Quando
Dietrich Bonhoeffer estava encerrado na prisão nazista escreveu um sermão para
o casamento de uma sobrinha sua. Disse ele: “O casamento é maior que o amor que
vocês têm um pelo outro. Ele tem em si grande dignidade e força por ser a
ordenança santa através da qual Deus planejou a perpetuação da raça humana, até
os fins dos tempos. No amor que os une, vocês veem apenas a si mesmos no mundo,
mas ao se casarem tornam-se um elo na cadeia das gerações que Deus faz aparecer
e partir para a Sua glória, chamando-as para o seu Reino... Seu amor é
propriedade particular, mas o casamento não pertence apenas a vocês; é um
símbolo social, uma função de responsabilidade”.
Com
o advento do cristianismo, o casamento alcançou santidade e significação tais
como nunca se ouviu falar nos tempos antigos. A dignidade da mulher, de há
muito esquecido, foi como que redescoberta, e seu valor reconhecido. Nem mesmo
a lei romana ou a mosaica concediam à mulher direito em pé de igualdade com os
do homem, em importância e santidade. No cristianismo, a esposa, tanto quanto o
marido, têm direitos à total fidelidade do companheiro. A esposa deixa de ser
meramente a ajudadora do marido na vida presente, para ser coerdeira com ele da
vida eterna (1Pe 3.7).
A
mais elevada concepção de casamento, nos tempos antigos, era a de um
relacionamento moral. O casamento cristão é algo ainda mais sublime – um
mistério (Ef 5.32). Esse mistério é o relacionamento entre Cristo e a Igreja,
que é o reflexo do casamento. Por isso que as vidas pública e privada do pastor
devem estar em harmonia.
James
K. Bridges citando Spurgeon disse que em seu livro Lições a Meus Alunos, Charles Spurgeon exorta os ministros a se
empenharem a fim de que o caráter pessoal se harmonize, sob todos os aspectos,
com o ministério que Deus lhe confiou. Ele conta a história de uma pessoa que
pregava tão bem e vivia tão mal, que quando ele estava no púlpito, todos diziam
que ele nunca deveria sair dali; e quando não estava no púlpito, todos diziam
que ele nunca deveria tornar a subir nele. Depois, Spurgeon desafia-nos com
essa analogia: “Que nunca sejamos sacerdotes de Deus no altar e filhos de
Belial fora das portas do tabernáculo”.1 A vida cristã do pastor começa dentro de casa,
junto a sua família e não dentro da igreja, atrás do púlpito. Temos visto
muitos pastores que são como Naamã, herói para a comunidade e leproso dentro de
casa. Alguém ovacionado na nação, mas rejeitado dentro do próprio lar. Muitos são
sacerdotes dentro da igreja e filhos de Belial para a família. Não são poucos
os casos de pastores em crise familiar e não são poucos que já partiram para o
divórcio.
Porque
isso tem ocorrido com a família pastoral? Creio que isso ocorre porque muitos
pastores tem rejeitado o conselho de Paulo a Timóteo: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja. É necessário, portanto, que
o bispo seja irrepreensível, esposo de
uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para
ensinar; não dado ao vinho, não violento,
porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com
todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará
da igreja de Deus?)” (1Tm 3.1-5). Grifo nosso.
Certa
revista publicou interessante matéria sobre o piloto automático: "Um dos
grandes prodígios da ciência moderna é o piloto automático. Enormes
bombardeiros e aviões de transporte cortam o espaço a centenas de quilômetros
por hora, com a terra coberta pelas nuvens, ou pela escuridão; seguem, porém, o
seu curso com os movimentos automaticamente controlados por giroscópios".
A
agulha giratória é usada quando o piloto determina o rumo a ser seguido pelo
aparelho; mesmo que o seu destino fique além-mar, ele sabe que será atingido. É
possível que nós, pais, pastores, ainda não tenhamos marcado quaisquer alvos.
No entanto, chegou a hora de fazê-lo; estamos, afinal de contas, conduzindo
algo muito mais precioso do que os aviões de carga; estamos conduzindo toda a
nossa família.
Já
que o ministério pastoral começa dentro de casa, o pastor deve ter o cuidado
redobrado em relação ao seu lar. Para isso, o pastor deve observar três coisas
básicas:
1º
PLANEJE O SEU CASAMENTO
Em
nenhum outro lugar encontramos o padrão divino para o casal expresso de maneira
mais clara e simples que no primeiro comentário bíblico a respeito do
relacionamento entre o homem e a mulher. “Por
isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne” (Gn 2.28). “Unir-se ao cônjuge” é uma expressão que abrange todos os
aspectos do relacionamento entre marido e mulher. Por isso, é de vital
importância que aquele que se sente chamado para o ministério cristão – pastor,
evangelista, missionário – seja extremamente cuidadoso em escolher o cônjuge.
No namoro, o provável candidato ao ministério deve ter cuidado em namorar
somente cristãs não só nascidas de novo, mas cheias do Espírito Santo e que
esta esteja disposta a servir no ministério com o seu marido aonde o Senhor
mandar.
O
jugo desigual não é só de crente com o descrente, mas pode ser também entre
crentes, principalmente em relação ao ministério. Se o pastor tem um chamado
específico para um determinado lugar e a esposa não quer o acompanhar já começa
a crise no lar. Por isso que um lar deve ser constituído com muita oração e
discernimento espiritual, pois aquilo que poderia ser uma bênção pode tornar-se
uma maldição.
2º
TENHA EM MENTE QUE O CASAMENTO DEVE SER INDISSOLÚVEL
O
casamento deve ser para toda a vida. E esta é uma união permanente. No projeto
de Deus o casamento é indissolúvel. Ninguém tem autoridade para separar o que
Deus uniu. Por isso que antes de falar sobre divórcio, Jesus falou sobre o
casamento (Mt 19.3-6). Podemos comparar o casamento a uma viagem a dois, onde
muitas coisas podem ocorrer nesse trajeto até que a morte os separe. Por isso
que o marido e a mulher devem estar juntos na alegria e na tristeza, na saúde e
na doença, na prosperidade e na adversidade. Só a morte pode separá-los (Rm
7.2; 1Co 7.39).
Creio
que se o casal observar esses dois princípios básicos a palavra divórcio não
existirá no vocabulário do cônjuge. O casamento foi a única instituição
estabelecida por Deus antes da queda. Ele deve ser considerado digno de honra
por todos os povos, em todos os lugares, em todo o tempo (Hb 13.4). O casamento
é uma instituição divina para os cristãos e para os não cristãos, e Deus é
testemunha dessa aliança, quer eles entendam ou não. Por isso, Deus odeia o
divórcio tanto daqueles que o conhecem quanto daqueles que não o adoram como
Senhor (Ml 2.16).2 Embora a sociedade pós-moderna esteja fazendo
apologia ao divórcio, os princípios de Deus não mudaram, nem jamais mudarão.
3º
O CASAMENTO NÃO PODE SER POR CONVENIÊNCIA
O
casamento não é mera conveniência para vencer a solidão, nem um expediente para
perpetuação da raça. Primeiro, e acima de tudo, o casamento é o espelho do
relacionamento divino-humano. Todo casamento foi feito para representar a Deus:
Seu relacionamento consigo mesmo – Pai, Filho e Espírito Santo – como também o
Seu relacionamento com o Seu povo (Ef 5.32). O pastor precisa ter em mente que
o casamento exatamente isso, pois ele precisa vivenciar essa comunhão com o seu
cônjuge como também ensinar aos futuros casais.
Quem
embarca em um casamento por conveniência está fadado a viver uma vida infeliz e
ser uma infelicidade na vida da esposa e dos filhos. Busque em Deus uma esposa,
pois esta o Senhor tem para o pastor, veja o que Salomão tem a nos dizer a
respeito disso em Pv 18.22: “O que acha
uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do SENHOR”. Deus, mais do
que ninguém, está interessado em ver o lar do pastor abençoado.
Pense nisso!
Nota
1 - Bridges,
James K. O Pastor Pentecostal – A vida pessoal do pastor. Ed. CPAD, Rio de
Janeiro, RJ, 1999: p. 109.
2 - Lopes, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento. Ed. Hagnos, São
Paulo, SP, 2005: p. 37.