terça-feira, 16 de maio de 2017

IRMÃOS, NÓS NÃO SOMOS PROFISSIONAIS


Por John Piper

Nós, pastores, estamos sendo massacrados pela profissionalização do ministério pastoral. A mentalidade do profissional não é a mentalidade do profeta. Não é a mentalidade do escravo de Cristo. O profissionalismo não tem nada que ver com a essência e o cerne do ministério cristão. Quanto mais profissionais desejamos ser, mais morte espiritual deixaremos em nosso rastro. Pois não existe a versão profissional do “tornar-se como criança” (Mt 18.3); não existe compassividade profissional (Ef 4.32); não existem anseios profissionais por Deus (Sl 42.1).

No entanto, nossa primeira atividade deve ser ansiar por Deus em oração. Nossa atividade é chorar por nossos pecados (Tg 4.9). Por acaso existe choro profissional? Nossa atividade é prosseguir para o alvo para ganhar a santidade de Cristo e o prêmio do chamado soberano de Deus (Fp 3.14); esmurrar o corpo e o reduzir à escravidão para não sermos desqualificados (1Co 9.27); negarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz ensanguentada todos os dias (Lc 9.23). Como é possível carregar uma cruz de modo profissional? Nós fomos crucificados com Cristo e vivemos pela fé naquele que nos amou e a si mesmo se deu por nós (Gl 2.20). O que seria, então, a fé profissional?

Não devemos nos encher de vinho, mas do Espírito (Ef 5.18). Nós somos os inebriados de Deus, loucos por Cristo. Como é possível se embriagar com Jesus profissionalmente? Então, maravilha das maravilhas, foi-nos concedido transportar o tesouro do evangelho em vasos de barro para que a excelência do poder seja de Deus (2Co 4.7). Existe um modo de ser um vaso de barro profissional?

De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempreem nosso corpo o morrer de Jesus (profissionalmente?), para que a vida de Jesus também seja revelada (de forma profissional?) em nosso corpo (2Co 4.8-11).

Porque me parece que Deus nos colocou a nós, pregadores, em último lugar no mundo. Somos loucos por causa de Cristo, mas os profissionais são sensatos; somos fracos, os profissionais, porém, são fortes. Eles são sempre honrados; mas ninguém nos respeita. Não tentamos garantir um estilo de vida profissional; antes, passamos fome, sede, nudez e falta de morada. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos com amabilidade. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo (1Co 4.9-13). Temos mesmo?

Irmãos, nós não somos profissionais! Somos rejeitados. Somos estrangeiros e peregrinos no mundo (1Pe 2.11). A nossa cidadania está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador (Fp 3.20). Não se pode profissionalizar o amor por seu aparecimento sem matá-lo. E isso significa morrer.

Os objetivos de nosso ministério são eternos e espirituais. Eles não são compartilhados por nenhuma profissão. E é precisamente pela inabilidade de percebê-los que estamos morrendo.

O pregador que concede vida é um homem de Deus, cujo coração está sempre sedento de Deus, cuja alma está sempre seguindo com afinco a Deus; cujos olhos estão fixos em Deus e em quem, pelo poder do Espírito de Deus, a carne e o mundo têm sido crucificados e seu ministério se apresenta como a corrente abundante de um rio doador de vida.1

Decididamente, não fazemos parte de um grupo social com os mesmos objetivos dos outros profissionais. Os nossos alvos são um escândalo, são loucura (1Co 1.23). A profissionalização do ministério é uma constante ameaça à ofensa do evangelho. É uma ameaça à natureza profundamente espiritual do nosso trabalho. E tenho visto com frequência: que o amor do profissionalismo (em paridade com os profissionais do mundo) mata a crença do homem de ter sido enviado por Deus para salvar as pessoas do inferno e para torná-las glorificadores de Cristo, estrangeiros espirituais no mundo.

O mundo estabelece a agenda do homem profissional; Deus estabelece a agenda do homem espiritual. O vinho forte de Jesus Cristo rompe o odre do profissionalismo. Existe uma diferença infinita entre o pastor cujo coração se dedica a ser profissional e o pastor cujo coração deseja ser o aroma de Cristo, o cheiro de morte para uns e a fragrância de vida eterna para outros (2Co 2.15,16).

Ó Deus, livra-nos dos profissionalizantes! Livra-nos da mente pequena, controladora, idealizadora e do caráter manipulador em nosso meio.2 Deus, dá-nos lágrimas por nossos pecados. Perdoanos por sermos tão superficiais na oração, tão vagos na compreensão das verdades sagradas, tão insensíveis diante dos vizinhos que perecem, tão desprovidos de paixão e seriedade em nossas conversas. Restaura-nos a alegria infantil pela nossa salvação. Dá-nos temor por meio do poder e da santidade assombrosos daquele que tem o poder de lançar corpo e alma no inferno (Mt 10.28). Ensina-nos a carregar a cruz com temor e tremor como a nossa árvore da vida cheia de esperança e ofensa. Não nos concedas nada, absolutamente nada, do que importa aos olhos do mundo. Que Cristo seja tudo em todos (Cl 3.11).

Elimina o profissionalismo de nosso meio, ó Deus, e em seu lugar dá-nos uma oração apaixonada, pobreza de espírito, fome de ti, estudo rigoroso das coisas sagradas, devoção fervorosa a Jesus Cristo, extrema indiferença diante de todo lucro material e o labor incessante para resgatar os que estão perecendo, aperfeiçoar os santos e glorificar nosso soberano Senhor.

Humilha-nos, ó Deus, sob tuas mãos poderosas, e levanta-nos não como profissionais, mas como testemunhas e participantes dos sofrimentos de Cristo. No maravilhoso nome dele. Amém.

NOTAS

1 - John Piper e Wayne Grudem: Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to Evangelical Feminism. Wheaton, IlI.: Crossway Books, 1991, p.16.
2 - Richard Cecil citado em E. M. Bounds, Power through Prayer. Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1972, p.59.

Fonte: 

Piper, John. Irmãos, Nós Não Somos Profissionais. Shedd Publicações, Santo Amarto, SP, 3ª Reimpressão 2014: p. 15-18. 

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