sexta-feira, 15 de agosto de 2014

INVERSÃO DE AUTORIDADE OU QUEM É QUE MANDA AQUI?


Por Pr. Silas Figueira

Por que me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que vos mando? Lc 6.46

Estamos vivendo uma grande crise, seja na igreja, em nossos lares, na sociedade e esta crise se chama “Crise de Autoridade”. E esta crise não vem de hoje, mas de muito tempo. O texto de Lucas 6.46 nos diz que o Senhor Jesus estava mostrando essa crise. As pessoas o chamavam de Senhor, e Ele o é, no entanto não faziam o que Ele mandava. E já que os homens não se sujeitam a autoridade divina, automaticamente não se sujeitarão as autoridades constituídas também. Seja ela a dos pais e as da sociedade. Estamos vivendo uma época onde encontramos muitos “caciques, mas poucos índios”.  

Mas nessa crise alguém tem que mandar, pois mesmo diante de uma crise de autoridade sempre haverá um líder. E o que temos visto é que estamos vivendo uma Inversão de Valores em relação à autoridade constituída por Deus. As pessoas estão querendo mandar quando na verdade deveriam obedecer, estão querendo revindicar seus direitos quando na verdade não tem direito algum ou pelo menos não o que exigem. Tudo isso começou com Satanás e ele por sua vez tem posto essa ideia fixa na cabeça das pessoas. Começou com Adão e Eva e chegando até nós hoje e, infelizmente, continuará até a volta de Jesus. Mas eu quero pensar com você sobre essa crise dentro de nossas igrejas.

INVERSÃO DE AUTORIDADE DENTRO DA IGREJA

Há uma inversão de valores instalada dentro de nossas igrejas hoje. Muitos líderes cristãos estão ensinando aos membros de suas igrejas que eles devem revindicar os seus direitos diante de Deus, pois assim como Deus é eles são também. Hank Hanegraaff em seu livro Cristianismo em Crise nos diz que alguns líderes estão ensinando que quando o Senhor criou Adão, criou uma criatura que não estava subordinada a Ele e que o Criador não podia exercer Sua autoridade na Terra sem primeiramente obter sua permissão [1]. Mas por causa da queda nossos primeiros pais perderam sua condição de deuses e foram infundidos com a própria natureza de Satanás, ou seja, o primeiro homem e a primeira mulher foram transformados de divinos para demoníacos ficando assim sujeitos ao pecado, às enfermidades e ao sofrimento. Mas através da encarnação de Cristo, sua morte e ressurreição, nós hoje nos tornamos também uma encarnação divina – tal qual Jesus de Nazaré! E, como encarnação de Deus, podemos ter saúde e riqueza ilimitadas. Assim podemos ter um palácio como Taj Mahal, com um Rolls Royce defronte dele [2].

Essa tem sido a ideia plantada na cabeça de muitas pessoas. Assim sendo – pensam eles – “já que eu sou um pequeno deus eu devo exercer a minha total autoridade na Terra”. Há uma distorção da Palavra de Deus e com isso muitas pessoas em muitas igrejas se tornaram arrogantes, presunçosas e pior, se veem autossuficientes. Pensam que Deus está a sua disposição e que Ele tem que realizar as suas vontades. O Senhor, para tais pessoas, não passa de um gênio da lâmpada, ou da Bíblia; basta abri-la e fazer os seus pedidos, ou melhor, fazer as sua exigências e o Senhor irá realizá-los. Pobres criaturas que pensam assim.

Nessa mesma linha de pensamento, alguns líderes “cristãos” estão dizendo que é errado orar dizendo para Deus fazer a Sua vontade. Eles ensinam que quem ora assim é porque não tem fé. E se você tem fé basta revindicar os seus direitos, ou melhor, basta falar com fé que as coisas devem acontecer.

Mas veja o que Tiago nos fala a respeito:

“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna” (Tg 4.13-16).

Quanta pretensão dessas pessoas que pensam diferente da Palavra de Deus. Como nos fala o Texto sagrado: “Toda jactância semelhante a essa é maligna”. Podemos falar sem medo de errar, quem tem ensinado diferente do que nos fala a Palavra de Deus são pessoas usadas por Satanás, são lobos em pele de cordeiros.

Observe a oração que o Senhor Jesus fez no Jardim do Getsêmani:

“E, saindo, foi, como de costume, para o monte das Oliveiras; e os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação. Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.39-44).

Muitos líderes pensam que essa oração do Senhor era sinal de Sua fraqueza na carne. A oração do Senhor no Jardim do Getsêmani é o maior sinal de submissão à autoridade do Pai. Entenda uma coisa, a vontade de Deus é absoluta, se não fosse da vontade de Deus que Jesus fosse crucificado isso não teria acontecido, mas era da vontade dEle que o Nosso Senhor passasse por ela. Através dessa humilhação que o Senhor Jesus alcançou toda autoridade no céu e na terra. Veja o que o apóstolo Paulo nos fala a respeito:

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fl 2.5-11).

Portanto, quando a submissão vem a partir do conhecimento da vontade de Deus, e eu sei qual é a vontade de Deus para minha vida através da leitura da Bíblia, pois ela é a nossa regra de fé e prática, eu não vou cometer tais devaneios.  Mas o que temos visto por aí é que a Palavra de Deus tem sido negligenciada nos púlpitos ou distorcidas neles. Por isso que por aí tanta gente confusa e algumas já até perderam a fé.

LÍDERES QUE NÃO PODEM SER QUESTIONADOS

Mas há outro problema instalado dentro da igreja, quando os líderes dizem que são deuses e que devem ser adorados como tal, e por isso não podem ser questionados. Veja por exemplo o que Moris Cerullo disse: "E quando estamos aqui de pé, vocês não estão olhando para Moris Cerullo; vocês estão olhando para Deus, estão olhando para Jesus!” [3]. Se ele é Jesus quem irá questioná-lo? Outro exemplo trágico é do Senhor Terra Nova que tem ensinado aos seus discípulos que o cristão deve preservar a identidade do seu líder. Para o Paipóstolo, o liderado nunca deve questionar a identidade de seu mentor. Segundo o Patriarca apostólico no dia em que João Batista fez isso, perdeu a cabeça. "Ele que havia preparado o caminho de Jesus, que era primo de Jesus, mas que perdeu o legado da identidade de Jesus, quando entrou na rota da suspeita da identidade de seu líder. “Herodes questionou a identidade de Jesus e foi comido por bichos. João Batista questionou a identidade de seu líder Jesus e por isso perdeu a cabeça. Todo aquele que duvida da identidade do líder perde a legitimidade e o legado da liderança de Jesus”, disse o Apóstolo." [4].

Onde está na Bíblia que João Batista perdeu a cabeça por ter questionado a identidade de Jesus? E quem disse que João Batista duvidou da divindade de Jesus?

Em primeiro lugar, foi o próprio João Batista quem disse para os seus discípulos quem era Jesus, leia João 1.29,30:

"No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim. Eu mesmo não o conhecia, mas, a fim de que ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, batizando com água. E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus".

João está testificando de forma inquestionável que Jesus era o Filho de Deus. Tanto que nos versículos 35 a 46 alguns discípulos de João Batista passaram a seguir a Jesus.

Mas, talvez você pergunte: "João quando estava preso não ficou com dúvidas se Jesus era o Messias que estava por vir?" Pois em Mateus 11.2-6 nos diz isso:

"Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço".

A dúvida aqui não era de João, mas dos seus discípulos. João estava dizendo para os seus discípulos que o tempo dele estava terminando, pois em breve ele iria morrer e os seus discípulos precisavam seguir a Cristo, e mesmo que ele permanecesse vivo, Jesus é quem era o Messias e não ele. Tanto que Jesus operou vários milagres na presença dos discípulos de João exatamente para que eles não tivessem dúvidas de quem Ele era.

Em segundo lugar, João Batista era um homem cheio do Espírito Santo. Ele tinha uma influência sobre as pessoas que não era algo natural, tanto que ele foi-nos apresentado como o Elias que estava por vir (Ml 4.5,6 cf Mt 17.9-13). Assim como o Espírito Santo estava sobre Elias no Antigo Testamento, da mesma forma o Espírito Santo estava sobre João Batista, tanto que eles eram muito semelhantes em matéria de comida e até vestimentas.

A influência de João Batista foi tão forte que foi necessário ele sair de "cena" da forma como saiu, pois se ele permanecesse vivo, provavelmente ele seria um empecílio no ministério de Jesus, não por ele, mas alguns de seus discípulos que provavelmente teriam dificuldade de seguir a Jesus. Você pode observar isso lendo Atos 19.1-7 quando Paulo, mais de vinte anos da morte de João Batista, encontrou discípulos de João lá em Éfeso.

João Batista nunca teve dúvidas de quem era Jesus, aí me vem o Terra Nova nos dizer que João perdeu a cabeça por ter questionado a identidade de Jesus? Destorceu as Escrituras para beneficio próprio. E tem gente que acredita nesse indivíduo. Coitado de quem o segue. Pior que há muitos outros líderes ensinado heresias semelhantes.

Há uma crise de autoridade instalada dentro de muitas igrejas, mas se nós nos comprometermos em observar a Sua Palavra e pô-la em prática, certamente teremos uma vida abençoada. Mas para que isso ocorra é necessário lê-la e estudá-la diariamente. Nunca nos esquecendo do que o Senhor Jesus nos falou em Mateus 7.15-23:

“Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.

Pense nisso e fique na Paz!
  
Fonte 

1 – Hanegraaff, Hank. Cristianismo em Crise, CPAD, Rio de Janeiro, 4ª Ed. 2004, p. 24.
2 – Ibid, p. 29.

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