Heitor Alves
Se fizermos esta pergunta para todos o evangélicos, a maioria esmagadora responderiam afirmativamente. São vários os motivos para se responder positivamente a pergunta. Existe um sentimento de que o homem é bom e que não merece ser castigado. O interessante é que querem que Deus sinta este mesmo sentimento quando o assunto é condenação. Deus não pode condenar o homem e nem quer fazer isso. O homem tem valor. Ele é bom, não é tão mau a ponto de merecer o inferno.
Este sentimento tem penetrado nas igrejas evangélicas, distorcendo a teologia bíblica. A teologia predominante nos púlpitos é uma teologia humanista, uma teologia agradável ao homem. Se ouve, domingo após domingo, assuntos relacionados ao existencialismo, onde colocam Deus como um super-herói preparado para enfrentar as dificuldades que o homem venha a sofrer. Se Deus procura "evitar" que o homem sofra nesta vida, muito mais Ele fará na alma do homem. Por isso, vemos aquela doutrina satânica de que Deus deseja e quer a salvação de todos os homens!
Esse é o resultado prático de um cristianismo que jogou no lixo as Sagradas Escrituras. Estão pisando na Palavra de Deus. Rasgando suas páginas e jogando-as nas fogueiras de uma "inquisição" construída para não abalar a credibilidade e não desvalorizar o homem. E de que modo é praticada esta moderna "inquisição"? Não é mais com fogueiras literais ou confisco de bens, ou até mesmo de perda da liberdade. Mas esta moderna forma de "inquisição" é praticada quando é negada a autoridade absoluta e suprema das Escrituras sobre a igreja, e se busca novas revelações extrabíblicas, tratando-as como suprema autoridade.
Por isso encontramos uma grande hostilidade quando vamos expor o que de fato as Escrituras afirmam sobre os assuntos abandonados pelos evangélicos atuais, dentre eles o assuntos sobre a expiação limitada.
Deixando de lado todas as emoções ou humanismo, vamos expor aquilo que a Bíblia fala a respeito do desejo de Deus com respeito a salvação do homem. Afinal de contas, Deus quer a salvação de toda a humanidade?
Todos os arminianos, sem exceção, ao começarem uma discussão a respeito do amor de Deus, lembram logo de João 3.16. “Deus amou o mundo”! Todos são alvos do amor de Deus! É injusto lembrarmos apenas do verso 16. Por que não citar até o verso 21?
16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.
20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras.
21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.
O texto não diz que Deus ama todos os homens. Jesus está dizendo que o amor de Deus não se estende apenas aos judeus de sua época, mas o seu amor alcança pessoas além dos limites da Judéia. O seu amor se estende também aos gentios. Interessante que os arminianos não conseguem enxergar que o alvo do amor de Deus são aqueles que crêem em Jesus Cristo, e somente eles. Veja que o verso 18 decreta a condenação daqueles que não crêem "porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus". Deus não pode amar aquele que se mantém rebelde contra Jesus. O amor de Deus não está nele, e sim a sua ira: "Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36).
O curioso do ensinamento arminiano é que a teologia arminiana diz uma coisa e a bíblia diz outra. Por exemplo: se Deus ama a todos indiscriminadamente (como afirmam os arminianos) a lógica é Cristo orar e desejar a salvação de todos! Mas ele não deseja isso. Podemos notar isso na oração que ele faz em João 17. Cristo ora para que Deus conceda a vida eterna para um grupo seleto de pessoas: "Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste" (Jo 17.6-8). Em seguida, Cristo fulmina os arminianos com as seguintes palavras: "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (v.9). Por todo o capítulo 17, Cristo repete sempre as mesmas palavras "aqueles que tu me deste", "homens que me deste do mundo".
Eu não posso acreditar que há um desentendimento entre o Pai e o Filho. Não posso acreditar numa confusão na Trindade! Deus desejando salvar a todos, mas o Filho orando por alguns. O próprio Jesus afirmou que Ele veio fazer a vontade do Pai, esta é a sua comida (Jo 4.34). Deus não ama a todos e não quer a salvação de todos!
Para encerrar, tenho mais uma prova de que Deus não deseja a salvação de todos. A prova está em Mateus 11.20-24.
20 Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido:
21 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza.
22 E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.
23 Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje.
24 Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo.
Cristo passa a condenar as cidades que tiveram a oportunidade de presenciar a pregação do evangelho (que naquela época era acompanhada da operação de milagres que testificavam da pregação). Corazim, Betsaida e Cafarnaum foram as cidades onde Cristo pregou o evangelho e mesmo assim estas cidades não se converteram. A partir daí, Cristo nos revela algo que nos incomoda: ele começa a “passar na cara” destas cidades que se ele tivesse pregado (e operado milagres) nas cidades de Tiro, Sidom e Sodoma, elas teriam se arrependido “com pano de saco e cinza” e permanecido “até ao dia de hoje”.
Se Cristo sabia que essas cidades iriam se arrepender com sua pregação, então, porque ele não foi até elas? Porque Cristo abriu mão dessas cidades, sabendo que os seus habitantes seriam convertidos e ingressados no reino dos céus? Deus não ama a todos? Então porque Deus deixou de fora dos céus os homens, as mulheres, os idosos, as crianças, os jovens e os adolescentes de Tiro, Sidom e Sodoma? Não foi o próprio Jesus quem afirmou: “Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:10)? Porque Deus evitaria causar uma grande festa no céu por ocasião de três cidades arrependidas? Deus não ama a todos?
Isso me faz lembrar um outro texto: Isaías 6.9-13:
9 Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais.
10 Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo.
11 Então, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo assolada,
12 e o SENHOR afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo.
13 Mas, se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais, depois de derribados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco.
Deus envia Isaías para pregar a um povo que não se arrependerá. Não se arrependerá porque Deus tornará insensível o coração desse povo. Não se arrependerá porque Deus endurecerá os ouvidos. Não se arrependerá porque fechará os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo”.
Somente os eleitos de Deus são os alvos do amor salvífico de Deus. Somente os seus eleitos experimentarão a graça de serem participantes do seu reino.
Não cabe a nós imaginarmos quem é o alvo do amor de Deus e quem não é. Não temos esse poder. Não podemos deixar de pregar o evangelho a alguém achando que esse alguém não faça parte dos eleitos. Resta-nos pregar o evangelho ao máximo de pessoas possíveis, sem fazer distinção. Precisamos olhar para as pessoas como um “eleito” em potencial. Todos os homens são passíveis de receberem a Cristo de bom grado e de coração. Por isso precisamos pregar o evangelho a toda criatura. A pregação do evangelho a todos não garante salvação. Precisamos ser o agricultor que joga as sementes em vários tipos de solos; mas isso não garante que todos os solos receberão as sementes e se transformarão em belas plantas e árvores. Deus mesmo fará com que as sementes da Sua palavra caia em corações que Ele mesmo preparou para recebê-las.
Devemos cumprir com nossa obrigação de pregar o evangelho a todos. Inclusive aos nossos parentes. Não sabemos o que Deus planejou para a vida de cada um deles. Não sei o destino eterno da minha esposa, do meu filho, do meu marido, do meu irmão, do meu pai, da minha mãe... Não cabe a mim fazer conjecturas. Cabe a mim pregar o evangelho e orar a Deus e entregar a alma do meu parente nas mãos de Deus.
O próprio Espírito de Deus acalmará nossa ansiedade, acalmará nosso espírito, se estivermos com dúvidas a respeito daquele parente que faleceu. Por mais que seja triste e dolorosa a partida de um ente querido que morreu sem Cristo, Deus mesmo nos dará o consolo necessário e suficiente para nossa dor. A nossa postura diante de Deus deve ser uma postura de honra, louvor, adoração, de submissão, de entrega total de nossas vidas a Ele, reconhecendo que Ele pode fazer o que bem entender com suas criaturas.
Soli Deo Gloria!
Pastor,
ResponderExcluirGraça e Paz!
Não sou calvinista, tampouco arminiano... Apenas gosto bastante de estudar a palavra de Deus... Achei interessante o artigo, mas, se for possível, gostaria da explicação que a vertente calvinista tem sobre o seguinte texto, principalmente, sobre o verso 4:
(1Tm 2.1-4) - ADMOESTO-TE, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
Agradeço e deixo o e-mail para contato, não para discussões mas para que eu possa crescer em aprendizado, ok?
jordanny.adv@gmail.com
Que a paz do Senhor Jesus seja contigo!
Jordanny
Brasília - DF
Graça e paz Jordanny.
ResponderExcluirTentarei lhe responder ainda esta semana, me aguarde.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Pastor Silas,
ResponderExcluirGraça e paz! Novamente estou aqui te importunando, rss... Primeiramente, sou contrário ao argumento dos arminianos... Não consigo, realmente, ver o evangelho por uma salvação onde o aceite está no homem. Isso seria o mesmo que reduzir a mensagem do evangelho a um contrato de adesão, onde o grande objeto da avença é a nossa eternidade, e que aguarda apenas uma assinatura da nossa parte, visto que a assinatura de Deus já está lá, disponível... Isso é, logicamente, inconcebível.
Entretanto, a lógica calvinista, segundo a colocação do autor do texto acima, não assumiu, perante o meu entendimento, uma defesa precisa para o amor de Deus. Antes, devo asseverar que, em relação à doutrina da salvação, sou um quase calvinista, visto que concordo com grande parte das proposições. Contudo, vejo no texto acima, uma tentativa de limitação do amor de Deus... O amor de Deus participa da Sua oniciência e infinita sabedoria, que são inescrutáveis e de profundidade inascessível à mente humana, enquanto revestida dessa natureza carnal... Logo, seria possível impor limites ao alcance do amor de Deus? Creio, certamente, que seguindo, tanto a preciência quanto o propósito divino, a predestinação reveste-se, doutrinariamente, como correta... Entretanto, a Palavra, em 1Tm 2.4 se revela categórica quanto ao desejo de Deus, não desejo de propósito, mas desejo de prazer, em que todos fossem salvos... Logo, apesar de haver um desejo no coração de Deus para com a salvação de todos, não há uma espera de Deus para que todos sejam salvos... Deus não espera isso, e ainda, nem nós mesmos, que temos uma mente tão limitada, esperamos isso... Entretanto, creio que o amor de Deus não encontra limite em Seu propósito nem Seu propósito é limitado pelo Seu amor... Ambos são infinitamente superiores aos atributos humanos, ou mesmo à consciência e entendimento do homem, não havendo espaço para discussão ou mesmo imposição de limitações a cada um desses dois atributos divinos por meio de uma corrente teológica a que se adere; no caso, o calvinismo...
A predestinação é uma evidente e consistente doutrina bíblica... Porém, a complexidade da sabedoria e da ciência de Deus não nos permite, nem nos dá espaço, em face de nossa limitação intelectual e cognitiva, para conclusões que limitam tanto o propósito quanto o amor de Deus... Ele ama, mas é justo! Ele ama mas Seu amor obedece ao Seu propósito e o Seu propósito tem fundamento no Seu amor! Não sei se o senhor entendeu o que eu quis dizer... Apenas deixo registradas estas colocações por ser a minha limitada forma de pensar!
A paz do Senhor!
Sola Scriptura
Soli Deo Gloria
Graça e paz Jordanny.
ResponderExcluirNão sei se você recebeu o e-mail com o comentário sobre esse texto de 1Tm 2.1-4 que eu lhe enviei, é muito interessante. Caso não tenha recebido me retorne.
Mas eu quero te adiantar uma coisa, o amor de Deus é completamente diferente do nosso. O amor de Deus é perfeito, e por ser perfeito é incompreensível. Deus não está atrelado a sentimentos como os nossos. Por isso não conseguimos, muitas vezes, entender a predestinação. Em 1Tm 2.1-4, a palavra "todos os homens" não quer dizer toda a humanidade, mas os eleitos de todas as terras, tribos e nações, é nesse contexto que o apóstolo Paulo se refere. Por isso a necessidade de estudarmos sempre as Escrituras para alcançarmos um melhor entendimento da mesma. Falo isso por mim, pois quando não entendo um texto vou orar para que o Senhor me mostre a Verdade revelada ali. E isso tem sido uma grande experiência em minha vida.
Qualquer dúvida mantenha contato.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Olá Pr. Silas,
ResponderExcluirAgradeço por prestigiar o site.
Sem querer me intrometer, vi o Jordanny pedindo explicações sobre 1Tm 2.4. Escrevi um artigo sobre este texto e gostaria que você e os seus leitores lessem, ok?
Análise Calvinista de Versículos “Arminianos”: 1 Timóteo 2.4
A propósito, seu blog já está na Sociedade Calvinista, ok?
Um abraço!!!
Graça e paz Heitor.
ResponderExcluirJá publiquei no blog o seu artigo, ele está muito bom.
Obrigado por colocar nosso blog na Sociedade Calvinista.
Fique na Paz!
Pr Silas
Não tenho blog, mas queria fazer parte dessa sociedade. Queria ter em meu email os artigos e comentários publicados aqui. Se possivel, mande no meu email: beneditodias@gmail.com
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