quinta-feira, 27 de julho de 2017

NENHUMA IMAGEM DE ESCULTURA


Por Timothy Keller

Quando pensamos que Deus tem que agir conforme o nosso querer Ele não passa de um ídolo para nós. Ou, mais especificamente, o Deus que apoia os nossos planos, segundo o que nós achamos melhor para o mundo e a nossa história, esse Deus não passa de uma criação nossa, um deus falso. Nesse modo de agir, Deus é o nosso “parceiro”, alguém com quem nos relacionamos desde que ele faça o que queremos. Se ele quiser agir de outra maneira, nosso desejo é “despedi-lo” ou “hostilizá-lo”, como faríamos com um assistente pessoal ou um conhecido insubordinado ou incompetente.

Elisabeth Elliot no epílogo do livro Através dos portais do esplendor, escrito em 1996, em que relata a morte de cinco missionários, dentre eles o seu esposo Jim Elliot, ela relata que eles queriam alcançar o então isolado e hostil povo waorani da floresta amazônica. No entanto, eles foram mortos por esses índios, deixando para trás muitas viúvas e órfãos. Elizabeth Elliot desafia os pontos de vista secular e tradicional a respeito de Deus e do sofrimento como algo simples e ingênuo. Ela alerta contra a tentativa de “descobrir um raio de sol entre as nuvens escuras” que justifique os acontecimentos.

Elisabeth escreve:

Sabemos que, na história da igreja cristã, repetidamente o sangue dos mártires foi sua semente. Somos tentados a pressupor uma equação simples aqui. Cinco homens morreram. Isso resultará num número “x” de waoranis cristãos. Talvez sim. Talvez não... Deus é Deus. Se eu exigisse que Ele aja de modo a satisfazer a minha ideia de justiça, estarei destronando-o do meu coração. Esse é o mesmo espírito que provocou: “... se és Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27.40). Existe descrença, até mesmo rebelião no coração que afirma: “Deus não tinha o direito de fazer isso com os cinco homens, a não ser que...”.

O tema recorrente em toda a obra de Elliot é que confiar em Deus quando não o entendemos significa tratá-lo como Deus, e não como outro ser humano. É tratá-lo como glorioso, infinitamente superior a nós em bondade e sabedoria. Mas, como Jesus diz, a glória de Deus nunca foi revelada de maneira mais esplendorosa do que na cruz (Jo 12.23,32). Ali vemos que Deus é tão infinito e integralmente justo que Cristo precisou morrer pelo pecado, mas também que Deus é tão absolutamente amoroso que Jesus se mostrou disposto e feliz em morrer. Isso é sabedoria consumada, o fato de que o amor e justiça de Deus, aspectos aparentemente contraditórios, tenham sido cumpridos ao mesmo tempo. Portanto, confiar na sabedoria de Deus durante o sofrimento, mesmo quando ficamos sem entender nada, é lembrar da glória e do significado da cruz.

Vemos então que um dos propósitos do sofrimento é glorificar a Deus tratando-o como o Deus infinito, soberano, totalmente sábio e, mesmo assim, encarnado e sofredor, que ele é. Isso glorifica Deus aos olhos de Deus; é o comportamento mais apropriado que podemos ter.  E se nos comportarmos da forma apropriada com relação a Deus e às nossas almas, encontraremos, como Elisabeth Elliot afirma, o descanso que não está firmado em circunstâncias. 

Fonte: 

Keller, Timothy. Caminhando com Deus em mia a dor e ao sofrimento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2016, p. 189-193.           

Nenhum comentário:

Postar um comentário