quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O Deus Ausente


Por Augustus Nicodemus Lopes


Texto: Salmo 88

Esse salmo termina com as palavras “trevas”. É o único salmo de lamento que não termina com um final feliz. Os outros salmos de lamento costumam começar tristes, mas sempre há uma virada no final. O tom sempre muda do desespero para alegria e esperança. Neste salmo, por outro lado, existe uma dor constante no salmista. É como se Deus estivesse ausente ou mouco ao seu clamor. Uma das razões por qual este salmo foi incluído no Canon é para sabermos que, o que aconteceu com este homem de Deus vai acontecer conosco também. Há muitos irmãos e irmãs em cristo que sofrem na vida, e muito. Filhos com problemas, doenças graves e incuráveis, dificuldades financeiras. Como Emã lidou com o sofrimento? Olhar para isso vai nos ajudar quando o sofrimento chegar.

Emã era um homem sábio e que causava respeito nos demais, mas isso não impediu que ele passasse por sofrimentos deste a mocidade. Isso era algo que o acompanhava quase toda a sua vida. Era algo que fazia com que ele sentisse que o fim dele estava próximo. Ele esperava morrer a qualquer momento. Ele fala do abandono dos amigos, da exclusão social. Ele diz que a única companhia que ele tinha era as trevas.

Ele diz que está sofrendo como quem tem dor nos ossos. Ele fala de seu sofrimento como algo que lhe dá a perspectiva de morrer em breve.

Emã pede que Deus o ouça (v. 1-2)

O sofrimento teve em Emã o efeito contrário do que tem em muitas pessoas. Ao invés de fazê-lo parar de orar, leva ele a orar mais. Ele quer que a oração dele chegue à presença de Deus. Parece que o sofrimento maior dele estava na ausência da presença de Deus. Os puritanos falavam disto como “a noite escura da alma”. O silencio de Deus durante o sofrimento torna o sofrimento pior ainda.

Emã descreve seu sofrimento a Deus (v. 3-5)

A palavra “farto”, usada por Emã, traz a ideia de farto de comida, como alguém que comeu tanto que não consegue mais nem olhar para a comida para não explodir, tem a ideia de que ele não aguenta mais sofrer. Ele chegou ao seu limite. Ele se sente como um soldado ferido que era lançado junto dos mortos na batalha, pois iria perecer em pouco tempo.

Emã diz que foi Deus quem fez isso com ele (v. 6-9)

No meio do sofrimento, ele se volta para Deus e diz: “eu sei que foi o Senhor que fez isso”. Para um judeu crente, o Deus de Israel era o Deus que tinha governo sobre todas as coisas. Um judeu não teria problema nenhum em dizer que seu sofrimento vem da parte do próprio Deus. Essa é uma passagem importante em nosso país, pois rouba de nós o conforto de saber que é Deus quem nos dá o sofrimento. Que conforto há em achar que é o diabo quem nos causa os males? O sofrimento nos é causado por aquele que é o bom Pai sobre nossas vidas. Saber que Deus está por traz de tudo o que nos toca, ao invés de nos abater, nos dá conforto. Se é ele quem nos faz entrar, é ele quem nos faz sair.

Emã argumenta com Deus (v. 10-12)

Ele começa a questionar os motivos de Deus fazer tudo aquilo com ele. Ele diz que, se morrer, como ele louvaria a Deus nesta terra? Como ele seria pregador da bondade aqui na terra? Se ele morresse, Deus perderia uma testemunha dele nesta terra. Você teria um argumento deste tipo com Deus? Se você dissesse: “Deus, se eu morrer, o Senhor vai perder tal coisa”, Deus responderia: “nem faz diferença”?

Recapitulação de tudo (v. 13-18)

Ele fala novamente da oração. Quanto mais ele sofre, mais ele ora. Ele fala novamente da consciência da ausência de Deus. É Deus ocultar o rosto que mais dói em Emã. Novamente, ele faz uma descrição do seu sofrimento. Ele nem sabia direito o que fazer, pois ele sentia que Deus o havia abandonado. Emã fala que a Ira de Deus o circunda como alguém que está morrendo afogado, que possui água por todos os lados: ele possuía a ira de Deus acima, abaixo, de um lado e do outro – e sem possuir um único ombro para chorar.

Aplicações

Este não foi um momento na vida de Emã, mas parece que isto reflete toda a vida dele. Muitos crentes de verdade, irmãos em Cristo, que não conseguem encontrar um momento de alívio, porque a dor está presente na vida deles todos os momentos.

O fato de que você é crente não quer dizer que você vai ser sempre feliz, alegre e tranquilo neste mundo;

Deus não tem o compromisso de fazer com que seus momentos de paz e tranquilidade durem a vida inteira e todos os momentos de sua vida;
Não existe melhor professor de oração do que o sofrimento;

Deus nem sempre responde as oração imediatamente, nem sempre ele alivia a dor e o sofrimento e nem sempre que ele vem nos responder, ele faz da maneira como queremos;

Existe uma grande semelhança entre o sofrimento de Emã com o sofrimento do Messias na Cruz. Lá, Jesus gritou algo parecido com o que o salmista gritou: “Deus meu, porque me desamparaste?”. Não fique amargurado com Deus por causa do sofrimento. Nós somos discípulos do crucificado. Precisamos aprender a sofrer.

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