Por Antônio Pereira Jr.
Muita gente tem uma ideia errada da humanidade de Jesus. Acham que ele era um tipo de super-homem. Alguém que não podia sentir dores, cansaços, tristezas, angústias, indignações e aflições. Nada mais diferente do que vemos nas páginas do Novo Testamento (Mc 10.14; Jo 11.35; Mt 26.37-38). Pior ainda é o erro que se tem da sua própria humanidade. Muitos cristãos advogam um triunfalismo exagerado onde a dor, decepções, angústias, crises e problemas não podem acontecer em hipótese alguma.
Em alguns lugares não se pode falar de fraquezas e fragilidades inerentes da condição humana. Só se pode falar de bênçãos e vitórias, como se isso fosse a regra e não a exceção. Jesus, no entanto, não fingia sentimentos, Ele disse em certa ocasião: “…A minha alma está sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal. Permanecei aqui e vigiai junto a mim” (Mt 26.38 – KJV). Será que quando alguém lhe pergunta como está você já disse algo parecido?
Cristãos que vivem de triunfalismos de domingo à noite não conhece de fato o Evangelho de Cristo. Essa espiritualidade dominical que não se sustenta no dia seguinte gera frustrações, tristezas e angústias que, muitas vezes, têm que ser abafadas e ignoradas na solidão de seu quarto até o fim de semana seguinte. Não precisamos fingir que somos sempre fortes. Cristo não o fez. E por que fazemos?
Hoje parece até pecado falar das fraquezas, como assim fazia o apóstolo Paulo, que entendia que a Graça de Deus se aperfeiçoa nas fraquezas inerentes do ser (2Co 12:7-10). Ou como numa música de Anderson Freire, cantada por Bruna Karla: “Sou humano, não consigo ser perfeito…” Graças a Deus que somos humanos, feitos de barro, apesar de que muitos se consideram de ouro. “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para demonstrar que este poder que a tudo excede provém de Deus e não de nós mesmos” (2Co 4.7). Somos todos feitos de barro…
O que dizer dos líderes cristãos de hoje? Muitos tentam ser o que, de fato, não são. Alguns se acham superpoderosos, perfeitos, acima da humanidade. Não aceitam sua própria condição humana. Acham-se blindados, invulneráveis. Alguns acham que nem adoecer podem…
Muitos que advogam uma condição sobre-humana, irrealizável e impossível, vivem com a alma cheia de culpa, medo e dúvidas, simplesmente por negar aquilo que é óbvio: somos seres humanos, sujeitos a tudo debaixo do sol. Lembre-se do que disse o próprio Jesus: “…Neste mundo tereis aflições” (João 16.33b). É um fato! Contudo, Ele continua: “Mas, tendes bom ânimo!”. Aflições, tribulações, problemas, sempre virão. Mas podemos suportá-los porque: “…não temos um sumo sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas fraquezas…” (Hb 4.15).
É uma desgraça ser, ou querer ser, um super-herói. Bom mesmo é reconhecer suas limitações, imperfeições e fraquezas. O apóstolo Paulo entendeu isso muito bem. Ele não queria ser visto como alguém inviolável, perfeito em todas as coisas, um ser sobre-humano, um superapóstolo, como alguns hoje se julgam (2Co 12.6, 10). Textos como esse nunca serão pregados em muitos púlpitos modernos. Sentir-se fraco não traz ibope hoje em dia. Paulo, entretanto, sabia que: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (2Co 10.17). Infelizmente muitos gostam de ser adorados…
Se o próprio Cristo não negou nem fingiu sua humanidade, devemos fazer diferente? Somos melhores que Ele? Como nos lembra o filósofo Mário Sérgio Cortella: “A maior vulnerabilidade é sentir-se invulnerável”. Ou como disse Freud: “Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro”.
Fonte: NAPEC
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