sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Ato da Pregação


A Pregação é a teologia em chamas! É a lógica pegando fogo!
D. Martyn Lloyd-Jones

O que está acontecendo? O pregador está falando aos ouvintes da parte de Deus e a respeito dEle, está falando sobre a condição dos ouvintes — o estado da sua alma. Está lhes dizendo que, por natureza, estão sob a ira de Deus — são “filhos da ira, como também os demais” — e que o caráter de seu viver é ofensivo a Deus, está sob o juízo dEle. O pregador está advertindo-os sobre a temível possibilidade eterna que os aguarda. De alguma maneira, o pregador, entre todos os homens, deve estar consciente da natureza fugaz da vida neste mundo. Os homens mundanos vivem tão imersos em seus negócios e atividades, em seus prazeres e toda a sua ostentação, que a única coisa sobre a qual eles nunca param para considerar é o caráter passageiro da vida. Tudo isso enfatiza que o pregador sempre deve criar e comunicar a impressão da seriedade daquilo que está acontecendo no momento em que ele aparece no púlpito. Você deve lembrar as famosas palavras de Richard Baxter:

Preguei como se não tivesse certeza de que pregaria novamente, como um homem moribundo para moribundos.

Creio que esta declaração não pode ser melhorada. Você também recorda o que se disse a respeito do piedoso Robert Murray McCheyne, da Escócia, no século XIX. Afirma-se que, ao subir ao púlpito, antes mesmo de haver proferido uma única palavra, o povo começava a chorar em silêncio. Por quê? Por causa deste elemento da seriedade. A própria contemplação daquele homem dava a impressão de que ele viera da presença de Deus e de que lhes transmitiria uma mensagem da parte de Deus. Isso é o que exercia tão extraordinário efeito sobre os ouvintes, antes mesmo de McCheyne abrir a boca. Esquecemos este elemento ao nosso risco e a grande custo para os ouvintes.

Apresento agora algo cujo propósito é corrigir (ou talvez não tanto corrigir, e sim salvaguardar) toda incompreensão daquilo que venho afirmando. Refiro-me ao elemento da “vivacidade”. Isto ressalta o fato que a seriedade não significa solenidade, nem tristeza, nem morbidez. Todas estas coisas são distinções importantes. O pregador deve mostrar-se vívido; e é possível mostrar-se vívido e sério ao mesmo tempo.

Permita-me expressar isto em outras palavras. O pregador jamais deve ser monótono, nunca deve ser enfadonho; ele nunca deve ser o que se chama de “cansativo”. Estou enfatizando estas particularidades por causa de algo que já me disseram muitas vezes e que me preocupa em grande medida. Pertenço à tradição Reformada e, talvez, tenha contribuído algo, na Inglaterra, para a restauração desta ênfase, nos últimos quarenta anos. Portanto, sinto-me perturbado quando membros de igrejas me dizem, com frequência, que muitos dos pregadores reformados mais jovens são homens excelentes, que lêem muito e são eruditos, mas são homens bastante monótonos e enfadonhos; e isso me tem sido dito por pessoas que seguem a tradição Reformada. Para mim isso é muito sério; existe algo radicalmente errado em pregadores monótonos e enfadonhos. Como pode ser monótono um homem que trata desses assuntos? Quero dizer que um “pregador monótono” é uma contradição; se ele é monótono, não é um pregador. Pode subir a um púlpito e falar, mas certamente não é um pregador. Ante o grandioso tema e mensagem da Bíblia, a monotonia se torna impossível. Este é o assunto mais interessante, mais emocionante e mais envolvente que há no universo. E a idéia de que isto pode ser apresentado de maneira enfadonha me faz duvidar seriamente que os homens culpados desta monotonia compreenderam a doutrina que estão defendendo e na qual afirmam crer. Com freqüência, somos traídos por nossa conduta.

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