quinta-feira, 24 de novembro de 2011

É Deus quem estabelece a diferença


Por A. W. Pink

"Ao Senhor pertence a salvação!"
(Jn 2.9), Mas o Senhor não salva a todos. Por que não? Ele salva alguns; e, se salva alguns, por que não salva os demais? Porventura é por que são demasiadamente pecadores e depravados? Não; pois o apóstolo escreveu: "Fiel é a palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal" (1 Tm 1.15). Por conseguinte, se Deus salvou àquele que foi o "principal" dos pecadores, ninguém é excluído por ser demasiadamente depravado. Então, por que Deus não salva a todos? É por que alguns têm o coração tão endurecido, que não se deixam vencer? Não, porque está escrito a respeito daqueles que têm o coração mais endurecido do que o de quaisquer outras pessoas: "Tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne" (Ez 11.19). Então, será que alguns são tão obstinados, tão intratáveis, tão atrevidos, que Deus não pode atraí-los para Si? Antes de responder a essa pergunta, vamos formular outra; apelemos para a experiência de pelo menos alguns dentre os do povo do Senhor.

Amigo, não houve um tempo quando você andava segundo o conselho dos ímpios, se detinha no caminho dos pecadores e se assentava junto aos escarnecedores e com aqueles que diziam: "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19.14)? Não houve um tempo quando você não queria vir a Cristo para ter vida (Jo 5.40)? Sim, não houve um tempo quando você mesclava a sua voz à daqueles que diziam a Deus: "Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos. Que é o Todo-poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações" (Jó 21.14, 15)? Envergonhado, você tem de reconhecer que houve um tempo assim.

Como é que tudo isso mudou? O que o levou a abandonar sua orgulhosa auto-sufíciência, para ser um humilde suplicante; a deixar sua situação de inimizade contra Deus, para fazer as pazes com Ele, passando da rebeldia à sujeição, do ódio ao amor? "Pela graça de Deus, sou o que sou" (1 Co 15.10), responderá você, se é "nascido do Espírito". Você percebe que não é por causa de qualquer falta de poder da parte de Deus que outros rebeldes não são salvos também? Se Deus teve a capacidade de subjugar a sua vontade e ganhar o seu coração, sem interferir em sua responsabilidade moral, então não poderia fazer o mesmo com as outras pessoas? Certamente que sim. Logo, quão incoerente, ilógico e estulto você se mostra em procurar explicar a atual situação dos maus e o destino final deles, argumentando que Deus é incapaz de salvá-los e que eles não deixam que Deus os salve. Você talvez argumente: "Mas chegou o momento em que me dispus, desejoso de receber a Cristo como meu Salvador". É verdade, mas foi o Senhor quem lhe deu essa disposição (SI 110.3 e Fp 2.13). Nesse caso, por que Deus não faz com que todos se disponham? Pelo fato de que Ele é soberano e age como bem Lhe apraz!

Mas, voltemos à nossa indagação inicial. Por que razão todos não são salvos, especialmente todos quantos ouvem o evangelho? Você continua argumentando: "Não será porque a maioria se recusa a crer?" Bem, é verdade, mas isso é apenas parte da verdade. É a verdade do lado humano. Há também o lado divino, e esse lado precisa ser ressaltado; caso contrário, Deus será despojado de sua glória. Os não-salvos estão perdidos porque se recusam a crer; os demais estão salvos justamente porque crêem. Mas, por que estes crêem? O que os leva a confiarem em Cristo? Porventura são mais inteligentes do que os seus semelhantes, mais prontos a discernirem a sua própria necessidade de salvação? Longe de nós tal ideia, "Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (1 Co 4.7).

É o próprio Deus quem estabelece a diferença entre os eleitos e os não-eleitos, porque está escrito acerca dos que lhe pertencem: "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5.20).

A fé é um dom de Deus, e "a fé não é de todos" (2 Ts 3.2). Portanto, vemos que Deus não concede esse dom a todos. Quem, pois, recebe essa graça salvadora? Nós, seus próprios eleitos, respondemos — "e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13.48). Por isso é que lemos: "A fé que é dos eleitos de Deus" (Tt 1.1). Mas, é Deus soberano na distribuição dos seus favores? Não tem Ele o direito de ser assim? Existem ainda aqueles que "murmuram contra o dono da casa"? Então, as próprias palavras do Senhor são resposta suficiente: "Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu?" (Mt 20.15). Deus é soberano na distribuição dos seus dons, tanto no âmbito das coisas naturais como das espirituais.

2 comentários:

  1. Não concordo totalmente com a visão do autor do texto.

    Certamente Deus é soberano, e isso não está em discussão.

    Todavia, a palavra do Senhor nos diz também que "O senhor não tem prazer na morte do ímpio, mas antes que o mesmo se arrependa" (Ezequiel 18:23; Ezequiel 33:11) e e também que o Senhor "não deseja que ninguém se perca, mas que todos venham ao conhecimento da verdade" (1 Timóteo 2:4).

    O sacrifício do Senhor é atemporal e ilimitado para todo aquele que nele crer. Assim sendo, o Deus oferece sua graça a toda a humanidade porque a amour por inteiro (JOão 3:16), mas infelizmente muitos rejeitarão o dom divino.

    Tal fato nem de longe interfere na soberania do Criador. Embora ele trabalhe em nosso coração, pois é o Espírito Santo que nos convence do pecado, da justiça e do juízo, alguns ainda assim não desejarão ir ao Senhor.

    A Soberania do Senhor não implica em Ele nos manipular o tempo inteiro, embora ele possa fazer isso. Mas as Escrituras nos relatam que ele tem automonomia para intervir fazendo prevalecer Sua vontade.

    Creio que o conceito de predestinação está relacionado a onisciência e pré-ciência do Senhor quanto aos que serão salvos e condenados; mas não constitui uma escolha do Soberano em decidir quem será condenado, sem que ao menos lhe seja ofertado a oportunidade de arrependimento.

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  2. Graça e paz Rodrigo.
    Como bom arminiano você defende bem a sua teologia (rs). Mas como eu sou calvinista vou lhe indicar outro texto e um vídeo que lhe ajudarão a entender melhor a teologia reformada.
    http://ministeriobbereia.blogspot.com/2011/11/eu-nao-sei.html
    http://ministeriobbereia.blogspot.com/2011/11/predestinacao-e-liberdade-humana-por.html
    Tem outros textos que tratam desse assunto no blog, mas fique com estes por enquato.
    Fique na Paz!
    Pr. Silas Figueira

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