sexta-feira, 25 de julho de 2014

VOCÊ QUER SER CURADO?


Por Pr. Silas Figueira

Texto base Jo 5.1-18

INTRODUÇÃO

João inicia esse acontecimento dizendo que ele ocorreu após a cura do filho de um oficial do rei Herodes em Caná da Galiléia. Dali Jesus, juntamente com seus discípulos, vai para Jerusalém onde estava acontecendo uma festa dos judeus. Não há um consenso entre os estudiosos que possam identificar que festa era esta ao certo; uns dizem que era a festa das Trombetas, outro que era a Páscoa, outro por sua vez diz que era a festa do Purim e outro dos Tabernáculos. Sem dúvida não temos meios de determinar com certeza que festa está aqui em vista, embora, a festa dos Tabernáculos e a festa de Pentecoste sejam as mais ventiladas, por parte dos expositores. No entanto, uma coisa sabemos, se era período de festa e a cidade de Jerusalém estava cheia de peregrinos. 

Foi nesse período de festa e através da cura desse paralítico – é bom destacar que foi num dia de sábado – que Jesus caiu no desfavor dos líderes de seu povo (Jo 5.18), e como, finalmente foi morto por essas autoridades. 

O texto também nos fala que ali em Jerusalém havia um tanque com cinco pavilhões ou pórticos, outras versões trazem alpendre. Em arquitetura, um pórtico é o local coberto à entrada de um edifício, de um templo ou de um palácio, no caso aqui na entrada do tanque e nele havia cinco colunas. Neste lugar Herodes, o Grande, construiu cinco varandas com capacidade para acomodar um grande número de pessoas. Tanto que nos diz o texto sagrado que jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos e paralíticos esperando que se movesse a água e o primeiro que nela entrasse, após ser agitada por um anjo, era curado. É interessante observar que o nome Betesda (em hebraico Beth-Hesed), quer dizer “Casa de Misericórdia”, porém, para muitos ali essa misericórdia parece que nunca chegava, é só observar a história desse homem que Jesus curou que estava enfermo havia trinta e oito anos. 

É bom destacar que rezava uma lenda divulgada pelos essênios que havia valiosos tesouros escondidos sob a piscina de Betesda. E outra lenda também dizia que, de tempos em tempos, um anjo descia e agitava a água do tanque e o primeiro que nela descesse seria curado de qualquer doença que tivesse. Por isso que havia ali tanta gente enferma, pois o anseio pela cura era muito grande. Não pretendo discorrer nessa mensagem sobre esse “anjo” que descia ali e agitava a água. Mas, uma coisa quero deixar bem claro: “O Senhor não abençoa água e nem objetos passando o seu poder para essas coisas”. Como alguns costumam dizer que “o Senhor transfere o seu poder para objetos, lenços e outras coisas mais”. Muitos líderes, para defenderem essa ideia, utilizam da experiência de Paulo onde nos diz: 

“E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam” (At 19.11,12).

Mas não se faz de uma experiência uma doutrina, e o apóstolo Paulo em nenhuma de suas epístolas nos ensina tal coisa. Nunca se esqueça disso.

O Evangelho de João foi escrito para os gentios e não para os judeus por isso esse texto nos diz que vinha um “anjo e agitava a água”, para explicar porque de tantas pessoas ali. Esta era apenas uma nota explicativa e não uma confirmação de que isso realmente acontecia. 

Nesse lugar de romaria e peregrinação poderia até haver curas, não duvidamos disso, se não, não haveria tantas pessoas ali por tantos anos. Cremos que existem curas físicas, psicossomáticas e curas espirituais. Sabemos que Deus cura, mas não duvidamos da artimanha do diabo para prender as pessoas na idolatria e mantê-las longe da verdade que liberta. Sou da época em que era muito comum procurar rezadeiras e a “cura” realmente acontecia. Mas também temos visto por aí muitos charlatões enganado os incautos. Quantos líderes (que se dizem evangélicos), sendo verdadeiros enviados de Satanás enganando as pessoas. Uma coisa é certa, que havia curas ali isso é um fato, mas não cremos que o Senhor estive nesse negócio, pois Ele não se contradiz.

O que podemos aprender com esse texto? Que ensinamentos podemos tirar dele para as nossas vidas?

1º Em primeiro lugar, apesar de Betesda ter o nome de Casa de Misericórdia ela não se fazia presente ali. 

Atraídos pela possibilidade de cura, centenas de enfermos e mendigos se aglomeravam ali. Nesse lugar havia tudo, menos misericórdia, pois o texto nos diz que o primeiro que entrasse na água, assim que agitada, ficava curado. Com isso vemos que ali não havia amigos, não havia gente com misericórdia de ninguém, ali regia a lei do “faria é pouca, meu pirão primeiro”. Ali jazia uma multidão de decepcionados, de gente frustrada, de gente angustiada pela cura que não vinha; e quando acontecia, só um era o felizardo ou beneficiado. No fim do dia, aqueles que podiam voltar para casa iam cabisbaixos. Os que não podiam se acomodavam no chão duro para dormir e começar tudo de novo no outro dia – a espera de um milagre.

Hoje não é diferente daqueles dias, milhares de pessoas tem feito uma verdadeira peregrinação em busca da cura para seus sofrimentos. Pessoas que já peregrinaram por vários lugares, vão desde igrejas que prometem cura a centro espírita. Desde o pastor que promete a cura através da oração ou óleo consagrado a rezadeiras. Outros recorrem a psiquiatras e a médicos e remédios dos mais diversos, mas continuam doentes e cada vez mais decepcionadas. Devido a isso, muitos recorrem às drogas e muitos outros dão cabo da vida.

2º Em segundo lugar, porque Jesus lhe faz esta pergunta: “Queres ser curado?” 

Talvez esta seja uma das perguntas mais sem sentido feita por Jesus. Se aquele homem estava ali naquele tanque é porque ele desejava a cura. O que acontece é que muitas pessoas por ficarem tanto tempo esperando a cura para seus problemas começam a ficar sem esperança de que ela realmente possa vir acontecer. Por isso essa pergunta aparentemente tão sem lógica feita por Jesus. Esta pergunta envolve alguns aspectos que gostaria de destacar. 

1º Jesus quer saber se ele tem certeza que quer ser curado. Esta pergunta é muito pertinente, pois ela revela que muitas pessoas no fundo no fundo não querem a cura, mas somente um paliativo. Muitas pessoas se apegam a doença e não querem abrir mão dela. Utilizam inclusive dela para se beneficiarem. Por exemplo, no antigo Oriente, mendigar podia ser um bom negócio, principalmente em Jerusalém. Pelos costumes da época, todos os judeus deveriam ir à Cidade Santa ao menos uma vez por ano. Entregavam o dízimo dos seus rendimentos no templo e gastavam o segundo dízimo em compras e em esmolas para os pobres. Assim, os pedintes eram razoavelmente bem sucedidos. Podemos dizer que mendigar naquela época era realente um bom negócio, ou, um negócio rentável. 

Na igreja de hoje não é diferente. Quantas pessoas batem em nossas portas pedindo ajuda, mas se você pergunta se desejam um trabalho dão logo uma desculpa e saem de fininho. Isso quando não lhe ofendem. E dentro de nossas igrejas também encontramos pessoas assim também. Pessoas que gostam de se “encostar” utilizando-se de um aparente problema para se beneficiarem através dele. Pedem até oração, mas no fundo não querem a solução para o problema. E se o resolvem inventam outro.

2º Jesus quer saber se ele tem consciência de que está enfermo. Existem muitas pessoas que estão sentadas à beira do poço, mas não tem consciência de que estão enfermas. Quantas pessoas que conhecemos que estão no mundo dos vícios, mas sempre dizem que não são viciadas. Dizem que larga a bebida, as drogas, o tabaco quando bem quiserem. Só que nunca querem. 

Quem não tem consciência de sua enfermidade nunca admitirá que está doente. Os outros é que estão, elas não. A pessoa que não quer ser curada pensa que está sã. Pensa que os seus problemas não são tão sérios assim. Por isso a pergunta: “Queres ser curado?”, ou seja, você tem consciência de que está gravemente enfermo e que precisa de cura com urgência? 

3º Jesus quer saber se ele crê realmente que pode ficar livre daquele mal. Há pessoas que se acostumaram com o problema, pois não conseguem ver uma luz no fim do túnel. Tem gente que se lança numa total descrença e não buscam mais a cura, pois estão totalmente desacreditados dela. Eles veem os outros serem curados, mas não acredita que um dia ele será também curado. 

4º Jesus quer saber se ele compreendeu a sua pergunta. Muitas vezes a pergunta não é compreendida. Porque se ele ficasse curado haveria consequências dessa cura. Se antes pedia esmola, agora teria que ganhar o seu sustento de outra forma, ou seja, trabalhando. Jesus pergunta para você: “Você quer ir para o céu?” Certamente você responderá: “Claro que sim!”, mas para ir para o céu não se pode ir de qualquer maneira. Aí a pergunta é: “Você está disposto a deixar sua vida de pecado, sua vida longe de Deus, se entregar a Ele e reconhecer que é um pecador? Você quer receber Jesus como seu único salvador?” Muitos, certamente vão dizer: “Isso não”, ou pelo menos, não agora, talvez mais tarde quem sabe. Tem gente que não entende a pergunta de Jesus ou se faz de desentendido. 

5º Jesus quer saber se ele quer ser curado porque muitas vezes Ele, Jesus, já levou um não a essa pergunta. Há muitas pessoas que dizem que não querem ser curadas, e dizem isso com toda honestidade: Não. Talvez não digam um não tão abertamente, mas dizem não pelas suas ações. Talvez digam que querem ser curadas, mas logo ao saírem da presença de Jesus voltam à prática do pecado. 

Saiba de uma coisa, quem deseja ser curado frequenta lugares onde a cura é oferecida; não voltam para os lugares onde o mal está. 

Eu conheço uma pessoa que bebia muito. Um dia ele estava ouvindo um programa de rádio onde um pastor estava convidando as pessoas que quisessem se livrar dos vícios para participarem dos cultos de sua igreja, pois eles estariam orando especificamente por este motivo. Assim esse conhecido foi a tal igreja. O culto foi muito bom, a palavra trouxe renovo ao seu coração, oraram especificamente por esse motivo... Mas na volta para casa ele iria saltar em frente ao botequim que ele frequentava. Quando ele desce do ônibus um de seus amigos de “copo” lhe chama para tomar uma cachaça. Ele deu uma desculpa e foi para casa, para surpresa de sua esposa sem estar bêbado. E assim foi por sete dias. Para resumir a história, ele se converteu, se batizou e está livre desse mal desde então.

Se eu quero ser curado eu preciso me afastar do mal e não estar onde ele está. 

3º Em terceiro lugar, o que esta pergunta causou neste homem?

Depois de tantos anos ali sem ver nenhum resultado do seu esforço, provavelmente o seu coração já se encontrava empedernido. Já se encontrava totalmente sem esperança de cura. A pergunta de Jesus despertou nesse homem algumas reações que devem ser as nossas também.

1º A pergunta de Jesus despertou nesse homem o desejo pela cura. Depois de trinta e oito anos assim sua esperança já havia acabado. Mas o Senhor desperta nele o desejo de ser curado. Desperta nele a esperança de se ver são, de se ver de pé, andando novamente. Desperta nele o sonho, pois quem não tem sonho também não tem esperança. Se não houvesse a crença de que a espera vale a pena, o ser humano desfaleceria no sentimento de vazio interior, e Jesus quer preencher esse vazio da alma deste homem. Assim como quer preencher a sua também hoje aqui.

2º A pergunta de Jesus faz com que ele falasse das mazelas do seu coração. Aquele homem estava com seu coração cheio de mágoa. Veja o que ele responde para Jesus: “Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim” (Jo 5.7).

Antes de Jesus curar a sua doença física, Jesus cura sua doença da alma. Este homem carregava uma tristeza profunda por ver outros serem ajudados e ele não. Durante todos aqueles anos ali não viu a misericórdia sendo estendida sobre ele. Ele esteve sempre sozinho, se arrastando para chegar até o poço, mas quem podia lhe ajudar não lhe ajudava. 

Uma das grandes causas de doenças hoje é a falta de perdão. São o que os médicos chamam de doenças psicossomáticas. A alma está doente. Há mágoas no coração. Há um ódio que toma e destrói a pessoa e ela não se dá conta disso. Por não haver liberação de perdão muitas pessoas têm ficado doentes e estão morrendo. Não perdoar é você tomar veneno para que a pessoa que você odeia morra. 

Há um corinho antigo que dizia assim: “Conta pra Jesus onde é a sua dor, Ele é o remédio confia no Senhor”. Precisamos vomitar com urgência esse veneno que está nos matando. Esse veneno que se chama mágoa e ódio. Devemos aprender com Jesus que nos ensinou a perdoar os nossos inimigos. 

3º Com esta pergunta Jesus mostra para este homem que as outras pessoas podiam tê-lo abandonado, mas Deus não (Jo 5.6). Não foi ele quem viu Jesus, mas foi Jesus quem o viu. Não foi ele que pediu ajuda a Jesus, mas foi Jesus que foi ajudá-lo. Podemos dizer que a misericórdia finalmente o alcançou. Jesus sabia que ele estava assim há muito tempo. Jesus se importou com ele assim como se importa com cada um de nós também. Ele se importa com você. Com o seu sofrimento. Com a dor que invade o seu coração. Ele tem contemplado as suas lágrimas. Ele não se esqueceu de você. O Senhor está ouvindo as suas orações. Veja o que a Palavra de Deus nos diz:

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm 8.26,27).

“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora Então, vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas. Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos” (Ap 8.1-4).

Ah meu irmão, nós não servimos a um Deus indiferente as nossas dores. Indiferente as nossas angústias e ao nosso sofrimento. Ele vem ao nosso encontro não no nosso tempo, mas no tempo dEle, e pode ser hoje o dia da Sua visitação em sua vida. E mesmo que nada aconteça continue esperando, pois Ele está contemplando você. Ainda que seja na quarta vigília da noite Ele virá ao seu encontro. 

4º Em quarto lugar, porque Jesus curou somente este homem?

Você já se perguntou isso lendo esse texto? Pois se ali jazia uma multidão, porque Jesus não curou mais pessoas naquele lugar? Essa pergunta eu me fiz várias vezes. Por isso, se você tem essa dúvida também, eu tentarei lhe responder. 

1º Em primeiro lugar, Jesus curou somente este homem porque o Senhor é soberano em Suas escolhas e propósitos. A primeira coisa que o Senhor nos mostra que Ele não tem que dar satisfação nem a você e nem a mim do que faz, porque faz e quando faz. O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos deixa isso bem claro. Veja o que ele nos diz:

“Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.14,15).

E outro detalhe: Ele não tem obrigação nenhuma de nos dar satisfação do que está fazendo e porque está fazendo. Veja Rm 9.20:

“Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?”

O Senhor é misericordioso, mas não tem as piegas humanas. Ele não sente como sentimos por Ele ser perfeito em amor nós nunca iremos entender o Seu agir, mas por não o entendermos não quer dizer que Ele não nos ame. Veja o que o Senhor fala através de Jeremias quando manda o Seu profeta escrever uma carta para os judeus que haviam sido levados para a Babilônia: 

“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29.11).

“Eu é que sei” diz o Senhor – por isso devemos confiar nEle somente e não duvidar de que na Sua soberania a Sua misericórdia tem sido manifesta, não como queremos, mas como Ele quer.

2º Em segundo lugar, porque no meio daquela multidão somente aquele homem estava esperando a cura vinda da parte de Deus. Observe as palavras desse homem para Jesus: “Eu não tenho ninguém”, e logo após a cura, mais tarde, o Senhor Jesus o encontra no templo (Jo 5.14). Ele não sabia quem era o seu benfeitor “humano”, mas tinha plena convicção que foi a intervenção divina que o curou. Por isso ele estava no templo, provavelmente oferecendo sacrifício de louvor pela cura alcançada e oferecendo a Deus as suas orações. 

As outras pessoas que jaziam ali esperavam a ajuda de parentes e amigos, confiavam na intervenção do tal “anjo” para alcançar a cura. Uma das razões porque muitas pessoas não são agraciadas pelo Senhor é porque confiam na intervenção dos homens, dos médicos, dos especialistas, geralmente deixando o Senhor em último lugar. Isso quando se lembram dEle. Mas veja o que Davi disse a respeito disso: 

“Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus. Eles se encurvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé” (Sl 207,8).

Provavelmente este homem durantes anos a fio tenha confiado na ajuda dos outros também, mas no decorrer dos anos as pessoas provavelmente já não se importavam mais com ele e o deixaram de lado. Talvez por estar ali há muito tempo, por já ser um velho e havia ali pessoas mais jovens que “mereciam” realmente a cura. Um velho não precisa de cura. Esse tem sido o pensamente do muitos ainda hoje.

Uma vez eu fui chamado ao hospital para orar por uma senhora que estava com câncer. Esta senhora estava com oitenta anos. Confesso que após a oração me passou pela cabeça um pensamento: “Para que Deus vai curar essa senhora já tão avançada em dias?”, mas assim como esse pensamento veio, me veio outro: “O Senhor cura independente da idade, pois Ele é Senhor!” Alguns dias depois eu fui ao INCA (Instituto Nacional de Câncer), pegar o resultado da biópsia que esta senhora havia feito. Chegando lá o médico que me atendeu disse que era especialista naquela área – o câncer era no tórax – e que ele era um dos melhores médicos dali. E eu fiquei olhando para ele sem entender porque tantos elogios para si mesmo. Até que finalmente ele me mostrou a radiografia feita e o câncer na radiografia; e me disse com cara de espanto que quando foram fazer a biópsia o câncer havia desaparecido. E ele não sabia como. Mas havia um câncer ali. Só que havia sumido. Foi então que eu disse ao médico: “Deus ouviu as nossas orações”. 

Não importa a idade, quando o Senhor determina a cura ela irá acontecer. Creia nisso! 

3º Em terceiro lugar, Jesus curou aquele homem porque ele caiu em si a respeito de seu pecado e se arrependeu dele. Quando o Senhor o encontra no templo lhe diz: “... Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo 5.14). O problema que o levou a ficar enfermo por tantos anos foi a consequência de um pecado por ele cometido. Não sabemos o que ele fez, mas foi algo muito sério que o levou a enfermar. O pecado não confessado tem levado ainda hoje muitas pessoas para o leito, para os hospitais e, infelizmente, para a morte. O salmista Davi disse isso com muita propriedade:

“Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo. Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl 32.1-5) 

João em sua primeira carta também nos diz:

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1Jo 1.7-10, 2.1,2).

Para que haja confissão de pecado é necessário cair em si, assim como aconteceu com o filho pródigo, assim aconteceu com este homem. 

Por isso Jesus curou aquele homem porque os seus pecados haviam sido perdoados. Mas do que a cura física Jesus quer curar a nossa alma. Ele quer perdoar os nossos pecados e nos reconciliar com o Pai. 

Quando Jesus encontra este homem ele estava no templo. O templo naquela época ainda representava a presença de Deus e era o lugar dos sacrifícios pelos pecados. Certamente aquele homem estava ali oferecendo a Deus seus sacrifícios pelo pecado e recebendo de Deus o perdão. Aquele homem foi grato a Deus pela cura física e pelo perdão alcançado.

CONCLUSÃO 

Eu gostaria de concluir dizendo duas coisas. Primeiro eu gostaria de defender esse pobre homem, digo isso porque muitos autores que falaram dele disseram muita coisa que eu não concordo.

1 – Disseram que ele era fraco de caráter por não procurar saber de imediato quem o havia curado. Mas o texto nos diz que Jesus se retirou por haver muita gente naquele lugar (v 13). Entendo com isso que Jesus foi quem não quis se apresentar a ele. Tanto que depois que ele o reencontra ele descobre quem foi o seu benfeitor.

2 – Outros disseram que ele foi repreendido por Jesus para que não tornasse a pecar para não lhe acontecer coisa pior (v 14), porque ele era uma pessoa propensa ao pecado. Se for assim a mulher que foi pega em adultério e perdoada pelo Senhor também era assim, pois o Senhor lhe fala algo semelhante: “Vai e não peques mais” (Jo 8.11). 

3 – Falaram que este homem foi um ingrato, pois quando soube da identidade de Jesus foi avisar as autoridades, pois segundo alguns este homem sabia que as autoridades judaicas queriam matá-Lo. Eu não vejo este homem entregando Jesus às autoridades para que Jesus fosse morto. Este homem foi mostrar para eles quem teve misericórdia dele e o abençoou, pois várias daquelas autoridades sabiam que naquele poço havia várias pessoas e, provavelmente, nenhum deles esteve lá para oferecer alguma solidariedade àquelas pobres almas. Mas Jesus foi e teve misericórdia dele. 

4 – Outro disse que este homem foi um ingrato, pois uma vez curado não tinha como trabalhar e não podia mais pedir esmola também, por isso foi e denunciou Jesus as autoridades. Ele ficou com raiva de Jesus pela cura alcançada. 

Talvez você concorde com esses argumentos, mas eu não. Pelo contrário, eu vejo um homem grato a Deus pela cura alcançada e pelo perdão de sua alma. 

E segunda coisa que gostaria de dizer é que o Senhor olhou para aquele pobre homem enfermo porque a Sua misericórdia é grande. Por isso que Ele olha para mim e para você também. Se o Senhor não se compadecer de nós ninguém o fará. A mesma pergunta que o Senhor fez aquele homem faz a você e a mim. Da mesma forma como ele alcançou a cura e demonstrou gratidão o Senhor espera isso de nós também.

Por isso que o Senhor lhe pergunta agora: “Queres ser curado?” 

Pense nisso e fique na Paz!

domingo, 20 de julho de 2014

O Reino de Deus na mensagem de Cristo


Por Marcelo Berti

“A erudição moderna revela quase que uma unanimidade ao afirmar que o Reino de Deus constitui-se na mensagem central de Jesus. Marcos introduz a missão de Cristo com as palavras: ‘Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido e é chegado o Reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho’ (Marcos 1.14-15). Mateus sumariza seu ministério com as palavras: ‘E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino’ (Mateus 4.23). A cena introdutória de Lucas não menciona o Reino, mas, por outro lado, cita a profecia de Isaías a respeito da vinda do Reino e depois relata a afirmação de Jesus: ‘Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos’(Lucas 4.21)”. (LADD, George Eldon, Teologia do Novo Testamento, Hagnos, 2001, pp.55)

Considerando as palavras de Ladd, de que o Reino de Deus é parte central da mensagem de Cristo, vamos observar que a visão que Ele apresenta sobre o Reino de Deus tem diferentes nuances, que pretendemos respeitar antes de se levantar uma conclusão sobre o modo como ele usa a expressão.

A. O Reino de Deus é espiritual e presente

Como já demonstramos, havia nos tempos de Jesus uma clara expectativa da vinda do Messias-Rei como libertador político. A expectativa judaica era que o Messias-Rei viria de Jerusalém (Mt.5.35), como o magos do oriente já tinham demonstrado (Mt.2.2), fato não negado pelo próprio Cristo (Mt.27.11; Jo.18.37), mas ironizado por aqueles que o crucificaram (Mt.27.27, 37, 42).

De modo interessante, os judeus tinham certa resistência com esse fato, pois não o viam como o Filho de Davi, Messias-Rei libertador de Israel. Note que é exatamente essa uma das acusações contra Jesus Cristo: “E ali passaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei” (Lc.23.2). Isso é importante ser ressaltado, pois nesse sentido Jesus foi uma decepção para aqueles que o esperavam, pois não viam nele um Rei Valente, um líder político que vira para libertar a Israel.

Essa frustração não veio sem evidências, pois o próprio Jesus em algumas ocasiões rejeitou a ideia de ser feito rei entre eles: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte” (Jo.6.15). Além disso, Ele mesmo testificava que seu Reino não era desse mundo: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo.18.36).

A verdade é que o Reino de Deus, segundo ensinado por Ele mesmo, na ocasião da sua encarnação não era estritamente um Reino Físico: “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc.17.20-21). Esse reino apresentado por Cristo não era o Reino que os judeus pareciam esperar, apesar de ser o Reino Prometido.

O Reino apresentado por Cristo, era um Reino dos céus (Mt.3.2; 4.17), uma forma mais aceitável de se apresentar o Reino de Deus a um Judeu. É evidente que o Reino dos céus apresentado por Cristo no Evangelho de Mateus é o Reino de Yahweh, mas que por zelo ao uso do nome do Senhor, foi apresentado como Reino dos céus. Uma rápida observação nos evangelhos sinóticos irá revelar esse fato. Reforça essa ideia o eventual uso do termo céu (Gr. ouranós) como alusão ao próprio Deus em Mateus (Mt.21.25; cf. Mt.5.16; 5.34; 5.45; 6.9; 16.1; 23.22).

Esse Reino dos céus estava próximo e essa era a mensagem pregada por Cristo (Mt.3.2; 9.35; Lc.4.43; 8.1; 10.9) e ensinada aos seus seguidores (Mt.10.7; Lc.9.2, 60), a quem revelaria os mistérios desse reino (Mt.13.11). Esse reino seria visto por seus seguidores antes que viessem a morrer (Mt.16.28), o que reforça a ideia de um Reino espiritual e não físico. A participação nesse Reino exigia arrependimento (Mc.1.15), ser como uma criança (Mt.18.3-4; 19.14; Mc.10.14; Lc.12.32; 18.16-17), nascer de novo (Jo.3.3-5; 8), ser desapegado ao dinheiro (Mt.19.24; Lc.6.20), ser humilde de espírito (Mt.5.3), persistente no trabalho do Reino (Lc.9.62), perseguido por causa da justiça (Mt.5.10), ou seja, manter uma ética adequada ao Reino (Mt.5.20; 19.12; Mc.9.47). Entretanto, não são as obras que determinam a entrada nesse Reino, nem mesmo as riquezas do homem (Mc.10.23-25; Lc.18.24-25), mas a graça de Deus (Mt.21.31). Em outras palavras, era necessário exercer a fé centrada no Messias-Rei como Salvador e Senhor (At.2.36; Rm.10.9). Não é à toa que os judeus não aceitavam sua mensagem, e que o acusavam de usurpar das escrituras um direito que não era dele (Lc.23.2).

Ele é manifesto na pessoa de Cristo na demonstração de seu poder-autoridade com o mundo espiritual (Mt.12.28; Lc.11.20), na restituição graciosa do Rei (Mt.20.1) e não na falsa religião defendida pelos doutores da lei (Mt.23.13). Na sua infinda graça, Jesus Cristo é quem dá a conhecer o Reino de Deus a quem ele quer (Mc.4.11; Lc.8.10).

O Reino de Deus também deveria ser buscado com sua justiça (Mt.6.33; Lc.12.31), com esforço apodera-se dele (Mt.11.12; Lc.16.16) e com abnegação dele participa (Lc.18.29). Ele é o alvo da oração dos seguidores de Cristo, que clamam para que o Reino venha até nós (Lc.11.2) e nesse sentido ele não tem aparência externa, mas está dentro de nós (Lc.17.20-21). E por fim, esse Reino é confiado, destinado aos seguidores de Cristo (Lc.22.29), que fazem do reino sua mensagem (At.8.12; 14.22; 19.8; 20.25; 28.23; 31). Nesse sentido, o Reino de Deus pregado por Cristo era primariamente espiritual e, por conseguinte presente. Era uma mensagem para o já, para o agora.

B. O Reino de Deus é histórico e futuro

Como já vimos, parece claro que existe na mensagem de Cristo um claro teor de espiritualidade no Reino prometido. Contudo, devemos lembrar que desde cedo no Ministério Público de Jesus, os seus seguidores o reconheceram como Messias e Rei. Natanael assim que o conheceu testemunhou: “Então, exclamou Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (Jo.1.49). Ao que tudo indica, a força da expectativa messiânica real acompanhou a Jesus Cristo de modo que podemos ver no início do ministério de Cristo uma oração com esse teor: “ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc.1.33). Essa mesma expectativa é a mesma que sempre acompanhou os discípulos de Cristo, e eles também esperavam pela concretização desse reino durante todo o tempo de ministério de Jesus entre eles. A curiosidade deles era tanta que gostariam de saber quem seria o que se assentaria ao seu lado no Reino (Mt.20.21), ou quem seria o maior nele (Mt.18.1). De modo interessante, Jesus também ensinou sobre ser maior ou menos no Reino dos céus (Mt.5.17-19), o que sugere que este não seria apenas espiritual.

Esse Reino seria mediado por um povo, tal como já o fora no passado pelo povo judeu. Entretanto, como os judeus rejeitaram o a Cristo como Messias prometido, Jesus atesta que “o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos” (Mt.21.43). Essa visão do Reino era completamente nova para os judeus que o ouviam e em função da ofensa que essa mensagem trazia sobre eles, eles o queriam matar (v.45-46). Ou seja, a visão que Cristo apresenta sobre esse reino parece incluir um detalhe histórico importante e inesperado: A Igreja (Mt.16.16-19), como um parêntesis histórico entre a chegada do Messias como Redentor e Seu retorno como Rei. Nesse intervalo profético, os seguidores de Cristo, a igreja do Senhor, é quem encarna os valores do Reino e anuncia sua mensagem espiritual de restauração, sempre na expectativa do dia em que o Próprio Senhor estabelecerá seu Reino.

Essa parece ser a compreensão básica das parábolas do Reino proferidas por Cristo: Apesar da consistente rejeição do Messias feita pelos judeus, o Reino de Deus continua florescendo, afinal sua mensagem favorece uma diversidade de resultados a ela (Mt.13.3-8); também haverá uma mistura entre bem e mal durante o nosso período, antes que uma consumação escatológica definitiva aconteça (Mt.13.24-30; 36-43); a mensagem do reino crescerá muito rapidamente alcançando diferentes grupos de pessoas (Mt.13.31-32) do mesmo modo que o elemento maligno cresça paralelamente à expansão da mensagem do reino (Mt.13.33); e tal mistura entre a expansão da mensagem do reino e o elemento maligno até que o Reino seja finalmente estabelecido e execute a separação final (Mt.13.47-50) (PINTO, Carlos Osvaldo, Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento, Hagnos, 2008, pp.51)

Esse Reino contaria com a participação de pessoas de diferentes nacionalidades, mas estariam com os patriarcas no Reino dos céus (Mt.8.11; Lc.13.29), e essa mensagem chegará até os confins da terra (Mt.24.14), precedendo o fim dos tempos. Assim os próprios seguidores de Cristo e propagadores da mensagem do Reino teriam a chance de ensinar de acordo com as escrituras e serem avaliados para o Reino futuro (Mt.5.19). Durante esse período, eles esperarão pelo retorno do Messias, o Rei, reconhecido como o Noivo da Igreja (Mt.25.1ss). Então, todos prestarão contas diante do Rei por suas ações (Mt.18.24) e aqueles que viveram na iniquidade, contrariando a ética e a espiritualidade do Reino presente, no futuro serão ou jogados na fornalha de fogo (não cristãos Mt.13.41-42), ou colocados fora do Reino (maus cristãos Lc.13.28), mas os justos resplandecerão como o Sol no Reino do Deus Pai (Mt.13.43) e serão convidados a participar do Reino de Deus que está preparado desde a fundação do mundo (Mt.25.34), no qual esperamos participar de uma celebração (Lc.22.30; cf. Mt.26.29; Mc.14.25;). Esse aspecto do Reino, segundo Jesus Cristo, também está próximo (Lc.21.31).

Entretanto, esse futuro não é algo apenas escatológico, mas algo que está além do presente do autor (Lc.19.11), de modo que o Reino futuro de Deus esteja em funcionamento antes dos seus discípulos originais morressem (Mt.16.28; Mc.9.1; Lc.9.27; Lc.22.16-18), e que os seguidores mais próximos ainda aguardavam ver depois da morte de Cristo (Mc.15.43; Lc.23.51). Nesse quesito, a expectativa futura é apresentada em consonância ao conceito espiritual do Reino.

C. O Reino de Deus e a expectativa judaica

Após a observação das diferentes nuances do Reino no ensino de Cristo, já pudemos observar alguns aspectos do Reino que ora se adequam a visão judaica corrente, ora a confronta claramente. Essa relação com a expectativa da judaica e a mensagem de Cristo sugerem que muita dessa expectativa não era legítima ante ao plano divino, por outro lado, parte dela parecia em consistente com a mensagem de Cristo. Um desses claros indicativos é a declaração de Cristo que os seus doze discípulos irão julgar as Doze Tribos de Israel (Lc.12.32; 22.28-30). Isso evidencia claramente que Israel ainda não havia saído da visão e preocupação divina.

Outro detalhe que parece contribuir para a essa confluência entre a visão de Cristo e da expectativa judaica sobre o reino são as parábolas dos banquetes contadas por Jesus (Mt.22.1-14; Lc.14.15-24), o fato de que Cristo os ensina a orar pelo Reino futuro (Mt.6.10) e a prefiguração de Isaías 25.69 na cena da última ceia. Também encontramos alguns conceitos escatológicos em conformidade com a expectativa judaica, como por exemplo a ideia de dois diferentes destinos em relação ao Reino futuro (Mc.9.47), do desfrute do Reino como uma herança (Mt.5.20) ou um estado futuro em que se entre (Mt.25.31-46) e a descrição dos acontecimentos que farão parte do dia do juízo (Mt.7.21-23; 25.1-13; Lc.21.31) (BLOMBERG, Craig, Jesus e os evangelhos, Vida Nova, 2009, pp501).

Por outro lado, as questões mais presentes e espirituais do Reino eram inimagináveis na expectativa judaica. A ideia de um reino real e presente no indivíduo parecia uma distorção da mensagem do Reino aos olhos dos judeus. A chamada ao arrependimento, a primazia dos pecadores e o novo nascimento (em todas as suas figuras) pareciam distantes demais da expectativa judaica.

Ao considerarmos essas declarações de Cristo sobre o Reino o que podemos dizer? É o reino futuro? É histórico? É espiritual? É presente? Essa visão aparentemente contraditória da exposição de Cristo, bem como a leitura delas a partir de diferentes pressupostos encontrados no Antigo Testamento, é que levaram a tantas diferenças de opiniões sobre o Reino, como vimo no início dessa seção. Entretanto, é essa mesma apresentação diversa e ampla do Reino de Deus que intrigou os judeus que o ouviam, e por isso mesmo, várias vezes se levantaram contra ele, muito embora, eventualmente Sua mensagem era compatível com as expectativas deles.

Ou seja, partindo da visão judaica no período de Cristo, o Seu ensino sobre o Reino de Deus contém aspectos em conformidade, embora boa parte do seu ensino fosse inovadora e inesperada. É nessa mistura de conceitos, presente e futuro, histórico e espiritual que Cristo apresenta sua mensagem. Observando essas características, Darrell Bock atesta:

“É a justaposição desses vários elementos que mostra quão eclético e sintético, até criativo, é o ensino de Jesus sobre o Reino. Jesus pregou uma esperança que os judeus podiam reconhecer, mas ele também pregou muito mais. Ele acolheu elementos da esperança apocalíptica judaica, mas não repetiu meramente esses temas. O sentido desses tetos, como um todo, é que Jesus atua dentre dessa história e, todavia, a remodelará um dia. Novamente, o ensino nem é esse mundo reorganizado, nem um novo mundo criado, mas ambos em seu tempo certo”. ”. (BOCK, Darrell, Jesus segundo as escrituras, Shedd, 2006, pp.544)

Fonte: NAPEC

sábado, 19 de julho de 2014

Não há filhos natimortos na família da graça!


Por Josemar Bessa

Apesar de ser comum as pessoas falarem em fraternidade universal, a Bíblia nunca fala dos homens assim. É dito a nós que somos criaturas de Deus. Não apenas criaturas, mas criaturas em estado de rebeldia e inimizade. Há uma separação entre o homem e Deus que está longe de ser superficial, ela é profunda e arraigada, na verdade, ele é a própria natureza humana.

Essa alienação é tão profunda que para nos tornarmos filhos de Deus é necessário não um melhoramento, mas uma nova criação. Nova criação que é mais difícil do que a criação de todas as coisas, já que ao criar o mundo Deus apenas falou, mas para nos fazer novas criaturas ele morreu.

Na criação do universo não havia nada que se opunha a Deus, mas que mar de iniquidades se tornou o homem! A transformação operada agora, na regeneração, é maior do que a que vai acontecer quando morrermos. Pois é agora que recebemos a natureza que para sempre habitará em perfeita comunhão com Deus. Na morte e ressurreição receberemos novos corpos, mas a natureza que vai habitar a eternidade nós já recebemos.

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. 2 Coríntios 5:1

O que chamamos conversão em nossa geração, é algo completamente superficial – Alguém é chamado a frente, levanta a mão, repete uma oração... E é dito a ela: Pronto! Bem-vindo ao reino do Deus!!

Mas o fato é que “a restauração meramente exterior difere tanto da regeneração quanto a caiação de uma casa velha, caindo aos pedaços, difere de sua demolição com a edificação posterior de uma nova em seu lugar” - Augustus M. Toplady

Não! A Bíblia diz que a verdadeira filiação no presente, irá produzir inevitavelmente algumas marcas que autenticam a veracidade da entrada no Reino de Deus. De todos! Como disse William Secker: "Não há filhos natimortos na família da graça".

1) Ousadia em seu trono da Graça.

Todas as palavras aí estão em contradição com o homem natural. É exatamente por fazer de si um deus, ou seja, não reconhecer o Trono de Deus, mas se sentar no “trono” do seu coração, é que o homem vive num estado de rebelião.

Em segundo lugar todo homem natural odeia a Graça – pois aceitá-la é admitir seu total desamparo, falta de merecimento, aceitação de que merece a condenação e de que nele, homem natural, não habita bem algum. É a aceitação do fato de que Deus tem misericórdia de quem ele quer (por isso é Graça)...

Odiando o Trono e a Graça, em estado de inimizade, o homem natural não pode ir ao Trono – Que rebelde vai até o trono do verdadeiro Rei? Se vendo como um ser livre e merecedor, como ir ao Trono da Graça? E que rebelde pode ir ao trono do Soberano Senhor com ousadia?

Que transformações profundas e soberanas são necessárias para que um rebelde, alienado da vida de Deus, com medo da morte certa como preço de sua rebelião – pode ir ao Trono da Graça com ousadia. Uma nova natureza é a característica necessária para isso.

2) Contrição na Sua cruz.

Esta marca da veracidade de nossa filiação a Deus é fruto da concordância do coração com a sentença pronunciada por Deus para tudo o que somos – quer as coisas que achávamos boas como as que achávamos más. Morte! Teus atos maus merecem a morte, teus atos de justiça merecem a morte, tua própria natureza merece a morte, e o inferno não é uma punição dura demais para a desonra que teus pecados trouxeram a glória de Deus.

Para concordar com esse veredicto de todo o coração, novo coração é necessário – essa é uma marca apenas daqueles de quem possa ser dito: “Agora somos filhos de Deus...” – Não é uma mudança superficial, é a transformação que vai contra tudo aquilo que o homem é por natureza.

3) Amor a Sua Pessoa.

Essa marca expõe essa nova criação, já que esse amor é um amor sobre todas as coisas – o que inclui a nós mesmos. O coração natural do homem só pode ver Deus como seu adversário, porque em nossos corações podem habitar muitos deuses, mas o deus supremo do homem natural é ele mesmo, os outros são deuses vassalos. Mas o verdadeiro Deus deve ser único. Ou seja, o homem tem de ter desistido do reinado de sua vontade para a submissão completa de sua vontade...

4) Contentamento com nossa sorte.

Se Deus Reina Soberanamente, já não sobra marcas de ingratidão. Essa é uma marca indelével do coração de um filho de Deus. Ao se firmar no amor de Deus que não pode determinar nada que não seja para nosso bem final, o clamor diário do coração é: “Faça tua vontade, faça tua vontade... faça aquilo que mais glorifique Teu glorioso nome. Toda expressão de descontentamento aponta para a direção oposta daqueles de quem é dito: “Agora somos filhos de Deus...” – A expressão comum deles é: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR”. (Jó 1:21). 

5) Vitória sobre o mundo.

Todo homem natural ama o mundo e odeia Deus: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser”. (Rm 8:7); “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. 1 João 2:15 – Odiar o que amávamos e amar o que odiávamos necessita de uma transformação maior do que a que houve do caos para a ordem no Gênesis. É necessário uma “nova criação!” – E sem exceção, todos os que nascem de Deus vencem a atração irresistível que o mundo tinha sobre ele: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo...” (1 Jo 5:4).

6) Zelo pela glória de Deus.

O pecado e a vida do homem natural é exatamente o completo desprezo pela glória de Deus: “Em sua presunção o ímpio não o busca; não há lugar para Deus em nenhum dos seus planos” (Sl 10:4). Agora o Espírito Santo em seu coração desenhou um claro retrato do pecado – A máscara é retirada, o monstro é arrastado para luz, suas características horrorosas são reveladas...

Agora em todas as suas buscas essa é a questão: Deus será glorificado? Mesmo no comer e no beber? Na morte ou na vida? A paixão pela glória de Deus, com exata oposição ao desprezo anterior, governa seu coração. Seu canto sempre é um Soli Deo Gloria. "A adoção dá-nos o privilégio de filhos; a regeneração, a natureza de filhos" - Stephen Charnock

"Amados, agora somos filhos de Deus...!" 1 João 3:2-3

Bem-aventurados são estes!

"Que eles finjam como quiserem, mas a verdadeira razão por que alguém despreza o novo nascimento é a de odiar uma nova vida" - John Owen 

Paz! Josemar Bessa

Fonte: Josemar Bessa

segunda-feira, 14 de julho de 2014

OS LIMPOS DE CORAÇÃO ESTÃO EM EXTINÇÃO!


Por Fabio Campos

Texto base: “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida”. – 1 Timóteo 1.5 (AFC)

Eu creio que a igreja não está vivendo somente uma crise doutrinária. Falta pureza e um cotidiano mais simples. Muita gente “sacrificando sem obedecer”. O desejo ser evidenciado pelos homens tem tomado o lugar do desejo verdadeiro em agradar a Deus. Não há mais choro pelo próprio pecado e nem o desejo de santificação.

Uma fé fingida – relacionamentos superficiais – preocupação com o próximo apenas por aquilo que ele pode retribuir. Piedade de boca carregada de carinho - exegese ortodoxa - longas orações com lágrimas e soluços – simples protocolos demandados por uma comunidade cristã, mas na grande maioria das vezes, sem o fogo ardente e sincero; mas já que é um mandamento, então vamos, pelo menos parecer isso, para que possamos ser conhecidos como discípulos.

O interessante é que Deus ama não porque é amado! Ele ama porque é amor! Nada o Senhor encontrou em nós digno da sua misericórdia. Ele não foi seletivo devido nosso desempenho e nem o quanto O amávamos; pelo contrário, provou o seu amor para conosco que Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores. Se o amor procede de Deus, logo, então, precisamos amar-nos uns aos outros. Ainda que tenhamos o apreço dos homens - o galardão da comunidade - se não amarmos de fato - não conhecemos a Deus, pois Ele é amor. Somente desta forma permaneceremos nEle e Ele me nós. Quem não ama está nas trevas!

Às vezes vejo mais graça nos lábios e misericórdia no coração naqueles que não pertence a uma igreja evangélica. Acolhimento, doçura no falar, misericórdia para com os erros, e etc., é mais constante na casa de um gentil (assim rotulado por nós). Podemos aprender com Cornélio, centurião romano, o qual foi a princípio renegado por Pedro por ser gentil. Mas tanto ele como sua família, era piedoso, temente ao Senhor e que dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus.

Você já pensou se Deus escolhesse através do merecimento aquele a quem Ele amaria? Nós somos seletivos a quem devemos amar e nos aproximar. Talvez a prudência legitime esta atitude [da proximidade]. Todavia, outros, visam seus interesses em jogo. O tempo passa e tal pessoa não poderá me ajudar no que eu projetei, então não convém perder meu tempo com alguém assim. Não! Amar a Deus neste caminho é impossível, pois mentiroso seremos tidos, por dizer, que amamos a Deus a quem não vemos, deixando de fazer o bem (sabendo fazer) por aquele o qual vemos.

Mas quem subirá ao monte do Senhor? “Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Sl 24. 3-4). O ministério, os dons, a vocação, nada são se não houver “o amor de um coração puro, uma boa consciência, e uma fé não fingida” (1 Tm 1.5). Somente os limpos de coração verão a Deus (Mt 5.8).

O “movimento pietista” foi mal compreendido por muitos no decorrer da história. Creio que sua essência tem muito a nos ensinar. Ou seja, um cristianismo autêntico e uma fé viva, eram alguns de seus pilares. Como disse Calvino: “Porque o evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida”. Diziam que a “pureza do ensino e da doutrina seria melhor mantida pelo arrependimento genuíno e pelo viver santo do que nas disputas teológicas e nos livros de teologia sistemática” [1].

Não devais nada a ninguém a não ser o amor. Certamente! Estou em falta! A igreja de um modo geral (a exceções isoladas) precisa de mais pureza – de uma alma mais leve, purificada pelo Espírito Santo - pois somente assim estaremos obedecendo à verdade, aperfeiçoados nas boas obras que é, o amor fraternal (e não fingido); aquele que ama uns aos outros de um coração puro (1 Pe 1.22).

Que Deus nos ajude a cuidarmos de nossa família na fé, levando em conta que Deus acolheu para si (Rm 14.1) aquele que rejeitamos deliberadamente.

'Os pobres de espírito veem e se alegram. Oh! Vocês que procuram por Deus, tenham coragem! Pois o Eterno ouve os pobres, Ele não abandona o infeliz'. - Salmos 69. 32-33 (A mensagem; E.P).

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!

Notas:

[1] OLSON, Roger. História da teologia cristã. São Paulo-SP: Vida Acadêmica, p. 490.

Fonte: Fabio Campos

domingo, 13 de julho de 2014

A TENTAÇÃO DE JESUS


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Mt 4.1-11

INTRODUÇÃO

Conta-se a história de um vendedor que estava procurando uma vaga para estacionar seu carro. Rodou alguns quarteirões uma vez, duas vezes, várias vezes, e finalmente, já em desespero, deixou o carro numa , e pôs no para-brisa um bilhete: “Seu guarda, dei varias voltas no quarteirão e não achei vaga; se não fizer a entrevista com um cliente perco o emprego. Perdoa-nos as nossas dívidas”. – O guarda encontrou o bilhete e deixou outro com a multa: “Há 20 anos que dou voltas neste quarteirão. Se não multá-lo, quem vai perder o emprego sou eu. Não nos deixes cair em tentação!”

Ninguém precisa sair atrás da tentação porque ela vem muito naturalmente. Ela vem ao pobre, ao rico, aos crentes e aos descrentes. O crente novo é tentado, e também o crente antigo. Jesus Cristo foi tentado. Sem a tentação e o direito de escolher entre o bem e o mal seríamos uma máquina, e Deus não nos isenta das nossas responsabilidades na hora da escolha.

Um televisor não tem o direito de escolher se liga ou não; se sintoniza no canal 2 ou no canal 7. O alarme de um despertador funciona as 05h30min da manhã porque alguém o programou. 

Sem o direito de fazer escolhas, o nosso valor moral seria o mesmo de um inseto ou de um animal – agiríamos apenas por instinto.

Por isso, a tentação é uma encruzilhada em nossa vida com os letreiros trocados. No caminho do bem diz: “CAMINHO DA TRISTEZA”; e no caminho da miséria, da desgraça indica: “CAMINHO DA FELICIDADE”. Por isso que o Senhor Jesus nos disse que deveríamos vigiar e orar para não cairmos em tentação (Mt 26.41). 

O QUE É TENTAÇÃO?

A tentação é um estímulo ou indução a um ato que pareça atraente, ainda que seja inapropriado ou contradiga alguma norma ou convenção social sendo, consequentemente, proibido. A definição de tentação pode ser aplicada a uma ampla gama de ações, por exemplo, o desrespeito a uma restrição alimentar, a trapaça, a ostentação de artigos de luxo, a procrastinação.

Tentação é o esforço do diabo para tentar persuadir, seduzir, e induzir alguém a fazer especialmente algo sensualmente agradável ou imoral. É aquela voz dentro da gente que diz: “Vá em frente, fulano, nada vai acontecer... Ninguém vai ficar sabendo não”. 

A TENTAÇÃO DE JESUS É O MODELO DA TENTAÇÃO DO CRENTE

A partir da tentação de Jesus podemos compreender o que significa a tentação para nós. Há na Bíblia duas grandes histórias de tentação. No começo da história sagrada há a tentação dos nossos primeiros pais, Adão e Eva (Gn 3); mais adiante a narrativa da tentação de Jesus (Mt 4.1-11; Mc 1.12,13 e Lc 4.1-13). 

- A primeira tentação trouxe como resultado a queda do homem.

- A segunda tentação trouxe a queda de Satanás.

Adão e Eva foram tentados no Jardim do Éden e caíram. Jesus foi tentado no deserto e triunfou, ou seja, ou Adão é tentado em nós, e nós caímos, ou Jesus é tentado em nós, e Satanás é quem cai. 

A tentação de Jesus se repete, na verdade, o padrão da tentação dos nossos primeiros pais. Veja Gn 3.6; 1Jo 2.15,16 e Mt 4.1-11.

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 36).

“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (1Jo 2.15,16).

Observem um detalhe: de Gênesis a Mateus há um intervalo de cerca de 1500 anos. De Mateus a primeira carta de João há um intervalo aproximadamente de 50 anos. Mas é impressionante que os conceitos são os mesmos, a matriz existencial é a mesma, a leitura que fazem do ser humano e a luta com as forças transcendentes é a mesma. Só o resultado que é diferente, pois Jesus venceu a tentação. 

Não tenho dúvidas que o verdadeiro sentido da vida vai muito além das conquistas terrenas, da prosperidade material, da vazão aos instintos e apetites físicos, da realização e experimentação do prazer sensual. O verdadeiro sentido da vida está na Pessoa de Deus. Em 1Jo 2.17 lemos:

“Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.

- Uma vez perguntaram a Confúcio: “O que mais o surpreende na humanidade?” E ele respondeu: “Os homens que perderam a saúde para juntar dinheiro e depois perderam o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecerem o presente, de tal maneira que acabaram nem vivendo o presente e nem o futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”. 

Analisemos a tentação de Jesus.

PRIMEIRO, FOI O ESPÍRITO SANTO QUE LEVOU JESUS AO DESERTO (MT 4.1).

Mateus deixa claro que foi o próprio Espírito Santo que o levou ao deserto para ser tentado. Não partiu de Satanás tal atitude. Jesus não foi guiado ao deserto por uma força maligna, mas foi conduzido pelo Espírito Santo. Foi pela expressa vontade de Deus que esta crise se produziu na vida de Jesus. Não é que o Senhor queria ver se Jesus cairia ou não, mas uma demonstração da impossibilidade da Sua queda. 

À semelhança de Adão, Jesus foi tentado, com uma diferença: Adão foi tentado no Jardim do Éden e caiu, Jesus foi tentado no deserto e venceu a Satanás.

SEGUNDO, O TEMPO QUE O SENHOR ESTEVE NO DESERTO (MT 4.1,2).

O evangelista Mateus nos diz que o Senhor foi levado ao deserto para ser tentado e depois de 40 dias e 40 noites teve fome. O deserto é um lugar desconfortável, severo e agressivo. Era o deserto de Jericó, um lugar ermo, cheio de montanhas e cavernas, de areia escaldante durante o dia e frio intenso durante a noite. O deserto era lugar de solidão. Os grandes homens caíram não em lugares ou momentos públicos, mas na arena da solidão e nos bastidores dos lugares secretos. O deserto é o lugar das maiores provas e também das maiores vitórias. O deserto é o campo de treinamento de Deus. 

O texto nos diz que o Senhor esteve no deserto por 40 dias e 40 noites. O número 40 é o número da provação. Quarenta dias durou o dilúvio (Gn 7.12), o jejum de Moisés no Sinai (Êx 34.28), a caminhada de Elias até o Horebe (1Rs 19.8). Quarenta anos Israel permaneceu no deserto (Sl 95.10). Israel esteve 400 anos no Egito, isso é 40x10. Quarenta dias e quarenta noites Jesus foi tentado por Satanás no deserto. Em Marcos 1.12,13 nos diz assim:

“E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam”. 

Jesus foi tentado durante quarenta dias, o tempo todo.

TERCEIRO, O PROPÓSITO DE JESUS SER TENTADO.

Por que o Espírito Santo impeliu Jesus ao deserto para ser tentado? Qual era o propósito? 

O texto começa dizendo “A seguir” – ou seja, após o batismo de Jesus foi levado ao deserto para ser tentado. Há uma relação íntima entre o batismo e a tentação. No primeiro Jesus se dedicou ao caminho da cruz. Já no segundo, o diabo lhe apresentou meios pelos quais Ele podia efetuar seu ministério sem precisar ir à cruz.

Em primeiro lugar, Jesus foi tentado para provar a sua perfeita humanidade. A Bíblia nos fala que o Filho de Deus encarnou, ou seja, tornou-se como um de nós. Jesus foi 100% homem e 100% Deus. Mas quem foi tentado foi Jesus homem e não Jesus Deus. Porque o homem é tentado, mas a Deus ninguém tenta. Veja o que nos diz Tiago 1.13:

“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta”.

A Bíblia também nos diz que Jesus tornou-se semelhante a nós em todas as coisas, exceto no pecado. Conf. com Hb 4.15:

“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”.

Jesus passou por tudo isso para nos mostrar que em tudo Ele foi tentado, mas não para nos mostrar que podemos ficar sem pecar. Pelo contrário, Ele conhece as nossas fraquezas e se comparece de nós, mesmo que venhamos a pecar. Aliás, tanto o texto de Hebreus 4.15, quanto 1Jo 1.7-10, 2.1,2 que nos diz:

“Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”.

Em segundo lugar, Jesus foi tentado para vencer o diabo. Hernandes Dias Lopes nos diz que lutamos com um inimigo derrotado. O evangelista Marcos nos diz que o Senhor Jesus venceu Satanás o amarrando e roubando-lhe os seus bens. Veja o que ele nos diz:

“Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa”. (Mc 3.27)

Isso é o Senhor tirou de Satanás o domínio que ele tinha nessa terra. Jesus está libertando aqueles que estavam sob o seu domínio e os transportando para o Seu Reino. Paulo escrevendo aos Colossenses nos diz assim:

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13,14).

Jesus venceu Satanás no deserto, triunfou sobre todas as suas investidas. Esmagou sua cabeça na cruz, triunfou sobre ele definitivamente. Satanás é um inimigo limitado e está debaixo da autoridade absoluta de Jesus. 

“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.14,15).

QUARTO, AS OFERTAS DE SATANÁS.

A Bíblia nos diz que Satanás tentou Jesus os quarenta dias. Quando lemos o texto aqui em Mateus a impressão que temos que o tentador só o tentou no final, mas não foi assim que ocorreu. Há dois textos que nos mostram isso:

“E logo o Espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o serviam” (Mc 1.12,13). 

“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (Lc 4.1,2).

Satanás é um ser oportunista. Ele é como um vírus oportunista que ataca quando a nossa imunidade está baixa. Se a nossa imunidade espiritual estiver baixa ele irá atacar com todas as forças, embora ele ataque todos os dias, mas se a nossa imunidade espiritual estiver baixa ele irá triunfar sobre nós. Temos como exemplo Davi que caiu em adultério. Era tempo de guerra e ele estava em casa. O resto você já conhece.

Vamos analisar a tentação de Jesus:

1ª - A primeira tentação foi de ordem física (Mt 4.2-4) 

Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites na solidão do deserto, embora Marcos nos diga que Jesus estava com as feras – naquele deserto havia hienas, lobos, serpentes, chacais, panteras e leões. Era um lugar de abandono, mas também de grande perigo.

Depois de quarenta dias de jejum Jesus estava com seu corpo totalmente debilitado. Nesse período Jesus jejuou e orou incessantemente – o Espírito estava pronto, mas a carne estava para entrar em tentação. A fome castigava seu estômago. É nessa oportunidade que Satanás se aproxima e lhe diz: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. Satanás propôs a Jesus usar seu poder para satisfazer sua necessidade, ou seja, fazer uma coisa boa de modo errado: mitigar a fome atendendo a voz do diabo. 

Aprenda uma coisa meu irmão: ainda que o diabo lhe dê um conselho aparentemente bom, não dê ouvidos a ele, pois o que procede dele nada presta. Nem o testemunho dele em relação a Jesus o Senhor aceitou (Mc 3.11,12). Não foi dado a anjos proclamar a salvação e muito menos aos demônios (que são anjos caídos), mas aos homens. Até Paulo recusou tal testemunho (At 16.16-18). 

Só que o intento de Satanás de levar Jesus transformar pedras em pães era maior que um apelo à fome. Havia a sugestão de evitar a cruz, tornando-se um reformador social popular. Isso quase ocorreu quando Jesus multiplicou os pães e os peixes em Jo 6. Mas veja o resultado da multiplicação e o que o Senhor Jesus fez:

“Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte” (Jo 6.14,15).

Não era e não é esse tipo de Reino que o Senhor veio estabelecer na terra, mas um reino espiritual. Mas quantas igrejas estão embarcando na Teologia da Missão Integral que na verdade é uma nova roupagem da Teologia da Libertação. É bom deixar claro que a Teologia da Missão Integral dialoga com o marxismo. E os que defendem essa teologia ainda dizem que é impossível dialogar com o mundo sem dialogar com o marxismo. O marxismo mudou a face do Ocidente por, pelo menos, setenta anos.

O tempo todo Satanás tentou impedir que o Senhor fosse até a cruz. E hoje tenta evitar que a mesma seja pregada também pela igreja. 

Outra razão para essa tentação era tentar fazer Jesus não confiar na provisão do Pai. Mas a resposta de Jesus a Satanás foi contundente: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. O Senhor cita as Escrituras para rechaçar o tentador. Jesus cita o texto de Dt 8.3 mostrando para o diabo que a fome espiritual é muito maior que a fome física. Pois a fome física pode ser saciada em qualquer lugar, mas a fome de Deus só Ele pode saciar. E mais, assim como o Pai sustentou o seu povo no deserto com mana que caia do céu, da mesma forma o Senhor poderia vir ao seu encontro e saciar a Sua fome. 

Assim como o Pai alimentou uma multidão no deserto, da mesma forma o Senhor iria alimentá-lo. O mesmo o Senhor tem feito conosco todos os dias. Em Mateus 6.25-30 Ele nos conforta dizendo que o Senhor nos dá o de comer, beber e vestir. E no verso 11 do capítulo 6 Ele nos ensina a orar dizendo: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.

Quantas vezes Satanás tenta pôr em dúvida a bondade e a providência de Deus, abrindo-nos outras oportunidades para atender nossas necessidades imediatas. 

Satanás fala a mesma coisa com cada um de nós muitas vezes, assim como falou com Jesus: “Se és Filho de Deus...”, aqui Satanás não está lançando dúvidas ao coração de Jesus, mas está dizendo: “Já que você é o Filho encarnado do Deus Altíssimo” você tem autoridade para transformar pedras em pães. O mesmo o diabo fala com cada um de nós: “Já que você é filho de Deus” porque está passando por essa luta, por essa enfermidade, por esse problema familiar. Mas aí que entra a nossa confiança de que o Senhor há de intervir em nossa vida sem precisarmos buscar os conselhos tortos do diabo. Isso é crer na providência de Deus.

2ª - A segunda tentação é de ordem espiritual e psicológica (Orgulho) (Mt 4.5-7)

Esta segunda tentação está ligada a primeira, pois Jesus disse que confiava plenamente no Pai, então Satanás habilmente usa a própria palavra de Deus contra Jesus para tentar induzi-lo a se jogar do pináculo do templo para que o Pai o amparasse. E para isso ele cita o Salmo 91.12. Satanás sugere a Jesus a provar a Sua fé em Deus, submetendo Sua promessa a um teste, isso não passava de um grande sofisma. 

SOFISMA – Argumento falso intencionalmente feito para induzir outrem ao erro. 

Isso gera fanatismo.

Quero ilustrar isso lhe contando um caso que ocorreu em uma igreja nos Estados Unidos:

Uma grande igreja na região rural de Indiana, nos Estados Unidos, tinha uma triste fama, devido ao seu fanatismo.

Os membros dessa igreja criam que a fé pura podia curar qualquer doença e que buscar ajuda em qualquer outro lugar ou pessoa – por exemplo, de médicos – demonstrava uma falta de fé em Deus. Os artigos de jornais mencionaram pais que, atônitos, observavam seus filhos travarem batalhas perdidas contra a meningite, ou pneumonia, ou vírus comum da gripe – enfermidades que facilmente poderiam ser tratadas. 

Um artista de um jornal desenhou pequenas lápides de túmulos para assinalar os locais onde pessoas haviam morrido depois de se recusarem tratamento médico, em obediência ao ensino da igreja. Havia 52 lápides ao todo.

De acordo com as reportagens, mulheres grávidas que seguiam o ensino da igreja morriam ao dar luz numa proporção oito vezes maior do que a média nacional, e a taxa de mortalidade infantil era três vezes maior. Apesar disso, a igreja estava crescendo e tinha se estabelecido em dezenove Estados e em outros cinco países.

Um pai contou a um jornal da sua vigília de oração enquanto observava seu filho de quinze meses de idade lutar contra uma febre durante duas semanas. A doença inicialmente provocou surdez, depois cegueira. O pastor da igreja conclamou ainda mais fé e persuadiu o pai a não chamar um médico. No dia seguinte, o menino estava morto. A autópsia revelou que ele morrera de uma forma de meningite facilmente tratável. 

Satanás sempre usará de sofisma contra nós. Mas veja o que o apóstolo Paulo nos fala em 2Co 10.4,5: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus”.

O fanatismo leva as pessoas a se decepcionarem com Deus.

Por isso Jesus falou: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Jesus rebate o sofisma de Satanás usando de outro texto não fora de contexto, mas de forma correta. Jesus fala do que os Israelitas fizeram tentando o Senhor em Massá (Êx 17.6, Dt 6.16), pois quando faltou água eles começaram a perguntar se o Senhor estava no meio deles (Êx 17.7). 

O Senhor Jesus dá a Satanás uma resposta simples e objetiva: “O Senhor nunca desampara o Seu povo”. Não há necessidade de provar se o Senhor está ou não conosco, se Ele prometeu Ele irá cumprir as Suas promessas. Não precisamos tentar a Deus para obrigá-Lo a evitar um desastre. 

Um bom exemplo disso é quando Jesus ressuscita a filha de Jairo, diz para eles darem de comer para ela. A menina morreu porque não comia então dá-lhe de comer para que não morra novamente, em outra palavras foi isso que Jesus disse. Não precisamos forçar o milagre. Deus não ficará enciumado se andarmos com precaução, com cuidado, sem tentá-Lo.

SATANÁS GOSTA DE ESPETÁCULO

A intenção de Satanás era fazer Jesus não ir até a cruz, nunca se esqueça disso. Aqui ele tenta seduzir Jesus a ter uma entrada triunfal no Seu ministério. Jesus é tentado a pular do pináculo do templo com as multidões reunidas no pátio abaixo, provavelmente à hora do sacrifício da tarde – um salto que no caso de qualquer outro que o tentasse seria suicídio. Mas Satanás diz que se Jesus fizesse tal coisa os seus anjos o guardariam. Assim Ele seria o astro da levitação, o Deus todo poderoso entrando no ministério de forma espetacular. 

Com isso Satanás estava tentando fazer Jesus fugir do caminho da cruz pela desobediência à sua vocação de Servo Sofredor, desprezado e rejeitado pelos homens sobre quem recairia a iniquidade de todos nós. A doutrina de Satanás é que os fins justificam os meios, ou seja, que, uma vez obtida a soberania universal no final, não importava como ela houvesse sido atingida. 

Mas o nosso Deus não gosta de aplausos! Ou seja, Ele não precisa fazer show para ser reconhecido como Deus. 

3ª – A terceira tentação é de ordem religiosa – apostasia (Mt 4.8-10).

A terceira tentação foi a apostasia. A isca é o desejo de poder. Poder total sobre um mundo que jaz no maligno. Jesus é convidado a fazer um acordo com o maligno, para que Ele, Jesus, reinasse por meio de intrigas, de guerras, através do mal. Mas Jesus não veio para estabelecer um reino terreno como muitos pensam; mas estabelecer o Reino de Deus dentro do coração dos homens. 

Satanás sabendo que Jesus estava focado no Reino de Deus, então lhe oferece um reino sem cruz, desde que Jesus o adorasse. Assim o Reino de Deus seria estabelecido sem trabalho ou lágrimas, nem risco de vida, sob a simples condição de que Jesus lhe prestasse reverência. 

Satanás estava dizendo para Jesus que o Reino de Deus deveria ser imposto com armas diabólicas da crueldade, impiedade e poder, dominando as pessoas, ao invés de conquistar homens e mulheres através do sacrifício remidor na cruz. Mas acontece que o Reino de Deus nunca será estabelecido por meios satânicos. 

Essa oferta tem sido oferecida até hoje para muitas pessoas, e, infelizmente, muitos tem aceitado. Observe quantas guerras religiosas temos contemplado em nosso meio. Igrejas contra igrejas, pastores contra pastores, irmãos contra irmãos. Cada um querendo estabelecer o seu próprio reino e não o Reino de Deus. Com essas atitudes quem tem sido adorado é o próprio Satanás. Em muitos púlpitos ele está sentado e sendo adorado como deus. 

Quantos pastores orando por avivamento, mas avivamento para sua igreja e não para a igreja do “concorrente”. Querem a sua igreja cheia, ainda que seja com pessoas vazias do Espírito Santo. Para alguns o importante é o movimento. 

A RESPOSTA DE JESUS

Veja o que o Senhor disse a Satanás diante dessa proposta imoral: “Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Dt 6.13). O Senhor cita mais uma vez as Escrituras Sagradas com intrepidez. Ele não se deixa levar, mais uma vez, pela proposta imoral do diabo. 

Satanás quer dizer “Adversário”, e é exatamente isso que ele é; ele é o adversário direto do nosso Deus e nosso também. Ele sempre irá tentar “facilitar” as coisas para nós. Para isso o preço é muito alto, é o preço da APOSTASIA. E quantos estão se apostatando da fé para poderem ter o seu próprio reino. E por ele dão a própria vida. Por Deus não, mas pelo reino pessoal vão até o fim. 

Com essa palavra de Jesus Satanás o deixou, mas como nos fala em Lucas 4.13: “Até momento oportuno”, ou seja, Satanás não desistiu, mas foi até a cruz tentando o Senhor. Se ele fez isso com o próprio Deus encarnado quanto mais fará com cada um de nós. Como disse Pedro em sua primeira carta:

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1Pe 5.8,9). 

Pedro falou do que conhecia muito bem, pois na noite em que Jesus foi preso ele negou o Seu Mestre três vezes. Pedro foi tragado pelo medo, pela covardia e pelo rugido de Satanás. Pedro cedeu à tentação, mas Ele foi resgatado pelo Senhor e restituído no ministério. Por isso ele nos alerta para termos cuidado, “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1Co 10.12). 

QUINTO, A VITÓRIA SOBRE A TENTAÇÃO.

Ninguém está livre da tentação, mas de resisti-la sim. Tentação não é pecado, ceder a ela é. Veja nas próprias palavras de Tiago 1.13-15 essa realidade:

“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”.

A Bíblia nos diz que Jesus em tudo foi tentado, mas sem pecar. E como Ele venceu a tentação?

1º - A Bíblia nos diz que Jesus encarnou nas mesmas condições de Adão. Nele não havia a semente do pecado. Jesus tinha um caráter santo, e mesmo sendo tentado no deserto não cedeu a tentação. 

2º - Porque Ele resistiu ao diabo firmemente. A própria Palavra nos ensina a fazer a mesma coisa: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). 

3º - Porque Ele conhecia e praticava a Palavra de Deus. O Salmo 128.1 nos diz: “Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos!” Foi assim que o Senhor venceu a tentação, no temor do Senhor e andando em Seus caminhos. Só podemos trilhar o verdadeiro caminho conhecendo o caminho. E o caminho nos é mostrado em Sua Palavra, pois ela nos ensina como devemos andar e proceder em Sua presença. 

Eva torceu a Palavra de Deus e o diabo também a torceu tentando levar Jesus à queda. Mas Jesus conhecia a palavra e não se deixou levar pelo engano de Satanás. Saiba de uma coisa meu irmão, o diabo é um péssimo exegeta. Como disse Hernandes Dias Lopes: “A Palavra de Deus na boca do diabo é palavra do diabo e não Palavra de Deus”.

CONCLUSÃO

Diante de tudo que foi falado creio que podemos concluir dizendo algo prático e extremamente importante: “Todos nós devemos esperar tempos de provas”. Se Satanás não desistiu de Jesus, ele também não desistirá de nenhum de nós. Por isso devemos vigiar e orar o tempo todo e em todo tempo. Ele é um ser maligno e perseverante. Sempre haverá suas investidas, não pense que ele se afasta e não volta. O apóstolo Paulo nos deixou isso bem claro quando escreveu a sua carta aos Efésios 6.10-13. Veja como ele nos alerta:

“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”.

Mas nós temos um grande conforto, Deus sempre está ao nosso lado. Ele nunca nos abandona. Aliás, o Senhor nos diz também que “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co 10.13).

O texto de Mateus termina dizendo que “com isso, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos e o serviram”. Lute até o fim, não esmoreça. Não ceda a tentação. O Senhor também enviará o sustento para você e para mim também. 

Que o Senhor nos abençoe!