sábado, 25 de abril de 2015

Se creio na Verdade, por que não estou mudando?


Por Josemar Bessa

Essa pergunta é feita a mim constantemente. É quase como se fosse uma reclamação sobre a fé ou o poder do evangelho. Quase sempre as pessoas estão olhando para fora tentando achar o motivo de apesar de terem uma verdadeira fé na verdade bíblica ela não estar funcionando para transformá-los. Ou seja, eu confio em Cristo, mas não está havendo mudanças – “coitado de mim” – Essa abordagem é completamente equivocada.

O argumento é de que apesar de confiar em Cristo, elas não sentem qualquer mudança ( e isso começa ser encarado com auto-piedade) – sentem os mesmos desejos, continuam num padrão de vida parecido com o que tinham antes... e a pergunta vem: “Por que eu não mudo?”

A resposta não devia ser difícil, não estamos realmente confiando em Cristo. Para ser mais específico e claro: Não estamos confiando em Cristo para nos satisfazer!!!!! Ou seja, a pessoa pode estar “confiando” que Ele veio ao mundo e que Ele existe, ou que Ele pode perdoar... mas é óbvio que podemos “confiar” e acreditar nisso sem a confiança de que Ele é totalmente satisfatório – não estou confiando de fato com a confiança verdadeira – pois toda a verdade é – no que confio para me satisfazer?

Ou seja, de fato não confio em Deus como Deus. Os desejos que controlam minha vida e estão me moldando, são coisas mais preciosas para mim do que o desejo de comunhão com Deus, portanto, é óbvio que confio nestas coisas para me satisfazer muito mais do que em Deus para isso. Mas essa não é uma definição de fé em Deus, e sim de idolatria. O primeiro dos Dez Mandamentos é: “Não terás outros deuses diante de mim” – Êxodo 20.3 – e o último dos Dez Mandamentos é: “Não cobiçarás” – Êxodo 20.17 – e esses dois mandamentos são essencialmente o mesmo. Os outros mandamentos revelam as fontes de tudo que eu cobiço como fonte do meu prazer muito mais do que a comunhão com Deus – ou seja – faço deles deuses dos quais retiro o meu prazer em detrimento de tudo que Deus é – ou seja – idolatria – Não posso chamar isso de fé e ainda protestar que ela não me transforma.

Desejar algo de uma forma que diminui Deus como tesouro supremo que me satisfaz, é a essência da definição de pecado ( cobiça ) e não de fé. É ter outros deuses que eu não posso e nem desejo abandonar. Cobiça é idolatria:“Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria” - Colossenses 3:5 – Quando não estamos satisfeitos no que Deus é para nós o eixo da satisfação pende para a afeição desordenada, vil concupiscência...

Vamos pegar um exemplo bem comum – “Não consigo parar de fofocar” – Por que isso acontece? Quando eu fofoco, sabendo que isso quebra a comunhão com Deus, é porque eu confio ( tenho “fé”), ou estou confiando que os prazeres da fofoca vão me satisfazer mais do que Cristo pode me satisfazer. Isso não é ter fé em Cristo como algo que pode me satisfazer. Não posso alegar então que pus a fé em Cristo e não mudei, porque não pus. Nada pode mudar, neste caso por exemplo, até que minha confiança no prazer que a fofoca me traz mude para a confiança de que Cristo pode me satisfazer plenamente. Quando o Espírito no leva a verdadeira confiança, fé, de que Cristo é o meu tesouro todo satisfatório, eu vou parar de confiar na fofoca para me satisfazer – e como ela é o impedimento do meu prazer pleno em Cristo, ela vira inimiga, um pecado a ser mortificado – ser assassinado, por mim. E isso se dá pelo prazer totalmente satisfatório que Cristo é. Isso me faz livre da fofoca. Portanto, não posso alegar que pus toda fé em Cristo mas isso não me transforma.

Um dos meios de graça fundamental para isso é a constante meditação na Palavra - "Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” - Salmos 119:11 – Ou seja, a Palavra me leva a uma plena satisfação em ti que me faz vencer todo pecado que me prometia gratificações, mas que nada são perto do prazer de tudo que Tu és para mim.

A fé bíblica transforma ao fazer de Cristo o tesouro supremo, perto do qual tudo vira esterco – é uma radical troca de prazeres: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo” - Filipenses 3:7-8 – Isso que Paulo está descrevendo é exatamente a fé de que Cristo é o tesouro totalmente satisfatório. Isso é exatamente o oposto de cobiça. Isso é o oposto de idolatria. Essa é a suprema satisfação em Cristo. Isso é liberdade.

Outro exemplo poderia ser a preocupação com o dinheiro... Muitos dizem – Pastor, eu confio em Cristo, ponho nele minha fé, mas a preocupação financeira continua sendo um problema constante... É óbvio que há algo errado nesta constatação. Quando eu estou preocupado com os meus investimentos, quando minha vida financeira drena tudo que eu sou, ocupa um lugar de primazia... é porque eu estou confiando nos meus investimentos para me proteger, me dar segurança, me satisfazer mais do que Cristo pode fazer. Não posso alegar que estou confiando em Cristo para me satisfazer totalmente ( Fé ) e ao mesmo tempo esse problema não me deixa. Eu posso a partir de então tentar não me preocupar, orar para que Deus me dê paz e livre da ansiedade com esta área da minha vida, ler a Palavra de Deus sobre toda paz que flui de Deus... mas NADA vai mudar de fato até que minha confiança de que meus investimentos e minha vida financeira irão me satisfazer e confiar de fato em Cristo para me satisfazer e como fonte de satisfação plena – “...o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco...” – Quando estou aqui pelo poder do evangelho, o Espírito me leva a sentir que Cristo é o meu tesouro todo satisfatório e que Ele proverá tudo o que eu preciso – “Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” - Lucas 12:31 – Ao chegar aqui, não deixo de trabalhar, investir... Mas estou liberto da preocupação – e as prioridades mostram quem é meu tesouro. Portanto, jamais posso alegar que confiei em Cristo e que não houve mudança – porque de fato estou confiando em outras coisas como fonte da minha satisfação e não em Cristo como todo satisfatório – ou seja, o nome disso é idolatria e não fé.

O único caminho de ficarmos livres de pragas – como tiririca, uma erva daninha – é tirar a sua raiz ( nelas tem uma batatinhas) – só tirar a parte de cima, é inútil, rapidamente crescem de novo. E qual é a raiz que deve ser tirada neste caso? É a confiança em algo (fé) além de Cristo para me satisfazer – portanto, algo que eu estou disposto a fazer mesmo quebrando minha comunhão com Cristo. Onde está a fé aqui? Certamente não é em Cristo como fonte de satisfação – estou chamando idolatria ( fé em outras coisas para prover minha satisfação no lugar de Deus ) de fé verdadeira – e depois reclamo que ela não está mudando minha vida. Fé é confiar em só em Cristo para me satisfazer – isso gera mudança.

Ah! Mas isso é muito difícil – dirão muitos – Mas o problema que temos que ver é a razão, o porque é difícil – é porque o que tem sido satisfatório para mim, o pecado, me cegou para a glória totalmente satisfatória que Cristo é, então tudo que vemos é a “glória” satisfatória do pecado – na fofoca, amor ao dinheiro, mundanismo, concupiscência da carne, dos olhos, soberba da vida... mas se a glória disso nos domina – então estamos cegos para a glória de Cristo – não podendo alegar que confiamos nele e não temos sido transformados, porque de fato, não confiamos.

Devemos clamar pela experiência real: “Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” - 2 Coríntios 3:16-18

Ver a glória de Cristo é a grande necessidade do coração – essa é a obra do Espírito – e quando a vemos – somos transformados de glória em glória – ou seja, temos uma transformação gradual mas sempre crescente. Então é óbvio que a fé bíblica transforma. Não que a luta cesse – Paulo diz: “Esmurro a mim mesmo...” – É uma batalha que vale a pena aos olhos da fé, porque a alegria de contemplar Jesus é infinitamente maior do que qualquer outra alegria. O Espírito vai tirando o gosto e te afastando de todas as outras coisas que você tinha confiança para satisfazê-lo e te levando a Cristo como fonte de toda satisfação. O que mais poderia levar mártires as fogueiras, aos leões... se não esta operação? Havia lutas internas e externas neles – mas a alegria satisfatória em Cristo sobrepujava tudo.

Alegar que eu tenho fé e confiado, mas não sou transformado, flui da não compreensão da natureza da fé e de um sentimento de auto-piedade e vitimização que nos afasta da verdade e da verdadeira transformação. É algo que fecha os caminhos até da verdadeira oração – do foco sobre o qual eu devia estar orando, clamando, chorando...

É a satisfação em Cristo que nos faz sal e luz no mundo: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.” - Mateus 5:11-13 – Já não vemos os prazeres do pecado como concorrentes com os prazeres da comunhão com Cristo – agora, mesmo o sofrimento não pode eclipsar este prazer em Cristo. Assim somos sal. O contexto da afirmação que somos sal e luz é – “Bem-aventurados sós, vós quando vos perseguirem... Alegrai-vos e exultai...” – Como ser sal e luz então sem confiar em Cristo como fonte de satisfação final? Esse viver em Cristo se torna absolutamente natural e incrível que ilumina como a luz na escuridão e salga como naturalmente o sal faz no que toca. Porque o alegre sofrimento por amor a Cristo é espetacular pois mostra que ele é um tesouro totalmente satisfatório – isso e só isso ilumina o mundo e salga a terra.

Nisso a mudança diária se impõe: “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. Porque cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal. Bom é o sal; mas, se o sal se tornar insípido, com que o temperareis? Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros.” - Marcos 9:47-50 – Na confiança de tudo que Cristo é para nos satisfazer e na sua descrição tanto do inferno quando do Paraíso, você pode sentir tanto o cheiro das chamas descritas por Ele, como o precioso aroma do paraíso enchendo toda a sua mente – ou seja, tudo que Ele será para os salvos por toda a eternidade – isto te transforma – te faz de fato sal e luz – faz você ver o resultado de tudo que o mundo é em suas “satisfações” oferecidas e onde elas terminam, te enchendo de insatisfação com este mundo; como fica satisfeito agora e na antecipação da eternidade. Satisfação profunda em Cristo como sua recompensa eterna.

Esse é o crer bíblico – isso transforma – faz o homem sal e luz no mundo.

Fonte: Josemar Bessa

Nenhum comentário:

Postar um comentário