domingo, 22 de outubro de 2017

AS BEM-AVENTURANÇAS - PARTE 2


Por Pr. Silas Figueira

4 – BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA (Mt 5.6).

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”.

Essas três primeiras Bem-aventuranças tratam diretamente do nosso ego – que é o nosso interesse próprio. A primeira fala que devemos ser humildes, no sentido de olharmos para nós mesmos e ver a nossa penúria espiritual e a nossa total dependência de Deus. A segunda nos mostra que diante disso nós choramos de arrependimento devido ao nosso estado pecaminoso, devido a nossa miséria espiritual. Os soberbos não choram; e por fim, nós abrimos mão da nossa vontade própria nos sujeitando a vontade de Deus através da mansidão. Observe que isso é uma sequência, e que a chave que abre todas as outras bem-aventuranças é a pobreza espiritual.

O apóstolo Paulo nos diz que no fim dos tempos, ou, nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, mas tendo a forma de piedade (2Tm 3.1,2,5). O problema não estará do lado de fora da igreja, mas dentro dela, ou seja, no homem.

Nessa quarta bem-aventurança Jesus fala sobre fome e sede. Jesus estava falando sobre algo que essas pessoas entendiam muito bem este tipo de necessidade. Os verbos no grego são muito fortes. Peinao significa estar necessitado, sofrer de fome profunda. A palavra dipsao traz a ideia de sede de verdade. Lembre-se, esta não é uma exigência apenas para os que estão vindo para o reino, mas também o padrão para os que já estão nele [1].

1º - O que não significa ter fome e sede de justiça na perspectiva bíblica?É não ter fome e sede de bênçãos; e nem nos compete ter fome e sede de felicidade. Ora, o que o mundo anda fazendo é precisamente isso. Todos estão procurando achar a felicidade, porquanto esse é o seu objetivo fixo. No entanto, não encontram a felicidade, pois sempre que alguém põe a felicidade acima da justiça, quanto a ordem de prioridade, tal esforço está condenado ao fracasso mais miserável [2].

Quem busca tal felicidade sem pensar na justiça passa por cima de tudo e de todos. Essa pessoa é extremamente egoísta, ou em outras palavras, um tremendo hedonista. Essa pessoa quer ser feliz e busca a “bênção” sem se importar que para isso tenha de agir de forma injusta com os outros. O que tais pessoas querem é a felicidade a qualquer preço.

2º - O que significa ter fome e sede de justiça na perspectiva bíblica? John Stott diz que a justiça na Bíblia tem pelos menos três aspectos: o legal, o moral e o social [3].

a) A justiça legal é a justificação, é um relacionamento certo com Deus. E eu vou além, isso envolve a santificação também. Por ser o homem um pecador (Rm 3.23), este não é justificado diante de Deus através de sua própria justiça. Por mais que façamos tudo de bom, por mais que andemos de forma a não prejudicar ninguém e façamos o bem a todos, nada disso nos justifica diante de Deus. Essa é a doutrina dos espiritualistas. Eles ensinam que quem age assim será “justificado” na próxima reencarnação.

Cornélio era um homem justo e a sua conduta agradava a Deus, mas tais condutas não lhe garantiam a sua salvação (At 10.1-4; 11.13,14). Isso porque pelas obras ninguém poderá ser justificado diante de Deus, pois o padrão para entrar no céu é a perfeição (Mt 5.48). Como o homem pode ser justo diante de Deus? Aquilo que o homem não podia fazer, Deus fez por ele. Deus enviou Seu Filho ao mundo como nosso representante e fiador. Quando Cristo foi à cruz, Ele foi em nosso lugar [4].

b) A justiça moral é a justiça de caráter; de ter conduta que agrada a Deus. É muito mais que mera moralidade. Ela ultrapassa a boa conduta na sociedade. Não quero com isso dizer que tal coisa seja ruim, não é isso. É que o Evangelho vai muito além disso. É a busca de uma conduta pura que agrada a Deus. Não é uma conduta de fachada como os fariseus viviam, e por isso, foram recriminados pelo Senhor Jesus (Mt 5.20).

Jesus não está falando de justiça moral farisaica, pois quem tem fome e sede de justiça deseja ardentemente ter mente pura, coração puro, vida pura.

c) Justiça social refere-se à busca pela libertação do homem da opressão, junto com a promoção dos direitos civis, da justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da honra no lar e nos relacionamentos familiares. Assim, os cristãos estão empenhados em sentir fome de justiça em toda a comunidade humana para agradar a um Deus justo [5].

A única verdadeira felicidade é ser íntegro com Deus em todas as áreas da vida. É termos a consciência tranquila de que no que depender de nós a injustiça não será aplicada a ninguém.

3º - Alguns problemas graves relacionados ao apetite. Para entendermos o que o Senhor Jesus estava ensinando aos seus discípulos através desta Bem-aventurança. O Reverendo Hernandes Dias Lopes enumera algumas questões graves em relação ao apetite espiritual [6]:

Os mortos não têm apetite. As iguarias da mesa de Deus não despertam nenhum apetite nos espiritualmente mortos. A fome é o primeiro sinal de que uma pessoa está viva.

Falta de apetite é uma doença. Quando as pessoas recusam o alimento, é porque não estão com fome. Quando elas fazem pouco caso do evangelho, é porque estão cheias de si mesmas. Jesus tinha apetite pelas coisas do Pai (Jo 4.34).

A inanição é evidência de uma alimentação escassa. Quando uma pessoa não se alimenta de forma correta ou não recebe alimento suficiente para atender as suas necessidades, ficam fracas, desnutridas e, consequentemente, não se desenvolvem. Muitos pregadores inescrupulosos e gananciosos criam suas próprias igrejas como empresa familiar. Fazem do púlpito um balcão, do evangelho, um produto, do povo, uma clientela. Vendem por dinheiro a graça de Deus e pelo lucro a consciência. Torcem a verdade, pregam outro evangelho que na verdade não é evangelho de Cristo, e enganam os incautos com promessas mirabolantes de riquezas e glórias neste mundo.

Muitas doenças são provocadas por uma alimentação inadequada. Ninguém pode ter boa saúde se tem uma péssima alimentação. Não há nada mais nocivo à saúde do que ingerir um alimento estragado ou venenoso. Um falso evangelho é veneno.

A desnutrição produz raquitismo. Uma pessoa que não recebe alimento saudável e suficiente pode sofrer de raquitismo. Seus membros ficam atrofiados e seu desenvolvimento, comprometido. As igrejas que abandonam o genuíno evangelho em busca de novidades precisam ter muita criatividade. As novidades são como goma de mascar. No começo é gostoso, doce. Depois, o açúcar acaba e a pessoa começa a mascar borracha.

4º - Os que têm fome e sede de justiça não aceitam a injustiça. Os que verdadeiramente tem fome e sede de justiça, não somente evitam as coisas que sabem serem más e prejudiciais, como também evitam as coisas que contribuem para embotar nosso apetite espiritual [7]. Por isso que o Senhor disse que os que tem fome e sede de justiça serão fartos. Fartos é uma palavra forte. É usada para descrever o ato de alimentar um animal. Significa estar totalmente satisfeito. Deus quer nos fazer felizes e satisfeitos. Satisfeitos do que temos fome e sede. Satisfeitos de justiça [8].

Vivemos num mundo onde reina a injustiça em todos ramos da sociedade. O que mais temos contemplado são juízes julgando em causa própria. A injustiça prevalecendo cada dia mais. A impressão que temos é que isso nunca terá fim. Mas haverá um dia em que a justiça de Deus será totalmente aplicada, essa injustiça que reina não é eterna. Veja o que o Senhor nos fala em Apocalipse 6.9-11:

“Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”.

Os que têm fome e sede de justiça são os que, por ansiarem por ver o triunfo de Deus sobre o mal e o seu reino plenamente estabelecido, anseiam também por fazer eles próprios o que é justo e reto [9]. Aquele que tem fome e sede de justiça será farto agora e na eternidade, na terra e também no céu.

5 – BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS (Mt 5.7).

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.

Os misericordiosos são aqueles que estão conscientes de ser indignos recipientes da misericórdia de Deus e que, não fosse por essa misericórdia, eles não seriam apenas pecadores, mas pecadores condenados. Consequentemente esforçam-se por refletir no seu convívio com outros algo da misericórdia que Deus mostrou para com eles. E quanto mais fazem isto, mais a misericórdia de Deus se estende sobre eles [10].

Esta bem-aventurança trata da nossa da nossa ação diante dos homens. Podemos dizer que as primeiras bem-aventuranças tratam da questão do ser, esta trata da questão do fazer. De como pôr em prática o que somos diante de Deus. No cristianismo o ser vem antes do fazer. Quem é, faz. A fé sem obras é morta (Tg 2.17) [11].

1º - Nem sempre a misericórdia recebida é a misericórdia dada. Há muitas pessoas que recebem misericórdia, mas não compartilham a misericórdia recebida. Tais pessoas são egoístas e perversas. Um psicopata não tem misericórdia. Tal pessoa é como o Mar Morto, só recebe água doce, mas não a tem para dar.

Como algumas pessoas deixam de demonstrar a misericórdia recebida? Vamos enumerar algumas situações.

a) Quando a pessoa tem prazer em desmerecer o nome das outras pessoas. Há pessoas que o prazer delas é destruir a reputação dos outros. Isso é uma grande crueldade. Isso demonstra inveja e orgulho. Pessoas que, muitas vezes, têm até mais do que nós, mas o prazer delas é que não tenhamos nada, principalmente boa reputação. O bom nome vale mais do que as riquezas (Pv 22.1). Quem não tem misericórdia espalha boatos falsos e maliciosos. São caluniadores. A palavra grega para caluniador é diabolos (1Tm 3.11).

b) Quando expomos os erros dos outros. Como disse Jesus: “Aquele que dentre vós  estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra” (Jo 8.7). Se há pessoas que gostam de destruir a reputação dos outros, há os que gostam de espalhar o pecado dos outros. Isso geralmente ocorre porque as pessoas que espalham os erros dos outros se sentem muito mais santas. Se sentem melhores que as outras. Tem gente que é igual urubu, tem uma atração mórbida por aquilo que cheira mal.

c) Quando passamos adiante o que ouvimos dos caluniadores. Isso se chama fofoca. E a Bíblia nos exorta a não andarmos com mexeriqueiros (Lv 19.16):

“Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o SENHOR”.

Veja também o que nos diz Êxodo 23.1:

“Não espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio, para seres testemunha maldosa”.

Pessoas que agem assim são pessoas sem misericórdia. É gente usada pelo diabo para tentar destruir a vida alheia. E pior que isso, sempre tem aquele que ainda diz: “Onde há fumaça há fogo”.

Veja o que nos fala Provérbios 6.16-19:

“Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”.

d) Quando nos calamos diante das calúnias. Tem gente que ouve a calúnia, sabe que não é verdade, mas não fala nada. Ser misericordioso é defender o direito das outras pessoas.

2º - A misericórdia recebida é a misericórdia dada. O maior exemplo de misericórdia foi demonstrado por Jesus. Ele curou os doentes, alimentou os famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores, tocou os leprosos. Ele fez com que os solitários se sentissem amados. Ele consolou os aflitos, perdoou os pecados e restaurou os que haviam caído em opróbio [12]. Mas ele deu uma ordem direta em relação a essa misericórdia recebida, Ele disse para os discípulos agirem da mesma forma (Mt 10.8).

O Evangelho põe toda a sua ênfase sobre a questão do ser, e não sobre a questão do fazer, mas no momento em que eu sou eu faço. Vemos como exemplo a parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25-37). Essa parábola demonstra a misericórdia em ação. É isso que significa ser misericordioso. Não está envolvido o mero sentimento de compaixão; mas também há um profundo desejo, e até mesmo ação, para que a situação afetiva seja aliviada [13]. Trazendo para os dias de hoje esta parábola, podemos dizer que passou o pastor, depois passou o diácono mas não ajudaram o pobre homem, aí passou um não crente e se compadeceu dele.

Misericórdia envolve empatia e não simpatia, por isso que a misericórdia não é uma virtude natural. Por natureza o homem é mau, cruel, insensível, egoísta, incapaz de exercer a misericórdia. Você precisa nascer de novo antes de ser misericordioso.

Em outras palavras, Jesus estava lhes dizendo: “As pessoas no meu reino não recebem; elas dão. As pessoas no meu reino não se colocam acima dos outros – são pessoas que se curvam” [14].

3º - As recompensas prometidas aos misericordiosos: “alcançarão misericórdia”.  Antes de falarmos de recompensas, é bem deixar claro que não somos merecedores de nada. Como disse John Stott: “Não que possamos merecer a misericórdia através da misericórdia, ou o perdão através do perdão, mas porque não podemos receber a misericórdia e o perdão de Deus se não nos arrependermos, e não podemos proclamar que nos arrependemos de nossos pecados se não formos misericordiosos com os pecados dos outros” [15].

a) Alcançarão misericórdia porque que a misericórdia é uma via de mão dupla. Nós recebemos de Deus o que nós damos para os outros, e damos para os outros o que recebemos de Deus. Somente as pessoas que percebem verdadeiramente sua posição diante de Deus, de seu relacionamento com Deus, é que necessariamente sentem compaixão por seus semelhantes.

b) Alcançarão misericórdia não dos homens, mas de Deus. Não se surpreenda se a pessoa com a qual você agiu com misericórdia te decepcione. Isso, infelizmente, é a coisa mais comum que existe. Jesus foi a pessoa mais misericordiosa que já existiu, e o povo clamou por seu sangue. Ninguém se levantou para defende-Lo, nem seus discípulos, nenhuma das pessoas que Ele curou, nenhum ex-leproso se colocou como advogado de defesa do Nosso Senhor. Ele não recebeu misericórdia alguma das pessoas a quem distribuiu misericórdia [16].  

Nós alcançaremos misericórdia vinda da parte de Deus, pois somente Ele pode ser misericordioso de forma plena. Não quero com isso dizer que todas as pessoas com quem usarmos de misericórdia serão injustos conosco, não é isso. Eu quero dizer que devemos ser misericordiosos com todos, mas esperar do Senhor a recompensa.

6 – BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO (Mt 5.8).

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”.

O Secretário Geral do Partido Comunista, Nikita Kruschev, em um discurso antirreligioso em um plenário do Comitê Central da União Soviética disse: “Gagarin voou ao espaço, mas não viu nenhum Deus ali”. Outros dizem que está frase pertence ao próprio Yuri Gagarin – o primeiro homem (cosmonauta) a ir ao espaço. Mas, segundo Jesus, para vermos a Deus não é necessário irmos ao espaço sideral, para tal devemos sim ter um coração limpo.

Antes de entendermos o que vem a ser um coração limpo, devemos entender o que vem a ser a palavra coração segundo a Bíblia.

1º - O vocábulo coração segundo a Bíblia. Em termo geral, o coração é tido como o centro da personalidade. Não indica meramente a sede dos afetos e das emoções. Esta bem-aventurança não é uma declaração que vise dizer que a fé cristã é algo primariamente emocional, e não intelectual ou pertencente ao terreno da vontade. De maneira nenhuma! Nas Escrituras, a palavra “coração” envolve todos esses três conceitos. O coração é o centro do ser e da personalidade do indivíduo; é igualmente a fonte de onde brota tudo quanto daí se segue. Inclui a mente. Inclui a vontade. Inclui as emoções. Essa palavra considera o homem em sua totalidade [17].

Jesus está ressaltando que a pureza deve penetrar em todos os recônditos da nossa vida: nossos pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade. A Bíblia diz: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23) [18].

2º - O coração é um manancial de impureza (Mt 15.19). O Senhor Jesus em Mateus 15.19 nos diz assim: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias”.

Não é o meio em que vive que contamina o homem, o homem é mau por natureza. O problema não está do lado de fora, mas do lado de dentro, ou seja, dentro do coração. É só ver que o Adão caiu estando em um ambiente totalmente limpo do pecado, mas lá caiu. Jeremias 17.9 também nos diz algo semelhante:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

O coração do homem em resultado da queda, em resultado do pecado, como nos diz as Escrituras é desesperadamente corrupto. Por isso que em Ezequiel 11.19,20 nos diz:

“Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus”.

Davi também disse algo semelhante no Salmo 51.10:

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável”.

3º - O que vem a ser “limpos de coração?”. Para entendermos o que o Senhor disse que bem-aventurado são os limpos de coração, devemos entender o que não é essa limpeza.

a) Não é uma limpeza cerimonial. Na versão ACF diz: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”. Observe que diz que “eles” verão a Deus. Essa palavra “eles” no grego é autoi, que significa apenas eles, ou seja, somente os limpos de coração. O Senhor aqui está colocando em xeque a ideia que os fariseus tinham de achar que eles é que eram puros, pois afinal de contas eles se purificavam cerimonialmente sempre. Eles eram criteriosos quanto a cumprirem determinadas práticas como o lavar as mãos, vasos e panelas, no entanto o Senhor disse para eles em Mateus 23.27:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!”

Há pessoas que são como os fariseus, pensam que podem se purificar cerimonialmente sem serem limpos de coração.

b) O sentido bíblico para limpos de coração. A palavra “limpos” no grego é “kátaros”, que aqui nos dá a ideia de ser limpo de toda hipocrisia, ou seja, é uma total devoção sem a pessoa estar dividida. É um coração sincero. O coração limpo é um coração totalmente entregue a Deus, e por estar entregue a Deus ele está limpo de toda e qualquer contaminação. E quando se contamina, busca de Deus o perdão de seus pecados, pois reconhece o seu estado (1Jo 1.9).

c) Como podemos purificar o nosso coração? Se o nosso coração é tão terrível como a Bíblia descreve, como posso então ter um coração limpo? De que forma isso pode ocorrer? Creio que para essas perguntas há três respostas.

1 – Através do verdadeiro arrependimento. Tanto que o Senhor Jesus começou o seu ministério dizendo: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17).

A solução de Deus para o coração pecaminoso e a regeneração, é o nascer de novo, é voltar-se para Deus pela “fé”, e aceitar Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor pessoal. O coração que experimenta o novo nascimento de Deus tem o desejo de amar e obedecer. Este tem um novo coração.

Através do arrependimento o Espírito Santo habita em nós e Ele purifica-nos dos pecados. Somente a Sua presença no íntimo pode limpar-nos o coração. Ele faz isso operando em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13).

2 – Observando a Palavra de Deus. O Salmo 119.9 diz: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra”.

Jesus orou ao Pai pedindo que nos santificasse na verdade, pois a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17). A Bíblia é como um espelho que mostra o nosso estado espiritual. Quando eu a leio eu me vejo como na verdade eu estou.

3 – Confessando sempre os pecados a Deus. O texto de João nos fala duas vezes a respeito disto. Veja em 1Jo 1.7,9:

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.

Através da confissão dos nossos pecados o Senhor nos purifica dos nossos pecados através do sangue de Jesus. Através do sangue d Jesus derramado na cruz os nossos pecados foram lavados. A Bíblia nos diz que Jesus levou sobre si os nossos pecados:

“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe 2.24).

4º - A recompensa de ter um coração puro. A gloriosa recompensa dos puros de coração é que eles verão a Deus. O verbo grego está no futuro contínuo. Em outras palavras: “Eles verão continuamente a Deus” [19]. Hoje nós vemos a Deus pela fé, mas chegará o dia em que o veremos face a face, como nos fala João em sua primeira carta:

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2).

Aqueles que não têm o coração puro não verão a Deus, pois a Bíblia diz que, sem santificação, ninguém verá a Deus (Hb 12.14). Aqueles que se recusam a ser lavados no sangue do Cordeiro serão banidos para sempre da face do Senhor e viverão para sempre nas trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes. Deus é luz, Deus é amor. Longe de Deus só reinam treva e ódio. Os limpos de coração verão a Deus. Mais do que tesouros, mais do que glórias humanas, nossa maior recompensa é Deus. Ele é melhor do que as suas dádivas. Ele é a nossa herança, a nossa recompensa. Teremos a Deus, veremos a Deus por toda a eternidade! Oh, que glória isso será! [20].

Fonte:

1 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 104. 
2 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 68. 
3 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 34. 
4 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 63. 
5 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 35. 
6 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 67,68. 
7 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 82. 
8 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 109. 
9 – Tasker, R. V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985: p. 49. 
10 – Ibid; p. 50. 
11 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 81. 
12 – Ibid; p. 82. 
13 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 91. 
14 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 119. 
15 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 38. 
16 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 118. 
17 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 101. 
18 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 96. 
19 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 147. 
20 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 107.

Nenhum comentário:

Postar um comentário