Por Pr. Silas Figueira
Ser pastor em primeiro lugar é ser humano. Alguém que vive os mesmos dilemas que qualquer membro da comunidade cristã vivencia. É viver a vida com graça, e manifesta a graça do Senhor, mesmo quando as circunstâncias são adversas.
Ser pastor é ter a consciência de que foi escolhido por Deus, para fazer parte do grupo que exerce o mais excelente ministério (1Tm 3.1). É fazer parte do grupo que desiste dos seus sonhos profissionais e de sua carreira para sonhar os sonhos que o Senhor tem traçado para sua própria vida.
Ser pastor é doar-se aos demais. É ser uma pessoa aberta e sempre acessível aos seus irmãos e também ao seu próximo. Isto implica muitas vezes ter que abdicar de horas de sono. É necessário em muitos casos, vencer o seu cansaço para poder ajudar alguém ou até mesmo ter uma palavra amiga para uma pessoa aflita ou alguém que está em sofrimento.
Ser pastor é ser mensageiro de Deus. Anunciador das boas novas. É ser uma voz que clama com ousadia. Muitas vezes, a mensagem será dura, outras promoverá conforto e consolo. Muitos compreenderão os seus pecados e render-se-ão aos pés do Salvador. Ser pastor é ser voz e nada, além disto.
Ser pastor é ser guia. O pastor segue o caminho antes dos demais. Orienta os seus irmãos e mostra-lhes qual o caminho que deve ser seguido. Isto significa que, enquanto todos estão em segurança, muitas vezes o pastor está a percorrer o pântano tenebroso para poder conduzir o rebanho ao qual serve em segurança (Sl 23.4). Ele não abandona os seus, está presente na hora da angústia a guiá-los em segurança.
Ser pastor é chorar em silêncio. É sofrer sozinho. É ser alguém que tira forças de onde muitas vezes parece que já não existe nenhuma para poder fortalecer os que em sofrimento lhe procuram. É ser consolado pelo consolo e conforto que vê que promoveu na vida dos seus irmãos. É alegrar-se na vitória daqueles que ele tanto ama.
Ser pastor é fundamental e acima de tudo, é ser um cristão salvo pela graça do Senhor Jesus. É alguém que compreendeu que sua vida não faz sentido sem a comunhão e intimidade com o Senhor e o seu povo.1
Podemos dizer com isso que o pastor não é um voluntário, mas uma pessoa chamada por Deus. Sua motivação não está em vantagens humanas, mas em cumprir o propósito divino. O ministério não é um palco de sucesso, mas uma arena da morte. O ministério não é um camarim onde colocamos máscaras e assumimos um papel diferente daquele que, na realidade, somos, mas é um campo de trabalho cuja essência é a integridade. Abraçar o ideal do ministério é abrir mão de outros ideais.2 O ministério é árduo, espinhoso, difícil. Só mesmo os chamados resistem. Dois vocábulos são usados por Paulo em 1 Coríntios 4.1, Uperetes (ministro) e oikonomos (despenseiro, mordomo) significando remador e administrador respectivamente. Todos os dois no sentido de serviço laborioso, organizado e sistemático.
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1).
A palavra “ministro” na língua portuguesa representa o primeiro escalão do governo. No entanto, se olharmos a palavra “ministro” no campo religioso, estaremos falando de alguém que exerce a função de líder religioso na igreja local. Todavia, a palavra usada pelo apóstolo Paulo para definir o ministro nos dá uma ideia totalmente contrária. A palavra grega usada é Uperetes, que significa um remador de galés. Essa palavra era utilizada para a classe mais simples de escravos. A palavra Uperetes só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Nos grandes navios romanos existiam as galés, que eram porões onde trabalhavam os escravos sentenciados à morte e eles prestavam um último serviço antes de morrer. Eles tinham seus pés amarrados com grassas correntes e trabalhavam à exaustão sob o flagelo dos chicotes até à morte. Paulo está dizendo para não colocarmos os holofotes sobre um homem, porque importa que os homens nos considerem uperete e não como capitães do navio. O ministro da igreja é um escravo já sentenciado à morte, que deve obedecer as ordens do Capitão do navio, o Senhor Jesus.3
Paulo utiliza agora uma nova figura. Ele diz que o pastor é um despenseiro ou mordomo. A palavra grega utilizada por Paulo é oikonomos, de onde vem a palavra mordomo. O ministro é um despenseiro, aquele que toma conta da casa do seu senhor. Em relação ao dono da casa, o mordomo era um escravo, mas em relação aos outros serviçais, ele era o superintendente. O mordomo era a pessoa que cuidava da despensa, da dieta, da alimentação de toda a família. Ele era um escravo de confiança da casa. O que isso nos sugere?
a) Não é competência do mordomo prover o alimento para a família; essa era uma responsabilidade do dono da casa. O ministro do evangelho não tem de prover o alimento, porque esse já foi provido. Esse alimento é a Palavra de Deus. Reter a Palavra ao povo é um pecado.
b) Não era função do mordomo buscar outra provisão ou qualquer alimento que não fosse pelo senhor. A Palavra de Deus deve ser ensinada de formas variadas. Paulo diz para ensinarmos todo conselho de Deus (At 20.27). Nos dias atuais nenhum homem ou mulher recebe mensagens novas de Deus. Tudo o que Deus tem para nós já está nas Escrituras. A pregação de hoje não é revelável, mas expositiva.
c) A função do mordomo era servir as mesas com integridade. O ministro não é um filósofo que cria a sua própria filosofia. Não é assim o despenseiro. Ele não cria uma doutrina, uma teologia ou uma ideia a fim de aplicá-la e ensiná-la. Cabe a ele transmitir o que recebeu. E Paulo sempre usa essa expressão: “[Eu] vos entreguei o que também recebi” (1Co 11.23; 15.3).4
Os ministros deverão ter chamada específica e caracterizar-se por fidelidade, piedade, responsabilidade, integridade e ter familiaridade com a palavra de Deus. Hoje em dia, é muito fácil encontrarmos obreiros administradores, construtores e sistemáticos dentro de padrões humanos. Porém a obra carece de obreiros que distribuam o alimento, que é a Palavra, diretamente de Deus aos corações, e isto será feito a partir da utilização de dons que destacam o lado espiritual da obra de Deus, em contraste com as obras meramente humanas como construções, aquisições e conceitos baseados na lógica e ciência puramente humana.
O verdadeiro obreiro também será aquele que sabe conviver com responsabilidade de seu chamado e as críticas que advirão desta chamada. Somos vitrine, expostos a juízos: de Deus, da Igreja, de nós mesmos e da sociedade como um todo.
Façamos das palavras de Paulo a Timóteo nosso lema: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15).
O obreiro como ministro de Cristo, deverá acima de tudo ter a habilidade de abrir portas, caminhos (construir pontes), unir distâncias, pessoas e vidas. Em suma, não haverão portas fechadas aos servos de Deus, no que depender do seu testemunho.
Notas:
1 – Santos, Marcos Amazonas dos. Ser Pastor. www.opbbcarioca.com.br, acessado em
15/03/13.
2 - Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008:
p. 36.
3 – Lopes, Hernandes Dias. 1Coríntios, Como resolver conflitos na igreja. Ed.
Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 71.
4 – Ibid: p. 71-73.
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