sexta-feira, 13 de abril de 2012

Arminianos, Reformados e a expiação limitada


Por Leonardo Gonçalves

Esta semana li um texto onde o autor afirma que a doutrina reformada da expiação particular ou limitada é uma petulância teológica. Neste texto gostaria de defender a ideia de que o autor, embora arminiano, também crê em uma expiação limitada. Isso porque a doutrina da expiação, seja ela arminiana ou reformada, sempre compreende uma expiação limitada. Senão, vejamos:

Arminianos pregam uma expiação limitada pela vontade humana. Segundo eles, o alcance da expiação é limitado pela vontade humana, de querer ou rejeitar o Senhor. Não parece óbvio que, dentro do sistema arminiano também existe um limite para a expiação? A diferença é que este limite é estabelecido pelo homem.

Os reformados também creem numa expiação limitada. No entanto, afirmam que a única coisa que pode limitar Deus é Sua própria vontade. Não cremos em um Deus cuja vontade possa ser limitada pelo homem. Exaltamos a soberania de Deus sobre os assuntos humanos e cremos que Deus não pode ser limitado por qualquer coisa fora dele. Tal limitação seria uma diminuição do atributo da Onipotencia divina, um pecado que não desejamos cometer.

No arminianismo, o homem limita Deus. Para o reformado, Deus limita Deus (isto é, Deus não pode ser limitado por nada além de si mesmo. O único “limite” em Deus é a sua própria vontade). Por isso, quando os arminianos dizem que a expiação pregada por eles não é “limitada”, caem em óbvia contradição, pois ao dizer que Deus está condicionado pela vontade humana, limitam o poder de Deus para salvar. Segundo este raciocínio, Deus não pode salvar a quem ele quer. Ele está condicionado (limitado!) aos caprichos da humanidade.

Não sou inimigo dos arminianos. Encontro crentes devotos entre eles. Muitos dos meus amigos são arminianos. O que me assombra é inquisição teológica e o profundo preconceito que muitos arminianos – que são maioria na América Latina, devido à forte influencia pentecostal na evangelização do sul do nosso continente – demonstram com respeito aos reformados, calvinistas, atacando as doutrinas da graça quando sequer fizeram um esforço sincero de entendê-las. Assim, vão ferindo a lógica, as Escrituras e diminuindo Deus, limitando-o aqui e ali, recusando-se a submeter-se à vontade de um Deus que é totalmente soberano.

Não é incrível que aqueles que acusam os calvinistas de pregar uma expiação limitada também preguem um conceito limitado de expiação? Isso me faz lembrar aquela velha história do macaco sentado no próprio rabo e implicando com o rabo alheio.

A expiação, como pregada pelos reformados exalta Deus. A visão apresentada é de um Deus glorioso que não conhece limitações fora de si mesmo. Um Deus Onipontente, robusto, cheio de glória. A expiação pregada pelo arminiano diminui o Soberano, limita seu poder à vontade das suas criaturas. Não é em vão que essa forma de pensamento foi chamada de semi-pelagianismo. Ela representa um passo em direção à Roma. Não é um catolicismo, admito. Mas representa um passo em direção ao romanismo e seu antropocentrismo medieval.

Muitos falam em reavivamento reformado. O movimento chamado “Novo Calvinismo” tem apresentado uma nova cara da fé reformada, um “calvinismo carismático-continuísta”, digamos assim. No entanto, a pós-modernidade, com seu total desprezo pelas autoridades e um desejo de emancipação, de viver “livre” e fazer o que bem se entende, não querendo submeter-se a nada nem a ninguém, cria um cenário perfeito para a proliferação do Arminianismo, uma doutrina que coloca o homem no centro do universo e faz com que todas as ações divinas se centralizem em nós.

Do mesmo modo, um Deus que busca a própria glória e faz todas as coisas pelo beneplácito da sua vontade, que governa soberanamente, endurecendo a quem quer e quebrantando a quem quer; que reina sobre a vontade dos homens e rege o curso dos astros, certamente será desprezado por uma geração ensimesmada e cheia de desejos de auto-glorificação.

Soli Deo Gloria.

Fonte: Púlpito Cristão

6 comentários:

  1. Não sou arminiano, mas não me considero calvinista.

    E digo que um incauto ou um neófito que lê as defesas ferrenhas do calvinismo ortodoxo, que defende a espiação limitada, pregando - mesmo sem dizer abertamente - que o Soberano predestinou a maioria dos homens para a perdição eterna, pode desistir da pregação do evangelho para alcançar os perdidos.

    Creio na soberania do Eterno, mas não vejo fundamento escriturístico para dizer que grande parte da humanidade foi escolhida previamente por Deus para serem condenados.

    Aliás, a Bíblia é rica em passagens que mostram Deus chamando as pessoas ao arrependimento. Deus não tem prazer na morte do ímpio, mas deseja que todos venham conhecer a verdade.

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    1. Graça e paz Rodrigo.
      Ninguém nasce para ir para o céu. A Bíblia é muito clara quando nos diz que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Ela também nós diz que estávamos mortos em delitos e pecados, veja bem, MORTO. Uma pessoa morta não tem reação nenhuma, não atende a ninguém e nem tem desejo algum. Jesus falou que não fomos nós que o escolhemos, mas ele escolheu a nós. Leia Rm 9, Ef 1. O Senhor não predestinou ninguém para o inferno, mas para o céu!!
      Outra coisa, se você não arminiano e nem calvinista qual é a sua teologia? Agora fiquei curioso.
      Fique na paz!
      Pr. Silas Figueira

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    2. "não vejo fundamento escriturístico para dizer que grande parte da humanidade foi escolhida previamente por Deus para serem condenados." Rodrigo

      "Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição?" Paulo, em Romanos 9:22

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  2. Meus irmãos, creio que as duas formas de pensar são dogmáticas e podem encontrar algum fundamento nas escrituras, embora eu creia firmemente no livre arbítrio. Ora, dizer taxativamente que Deus não pode, no exercício de sua soberania, deixar que o homem escolha seu caminho, é um raciocínio tão ou mais restritivo. E, se a questão é de lógica, é mais lógico que Deus dê alguma autonomia ao homem, já que é feito à sua imagem e semelhança.
    Cristhian

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    1. Graça e paz Cristhian.
      Como você disse as duas formas de pensar são dogmáticas, mas vejo que você é arminiano. Sendo arminiano ou calvinista se não tiver o nome escrito no livro da vida não entrará na presença de Deus, isso é fato. Agora, devemos estudar teologia para nos posicionarmos na defesa do evangelho, por isso quando nos posicionamos aqui como calvinistas é porque estamos bem embasados no que estamos falando. Mas nem por isso devemos ser orgulhosos por conhecer teologia, a nossa alegria deve estar em conhecer a Deus e a salvação que Ele nos trouxe através do Seu Filho Jesus.
      Fique na Paz!
      Pr. Silas Figueira

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  3. A doutrina da “expiação limitada” ocorre mais como uma consequência dos outros pontos da TULIP do que como uma doutrina essencialmente “calvinista”. Isso porque o próprio Calvino nunca creu nela, e escrevia expressamente o contrário. Algum tempo após a morte de Calvino, um de seus principais discípulos, Teodoro de Beza, acrescentou a expiação limitada ao perceber que ela era uma consequência lógica e irredutível dos outros pontos da doutrina calvinista.

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