terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Uma carta pessoal do Rei Davi para você!


Por Josemar Bessa

Eu queria já ter escrito esta carta para você, mas estava esperando a oportunidade certa. Para começar, há muito tempo atrás escrevi estas linhas que talvez você lembre...

“Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos. Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste. Tira de sobre mim a tua praga; estou desfalecido pelo golpe da tua mão. Quando castigas o homem, com repreensões por causa da iniqüidade, fazes com que a sua beleza se consuma como a traça; assim todo homem é vaidade. Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas lágrimas, porque sou um estrangeiro contigo e peregrino, como todos os meus pais. Poupa-me, até que tome alento, antes que me vá, e não seja mais”

Você pode reconhecer essas palavras do Salmo 39.7-13?

Não sei como você se lembra, mas eu me lembro delas como um profundo clamor angustiado da minha alma. Eu escrevi estas palavras quando a vara da disciplina de Deus estava sobre mim. Eu fui consumido pela dureza de Sua mão amorosa. Tudo, tudo que era caro e estimado para mim tinha sido consumido como uma mariposa que se aproximou demais das chamas de uma vela. Eu senti que não poderia suportar a repreensão de Deus por muito mais tempo.

Meu nome é Davi. Rei Davi. Sou filho de Jessé, e fui escolhido por Deus para ser ungido Rei sobre Israel. Talvez você me conheça como o “homem segundo o coração de Deus.”

Mas eu, para ser sincero, mesmo muitas vezes tenho dificuldade de me ver assim muitas vezes: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” - Salmos 51:3

Não me entenda mal – eu amo a Deus com todo o meu coração! Não há nada que eu deseje mais do que a Deus. Como já disse em outro lugar, a minha alma tem sede dele, a minha carne anseia por ele como um viajante sedento pelo deserto deseja por água.

Apesar disso, muitas vezes andai desgarrado como uma ovelha que perdeu seu caminho. Eu pequei gravemente contra meu Senhor. Muitos dos meus pecados você não conhece. E como poderia conhecer? Alguns pecados meus se esconderam até mesmo de mim, mas o grande sondador dos corações conhece todos eles.

Eu não conheço os teus pecados, mas alguns dos meus você conhece. Sei que você já ouvir falar de uma história triste... na verdade, vamos ser sinceros, uma história sórdida, sobre meu pecado com Bete-Seba. As vezes odeio falar sobre isso, me dói quando penso nisso, mas, enquanto eu viver, não poderei deixar de lembrar disso – na verdade, nem quero... sem que talvez muito tempo depois que eu morrer, outros ainda falarão sobre isso.

Eu explorei ela. Eu a humilhei. Eu a persuadi com minha posição. Então – não sendo suficiente – eu enganei o seu marido, e quando ele provou ser um homem melhor do que eu, eu dei um jeito de me descartar dele. Eu deixei ele morrer de maneira proposital, quando ele estava lutando com lealdade uma batalha que era minha.

Eu agi como um monstro moral... nas semanas e meses que se seguiram a esses fatos, tudo exteriormente parecia estar normal... a ideia de que se um plano dá certo é uma evidência de que Deus está aprovando nossa conduta é uma ideia diabólica... nunca confunda a paciência de Deus com sua aprovação... nunca!

Para não perder o fio da meada... deixe eu continuar. Eu me casei com Bete-Seba... uma cerimônia real... você já foi a um casamento de um rei? É grandioso! Ela estava esperando um bebê e o meu Reino estava indo de vento em popa. Prosperidade! Essa é a palavra para descrever meu reino naqueles dias. Eu me sentei em reuniões com meus ministros, eu discursei para o povo... eu me sentei sobre meu trono fazendo julgamentos, tentando se justo neles... me mantendo tão ocupado como um pode estar... fazendo o melhor para deixar todo o meu fracasso distante da minha mente.

Mas quando a noite chegava... eu tenho que ser sincero contigo... a mão de Deus pesava sobre mim... racionalizar é uma dura tarefa e leva a exaustão. Interiormente, eu senti como se todos os meus ossos estivessem definhando. A minha alma e a minha força se secou como um rio no deserto quando a chuva nunca vem (Eu conto isso mais ou menos no Salmo 32) – Se você se interessar depois dê uma lida.

Eu não faltava os ajuntamentos do povo de Deus... Eu ia ao templo... as pessoas não percebiam, mas eu não podia orar. Eu abria a Torá, mas na verdade eu não conseguia me concentrar para meditar nela de verdade.

Mas o pior de tudo, apesar de todas essas coisas que eu estou te contando, eu não podia me arrepender. Eu não podia porque lá no fundo eu não podia reconhecer de fato e sem desculpas tudo o que eu tinha feito.

É como se eu estivesse num estado vegetativo na minha própria miséria buscada.

Eu na verdade estava cego... mas que isso não soe como desculpa. Eu estava cego pela minha própria hipocrisia.

Eu tinha perdido o contado real e estava insensível para com a generosidade de Deus para comigo... que era imensa.

Eu era e eu agi de maneira irresponsável em face das consequências do pecado... tentava me enganar que não haveria consequências.

Foram dias e dias... uma das épocas mais negras da minha história. Mas apesar disso, eu não podia ver a escuridão que estava dentro de mim... racionalização é uma coisa poderosa. O inimigo estava ali, dentro da cidadela da minha alma, da minha mente.

Então, um dia, o profeta Natã veio até a mim. Talvez você o conheça de nome, apesar de não conhecê-lo pessoalmente. Ele me contou a história de dois homens em uma determinada cidade... eu, como rei, julgava muitos casos assim... Natã disse que um dos homens era muito rico, e outro um homem de poucas posses... só tinha o suficiente para sobreviver. Mas o homem rico tinha roubado o pobre da única coisa que ele tinha – uma pequena cordeira que cresceu junto com eles e seus filhos.

Ah! Quando ouvi isso... fiquei furioso! Só uma coisa tomava conta da minha mente – encontrar aquele homem e fazê-lo pagar, condená-lo a morte!

Você sabe, sou um guerreiro experiente em muitas batalhas... eu poderia alegremente ter matado aquele homem como minha própria espada – como ele pôde fazer isso e não ter compaixão?

Neste instante o olhar de Natã perfurou a minha alma. Ele me capturou com aquele olhar... você nem pode imaginar. Na verdade, eu sabia que tinha sido apanhado antes dele falar uma palavra sequer.

Até hoje me arrepio quando suas palavras atingiram a minha mente como um dardo poderoso: “Você é o cara, Davi!” – A primeira reação nestes momento é agir como é comum hoje e dizer: “Quem é você para me julgar?” – Mas na verdade, essa frase só mostra o tamanho da hipocrisia no coração do homem unida a um orgulho imenso... já que é totalmente irrelevante o que o outro é... em nada isso diminui quão grande é o nosso pecado diante de Deus.

Enfim, eu te digo hoje, eu estava despido de todas as minhas defesas. O grande monstro dentro de mim fora revelado. Meu coração que estava gelado como as neves na montanha, estava derretendo. E eu finalmente, depois de toda aquele tempo, me encontrei verdadeiramente com a Palavra do Senhor através de Natã. Natã não recuou, ele enfiou a espada de dois gumes até que ela penetrasse o meu interior. Você pode ler sobre as palavras dele em 2 Samuel:

“Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; E te dei a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teu seio, e também te dei a casa de Israel e de Judá, e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol” - 2 Samuel 12:7-12

Ele disse isso tudo na minha cara. Agora, o que eu poderia dizer? Apesar de todo o meu mundo estar desabando na minha cabeça... essas palavras vieram como um doce ( apesar de amargo ) alívio sobre minha mente... apesar da cena traumática... ser desmascarado era a única maneira de encontrar de novo a fonte de limpeza que eu precisava... foram tantos meses de escuridão... eu mal podia esperar, apesar da dor, para mergulhar nesta fonte e perder todas as minhas manchas olhando de frente a minha grande culpa sem racionalizações... sem culpar ninguém a não ser eu mesmo.

Sinceramente, como rei eu poderia mandar Natã se calar... até mandar prendê-lo... ou perguntar se ele era santo para me acusar...mas sinceramente, com o coração partido e sangrando, eu confessei: “Pequei contra o Senhor... não há desculpas e justificativas... foi perverso e pura maldade...” – As comportas da misericórdia se abriram sobre mim.

Eu lembro de Natã dizendo: “O Senhor também traspassou o teu pecado; não morrerás!”

Jamais vou conseguir superar o que senti naquele dia: “Meu Deus, que amor é este, que é dado tão livremente a homens indignos e miseráveis? Que por graça deixa um culpado sair livre!

Não foi só a libertação da culpa não... Deus criou em mim um puro coração. Ele restaurou em mim a alegria da salvação. Ele colocou uma nova canção em meu coração e lábios, um cântico de louvor ao nosso Deus.

Ele realmente não tratou comigo de acordo com a culpa dos meus pecados, nem me reembolsou de acordo com as minhas iniquidades. Ele não fez comigo o que eu disse que faria com aquele que roubou a cordeirinha do homem pobre. Tão alto como está o céu acima da terra, grande é a misericórdia do Senhor para os que o temem realmente. Eu diria que assim como o oriente está distante do ocidente, Ele afasta de nós nossas transgressões. O que eu posso dizer mais? Bendize ó minha alma ao Senhor! E tudo que há em mim bendiga o seu santo nome! O que pode ser mais doce do que ser perdoado? Como é doce saber que quando eu estou agora diante do Senhor, Ele não me vê mais através daquele pecado, Ele me recebe como um santo, como um homem segundo o seu coração. Como eu escrevi certa vez: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!” - Salmos 32:1-2

Mas há algo muito sério que eu preciso dizer a você antes de terminar esta carta. Ao fazê-lo, espero sinceramente poupá-lo de uma enorme dor em tua vida.

Desde o meu pecado com Bete-Seba, já se passaram muitos anos. Eu sei que fui totalmente perdoado e sei de todo coração que Deus não reteve os meus pecados para usá-los contra mim no dia do Juízo.

Mas ainda arde e dói. Anos se passaram, mas foram anos cheios de dor como consequência do meu pecado. Os efeitos foram devastadores sobre minha família e filhos. Eu ainda estou sofrendo sobre as consequências dos meus pecados.

Eu faria qualquer coisa se eu pudesse voltar até aquele instante em que a luxúria começou a subir em meu coração... teria sido muito mais fácil mortificar o pecado ali. E como Deus seria honrado se eu tivesse feito... e como Ele foi desonrado diante dos outros por minha causa. Se eu pudesse voltar naquele instante, negar as minhas paixões e deixar a Verdade reinar em meu coração... meus filhos estariam agora sentados ao meu lado em minha mesa na minha velhice...

Mas eu não posso. Eu deixei... eu deixei o câncer crescer e criar metástases... E Deus teve que fazer uma grande cirurgia em minha alma e minha vida desde então. Ficaram cicatrizes imensas.

Saiba isto, meu amigo – pecados perdoados ainda podem te encontrar em consequências não planejadas... Certifique-se disso. Pecados perdoados podem produzir dor duradoura. Eu já estou velho... logo partirei... mas ainda sinto as picadas ao olhar para meus filhos. Vejo que as consequências vão continuar mesmo depois de eu ter partido.

Fonte: Josemar Bessa

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