sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sentir ou ter certeza: Quando a fé não passa de emoção


Por Daniel Grubba

A cada dia aumenta as novidades nos púlpitos evangélicos. E você não precisa ser um cientista da religião para descobrir que a causa das novidades residem num acelerado processo de sincretismo. Certa feita um famoso ministro de louvor disse que o evangelho é o "fiozinho do pêlo do braço arrepiado". Ora, de onde este piedoso cristão tirou isto, senão de sua própria experiência pessoal? Ainda que isto não passe de uma redução tacanha do verdadeiro significado do Evangelho, devemos nos esforçar para tentar compreender o que o músico quis dizer.

Na verdade, ele quis dizer que para a fé ter sentido real devemos nos entregar ao subjetivismo puramente emocional. Isto significa que precisamos ver com os olhos, sentir na pele, apalpar com as mãos, e absorver através de nossas sensorialidades tudo aquilo que a Palavra nos diz que devemos discernir apenas espiritualmente. Veja que Paulo fez um tremendo esforço para demover os cristãos de uma esfera puramente material, que obviamente implicava em idolatria ao que é palpável. De acordo com o "apóstolo dos gentios" até mesmo o conhecimento de Jesus tem que ser reformulado em novas categorias epistemológicas. Ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a natureza humana, contudo agora já não o conhecemos desse modo. (II Co 5.16).

Gosto muito da diferenciação que C.S. Lewis fez entre a presença real de Deus e a sensação da presença de Deus, o que obviamente são coisas bem diferentes. Digo aos leitores que amo quando posso "sentir" Deus de forma mais concreta, mas aprendi que é mais salutar ter fé simples na presença real de Deus mesmo quando não sinto nada, ao invés de apoiar-me em minhas próprias sensações.

E é claro que a presença de Deus não é o mesmo que a sensação da presença de Deus. Esta pode ter origem na imaginação; aquela pode ser vivida sem nenhuma "consolação sensível". O Pai não estava de fato ausente quando Jesus disse: "Por que me abandonaste?". Vemos aí o próprio Deus, como homem, submetido à sensação humana de ser abandonado. A verdadeira comparação, no nível natural, parece estranha para ser dita por um homem solteiro a uma senhora, ao mesmo tempo, porém, é por demais ilustrativa para não ser usada. O ato que gera uma criança deve ser, e em geral é, praticada por prazer. Todavia, não é o prazer que gera a criança. Onde há prazer pode haver esterilidade; onde não há prazer, o ato pode ser fértil. No casamento espiritual entre Deus e a alma, ocorre o mesmo. É a presença real, não a sensação da presença, do Espírito Santo que gera Cristo em nós. A sensação da presença é um dom formidável, e agradecemos quando recebemos, e só isso. (C.S. Lewis em "Cartas a uma Senhora americana").

Você deve se esforçar para compreender que mesmo não sentindo nada, Deus é Emanuel, sempre está conosco. O Eterno está entre nós, e dentro de nós. Não espere ver alguma coisa para crêr.

Fonte: Soli Deo Gloria Via: Púlpito Cristão

Um comentário:

  1. Fico a pensar quão longe da verdade estão muitos religiosos evangelicos em suas interpretações particulares sempre visando o sentir, o palpitar, o respirar mais forte. A presença de Jesus é real, foi Ele que prometeu estar conosco todos os dias até a consumação dos seculos.
    Em Mateus 11:14-19 há um dialogo interessantissimo que nos leva ao tema desse post, os religiosos e interpretes particulares sem nenhuma base biblica vêem uma brecha nas palavras de Jesus quando diz (mas quando eu for tirado, jejuarão). O contexto que joga por terra a doutrina da ausencia de Jesus, (por isso podemos hoje jejuar, argumentam de forma arrogante) é o texto de João 16 (todo o cap).
    Ou seja, Jesus se refere ao periodo de sua prisão, morte e ressurreição. Apos isso, Ele cumpre a promessa de estar conosco pra sempre.

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