quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cinco Pecados que Ameaçam os Calvinistas: Parte 4 - O Pecado da Falta de Ação


Por Solano Portela

Veja: Introdução , Parte 1 , Parte 2 , Parte 3

Uma Grave Distorção

Esse pecado tem muita relação com o pecado anteriormente mencionado e representa uma grave distorção da doutrina da soberania de Deus. Muitas vezes seguimos adquirindo conhecimento e profundidade na nossa fé, mas ficamos inativos e não temos colocado a nossa fé em prática – não temos a ação que deveríamos ter. Entendemos e nos convencemos das verdades que dizem respeito à soberania de Deus, mas indolentemente ficamos aguardando o cumprimento dos Seus decretos.

Falta de Compreensão da Responsabilidade Humana.

Esse pecado é aquele que leva calvinistas a cruzarem os braços, quando deveriam estar agindo, achando que Deus vai atuar de qualquer forma. É aquele pecado que faz com que a gloriosa doutrina da predestinação, em vez de ser alvo de admiração e humildade, seja utilizada como uma desculpa. É o pecado que evidencia a falta de compreensão do que é o ensinamento bíblico sobre a responsabilidade humana. Temos que nos mirar no exemplo de Paulo. Ele foi o magistral expositor das doutrinas da graça, escolhido para isso pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo assim, ou melhor, precisamente pela sua completa compreensão da soberania divina e da responsabilidade humana, vemos Paulo trabalhando, lutando, sofrendo, escrevendo cartas, chegando a perder o sono, com o propósito de executar o serviço de Deus.

A “História” de um Casal Puritano

Lembro-me de uma ilustração que ouvi sobre um casal, da época dos puritanos. Por mais duvidoso que seja o relato, ele estimula o nosso pensamento sobre a atitude de pessoas com relação à questão da responsabilidade humana. Conta-se que um puritano, na Nova Inglaterra, habitava com sua família em uma cabana no meio da floresta, distante de tudo e de todos, cuidando apenas dos campos plantados, em clareiras abertas no meio da floresta. Certo dia teve que sair de sua cabana para ir ao vilarejo, atravessando aquela floresta infestada de ursos ferozes, que atacavam animais e pessoas. O puritano colocou a sua melhor roupa preta e começou a se preparar para a jornada. Ao chegar perto da porta de saída, ele estendeu a mão e pegou sua espingarda, verificando se estava carregada. Nesse momento sua esposa exclamou!
– Não entendo essa sua preocupação com a espingarda, porque se você estiver predestinado a ser devorado por um urso, será devorado por ele; mas se estiver predestinado a chegar ao vilarejo em segurança, assim chegará! Deixe essa arma aí!
O puritano voltou-se à esposa, e com toda longanimidade que lhe era habitual, respondeu:
– Ó mulher! E se eu encontrar um urso que esteja predestinado a levar um tiro da minha espingarda e eu estiver sem ela, como é que eu vou fazer?

Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas, retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com freqüência, passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação.

Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer que venhamos a agir.

Um exemplo prático de Paulo

Talvez a maior confirmação prática, de como Paulo conjugava esses dois lados da moeda, da soberania divina e da responsabilidade humana, é encontrado em Atos 27, no relato do naufrágio que sofreu, a caminho de Roma. Principalmente os versículos 22 a 44.

Uma das dramáticas declarações de Paulo, no meio da tempestade que precedeu o naufrágio, é que nenhuma vida iria se perder! Ele afirma esse prognóstico com tanta segurança porque o anjo de Deus lhe dissera isso. Paulo era possuidor, nesse evento, de um conhecimento específico, por revelação. No auge da época apostólica ele recebe esta revelação, que todos aqueles no navio seriam preservados. Ninguém iria se perder, pois Deus tinha outros propósitos. Assim, com uma determinação tão clara, Paulo transmite com toda segurança a informação recebida – apesar de todos estarem temerosos, as vidas seriam poupadas, no meio da feroz tempestade. Notemos, entretanto, que Paulo não fica de braços cruzados, dormindo, esperando a milagrosa preservação de todos. Pelo contrário – encontramos Paulo ativo, dialogando e persuadindo ao centurião que era necessário que aqueles que procuravam safar-se do barco, voltassem ao navio. Paulo manda que se alimentem, para ficarem fortes, apesar de saber que Deus iria salvar a todos, mesmo em jejum. Ele estava ali cumprindo as suas responsabilidades, aquelas que foram colocadas por Deus perante ele. Paulo andava passo a passo, sob a vontade prescritiva do Senhor. Depois que todas as 270 pessoas que se encontravam a bordo se alimentaram, passaram a fazer o que estava à frente para ser feito: aliviaram o navio, lançando a carga ao mar. Diz-nos o verso 44 que “foi assim que todos se salvaram em terra”.

A plena consciência e convicção da soberania de Deus, na vida de Paulo, nunca o levou a ser vítima do pecado da falta de ação. Que este pecado nunca esteja presente em nossas vidas, mas que, como Paulo, estejamos andando passo a passo debaixo da vontade prescritiva de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Que possamos, como calvinistas, ser confiantes na soberania de Deus, mas também que estejamos engajados nas Suas verdades, na Sua obra e na Sua palavra.

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