quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PREGANDO O EVANGELHO ― QUAL DELES MESMO?


Por Zilton Alencar

A ordem de Jesus para que todos os seus discípulos preguem o Evangelho é imperativa e inegociável. Textos registrados de sua comissão, como “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16:15) e ...ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (Mt 28:19-20) deixam claro não somente Sua ordem, mas também o teor da mensagem que deverá ser pregada. A mensagem tem que ser as coisas que o próprio Cristo ensinou. Entretanto, mais uma vez estão tentando justificar a pregação de qualquer evangelho, buscando calar qualquer oposição aos falsos evangelhos. Agora estão usando a Bíblia, as palavras do apóstolo Paulo, alegando-se que ele afirmou que o importante é pregar a Cristo, que de uma forma ou de outra o nome de Cristo está sendo propagado, e não importa como isso está sendo feito...

Será mesmo? Vamos então analisar o texto em questão e tentar esclarecer mais esta falácia:

E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestadas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares, E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor. Verdade é que, também, alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros de boamente; Uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho, Mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas, que importa? contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.” (Fp 1:12-18 – grifos meus).

O Evangelho é uma mensagem que tem compromisso absoluto com a verdade. O verdadeiro Evangelho está intimamente associado com o que Jesus ensinou, e não com o que os seus pregadores acham conveniente. Não basta apenas pregar Jesus, mas também ensinar a guardar as coisas que Ele mandou (Mt 28:20). Fazer a primeira coisa dissociando-a da segunda transforma a pregação do Evangelho em uma mera pregação hipócrita! Ora, de que adianta convencer um pagão que Jesus Cristo é o Senhor, “ganhar sua alma” e em seguida ensiná-lo a adorar ídolos, ou a desobedecer a Palavra de Deus?

O próprio Senhor ensinou que não adianta ganhar alguém para o Reino e desencaminha-lo na doutrina. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra, para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno, duas vezes mais do que vós” (Mt 23:15). Tão importante quanto trazer alguém ao caminho da salvação é ensiná-lo acerca do Caminho, para que o neófito não se desvie.

Neste aspecto, bem afirmou Jesus: “Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre” (Lc 6:39-40). Eis um problema: os homens não querem ser IGUAIS ao Mestre, mas superiores, criando normas, doutrinas e condutas que nada têm a ver com Seus ensinamentos. Pregam “evangelhos” dissociados da verdade e comprometidos com suas visões e revelações deturpadas, ensinando falsas doutrinas aos seus seguidores. Assim, tornam-se cegos guiando cegos; pregam o nome de Cristo, mas desfazem sua pregação ao ensinar o caminho errado aos novos convertidos. Seu fim é óbvio, e previsto pelo próprio Senhor Jesus: entrarão em perdição, e levarão após si todos aqueles que seguirem seus ensinamentos errados. Honram a Deus com os lábios, mas se afastam dEle e da Sua Palavra com as ações, pois valorizam mais suas próprias doutrinas que a pura Palavra de Deus (Mt 15:1-9)!

Isto se dá entre católicos, espíritas, testemunhas de Jeová, mórmons e outras seitas. Eles inegavelmente também pregam a Cristo e ganham almas supostamente para Ele. Em seguida ensinam os convertidos a andarem baseados em muitas doutrinas erradas, antibíblicas e até anticristãs! Podemos citar incontáveis casos de pessoas que conheceram a Cristo através das seitas citadas acima, que modificaram suas vidas, tornando-se inegavelmente pessoas transformadas. Nem mesmo os mais ferrenhos opositores destas seitas podem negar que [1] Eles pregam Cristo e [2] sua pregação transforma vidas. Podemos então concordar com suas pregações, e compreender que, já que estão pregando Cristo, devemos aceita-los, assim como a seus erros, e deixá-los em paz?

O problema do texto encontrado na epístola aos filipenses, que PARECE concordar com a pregação de qualquer evangelho, desde que Cristo seja pregado, é que interpretado desta forma fere a UNIDADE DA BÍBLIA e a sua impossibilidade de contradizer-se. Esta unidade bíblica está terrivelmente comprometida e abalada quando comparamos o texto usado com outro texto bíblico, oriundo da mesma pena de Paulo, que afirma:

Maravilho-me de que, tão depressa, passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo, para OUTRO EVANGELHO; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie OUTRO EVANGELHO, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo, também, vo-lo digo. Se alguém vos anunciar OUTRO EVANGELHO, além do que já recebestes, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:6-10 – grifos meus).

Desde os meus primeiros dias na fé cristã aprendi acerca da inerrância bíblica e da impossibilidade de contradição do texto sagrado. Nos casos onde a mesma aparentasse qualquer contradição, se fazia necessário esclarecer tudo considerando a unidade da Escritura. Como é possível, então, conciliar dois textos tão antagônicos, aonde Paulo elogia que se pregue DE TODA MANEIRA, e depois anatematiza o OUTRO EVANGELHO e quem o prega?

Vamos desfazer esta “contradição”: na carta aos filipenses, Paulo não se alegra com os falsos evangelhos; ele se alegra com o VERDADEIRO EVANGELHO, mesmo que pregado por motivos de contenda, quem sabe por alguém que queria ser maior que o apóstolo, ganhar mais almas que ele, por mera contenda. Fazendo uma comparação, é como se dois pastores brigassem entre si, dividissem a Igreja, e a partir daí cada um buscasse formar um ministério maior que o outro, ganhar mais almas que o outro, PREGANDO O MESMO EVANGELHO, sem deturpações. Neste caso, o Evangelho realmente está sendo pregado, e Cristo está sendo realmente proclamado, embora por motivos mesquinhos.

Divisões e contendas existem, e a Bíblia relata que isto aconteceu até mesmo entre Paulo e Barnabé, a ponto de se apartarem um do outro (At 15:35-41), mas os dois homens de Deus não passaram a pregar dois evangelhos diferentes. As divisões e os divisores, as mesquinhezas e as contendas, o Senhor as julgará. O Evangelho do Reino, entretanto, não foi adulterado. Muito diferente dos “evangelhos espúrios” que estão sendo pregados Brasil afora, e que seus defensores tentam ― usando a Bíblia fora de seu contexto e de sua unidade, como sempre fazem! ― defender a qualquer custo...

Na carta aos filipenses, Paulo trata de dois ou mais pregadores, mas de UM ÚNICO EVANGELHO sendo pregado, e ele se alegra com isto. Já na carta aos gálatas, percebem-se claramente dois pregadores, e DOIS EVANGELHOS distintos, e Paulo NÃO SE ALEGRA com esta duplicidade, nem com este novo evangelho, apesar de Cristo estar sendo inegavelmente anunciado. O apóstolo levanta-se ferrenhamente contra este falso evangelho que surge na Galácia, questiona-o, desmoraliza-o e declara-o como anátema, não só ele, mas todo e qualquer evangelho diferente do que foi ensinado, assim como seus pregadores. Mesmo que ELE MESMO, Paulo, viesse a cair no mesmo erro algum dia, já deixa os crentes avisados de antemão: todo evangelho pregado que se contraponha ao Evangelho da Graça de Deus, SEJA ANÁTEMA.

O uso indevido deste texto me faz lembrar a tentação do Senhor Jesus pelo diabo no deserto, narrado em Mateus 4:1-11, quando o adversário também usou o texto bíblico ― fora de seu contexto e de sua unidade, exatamente como os defensores dos falsos “evangelhos” fazem! ― para tentar confundir o Senhor. A sua leitura do texto “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos, e eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra” (Sl 91:11-12) foi refutada pelo Mestre com outra porção da Escritura, “Não tentareis o Senhor, vosso Deus” (Dt 6:16), como prova de que as Escrituras não podem ser usadas a bel-prazer do homem, mas em sua plenitude, sempre considerando sua unidade doutrinária. Que tal, defensores dos “outros evangelhos”, seguir o exemplo do Senhor Jesus e observar o que diz a toda a Bíblia, e não somente um texto isolado e fora o contexto? Assim, permitam-me uma paráfrase do texto da tentação do Senhor, para que vos sirva de exemplo mais claro:

Então o diabo o transportou o crente à igreja, e colocou-o púlpito, e disse-lhe: Se tu és filho de Deus, prega um evangelho diferente; porque está escrito: ‘contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda. Porque sei que disto me resultará salvação...’. Disse-lhe o crente: Também está escrito: ‘Se alguém vos anunciar outro evangelho, além do que já recebestes, seja anátema’“. (paráfrase do texto de Mt 4:5-7).

Desculpem-me a sinceridade, irmãos defensores dos “falsos evangelhos”: Jesus foi aprovado na tentação porque conhecia e manejava bem a Palavra; vocês são reprovados porque a desconhecem, recusam-se a conhecê-la e a manejam com o objetivo de apenas corroborar com vossos achismos e perversidades do coração!

Ao invés de “dar as mãos” a estes pregadores, concordarmos com suas deturpações e tentarmos justificá-las, é necessário que façamos como Paulo apóstolo: levantemo-nos contra os falsos evangelhos! Estes evangelhozinhos medíocres que se espalham no meio do trigo como o joio pernicioso não têm compromisso com a Verdade do Evangelho trazido pelo Senhor e pregado pelos Seus apóstolos. Mesmo pregando Cristo, estes “evangelhos” afastam o homem do caminho de Cristo, levando-o por outros atalhos, ao ensinar-lhe doutrinas estranhas à Palavra de Deus. Por mais que estas falsas doutrinas se espalhem, cresçam e prosperem, nunca deixarão de ser falsos evangelhos, que mais afastam do que aproximam o pecador de Deus!

A pregação do Evangelho que interessa a Jesus, que promove verdadeiro crescimento do Reino de Deus e que alegra a Paulo não é qualquer um, mas é um só: o Evangelho do Reino, o genuíno, o centrado nas Escrituras, que está em pauta nos ensinamentos do Cristo. Paulo se alegra com a honra que lhe foi concedida de poder pregar este Evangelho, quando afirma: em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20:24). Não é qualquer “evangelho”. Paulo o nomeia: é o EVANGELHO DA GRAÇA DE DEUS.

Quando Jesus falava acerca do fim das coisas, ele menciona que o fim só viria quando o genuíno Evangelho fosse pregado a todas as nações: “Nesse tempo, muitos serão escandalizados e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. E ESTE EVANGELHO DO REINO será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim” (Mt 24:10-14 – grifo meu). Mais uma vez, não é qualquer um evangelho! Não é o evangelho da graça barata; não é o evangelho da prosperidade; não é o evangelho da barganha com Deus, mas O EVANGELHO DO REINO.

Desta forma, fica fácil compreender as palavras do Mestre, quando disse: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mt 7:21-23). Dentre estes que ficarão de fora, com certeza estarão muitos pregadores de “evangelhos”, e muitos defensores de tais pregadores e de tais “evangelhos”.

Que Deus nos dê a graça de estarmos entre os que não serão enganados, mas entre os que perseverarão na Palavra e no verdadeiro Evangelho do Reino, sem nos desviarmos nem para a esquerda e nem para a direita!

Fonte:
Mulheres Sábias Blog da Rô

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