA IGREJA (Jo 1.46).

Preconceito é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério. Como diz um antigo livro: “Não vi e não gostei”.

Natanael se mostra uma pessoa preconceituosa no momento em que disse que de Nazaré nada de bom sairia de lá. Para ele as pessoas que moravam naquela localidade eram pessoas desqualificadas, e eu creio que deveria ser um lugar difícil de morar, por isso ela tinha essa fama. Mas o erro dele é que ele colocou todas as pessoas dali em uma vala comum. Ele nivelou todos de forma igual. E se tem algo que devemos tomar muito cuidado é com o preconceito. Cuidado!

Para os galileus aquele lugar era insignificante, aliás, Nazaré não é citada nem uma vez se quer no Antigo Testamento, e embora o historiador Flávio Josefo, tenha enumerado quarenta e cinco cidades da Galiléia, não mencionou Nazaré. Com isso vemos que este lugar era desprezado por todos. No entanto, foi de para lá que o Nosso Senhor foi morar em sua infância, foi lá que ele cresceu e foi de lá que ele saiu para evangelizar o mundo. Nazaré só “surgiu no mapa” pelo fato de Jesus ter passado a maior parte da sua vida ali.

Pela forma zombeteira como Natanael perguntou a Filipe se alguma coisa boa viesse de lá o levou a dizer: “venha e veja”.

1º - Entendo com isso que a nossa visão preconceituosa nos impede de ver o agir de Deus na vida dos outros (1Co 1.26-29). O apóstolo Paulo deixa isso bem claro nesse texto de 1 Coríntios 1.26-29:

“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele” (NVI).

Observe as escolhas que o Senhor fez no decorrer da história; observe os personagens que foram escolhidos para realizar a Sua obra. Veja a história de Abraão nosso pai na fé. Ele saiu de Ur dos Caldeus, de uma terra idólatra para ser o pai de uma grande nação e posteriormente ser o pai de todos que tem fé no Senhor Jesus (Gl 3.6-9).

Davi foi tirado detrás do rebanho para ser rei de Israel (1Cr 17.7,8). José saiu da cadeia para ser primeiro ministro do Egito (Gn 41.39-43). Jefté foi tirado do meio de marginais para ser juiz em Israel (Jz 11.1-8). Elizeu foi tirado de trás de juntas de bois para ser profeta no lugar de Elias (1Rs 19.19-21).

Veja a história dos apóstolos; homens simples, mas que sacudiram o mundo da época. O apóstolo Paulo foi um dos maiores bandeirantes de sua época. Como ele mesmo falou:

 “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (1Co 15.10 – ARA).

E ele mesmo se comparava indigno e o principal dos pecadores, pois ele perseguiu a Igreja do Senhor (1Tm 1.12-16).

Agora para por um instante e olhe para você e veja de onde Ele lhe tirou e onde Ele lhe colocou.

2º - O preconceituoso é uma pessoa que não entende a graça do Senhor. Há grande realidade é que o preconceituoso é uma pessoa que não vê o agir de Deus na vida dos outros porque ele não entende o que é a graça do Senhor em sua própria vida. Ele não entende que somente pela graça é que ele está onde está, e que sem a graça do Senhor sobre a sua vida ele seria menos do que ele já é.

Temos como exemplo os próprios judeus convertidos, que mesmo depois de serem alcançados por Deus ainda olhavam para os gentios com desdém. Veja por exemplo a história de Cornélio e Pedro (At 10 e 11). Os judaizantes que queriam que os gentios observassem a Lei de Moisés para serem salvos...

E hoje nós temos visto isso em nosso meio, no momento que uma pessoa pensa que é melhor que a outra pela igreja que frequenta, pela denominação pertence, pela teologia que observa; se for arminiano é herege para os calvinistas, se for calvinista é herege para os arminianos. Se diz que frequenta uma igreja pentecostal já pensa que o indivíduo roda e pula igual em centro espírita, se for tradicional o pentecostal já o vê como mundano e frio na fé. Se a pessoa fala que é neopentecostal o outro só vê ato profético na vida do outro. Facebook virou campo de guerra para algumas pessoas. Já vi brigas das mais diversas e já fui bloqueado também por alguns, tudo por causa de discussão teológica. Isso sem falar dos grupos apologéticos do WatsApp.

As pessoas, muitas vezes, só se conhecem virtualmente e, no entanto, se amam ou se odeiam por questões fúteis, por puro preconceito. Gente preconceituosa com os que falam em línguas e gente ridicularizando os que não têm experiências arrebatadoras.

Que Deus nos livre e guarde!

(Não quero dizer com isso que devemos tolerar as heresias que têm surgido em nosso meio, não é isso que estou falando aqui).  
     
A QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR QUEBRA O NOSSO ORGULHO (Jo 1.47-51).

Venha e veja foi o que Filipe falou para Natanael. E é exatamente isso que temos que fazer para que possamos mudar a nossa maneira de ver muitas coisas ao nosso redor. Apesar da fama não invejável de Nazaré, a generosidade transparente de Natanael tornou-o disposto a vir e ver este Nazareno que Filipe dizia ser aquele predito na Lei e nos profetas [4]. Uma coisa que devemos entender é que toda regra tem a sua exceção. E a exceção Natanael encontrou.
O Senhor quebra o orgulho preconceituoso de Natanael com duas revelações:

1º - O Senhor revela quem ele era (Jo 1.47). Quando Jesus disse para Natanael que ele era um verdadeiro israelita em quem não havia falsidade (dolo), Jesus estava fazendo um paralelo não com seu descendente Jacó que teve o nome mudado para Israel depois que lutou com o Anjo do Senhor (Gn 32.22-32). Natanael era um israelita não segundo a carne, mas segundo o espírito, ele era um descendente genuíno de Israel que antes era Jacó, mas teve o nome mudado por ter lutado com Deus em busca da bênção.

Natanael, provavelmente, era um homem que buscava a Deus em oração, no estudo da Palavra. Era um verdadeiro lutador com Deus e buscava prevalecer.

Natanael era um verdadeiro israelita cuja religião não era meramente uma demonstração externa ou uma conveniência, é aquele que está espiritualmente resolvido a contender com Deus, por assim dizer, é alguém que leva a sério e de forma intensa a sua religião [5].

Há muitas pessoas como Natanael hoje. Gente que leva a sério a sua religião, é sincero de coração, busca entender as coisas de Deus, mas não tem a plena revelação, pois é preconceituoso em relação ao que o Senhor pode fazer a mais em suas vidas.

Há muitos “israelitas” que precisam ter a experiência de “Jacó”. Mas para que isso ocorra, precisam deixar de ser preconceituosos.

Eu conheço um pastor muito sério na fé e na doutrina, mas que via com certo pé atrás algumas experiências que as pessoas diziam que tinham em oração no monte. Um dia ele foi convidado a ir orar em um monte com alguns irmãos conhecidos dele. Como eram pessoas muito sérias e espirituais, ele aceitou, mas meio receoso. Chegando lá uma irmã perguntou se ele estava vendo alguma coisa e ele disse que não. Que estava tudo escuro ao seu redor. Essa irmã então pediu para ele se ajoelhar que ela iria fazer uma oração por ele, assim ele fez. Quando ela terminou de orar ela fez a mesma pergunta, e ele respondeu da mesma forma. Então ela disse para ele por a boca no pó, se humilhar que ela iria orar mais uma vez por ele. Quando ela terminou de orar e que ele abriu os olhos ele me disse que tudo ao redor brilhava e, principalmente onde eles estavam. Ele me disse que pegava coisas no chão que estavam brilhando. Algo que a teologia não explica. E o mais interessante que foi eles saírem dali que tudo voltou ao normal.

Não podemos fazer de uma experiência espiritual uma doutrina, mas não podemos rejeitar as pessoas que as tem. Não brinque com as coisas espirituais. 
    
Jesus em outras palavras disse para Natanael: “Você pode ser Israel, mas você precisa da experiência de Jacó”. Veja o que Jesus diz para ele no versículo 51:

E então acrescentou: “Digo-lhes a verdade: Vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (NVI).

Assim como Jacó teve o sonho da escada vocês verão, não em sonho, os anjos de Deus descendo e subindo sobre o Filho do homem. E não seria uma experiência só de Natanael, mas de todos os discípulos. Observe que o Senhor fala no plural: “Vocês verão”.

2º - O Senhor revela onde ele estava (Jo 1.48). A figueira é uma planta bastante adaptável a vários tipos de solo, crescendo bem até mesmo em solo rochoso. Pode atingir a altura de uns 9 m, com um tronco do diâmetro de uns 60 cm, e tem ramos que se espalham amplamente. Embora seja primariamente apreciada pelos seus frutos, é também muito prezada pela sua boa sombra. As folhas são amplas, tendo até 20 cm ou mais de largura. A primeira menção da figueira é com respeito ao uso das suas folhas costuradas como cobertura para os lombos de Adão e Eva. (Gn 3.7) Em algumas partes do Oriente Médio, folhas de figueira ainda são costuradas e usadas para embrulhar frutas, e para outros fins.

A expressão “sentar-se cada um debaixo da sua própria videira e figueira” simbolizava condições pacíficas, prósperas e seguras (1Rs 4.25; Mq 4.4; Za 3.10). Em vista do destaque da figueira na vida das pessoas, é compreensível por que foi tantas vezes usada nas profecias. Por causa da sua importância como alimento para a nação, o total fracasso duma safra de figos seria calamitoso. De modo que a figueira recebeu menção especial quando se predisse a destruição ou ruína daquela terra. — Je 5.17; 8:13; Os 2.12; Jl 1.7, 12; Am 4.9; Hc 3.17.

A própria nação de Israel foi comparada pelo Senhor a duas espécies de figos. (Jr 24.1-10) Jesus, para ilustrar que se poderiam reconhecer os falsos profetas pelos maus frutos deles, citou a impossibilidade de se colherem “figos dos abrolhos” (Mt 7.15,16; compare isso com Tg 3.12.).

É bem provável que Natanael estivesse debaixo da figueira estudando as Escrituras, ou quem sabe orando e questionando a Deus a respeito do futuro de Israel e em relação à vinda do Messias. Mas de uma coisa nós podemos afirmar, o Senhor sabia onde ele estava e conhecia o seu coração.

Da mesma forma o Senhor sabe onde estamos e em que condições nós nos encontramos. Ele esquadrinha os nossos corações, Ele sabe o que nos alegra e o que nos tem angustiado. Ele conhece as nossas inquietações e os nossos questionamentos. Por isso Ele se revela a cada um de nós e nos diz o Salmo 46:

“Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é a nossa torre segura” (Sl 46.1,11 – NVI).

Devido a essa experiência com o Senhor e essa quebra de paradigmas e preconceito que Natanael pode se prostrar diante do Senhor Jesus e dizer:

“Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (Jo 1.49 – NVI).

CONCLUSÃO

Meu irmão e minha irmã, o Senhor sabe onde você se encontra e se preocupa com você, por isso Ele te chama. Ele envia pessoas para nos falar a Seu respeito, mas para que Ele se revele a cada um de nós de forma plena nós precisamos deixar os nossos preconceitos, os nossos achismos, a nossa teologia sem espiritualidade.

O Senhor ainda se revela hoje, disso eu não tenho dúvidas. Não é porque existem pessoas “brincando” com coisas sérias em muitas igrejas por aí que eu devo me recusar a acreditar no agir dEle hoje. Eu também não creio em tudo que vejo e nem mesmo em tudo que sinto, mas nesse mais de trinta e três anos de crente eu posso lhe dizer que o Senhor ainda nos leva a ter experiências espirituais que a nossa teologia muitas vezes não explica.

Pense nisso!

Fonte:

1 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 64.
2 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 54.
3 – Bícego, Valdir. Manual de Evangelismo. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 9ª Edição 1999: p. 12.
4 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 65.
5 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado Vol. 2, versículo por versículo. Editora Candeia, São Paulo, SP, 10ª Reimpressão, 1998: p. 290.

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