Por Pedro Pamplona
Nesse mês de fevereiro fiz 23 anos. Aquele velho clichê de aniversário sempre aparece: “o tempo passa rápido”. E o pior é que passa mesmo. Um dia desses eu estava fazendo 18. Minha péssima memória ainda se lembra bem de quando tirei a carteira de motorista, parece que foi ontem (mais um clichê). E parece mesmo. O tempo não para quando nós paramos. O tempo não desacelera quando nós desaceleramos. Não existe segunda chance para o tempo e nem mesmo a opção de restart do vídeo game. Não é possível voltar o vídeo como fazemos no Youtube, muito menos apagar posts como no Facebook. O tempo é agora e mais tarde o agora já se foi. Mas qual a razão desse papo sobre tempo? Antes que pensem que estou ficando deprimido pela “velhice” dos meus 20 e poucos anos, deixem-me explicar: na verdade estou entristecido pela apatia cristã dos crentes de 20 e poucos anos. A fase com mais potencial das nossas vidas está nos fazendo de zumbis dentro da Igreja. Mortos e frios em relação a nossa missão. Temos sobrado em várias coisas e deixado outras importantíssimas e vitais de lado. Espero que isso mude, a começar por mim.
Sobra admiração, falta devoção
Temos admirado Jesus. É até difícil afirmar que Jesus é o ídolo maior da nossa juventude cristã, mas vamos ter isso como verdade. Andamos com camisas como o seu nome. Está cheio de Jesus nas nossas páginas do Facebook. Nós falamos bem dEle. Cantamos e até repetimos seu nome como uma torcida de futebol faz. Jesus de verdade tem sido admirado, mas acaba por ai. Infelizmente nossa cultura tem transformado Jesus em mais um ídolo gospel. Talvez o maior, claro, mas não passa de um nome para ser admirado, gritado e cantado.
Falta devoção em meio a admiração. Jesus é Senhor sobre a criação e criaturas. Jesus governa todas as coisas do seu trono. Jesus não é um ídolo ou personalidade famosa. Jesus é Rei. Jesus não vendeu milhões de discos, deu sua vida em nosso favor. Jesus não ganhou nenhum Nobel, mas a vitória sobre a morte. Temos admirado, mas falta rendição ao senhorio de Cristo. Falta obediência, entrega e temor a Jesus. Ele não é essa caricatura de pop star paz e amor que fizeram dele. Jesus merece e requer nossa devoção, e não apenas a admiração de jovens empolgados de 20 e poucos anos.
“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:9-11)
Sobra empolgação, falta adoração
Somos empolgados mesmo nessa idade. Empolgados com a faculdade, com o emprego, com o namoro, com o carro próprio e com o intercâmbio. Gostamos demais dessas conquistas e de ver o que Deus está fazendo em nosso favor. Ficamos empolgados com Deus também. É bom ir no culto, acampamentos, sair com o pessoal da igreja e contar o que Deus está fazendo. Pulamos, vibramos, marchamos pelas ruas, gritamos e cheiramos Bíblias. Saímos por ai dizendo que somo loucos por Jesus, que somos príncipes e princesas, que podemos tudo naquele que nos Fortalece e etc.
Mas falta adoração. Falta o momento de pausar na presença de Deus para adorar quem Ele é e não o que ele pode fazer pela sua vida de 20 e poucos anos. Falta a satisfação simplesmente no caráter de Deus e sua obra de redenção. Falta o primeiro amor do coração que se quebranta pelo simples fato de ainda estar batendo. Falta o olho que chora de alegria pela beleza das escrituras. Falta o momento calmo na presença de Deus só para adorar sem pedir nada em troca. Deus não é um cartão de crédito universitário. Ele nos colocou aqui não para o usarmos e trocarmos por vantagens, mas para ser adorado e glorificado. Deus não quer só a empolgação de jovens de 20 e poucos anos que estão dispostos a crescer na vida. Ele quer corações.
“O combustível da adoração é uma visão correta da grandeza de Deus. O fogo que faz o combustível queimar com calor extremo é o avivamento do Espírito Santo. A fornalha acesa e aquecida pela chama da verdade é nosso espírito renovado. E o consequente calor da nossa afeição é a adoração poderosa, que abre caminho por meio de confissões, anseios, aclamações, lágrimas, cânticos, exclamações, cabeças curvadas, mãos erguidas e vidas obedientes” (John Piper)
Sobra disposição, falta submissão
Estamos numa idade em que disposição não falta. E aqui serei otimista de novo. Não falta disposição para as coisas que nos interessam. Seja nos estudos, trabalho, esportes e também na igreja. Queremos desempenhar um bom papel. Queremos ser os melhores possíveis. As vezes perdemos até o foco porque queremos abraçar o mundo com as mãos. Somos bem ativos. Servimos na igreja, queremos sair para protestar, entregar alimentos aos pobres e fazer nossa diferença. Mas toda essa ação e disposição não tem levado em consideração algumas autoridades, não tem nos ensinado a escutar o “não”.
Falta submissão em crentes ativistas de 20 e poucos anos. Queremos fazer tanto que para isso vale até passar por cima da Bíblia, pastores e líderes. Falta submissão na hora de escutar o “agora não”, “assim não”, “por ai não” ou simplesmente “não”. Queremos ser justiceiros e heróis pelas próprias mãos. Não aceitamos que ninguém atrapalhe nossa missão. Mas esquecemos de que ela não é nossa, não a criamos e nem a sustentamos, apenas trabalhamos nela. E quem trabalha obedece a um superior. Falta submissão a lei de Deus e autoridades. Até mesmo civis, como é o caso de crentes que apoiam os black blocs. A missão deixada por Jesus é uma missão de submissão. Deus quer pessoas humildes debaixo da sua mão soberana para agir através da obediência. Deus não espera argumentos e ações anarquistas de jovens de 20 e poucos anos. Ele nos chamou a submissão.
“Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus” (João Calvino)
Sobra argumento, falta fé.
Nossa fase é a fase do argumento. Temos aprendido muito na faculdade. Admiramos nossos professores e as disciplinas de filosofia, ética, política, etc. Temos estudado também sobre Deus, Bíblia e assuntos afins. Apologética tem ganhado fama no nosso meio. Sobram argumentos. Sobram achismos. Sobram questionamentos a respeito da Bíblia. Sobram dúvidas a respeito da revelação de Deus. Sobram conversas idiotas sobre temas em que a Palavra não se pronuncia. Mas falta fé.
A racionalização deixou o sobrenatural de lado. Queremos tornar ciência aquilo que é milagre e mistério de Deus. Queremos explicar o inexplicável. Temos dificuldade de crer que Deus abriu o mar (é melhor pensar que a maré secou). De crer que Deus cura. De crer que Deus fala. De crer que Deus liberta das drogas. E o pior, duvidamos que Deus possa salvar sem nossa ação ou esforço de persuasão. Falta fé nos jovens de 20 e poucos anos. Deus não te tirou do colégio e te colocou como intelectual de faculdade, Ele te arrancou das trevas e te levou para Seu reino de glória e amor. Argumentos podem faltar, mas sem fé é impossível agradar a Deus.
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hebreus 11:6
Eu poderia continuar dizendo várias outras coisas que sobram e faltam, mas essas 4 já nos dão uma ideia do cenário. Poderia ainda escrever que sobra namoro e falta casamento. Sobra auto ajuda e prosperidade e falta boa teologia. Sobra carreira, empreendedorismo e concursos e falta reino. Sobra discussão teológica pobre e falta oração. Sobra versículo solto na internet e falta estudo da Bíblia. No final de tudo, sobra muito osso seco, mente seca e coração seco. Pois as coisas desse mundo não tem vida. Por isso, andamos que nem zumbis pela Igreja. Sem devoção, adoração, submissão e fé num Deus real e sobrenatural. Esse é o tipo de vida em que a “letra mata”, mas aquele mesmo Espírito que soprou sobre o vale de ossos secos ainda vivifica. E através dEle ainda temos vida. Que esse Espírito sopre sobre nossa geração de 20 e poucos anos. Não para sermos melhores adultos, mas para sermos melhores cristãos e adoradores. Com fé, a letra que antes matava agora é vida. Não podemos perder esse tempo precioso da juventude, ele não volta mais. A boa nova é que não existe zumbi que não ganhe vida diante do Deus criador de tudo. Que Ele nos ajude!
“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (João 4:23-24)
perfeito seu texto....
ResponderExcluirGraça e paz Silvana.
ExcluirFico feliz em saber que esse texto tenha lhe agradado.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Não existe nada mais indigno para a raça humana do que esta postura de adoração por um ser imaginario que pensa trocar nossa individualidade , nossa alma, por uma pretensa Dysneylandia celeste. Aonde tem lugar, aonde fica o homem e sua dignidade nesse contexto ?
ResponderExcluirGraça e paz Geraldo.
ExcluirO que temos visto em muitas igrejas é uma verdadeira Dysneylandia celeste, como você mesmo disse. Há uma falta de respeito e abuso para com as pessoas, e, infelizmente, muitos líderes se aproveitam dessa ingenuidade para se beneficiarem.
Que Deus tenha misericórdia nos livre desse mal.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Pastor Silas Figueira, estou passando para parabenizar seu trabalho. E quero aproveitar a oportunidade para deixar um convite. A Associação de Blogueiros Cristãos está abrindo um espaço especial para meu irmão, para postar juntamente com uma dezena de líderes cristãos. Por gentileza encaminhe seu endereço de e-mail para cruzue@gmail.com para que eu encaminhe formalmente o pedido.
ResponderExcluirIrmão João Cruzué
Graça e paz Pr. Cruzué
ExcluirObrigado pelo carinho. Estarei entrado em contato com o irmão pelo e-mail.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira