INTRODUÇÃO
Texto base: Atos 3.11-26
A
cura do coxo mendigo fez com que a multidão ajuntasse ao redor deles. Essa cura
foi realizada em uma das portas do templo chamada Porta Formosa, e nos diz o
texto que quando o coxo se viu curado entrou saltando e louvando a Deus para
dentro do templo (v. 8). A multidão ficou atônita, pois conheciam o mendigo que
esmolava ali há muitos anos. Este homem tinha mais de quarenta anos (At 4.22);
acredito que ele esmolava ali desde criança, por isso era bem conhecido de
todos.
O
homem curado ainda estava junto de Pedro e João quando eles foram abordados
pela multidão no Pórtico de Salomão; este era um corredor coberto que ficava do
lado leste do templo. Neste pórtico Jesus havia ministrado (Jo 10.23), e a
igreja posteriormente passou a adorar ali (At 5.12).
Pelo
menos umas dez mil pessoas havia ali, pois era a hora da oração [1].
Aproveitando a oportunidade, Pedro toma da palavra para pregar o Evangelho. O
milagre, porém, não é o Evangelho, mas abre portas para a pregação do Evangelho
[2]. Pedro começa o seu sermão explicando que o fato ocorrido não procedia de
algum poder pessoal deles. Eles não eram a fonte do milagre, eles eram somente
o canal.
Quanta
diferença nos dias de hoje, onde muitos pregadores passam a ser adorados como
se eles fossem a fonte do milagre, ou quando muito, a igreja que pastoreiam é
que é a fonte. É só olhar para certos programas na TV que veremos como isso é
comum. “Venha para a nossa igreja, aqui o milagre acontece” dizem eles, como se
Deus não estivesse em outros lugares e se limitando àquele espaço físico, ou
somente agisse naquela denominação. Pedro e João repudiam para longe de si a
ideia de que eles eram milagreiros
(v. 12). Pedro corrigiu a multidão e não aceitou glória para si mesmo. Pedro
era um pregador fiel. O poder para curar não estava nele, mas no nome de Jesus,
o Nazareno [...]. Aqueles que hoje fazem propaganda de pretensos milagres, como
se fossem homens poderosos, estão na contramão do ensino bíblico. Os que
acendem holofotes e buscam glória para si estão em total desacordo com o ensino
das Escrituras [3].
Essa
adoração a esses milagreiros ocorre
porque uma vez que os homens não podem ver a Deus, e usualmente também não se
mostram capazes de discernir claramente as obras de suas mãos ou de apreciar
devidamente o desígnio, e o poder divino por detrás dessas coisas,
habitualmente prestam aos homens a adoração e o respeito que pertence
exclusivamente a Deus [4].
D.
Martyn Lloyd-Jones nos diz que “algumas pessoas poderiam dizer que essa era a
oportunidade maravilhosa para Pedro pregar sobre milagres, para oferecer cura a
outros. Um homem tinha acabado de ser curado. ‘Alguém mais quer ser curado?
Venha à frente’. Ele não fez isso, embora isso hoje passe por cristianismo
[...]. O cristianismo faz coisas desse tipo, porém não as prega; é isso que as
seitas fazem [...] Pedro aproveitou a oportunidade para explicar o milagre,
falando a respeito de Jesus como a fonte do milagre. Pedro mostra para a
multidão que eles estavam concentrados no milagre em si, e não na fonte do
milagre. O que é vital é para onde o milagre aponta, não é o milagre, como
milagre que é importante” [5]. Quanta diferença nos dias de hoje!
Diante
dessa multidão Pedro aproveita para pregar o Evangelho, não cura divina.
Quais
lições nós podemos aprender com a mensagem de Pedro?
EM PRIMEIRO LUGAR, PEDRO MOSTRA QUE O OCORRIDO NÃO ERA
ALGO NOVO (At 3.13).
Pedro
não inicia o seu sermão a partir de Jesus, mas começa falando “o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o
Deus de nossos pais...”.
1º
- Pedro mostra que o Senhor não mudou. Ele mostra um Deus pessoal que agiu na vida dos patriarcas e que
continua agindo hoje no meio do seu povo. Ele é o Deus que diz: “Eu Sou o que Sou” (Êx 3.14), se
revelando a Moisés no monte Horebe. Ele é o Deus vivo.
O
Deus da Bíblia é o Deus que criou o universo. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Ele é o Deus
que age, um Deus que faz todas as coisas, um Deus que planeja, que pensa e que
ordena. Este é o Deus que ouviu o clamor de Seu povo no Egito e enviou um
libertador. Ele é o Senhor dos senhores que age com graça e misericórdia da
mesma forma que agiu no passado, mas agora no meio e por meio da Sua Igreja
através do Espírito Santo no meio dela.
2º
- Pedro mostra também que assim como Deus agiu no passado está agindo agora, só
que na pessoa de Seu Filho Jesus.
Como nos fala Hebreus 1.1-3:
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de
muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo
Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o
universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”.
Através
de Jesus não estava se iniciando uma nova religião como muitos judeus estavam
pensando. A vinda de Jesus era uma continuidade do que o Senhor havia começado
na eternidade passada quando havia planejado todas as coisas.
Esse
Deus dos pais é quem glorificou a seu
Servo Jesus. Com essa referência a Deus, Pedro expressou a convicção de que
o que era novo em Jesus gozava de uma continuidade direta com o Antigo
Testamento [6]. Logo, a história de Jesus é a obra desse único Deus vivo, que é
o Deus dos patriarcas. Pedro usou vários nomes e títulos para descrever Jesus,
como: Jesus Cristo, o Nazareno (3.6), o Servo de Deus (3.13), o Santo e Justo
(3.14), o Autor da vida (3.15), o profeta prometido por Moisés (3.22), a pedra
rejeitada que se tornou a pedra angular (4.11) [7].
Enfim,
o Senhor é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Amem!
EM SEGUNDO LUGAR, PEDRO FAZ UMA ACUSAÇÃO ESMAGADORA
(At 3.13b-15).
Pedro
depois de falar que o Senhor havia glorificado a Jesus o ressuscitado dentre os
mortos não deixou de mostrar que eles eram culpados de um crime hediondo. Mesmo
quando Pilatos quis soltá-lo, pois havia observado que Jesus era inocente e que
as autoridades judaicas estavam o acusando por inveja (Mt 27.18).
1º
- A mensagem de Pedro foi esmagadora, pois eles tinham que ter consciência do
que haviam feito. Pedro é
extremamente direto ao descrever a desonra quádrupla com que os habitantes de
Jerusalém trataram o Mestre:
1)
vós (o) traístes e 2) negastes perante Pilatos (assim como
Pedro o havia “negado” diante de uma criada e de outros), quando este havia decidido soltá-lo. 3) Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem
um homicida, exigindo assim “a condenação do inocente” e “o perdão do
culpado”. 4) matastes o Autor da vida, um paradoxo perturbador, em que o
próprio pioneiro ou doador da vida (archegos,
tem os dois significados), é privado da vida [8].
Mas
isso não é diferente nos dias de hoje. Quantas pessoas estão negando Aquele que
é o Autor da vida escolhendo para si caminhos de morte (Pv 14.12). Outros estão
inocentando os homicidas e condenando Jesus, e como isso tem ocorrido? No
momento que achamos que a Palavra de Deus não é a verdade e escolhemos ouvir
pessoas que a tripudiam, que a ridicularizam; como por exemplo, o deputado Jean
Wyllys. Este ao falar sobre a Bíblia ressalta que nenhum texto bíblico deve ser levado ao pé da letra, “mas deve ser
interpretado como um mito”, “como textos alegóricos, e não textos que dão conta
de uma verdade”.
Triste
não é ver uma pessoa como esta falar isso a respeito da Bíblia, triste é ver
homens que se dizem pastores que desacreditam da Palavra de Deus, são os
teólogos liberais que consideram que os relatos bíblicos dos milagres são
invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas
oriundas de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação
racional e lógica para o sobrenatural.
E
esse ensinamento está sendo ensinado em muitos seminários teológicos de nosso
país. Estão formando pastores incrédulos que pregarão mensagens filosóficas que
não levam as pessoas ao arrependimento, mas a viver uma vida moldada em
conceitos humanistas.
Hoje,
em muitos púlpitos, já não se fala em pecado, arrependimento, vida santa e
cruz, nem pensar!
A.
W. Tozer deixou isso bem claro quando escreveu a respeito da Velha e Nova Cruz.
Diz ele: Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova
cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece
com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as
diferenças, fundamentais.
A
nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O
evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser
recebida. Ele não prega contrastes, mas semelhanças. Busca a chave para o
interesse do público, mostrando que o cristianismo não faz exigências
desagradáveis; mas, pelo contrário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente
num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento
é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o
produto religioso é melhor.
Nós,
os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações
públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não
devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos
homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não
somos diplomatas, mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo, mas um
ultimato [9].
2º
- A mensagem de Pedro é esmagadora, pois mostra que o Senhor cumpre os seus
propósitos eternos independente da ação humana (v. 15b). Essa mensagem esmagou toda a ideia de que o homem
tem a palavra final, de que ele é senhor da história.
Warren
Wiersbe salienta que o calvário pode ter sido a última palavra do ser humano,
mas o sepulcro vazio foi a última palavra de Deus. Ele glorificou seu Filho,
ressuscitando-o dentre os mortos e levando-o de volta ao céu. O Cristo
entronizado enviara seu Espírito Santo e operava no mundo por meio da igreja. O
mendigo curado era uma prova de que Jesus estava vivo [10].
Pedro
e João mostram para a multidão que aquele que eles haviam escolhido para morrer
estava vivo, pois o Senhor o havia ressuscitado e eles eram testemunhas desse
acontecimento. O vocábulo grego aqui para testemunha é “mártires”, ou seja, eles estavam dispostos a darem suas vidas por
esse testemunho.
Uma
das coisas que mais me tem impressionado é a falta de convicção entre muitos
crentes. E por não terem muita convicção também não tem bom testemunho. São
levados de um lado para outros como folhas secas por ventos de doutrina (1 Tm
4.1). Quanta diferença dos apóstolos que não abriram mão desse testemunho
correndo o risco de até morrerem (At 4.18-20).
EM TERCERO LUGAR, PEDRO PROVA QUE JESUS ESTÁ VIVO
ATRAVÉS DA CURA DO COXO (At 3.16).
Dentro
deste pano de fundo, a cura do coxo agora podia ser entendida. O que aconteceu
com aquele pobre homem era a prova de que o Senhor estava vivo e agindo na
autoridade do Seu Nome pela boca de seus apóstolos.
1º
Pedro mostra que o agente da cura é a fé em Jesus. A mensagem de Pedro é uma mensagem cristocêntrica.
Ele desvia os olhos da multidão do coxo curado e dos apóstolos e os fixou em
Cristo, a quem os homens haviam rejeitado, matando-o, mas a quem Deus vindicou,
ressuscitando-o dentre os mortos, e cujo nome, uma vez adotado pela fé, era
poderoso o bastante para curar completamente o homem [11].
O
mesmo ele já havia feito em relação ao próprio coxo quando havia lhes pedido
esmola. Observe que Pedro lhe disse: “Olha
para nós. Ele os olhava atentamente, esperando receber alguma coisa. Pedro,
porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou:
em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.4-6).
Pedro
mostra a todos ali presentes que ele e nem João eram a fonte do poder que
trouxe cura ao coxo. A fonte era Jesus. O milagre ocorreu na autoridade do Nome
de Jesus, este nome que está acima de todo nome como nos fala Paulo em
Filipenses 2.9-11.
2º
- Pedro mostra que o homem não é o agente da ação divina, mas apenas instrumento. Como disse o Reverendo Hernandes Dias Lopes, “não há homens poderosos; há homens cheios
do Espírito Santo, usados pelo Deus Todo-poderoso [...]. O Jesus exaltado é
quem realiza os milagres na vida da igreja, pelo poder do Espírito Santo, por
intermédio de seus servos” [12].
No
entanto hoje há muitos homens reivindicando para si essa autoridade. Há muitas
pessoas que estão idolatrando certos líderes achando que eles têm poder para
operar sinais e maravilhas. Fazem coisas por esses líderes que Deus nunca
exigiu que se fizesse por Ele. Há coisas que ultrapassam o ridículo, mas as
pessoas parecem que gostam.
Recentemente
eu vi um vídeo em que um “pastor” mandava as pessoas comerem grama para serem
mais abençoadas, e as pessoas saíam correndo de dentro da tal igreja para fazer
isso. Em outro vídeo que assisti um líder ficava em pé nas costas das pessoas e
elas o carregavam como se fossem animais.
Perdoem-me,
mas não estou querendo rotular ninguém, mas essas tais “igrejas” eram
pentecostais ou neopentecostais. Embora o abuso de poder esteja em todas as
denominações.
EM QUARTO LUGAR, PEDRO MOSTRA QUE A IGNORÂNCIA NÃO OS
ISENTAVA DA CULPA (At 3.17).
Pedro
depois de fazer essa séria acusação ele agora mostra que eles fizeram isso na
total ignorância, ou seja, um total desconhecimento de quem era Jesus. O seu
propósito, ao dizer isso, não era desculpá-los do pecado, nem dar a entender
que o perdão era desnecessário, mas mostrar a razão pela qual ele era possível
[13]. Como nos fala Paulo em 1Co 2.8: “porque,
se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória”.
1º
- A ignorância não os isentava de seus pecados. O desconhecimento de quem era Jesus não os tornava
inocentes. É como alguém tomar veneno por engano e querer que nada aconteça por
causa disso. Isso é ignorância em cima de ignorância.
O
Apóstolo Paulo, judeu praticante das Leis judaicas, antes de sua conversão se
confessou ignorante com relação a Jesus. Ele blasfemou, perseguiu, foi
insolente, torturou os cristãos (At 26.9-11; 1Co 15.9). A partir do momento em
que Jesus apareceu a ele no caminho para Damasco, sua ignorância e
incredulidade desapareceram e ele deixou de ser perseguidor, transformando-se
no Apóstolo dos gentios, ou seja, ele desejava acabar com a ignorância de
muitos que não conheciam Jesus.
A
misericórdia do Senhor o alcançou de tal maneira que houve uma genuína
conversão em seu modo de agir com os cristãos. O Senhor o designou e o convocou
para o ministério, “a ele, que em tempos
passados foi, blasfemo, perseguidor e insolente; contudo, Jesus foi
misericordioso com ele, porquanto fez o que fez por ignorância e incredulidade”
1Tm 1.12-14. Mas ao mesmo tempo ele se considerava o maior dos pecadores, pois
perseguiu a Igreja de Cristo (1Tm 1.15,16). Ele era inocente na sua ignorância,
mas culpado de seus atos.
2º
- O mundo hoje continua ignorante em relação a Jesus. O problema do mundo hoje continua sendo a ignorância
em relação à pessoa de Cristo. Anos se passaram, mas o homem continua na total
cegueira espiritual (2Co 4.4). O problema da ignorância do homem não está na
cabeça, mas no estado do coração.
D.
Martyn Lloyd-Jones nos dá alguns motivos para a ignorância do homem.
Primeiro,
o mundo é ignorante de Deus. O mundo por desconhecer a Deus age como age na
total contra mão da Sua vontade. Homens e mulheres pensam que Deus está contra
eles. O problema é que eles não conhecem o único Deus vivo e verdadeiro.
Segundo,
os homens não só são ignorantes de Deus, os homens e as mulheres nem a si
mesmos se conhecem. Eles não conhecem o estado e as condições em que se
encontram. Não entendem o seu problema essencial. Eles não se dão conta do seu
pecado.
Terceiro,
as pessoas também são ignorantes do fato de que haverá um juízo final e que
estamos indo nessa direção (Hb 9.27). Os homens e as mulheres são seres
responsáveis para com Deus. Deus os observa e os julgará. Todos nós teremos que
prestar contas dos atos praticados no corpo, bons ou maus. Mas as pessoas são
ignorantes disso; vivem para o momento.
Quarto,
o mundo não sabe que precisa de um salvador. Por isso o mundo rejeitou Cristo
quando Ele veio na carne, e é por isso que continua a rejeitá-lo. Em geral as
pessoas pensam que podem reformar-se e que podem reformar o mundo. Todavia não
se apercebem da sua fraqueza, da completa desesperança e inutilidade de todas
as suas obras.
Quinto,
o mundo também é ignorante das bênçãos da salvação, ignora justamente as
bênçãos que ele tanto necessita. Quais são as suas maiores necessidades?
Ei-las: o perdão dos pecados. Cristo morreu para que você fosse perdoado, para
que os seus pecados fossem apagados. E o mundo é ignorante disso.
Sexto,
o mundo é ignorante quanto ao novo nascimento, da nova vida. Veja o exemplo de
Nicodemos (Jo 3) [14].
EM QUINTO LUGAR, PEDRO MOSTRA QUE O OCORRIDO FOI UM
CUMPRIMENTO PROFÉTICO (At 3.18).
Deus
traçou um plano desde a eternidade; no entanto, dentro desse plano, não forçou
ninguém a agir contra a própria vontade. Os profetas haviam prenunciado os
sofrimentos e a morte do Messias, e, sem se dar conta do que estava fazendo, a
nação cumpriu essas profecias. Mesmo quando não permitimos que Deus governe,
ainda assim ele prevalece e sempre cumpre seus propósitos e desígnios [15].
1º
- Pedro mostra que Deus é o Senhor da história. Por mais que o homem se negue a pensar o contrário
não é isso que vemos através dos relatos bíblicos. De Gênesis a Apocalipse nós
vemos o Senhor no controle da história da humanidade. Como disse o Senhor por
boca do profeta Isaías 43.13: “Ainda
antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas
mãos; agindo eu, quem o impedirá?”
2º
- Pedro mostra que o Teísmo Aberto é uma teologia diabólica. Essa teologia nega a onipresença, a onipotência e a
onisciência de Deus. Seus defensores apresentam outra definição onde afirmam
pretender uma reavaliação do conceito da onisciência de Deus, na qual se afirma
que Deus não conhece o futuro completamente, e pode mudar de ideia conforme as
circunstâncias.
O
Teísmo Aberto diz: “A soberania de Deus tem sido autolimitada em virtude da
criação de agentes livres” no caso em questão, o homem.
No
entanto a Bíblia nos mostra que Deus é soberano e controla todas as coisas no
mundo criado, incluindo as ações dos agentes responsáveis. Por isso Ele é Deus.
Os planos de Deus não podem ser frustrados (Jó 42.2).
EM SEXTO LUGAR, PEDRO DÁ UMA ORDEM IMPORTANTE (At
3.19).
Pedro
endereçou esse sermão a um povo religioso, não a um povo pagão; mas a um
público que acreditava na lei de Deus e observava atentamente seus rituais
sagrados. Porém, a religiosidade deles não era suficiente para salvá-los. Era
preciso que se arrependessem e se convertessem [16].
Eles
precisavam de arrependimento e conversão.
1º
- Arrependimento. Arrependimento
indica uma mudança de direção na vida da pessoa mais do que uma alteração
mental de atitude, ou um sentimento de remorso; significa o repúdio do modo de
vida pecaminoso e ímpio. É o ato de voltar-se do modo de vida antigo,
especialmente da adoração dos ídolos, para um novo modo de vida, baseado na fé
e na obediência a Deus (At 9.35; 11.21; 14.15; 15.19) [17].
Arrependimento
é muito mais do que se lamentar pelos pecados. O verdadeiro arrependimento
implica reconhecer que as palavras de Deus são verdadeiras e, por esse motivo,
transformam nossa maneira de encarar nossos pecados e o Salvador. O
arrependimento é uma dádiva de Deus (At 11.18); por outro lado, é uma resposta
do coração ao ministério do Espírito de Deus que nos convence do pecado (At
26.20) [18].
2º
- Conversão. O termo
conversão significa “Mudança de vida operada por Deus”. Essa mudança tem dois
aspectos. O primeiro, relacionado com o pecado, chama-se arrependimento. O
segundo, relacionado com Cristo, é a fé. É mudar de rumo e exercitar a fé salvadora em
Jesus Cristo. A conversão é o que acontece quando Deus desperta aqueles que
estão espiritualmente mortos e os capacita a se arrependerem de seus pecados e
a terem fé em Cristo (Ef 2.1-10).
Desta
forma, a conversão está intimamente ligada com a mudança de rumo na vida de
alguém. Quando uma pessoa se arrepende de seus erros, confessa a Jesus como
Único Senhor e Salvador, demonstrando fé e decide direcionar seus passos de
acordo com os ensinos da Palavra, está principiando um processo chamado
conversão.
EM SÉTIMO LUGAR, PEDRO FAZ UMA PROMESSA MARAVILHOSA
(At 3.19b-21).
Pedro
continua o seu sermão mostrando as consequências do arrependimento e da
conversão a Cristo. Ele mostra três bênçãos que eles iriam receber.
1º
- A bênção de serem cancelados os seus pecados. Mesmo depois de eles terem matado o Autor da vida
esse terrível pecado seria cancelado caso se arrependessem desse ato.
2º
- Viriam tempos de refrigério. A palavra
refrigério de acordo com o dicionário significa alívio ou consolo. Esse tempo
de refrigério começou com a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes. É
a consequência do arrependimento e da conversão a Cristo. É o alívio da alma que
procede do Senhor para cada um de nós, independente das circunstâncias ao nosso
redor.
3º
- O Senhor viria para buscá-los.
E por fim, o Senhor viria para buscar os seus para estarem com Ele para todo o
sempre. Aqui ele fala da restauração de todas as coisas quando teremos novo céu
e nova terra (Ap 21.1-7).
EM OITAVO LUGAR, PEDRO FAZ UM ALERTA DO QUE OS
PROFETAS FALARAM A RESPEITO DE JESUS (At 22-26).
Pedro
conclui o seu sermão abordando três correntes proféticas associadas a Moisés, a
Samuel (e seus sucessores) e a Abraão. Ele mostra que o Senhor veio como prova
do cumprimento profético, começando por Abraão, Moisés, Samuel e os demais
profetas, conf. Lc 24.44,45.
Veja
o texto de Lucas 24.44,45 que diz:
“São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda
convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para
compreenderem as Escrituras”.
O
sermão de Pedro é a aplicação desse entendimento das Escrituras. O Espírito
Santo abriu o seu entendimento para que ele entendesse e soubesse aplicá-la
para àquele momento.
1º
- Pedro cita Moisés. Pedro está
citando Dt 18.15-19 e Lv 23.29, 26.12. Nesta passagem, Moisés advertia o povo
de Israel contra o emprego das praxes mágicas para descobrir a vontade do
Senhor. Deus haveria de suscitar entre eles um profeta com a mesma capacidade
de Moisés para conhecer e declarar a vontade de Deus, e o povo deveria obedecer
àquilo que o profeta dizia [19].
De
que modo foi Jesus semelhante a Moisés? Deus usou Moisés para apresentar o Antigo
Pacto; Jesus apresentou o Novo Pacto. Moisés guiou a nação de Israel para fora
do Egito e conduziu os israelitas ao Sinai onde Deus os chamou a si mesmo (para
uma relação de pacto consigo mesmo – Êx 19.4). Jesus tornou-se no novo e vivo
caminho pela qual entramos na santíssima presença de Deus. Moisés deu ordem a
Israel para sacrificar um cordeiro; Jesus é o Cordeiro de Deus. Moisés foi
usado por Deus para operar grandes milagres e sinais; Jesus operou muitos milagres
e sinais.
Moises
advertiu as pessoas de que seriam excluídas se não recebessem e obedecessem a
este Profeta. Assim, embora Deus seja bom, há uma penalidade para os que não se
arrependem. Pedro enfatizou o significado da advertência de Moisés. Serão destruídos
dentre o povo. Isto é, Deus não destruirá seu povo como um todo, mas indivíduos
podem perder-se.
2º
- Pedro cita Samuel e os outros profetas. Samuel foi o grande profeta que veio logo depois de Moisés (1Sm 3.20).
Daquele tempo em diante, todos os profetas predisseram acerca destes dias, que
são os dias da obra de Deus através de Cristo. Alguns podem não ter apresentado
profecias específicas em seus escritos, mas todos eles apresentaram profecias
que conduziram ou prepararam para estes dias.
3º
- Pedro cita Abraão. Os judeus
aos quais Pedro estava falando eram descendentes legítimos dos profetas, também
herdeiros do pacto abraâmico com sua promessa de que na semente de Abraão
(Cristo) todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gn 22.18; Gl 3.16).
Essa
bênção prometida a todas as famílias da terra veio primeiro aos judeus de
Jerusalém. Todavia, isto não era um favoritismo da parte de Deus. Era a
oportunidade dada a eles de receber a bênção pelo arrependimento e pela
renúncia de seus pecados [20].
Assim
como Pedro, nós também podemos ter o entendimento das Escrituras, pois o mesmo
Espírito está sobre a Sua Igreja hoje. Como disse Tiago 1.5: “Se, porém, algum de vós necessita de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e
ser-lhe-á concedida”. Peça a Deus sabedoria para entender as Escrituras e o
Senhor lhe dará.
CONCLUSÃO
Vemos
que esse sermão dirigido à multidão começou com a bênção sobre um indivíduo, o mendigo
coxo. Primeiro foi esse pobre homem e, por fim, a multidão. Devemos valorizar
todas as pessoas e aproveitar todas as oportunidades que o Senhor nos dá para
falarmos dEle. Muitos pregadores hoje visam as multidões e não valorizam o
indivíduo. Quem assim procede não entendeu o sacrifício de Cristo na cruz.
Através
da cura do mendigo coxo ficou provado, diante dele e da multidão posteriormente,
que Jesus havia ressuscitado. A cura daquele pobre homem era a prova cabal desse
fato. Porém, Pedro não fez da cura do coxo um culto de cura divina, mas
aproveitou a oportunidade para pregar sobre o pecado do povo e os chamou ao
arrependimento, esse sim foi o maior milagre que poderia ocorre ali, a salvação
dos ouvintes.
O
verdadeiro testemunho inclui as “mas notícias” do pecado e da culpa, bem como
as “boas notícias” da salvação pela fé em Jesus Cristo. Não pode haver fé em
Cristo sem antes haver arrependimento do pecado. É ministério de o Espírito
Santo convencer os pecadores da sua culpa (Jo 16.7-11), e o Espírito realizará
essa obra quando dermos testemunho fiel e usarmos a Palavra de Deus [21].
Pense
nisso!
Notas
1
– Horton, Stanley M. O Livro de Atos. Editora Vida, Miami, Florida, E. U. A.
1983: p. 47.
2
– Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 82.
3
– Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 82.
4
– Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo.
Editora Candeia, São Paulo, SP, 10ª Reimpressão, 1998: p. 81.
5
– Lloyd-Jones, D. Martyn. Cristianismo Autêntico, volume 1. Editora PES, São
Paulo, SP, 2005: p. 310, 14.
6
– Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São
Paulo, SP, 2010: p. 101.
7
– Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 83.
8
– Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São
Paulo, SP, 2010: p. 101.
9
– Tozer, A. W. A Velha e Nova Cruz, http://www.monergismo.com/textos/cruz/cruz_tozer.htm,
acessado em 02/08/2016.
10
– Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora
Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 533.
11
– Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São
Paulo, SP, 2010: p. 102.
12
– Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 84.
13
– Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São
Paulo, SP, 2010: p. 102.
14
– Lloyd-Jones, D. Martyn. Cristianismo Autêntico, volume 1. Editora PES, São
Paulo, SP, 2005: p. 372, 80.
15
– Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora
Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 534.
16
– Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 86.
17
– Marshall, I. Howard. Atos, introdução e comentário, Edições Vida Nova e
Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1988: p. 80.
18
– Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora
Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 535.
19
– Marshall, I. Howard. Atos, introdução e comentário, Edições Vida Nova e
Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1988: p. 94.
20
– Horton, Stanley M. O Livro de Atos. Editora Vida, Miami, Florida, E. U. A.
1983: p. 50.
21
– Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora
Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 536.
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