Por Fabio Campos
Texto base: “No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. – 1 João 4. 18-19 (NVI)
“Você tem medo de Deus”?, analisando friamente ao contemplar nossas falhas, creio eu, que, não seja uma pergunta fácil de responder. Se Deus é amor, por que, por vezes, dEle sentimos medo?
A Escritura diz que “no amor não existe medo, antes o PERFEITO amor lança fora o medo” (1 Jo 4.18a). O nosso amor é falho; ainda que sejamos conhecidos por todos como homens e mulheres que “amam de fato”, mesmo assim, do amor seremos devedores (Rm 13.8). Mas há um PERFEITO amor, e este não nos pertence, mas está, e é de Deus. Se este PERFEITO amor pertence a Deus, por que razão deveríamos como filhos ter medo dEle?
O amor de Deus é totalmente seguro, pois no seu “caráter não há variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Podemos sim correr para este amor mesmo quando tudo diz que não somos merecedores dEle (e de fato nunca seremos). Aliás, não tem lugar mais seguro neste mundo do que estar protegido no amor de Deus, pois este amor “encobre o pecado” (Sl 32.1), e não somente um deles, mas uma multidão (1 Pe 4.8).
O capítulo 13 da primeira carta aos coríntios não se trata (como muitos pensam) somente acerca do amor entre marido e mulher, mas sim do amor de Deus e a forma como os irmãos devem se amar. Para isso, o apóstolo Paulo eleva o nível deste amor e o referencia em Deus. Veja, então, você, se este amor de Deus (1 Co 13. 4-8) não nos assegura dos perigos do mundo, da carne e do diabo:
O amor é paciente (Deus é paciente conosco)
O amor é benigno. (Deus age com bondade para conosco)
O amor não é ciumento (possessivo).
O amor não se ufana (orgulho, presunçoso, vaidoso).
O amor não se ensoberbece.
O amor não se conduz inconvenientemente. (Deus não nos expõe ao ridículo devido às falhas que cometemos).
O amor não procura os seus próprios interesses.
O amor não se exaspera (Deus não causa e nem sente irritação conosco).
O amor não se ressente do mal (ainda que sofra).
O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.
O amor tudo sofre.
O amor tudo crê.
O amor tudo espera.
O amor tudo suporta.
O ápice dessa segurança se encontra no v.8 que diz “o amor JAMAIS acaba”. Novamente pergunto: “Você tem medo de Deus”?
A Bíblia diz que “o medo produz tormento” (1 Jo 4.18b). Lembro-me agora da “tempestuosa” conversão do pai da reforma protestante, Martinho Lutero, no século XVI. Lutero tinha uma visão de Deus totalmente distorcida daquele qual o Senhor Jesus Cristo anunciou (Hb 1.1); um Deus que pune e exige em “caráter tirano” sacrifícios dos seus servos. Martinho Lutero, então, ao ler Rm 1.17 que “o justo viverá da fé”!, viu os portões do paraíso se abrirem para ele.
O temor produz tormento na alma daquele que é consciente do seu pecado antes que o amor de Deus lhe traga a paz através da salvação e perdão dos pecados. O contexto qual o apostolo João trata de “tormento” traz o sentido de “lançar fora”; “mandar embora” [devido alguma falha]; refere-se também aquele que “vive assustado com medo da punição”.
A escritura também diz que “aquele que teme não está aperfeiçoado no amor” (1 Jo 4.18c). Quem teme só espera uma cousa, a saber, punição. Posto isso até agora, faço duas perguntas: 1) Você tem certeza que Deus o ama? 2) Você ama a Deus? A conclusão e o crivo na veracidade destas duas respostas estão no “sim” ou no “não” desta pergunta: “Você tem medo de Deus”? Se sim, “você tem medo de Deus”!, você não tem certeza que Deus o ama o que consequentemente por uma série de razões o seu amor para com Deus esteja “desconfigurado”.
“Medo” no grego clássico conota “provocar fuga”. Caim teve medo de Deus; Deus não se afastou de Caim, mas “Caim se retirou da presença de Deus” (Gn 4.16). Outro também que teve medo de Deus e dEle armou fuga foi Adão (Gn 3.10). Você tem fugido de Deus? Você tem medo de Deus? A Bíblia tem uma excelente noticia para nós: “Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19).
João Calvino disse que “Deus jamais encontrará em nós algo digno de seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso”. A melhor história do Velho Testamento que ilustra este “obstinado amor de Deus [1]” pelo o seu povo se encontra no livro do profeta Oséias. Em nenhum outro livro você contempla a exposição do coração de Deus de forma tão “desnudada”. É algo extraordinário e ao mesmo tempo “inquietante”.
Oséias é chamado o “profeta do coração partido e do lar desfeito”; é chamado também de Jeremias do reino do norte, porque, como Jeremias, chorou e sofreu pelo o seu povo. Deus lhe dá a ordem de se casar com uma mulher chamada Gômer que logo se mostrou infiel. Os filhos deste matrimônio conturbado foram fonte de tristeza. O primeiro, Oséias considerava que fosse seu; o segundo, uma menina, ele chamou de Lo-Ruama (“não amada”); esta ele não reconhece como sendo a sua filha. O terceiro filho, ele também não reconhecia com seu e pôs o nome de “Lo-Ami” (“não meu povo”). Oséias, então, comprou sua própria esposa, Gômer, mas se recusou a restabelecê-la plenamente até o tempo que a punição tivesse passado.
Deus nesta história é representado na figura do profeta; enquanto Gômer, a esposa infiel, representa Israel (pior que Judá). Deus acusa o seu povo de infidelidade. Ele começa com o povo; depois acusa os sacerdotes; na sequencia Ele dá a sentença e a carta de repúdio para Israel. Todavia, Sua ira não dura para sempre e ainda que na desobediência, Deus não deixa de amar o seu povo:
"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou”. – Oséias 11. 1-3 (NVI)
O mais lindo desta história se encontra na forma pela qual o Senhor os chama:
“Com laços de amor e de carinho, eu os trouxe para perto de mim; eu os segurei nos braços como quem pega uma criança no colo. Eu me inclinei e lhes dei de comer”. – Oséias 11. 4 (NTLH)
Parece que há uma luta em Deus, sendo Ele misericordioso e justo, diz a Israel o que eles mereciam, ou seja, condenação e rejeição, entretanto, age de forma diferente da sentença que Ele emitiu:
“O meu povo está decidido a desviar-se de mim. Embora sejam conclamados a servir ao Altíssimo, de modo algum o exaltam. "COMO POSSO DESISTIR DE VOCÊ, EFRAIM? Como posso entregar você nas mãos de outros, Israel? Como posso tratá-lo como tratei Admá? Como posso fazer com você o que fiz com Zeboim? O meu coração está ENTERNECIDO, despertou-se toda a minha compaixão. Não executarei a minha ira impetuosa, não tornarei a destruir Efraim. Pois sou Deus, e não homem, o Santo no meio de vocês. Não virei com ira”. – Oséias 11. 7-9 (NVI)
Confesso que isso é complicado pra mim, mas como Ele mesmo disse: “Pois sou Deus, e não homem”!, basta a mim apenas saber que “o evangelho é um escândalo para os religiosos” (1 Co 1.23) que fazem o “juízo trinfar sobre a misericórdia” e não o contrário (Tg 2.13).
Quando achamos que Deus não nos ama mais, é hora de pararmos e analisarmos o nosso amor por Ele, pois Ele nos amou primeiro e o seu amor não tem fim. Como vimos, no amor não existe medo, antes, o PERFEITO amor lança fora todo o medo; o medo é quem traz tormento, todavia quem teme não está aperfeiçoado no amor. A segurança e a boa notícia é que Ele nos amou primeiro e que o próprio Senhor “provou o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
O amor de Deus não depende do que fazemos ou deixamos de fazer, mas do que Ele fez através do Filho, pois Ele nos amou de tal maneira que entregou o seu Filho para que nada pudesse nos separar do seu amor. O que poderia nos separar do amor de Deus (Rm 8. 35-39)? Nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor.
Que toda Glória seja dada ao Nosso Senhor Jesus Cristo que nos comprou para sempre com o seu precioso sangue. Este amor nos constrange a segui-lo e ama-lo para todo sempre, pois Ele nos amou primeiro. Amém!
Soli Deo Gloria!
Fabio Campos
Sermão pregado na ICT dia 11/02/2015
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Notas:
[1] “Obstinado amor de Deus”; titilo do livro escrito por Brennan Manning publicado pela Editora Mundo Cristão.
Referências bibliográficas:
PHILLIPS, John. Explorando as Escrituras. Rio de Janeiro, RJ; CPAD; 1º edição, 2004.
CARSON, D.A. Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova, 2012. São Paulo, SP
Fonte: Fabio Campos
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