Por Pr. Silas Figueira
Texto base Ezequiel 14.1-11
INTRODUÇÃO
O profeta Ezequiel
nasceu em uma família sacerdotal (Ez 1.3), seu nome significa “Deus Fortalece”. O profeta Ezequiel foi
levado junto com outros judeus para o cativeiro babilônico em 597 a.C., ou
seja, na segunda deportação de Judá enquanto que Daniel foi na primeira
deportação. O cativeiro ocorreu por causa da idolatria do povo juntamente com
os líderes judeus. Ali na Babilônia ele se instalou em sua casa, numa vila
próxima de Nepur, junto ao rio Quebar.
O profeta Ezequiel passava
todo tempo em casa, exceto quando Deus ordenava que ele saísse (Ez 3.24), e não
tinha permissão de falar a menos que fosse para proclamar uma mensagem do
Senhor. Quando o Senhor chamou o profeta Ezequiel, advertiu-o de que estaria
ministrando para um povo rebelde (Ez 2.3-8), espiritualmente cego e surdo (Ez
12.2). O texto que lemos nos mostra os
anciãos de Israel (Judá tornou-se Israel depois do cativeiro assírio que levou
cativo o reino norte – Israel), indo procurar o profeta para ouvir o que o
Senhor tinha a dizer sobre a situação deles e a dos exilados (Ez 8.1; 20.1).
Mas quais lições
podemos tirar desse texto? O que ele tem a nos ensinar?
A
PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE CORREMOS O RISCO DE SERMOS CORRIGIDOS PELO SENHOR
E NÃO APRENDERMOS A LIÇÃO (Ez 14.1-3).
Mesmo diante de uma
situação calamitosa que estavam enfrentando, os judeus não se arrependeram de
seus pecados, continuavam buscando ajuda de outros deuses e se escondiam atrás
da religião de seus pais. O templo em Jerusalém fora profanado pela idolatria,
tudo aquilo que o Senhor havia dito para não fazerem eles estavam fazendo (Ez
8). Tudo isso estava ocorrendo em Jerusalém enquanto o povo estava no cativeiro
babilônico.
1º - O Senhor
desmascarou a idolatria de seus corações e o falso temor que eles tinham de dEle.
Pelo que vemos aqui os anciãos não haviam aprendido ainda que a causa do
cativeiro fora exatamente a idolatria deles e do povo. Eles continuavam não só
na idolatria como tentavam enganar o profeta com as suas hipocrisias. Mas a
Deus ninguém engana.
Em seus corações, em
vez de haver amor a Deus e à Sua Palavra, havia ídolos. Ainda assim,
assentavam-se piedosamente diante do profeta de Deus e fingiam ser espirituais.
Para eles ouvir o profeta Ezequiel era como desfrutar de um entretenimento
religioso, não era para receber a Palavra de Deus (Ez 33.31).
Não está diferente dos
dias atuais aonde muitas pessoas vão às igrejas, mas sem nenhum compromisso com
Deus e com a Sua Palavra. Vão por ser um lugar, muitas vezes de encontro, por
ser um lugar onde há um show acontecendo, por ser a igreja da moda... Enfim vão
por todos os motivos, menos para ouvir Deus falando e, infelizmente, os seus
líderes só servem para entreter as pessoas presentes. Como disse certa pessoa: “Se
o Espírito Santo for retirado de algumas igrejas eles não perceberão que isso
ocorreu”.
2º - A desgraça que se
abateu sobre eles não os levou ao arrependimento.
Aqui que está o X da questão, o Senhor corrige o seu povo, mas a obstinação
pelo pecado é maior que o temor a Deus. Jesus afirmou que as pessoas amavam
mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más (Jo 3.19).
Muitas pessoas
perguntam por que o mundo está um caos, simples, porque as pessoas não querem
se sujeitar ao senhorio de Cristo e muito menos fazer a Sua vontade; e quando
eu falo “as pessoas” estou me
dirigindo àquelas pessoas que estão dentro de nossas igrejas. Gente que congrega
todos os dias em suas igrejas, gente que entrega seus dízimos e as suas
ofertas, gente que tem cacoete de crente, mas que está longe de serem servos do
Senhor. Esses tais ainda amam as trevas (a maioria juntamente com muitos de
seus líderes), querem o cuidado de Deus, mas não querem se sujeitar a Sua
vontade apesar de tê-las em suas mãos.
Veja o resultado que
ocorreu em Jerusalém na época do profeta Ezequiel registrado pelo profeta
Jeremias no livro de Lamentações:
“Forçaram
as mulheres em Sião; as virgens, nas cidades de Judá. Os príncipes foram por
eles enforcados, as faces dos velhos não foram reverenciadas. Os jovens levaram
a mó, os meninos tropeçaram debaixo das cargas de lenha; os anciãos já não se
assentam na porta, os jovens já não cantam. Cessou o júbilo de nosso coração,
converteu-se em lamentações a nossa dança. Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós, porque pecamos!”
(Lm 5.11-16).
É o que temos visto
hoje em nossa sociedade é o reflexo da igreja brasileira, uma igreja que não
busca a Deus para ouvi-lo, mas para se beneficiar dEle. Com isso vemos o
aumento da violência, a roubalheira descontrolada, famílias totalmente sem
respeito uns pelos outros, enfim, a desgraça em todos os ramos da nossa
sociedade. Que vai do Governo Federal, passando pela sociedade civil e entrando
na Igreja. E a culpa de tudo isso é da igreja. Falo sem medo de errar. A igreja
de hoje não está nada diferente da época de Ezequiel, Jeremias e Daniel. A igreja
hoje não se modernizou, mas se mundanizou!
3º - Israel tornou-se sal
fora do saleiro. Israel era para ser luz para as
nações, no entanto as trevas que havia no mundo tomou o coração de todos. Eles,
que deveriam evangelizar o mundo, estavam agora precisando ser evangelizados,
aliás, estavam sendo, mas não queriam ouvir a voz de repreensão do Senhor.
Entenda uma coisa: uma
igreja que não salga, que não dá sabor, que não é luz neste mundo, uma igreja
que não reflete a imagem de Cristo precisa com urgência ser evangelizada, ou,
na melhor das hipóteses, voltar ao primeiro amor (Ap 2.4). Poucos são aqueles que têm lutado por uma vida
santa e irrepreensível. Poucos são aqueles que levam Deus a sério. Mas graças a
Deus que ainda existe um remanescente fiel.
A
SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE PODEMOS NOS TORNAR IDÓLATRAS TAMBÉM (Ez 14.4,5).
É muito fácil olharmos
para esse texto e recriminar os anciãos e o povo que foi levado para o
cativeiro babilônico. É fácil olharmos para eles e corarmos a face de ira por
eles não terem ouvido a voz de Deus e ter lhe dado ouvidos. Mas é nessa hora
que devemos olhar para esse texto e ver se não há em nós algum caminho mal e pedir
ao Senhor que nos guie pelo caminho eterno, como disse o salmista (Sl
139.23,24).
1º - Quando os ídolos
tomam o coração? Todas as vezes que deixamos Deus de
lado e começamos a achar que podemos ser guiados pela razão fabricamos um
ídolo. Como diz Erwin Lutzer: “Dizer
eu acredito em Deus pode simplesmente significar que estamos vendo a nós mesmos
em um espelho de corpo inteiro [...] A idolatria vai muito além de se prostrar
(dançar) diante de uma estátua, seja ela de ouro, de prata, de gesso ou
madeira; é a construção mental de um deus que tem pouca semelhança com o Deus
verdadeiro. Idolatria é dar respeitabilidade às nossas opiniões sobre Deus,
formadas à nossa imagem e semelhança. É forjar uma ideia de Deus de acordo com
nossas inclinações e preferências”.
O termo ídolo aqui no
texto de Ezequiel é bolas de esterco,
uma figura vulgar que o profeta utilizava com frequência. É aquilo que se deve evitar,
jogar fora, porque fede nas narinas do nosso Deus. E a Bíblia nos fala que
somos o bom perfume de Cristo (2Co 2.15).
2º - Por que criamos os
nossos deuses? Porque o Deus verdadeiro tem as suas
exigências e muitas pessoas preferem não se sujeitar a elas. Por isso que as
pessoas constroem um deus baseado em seus próprios desejos e interesses
egoístas. E quais seriam eles?
● O deus da minha saúde
e riqueza.
● O deus das minhas
necessidades emocionais.
● O deus do meu sexo.
● O deus da minha
autojustificação.
A pessoa tem uma imagem
distorcida de Deus e desde então acham que Deus é aquilo que criaram segundo a
sua vontade.
3º - Esse deus está
mais perto de nós do que possamos imaginar.
Por exemplo, pediram ao Bispo Walter
McAlister que definisse o que era o neupentecostalismo. Ele então o definiu
da seguinte forma: “O neupentecostalismo é um movimento de religião popular que
vê Deus como alguém que distribui benefícios com base na necessidade ou no
desejo da massa [...] Esse movimento é marcado por um otimismo muito grande:
‘Vai dar certo, vamos vencer’. O conceito de vitória é muito forte no
neopentecostalismo [...] Utilizando frases bíblicas fora do seu contexto e
aplicam de forma extremamente otimista (Tudo posso naquele que me fortalece –
Fl 4.13, tudo o quê? Tudo o que eu quiser, ora). Acima de tudo, o
neopentecostalismo é orientado para o bem-estar pessoal, com o estar de bem com
a vida e a prosperidade financeira, quase que exclusivamente. Fala-se pouco
sobre conversão de fato; fala muito sobre benefícios que se pode alcançar por
meio da oração fervorosa e do ambiente de emoção”.
Só para esclarecer: o
neopentecostalismo não está só nas igrejas carismáticas, mas também é uma
tendência hoje em muitas igrejas chamadas históricas.
Isso é idolatria, pois
cria-se um deus que não é o Deus da Bíblia. É um deus criado segundo os
interesses pessoais. É um deus que se molda a nossa vontade. Apesar de usar a
Bíblia para justificar os seus interesses, mas como já foi falado, é texto fora
de contexto, e isso é um grande pretexto para heresia.
TERCEIRA
LIÇÃO QUE APRENDO AQUI É QUE O SENHOR SEMPRE CHAMA O SEU POVO AO ARREPENDIMENTO
(Ez 14.6-11).
O Senhor não deixa de
confrontar o Seu povo. Ele se levanta e mostra o erro daqueles que chamam pelo
Seu Nome. Só que esta palavra conversão tinha perdido o seu significado para os
homens iníquos no cativeiro. Eles chegaram a odiar a Lei do Senhor por amar os
seus próprios caminhos.
1º - O arrependimento é
uma mudança de mentalidade (Ez 14.6,11). Significa
deixar o pecado e voltar-se para o Senhor. Os exilados judeus precisavam mudar
de ideia sobre os ídolos e a adoração a falsos deuses e, então, voltar-se para
o único Senhor que é digno de toda adoração.
2º - Deus julga o seu
povo, mas trata com cada um de forma individual (Ez 14.7).
O que o homem planta ele colhe (Gl 6.7) e, o Senhor retribuirá a cada um
segundo o seu procedimento (Rm 2.6). O Senhor lida com o todo, mas de forma
individual.
3º - O Senhor não deixará
de julgar o Seu povo e nem os falsos profetas que o seduz (Ez 14.9,10).
O texto aqui está falando dos falsos profetas que eram consultados e levavam o
povo ao engano. Foram esses falsos profetas que enganaram o povo antes do
cativeiro e agora continuavam enganando no cativeiro. Por isso que tanto o
profeta que fala dolosamente, assim como os homens corruptos serão severamente
punidos.
O Salmo 50.21 diz: “Tens feito estas coisas, e eu me calei;
pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista”.
O Senhor é longânimo, Ele é tem uma extrema paciência, mas o cálice de Sua ira
um dia irá transbordar e então os que andam na contramão de Sua Palavra irão
beber de Sua ira.
CONCLUSÃO
O texto que lemos nos
mostra a hipocrisia dos líderes religiosos, mas também mostra a misericórdia de
Deus para quem se voltar para Ele. A idolatria está muito além de uma imagem
que se adora, a idolatria está muitas vezes dentro do coração, e um coração
cheio de ídolos fede nas narinas de Deus. Por isso devemos nos examinar para
ver se não estamos levantando algum altar em nossos corações e colocado nele
algum ídolo; ídolo esse que pode ser a nossa vontade e não a vontade de Deus.
Esse texto é um alerta
para todos nós, por isso meu irmão e minha irmã examinem-se e se há algum ídolo
se instalando dentro do seu coração busque a face do Senhor e se arrependa e se
volte para Ele.
E que o Senhor tenha
misericórdia de nós.
Pense nisso!
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