Por Fabio Campos
Texto base: “... todas as nossas boas ações são como trapos sujos”. – Isaías 64.6b (NTLH)
Quão belo é contemplar alguém caridoso, não é verdade!? Não é para menos, pois além de “glorificar o Pai que está nos céus”, às obras ajudam o próximo e materializa nossa fé, como está escrito: “... foi pelas obras que a fé se consumou” (Tg 2.22b). As boas ações e a caridade não são boas somente para aqueles que delas se beneficiam, mas para aqueles que as praticam.
Mas há um tipo de “boa ação” que é pecado diante de Deus; aquela qual não é feita pela fé, e como está escrito,“tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23b). A Escritura diz que este tipo de obra é tida por Deus como trapo de imundície. Trapo de imundície, na época, era qualquer pedaço de papo mal cheiroso que fora utilizado para limpar algo impuro, como por exemplo, a “menstruação da mulher” e as feridas de um leproso. Ambos os casos eram considerados impuros no Antigo Testamento e exigiam, até que sarados, o isolamento social (Lv 15.3; 13. 8-10).
É extremamente necessário “examinarmo-nos a si mesmo” todos os dias para saber se de fato fazemos boas ações para glorificar a Deus e ajudar o próximo ou para nos vangloriar do que fazemos e se mostrar aos homens. C. S. Lewis já dizia a respeito do ativismo, o que parece ser fervor pode ser apenas inquietação ou até auto-adulação de quem se considera importante. Por isso algumas motivações tornam nossas boas ações trapo de imundície perante Deus.
Temos, por exemplo, os fariseus hipócritas tão duramente criticados pelo Senhor Jesus Cristo. Para angariar aplausos, se mostravam caridosos, no entanto faziam a vista da multidão tocando trombetas para alardear suas “virtudes”. Muitos agem do mesmo modo! Fazem o bem com mão direita e logo a esquerda já está sabendo. Basta qualquer boa ação, que por um instante traga um conforto a consciência culpada, para uma bela postagem do tal ato no facebook. Tal coisa é contrária ao ensino bíblico, como está escrito: “Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” (Mt 6.3).
Outra coisa que torna nossas boas ações trapo de imundície é quando fazemos algo para ganhar o favor de Deus. Muitos querem se salvar em seus próprios méritos. Não são caridosos por amor ao próximo, mas porque amam a si mesmos. Quando uma “Testemunha de Jeová” bate na porta da sua casa, o objeto da salvação não é você, mas ele mesmo. Pensa que por suas obras, por aquilo que fazem para Deus serão salvos.
Muitos fazem por medo de Deus e, assim, pela caridade, pensam que estão, com isso, merecendo sua salvação. Boas obras neste intuito, por medo de Deus, para ganhar a salvação e não por amor a Ele, é uma afronta, já que somente em Jesus, e não na caridade, podemos ser salvos (At 4.12). Tal cousa é como um sino que ressoa; não faz sentido. Sem amor, ainda que eu distribua todos os meus bens aos pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se tal coisa não for feita unicamente por amor a Deus, de nada se aproveitará (1 Co 13. 3).
Nossas ações só são consideradas quando a realizamos por fé, pois tudo que não provem da fé, até nossas boas obras, quando são uma tentativa de merecer a salvação, é abominável. Na soberba, diríamos: “A minha própria mão me livrou” (Jz 7.2). Com a mesma soberba do Diabo, assim faz todo homem que se exalta diante de Deus ostentando sua “caridade”. Deus odeia o soberbo, mas concede favor aos humildes (Tg 4.6).
Os argumentos citados acima, geralmente são refutados pelos “cristãos” marxistas e pelos católicos romanos (não todos), com o texto de Mt 25. 31-46. O trecho em questão trata acerca de visitar o preso, dar comida ao faminto, hospedar o forasteiro e vestir aquele que não possui roupa. De fato, não há como ser cristão e faltar nestas coisas.
O problema é que este pessoal faz eisegese, e não exegese do texto. Tiram do contexto! Isolam da temática bíblica qual abrange outros textos para impor suas ideias e construir suas teologias.
No trecho de Mateus, Jesus trata do julgamento, e antes mesmo de iniciar, já é separado ovelhas dos bodes (v. 31). O que precisa ficar entendido é que ovelha sempre foi ovelha; ela nunca se esforçou para ser ovelha (v. 33). Contudo, tem o outro lado; o pessoal que foi posto a esquerda, estes são bodes. Sempre foram bodes; mas por muito tempo se disfarçaram de ovelhas e tentaram enganar muitas pessoas com sua falsa caridade, como está escrito: “acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15). Geralmente têm aparência de piedade, são caridosos, mas negam a Deus e a salvação em Jesus Cristo (2 Tm 3.5).
Não se deixem enganar, o diabo é muito mais bonito do que muita gente pensa. A Bíblia nos exorta a não ignorarmos os seus ardis (2 Co 2.11). Os filhos das trevas são mais habilidosos do que os filhos da luz (Lc 16.8).
A ovelha verdadeira faz sem saber que fez. O cristão verdadeiro - dá de comer ao faminto; dá de beber aquele que tem sede; hospeda o forasteiro sem saber (Hb 13.2); veste o que está nu e cuida do enfermo - mas ele tem para si mesmo que não está fazendo nada mais além do que sua obrigação. Veja que eles só saberão naquele dia que fizeram o bem, quando perguntarão ao Senhor: “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber” (Mt 25.37 NVI).
O verdadeiro cristão é como a candeia; sem saber, ilumine os de sua volta. O sol nunca poderá deixar de brilhar; ele não se esforça para tal coisa. Brilha sobre justos e injustos simplesmente porque é sol. Tão logo o cristão verdadeiro faz boas obras, mas se gloria somente em Cristo, porque sabe que fazendo o bem, ainda estará devendo o amor (Rm 13.8).
Não há quem ame o suficiente; e Deus requer que amemos perfeitamente (Mt 5. 48). Se você está devendo o amor, está pecando contra Deus; por isso que por obras ninguém se salvará, mas somente pela fé em Cristo. Mesmo sendo falhos, para Deus, em Cristo, somos perfeitos e santos (Hb 10.14). Isso nos humilha sob a poderosa mão de Deus e nos abate. É como um espinho na carne qual nos ajuda a não se vangloriamos diante do Senhor.
A Bíblia nos exortar a dar esmolas, entretanto, com critério. Ela não endossa a filantropia aos vadios, como está escrito: “... se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10). Jesus, no texto usado por aqueles que se vangloriam de suas obras, se refere fazer aos “pequeninos” que lhe pertenciam (v 41,45). Precisamos ter critério.
Precisamos ter prioridades. A Bíblia diz que precisamos cuidar de nossa família. Se você é caridoso com os de fora, mas tem negligenciado sua família, a Escritura diz que você é pior que um descrente (1 Tm 5.8). O Reverendo Hernandes Dias Lopes diz que deixar de socorrer seus progenitores é um escândalo para o cristão, uma contradição, uma negação do verdadeiro cristianismo [1]. A Bíblia também diz para priorizarmos os “domésticos da fé” (Gl 6.10).
Muitos usam o texto de Mateus (conforme citei anteriormente) para se apoiar em suas boas ações, cantando em alto e bom som a sua “bondade” aos homens. Contudo, vão visitar os presos (por justa causa) e alimentar os pedintes (que não querem trabalhar). Lógico que todos os seres humanos por serem a imagem e semelhança de Deus precisam ser respeitados na sua singularidade e tratados com dignidade. No entanto, aqueles que defendem este pessoal usando este texto, erram na sua interpretação. Estão justificando suas obras-mortas (já que delas se vangloriam) em algo que Deus não as considera.
No tempo de Jesus, na Palestina, os desfavorecidos só conseguiam recursos unicamente através de esmolas. Não tinham acesso com facilidade a um trabalho digno e nem sequer poderiam recorrer a pensão de um salário mínimo. Estes são os “pequeninos” que Jesus sinalizou. Os forasteiros eram aqueles que foram lançados em prisões por motivos injustos. Era comum também tomar o estrangeiro por escravo. Por isso que junto da viúva e do pobre, o estrangeiro está entre a classe que Deus tem mais ciúmes.
No mundo antigo, as pousadas eram notoriamente sujas, notoriamente caras e notoriamente imorais. Portanto, aqueles que abriam seu lar aos pregadores itinerantes prestavam um importante trabalho à custa do evangelho[2]. Jesus disse que aquele recebe um profeta e der a ele algo de beber, ainda quer for um simples copo d’água fria, pelo o fato de pertencer ao Senhor, tal pessoa de maneira alguma perderá o seu galardão (Mt 10.40-42).
Outro texto muito usado por aqueles que querem se apoiar em sua caridade é o de Tiago, que diz: “A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1.27 NVI). Até o cuidado para com as viúvas deveria ter seus critérios. A Bíblia diz para honrarmos as viúvas piedosas (1 Tm 5.3), e não aquelas que se entregam a prostituição (1 Tm 5.6). Nunca estaremos isentos das boas obras, pois os “pobres sempre estarão conosco” (Jo 12.8), entretanto, tudo precisa ser feito com critério através da “fé que opera pelo amor” (Gl 5.6).
Portanto, não perca o galardão de Deus em busca dos aplausos dos homens. Faça boas obras e seja caridoso, mas nunca perca de vista que para Deus você ainda é um “servo inútil” (Lc 17.10). Se você quiser se vangloriar de suas obras, lembre-se que tropeçando num só ponto da lei, também será réu de todos os outros (Tg 2.10). Eu pergunto: O seu amor é perfeito? Você já deixou de fazer o bem mesmo tendo como fazê-lo? Se sim!, a Bíblia diz que você pecou, pois certamente você deixou de fazer a um dos pequeninos de Jesus (Tg 4.17).
Não divulgue suas boas ações e seus atos caridosos; tente fazer o possível para que ninguém as descubra, pois caso comece a divulgá-las, tudo se tornará trapo de imundície para Deus, e o seu galardão será somente a adulação hipócrita dos homens. Faça tudo por amor a Deus; certamente Ele se alegrará de ti. Tudo mais que você fez no secreto, O Senhor te honrará perante os homens.
Termino dizendo: Você tem obras por que não tem fé; ou você tem fé e a demonstra por meio das obras? Deus se alegrará das suas obras se primeiro encontrar fé! Você tem fé para isso? Não deixe suas boas obras virarem trapo de imundice; faça por gratidão e não para ser agraciado.
Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,
Soli Deo Gloria!
Referências bibliográficas:
[1] LOPES, Hernandes Dias. 1 Timóteo; o pastor, sua vida e sua obra. Hagnos, 2014. São Paulo, SP, p. 118.[2] Ibid, p. 120.
Fonte: Fabio Campos
Muito disso me incomodou enquanto lutava contra o câncer. Pessoas que querem tirar proveito do nosso sofrimento. Costumo falar disso no meu blog: blogdeservo.blogspot.com.br
ResponderExcluirGraça e paz Calebe.
ExcluirÉ muito triste saber que tem gente que se aproveita da desgraça dos outros para se promoverem. Gente assim desconhece a graça de Deus.
Que o Senhor renove sempre a sua fé e que você não se deixe abater por tais pessoas que passaram por sua vida em seu momento de fragilidade.
Deus ê contigo meu irmão.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira