sexta-feira, 29 de abril de 2011

VIVENDO EM UNIDADE


Por André Bronzeado

Não resta dúvida que a proposta de viver em unidade é um grande desafio para as pessoas. Ora, unidade é a qualidade ou estado de ser um, é algo que não pode ser dividido. Olhando para os seres humanos totalmente distintos entre si e imaginá-los vivendo em unidade contraria totalmente a nossa lógica mergulhada nos interesses egoístas, nos valores distintos e nos múltiplos conflitos que comumente fazem parte da vida em sociedade. Enfim, o fato é que toda comunhão humana está sempre ameaçada.

O Direito, como ciência humana, presta grande serviço à vida em sociedade ao passo que busca dirimir os conflitos humanos objetivando aplicar a Justiça que, em síntese, é dar a cada um o que é devidamente seu. Como se vê, as Ciências Jurídicas têm os olhos voltados para os conflitos humanos, ratificando que a vida em grupo ou em sociedade é refém dos encontros de interesses que quase sempre são diferentes, aumentando a distância entre as pessoas.

Viver nesse clima de separação, de oposição à convergência de interesses, não é novidade ou coisa da pós-modernidade. É lógico que vivemos em uma sociedade cada vez mais egoísta, onde as pessoas só olham para seus próprios interesses. As crises internacionais são um exemplo claro do quanto a humanidade é dividida. Porém, todo este fenômeno egocêntrico e separatista teve seu início no Éden. A sociedade da época era formada por Adão e Eva, nossos representantes federais. É interessante que após a queda o clima de unidade entre nossos primeiros pais foi quebrado ao passo que o homem disse: “A mulher que tu me deste deu-me da árvore, e eu comi”. Adão parece viver uma crise no seu relacionamento com Eva; nesse instante ele não se lembra da declaração poética “... osso dos meus ossos, carne da minha carne”. Agora ele a olha com negativismo e como se não fosse uma só carne consigo.

Pois bem. Em contrapartida a esta realidade, Deus nos apresenta a vida em unidade como algo agradável aos Seus olhos. O que dizer da excelência da união fraternal como é apresentada no Salmo 133? “Como é bom e agradável os irmãos viverem em união” – diz o salmista Davi. Quantas expressões “uns aos outros” encontramos da Bíblia? São inúmeras expressões como esta que denotam a beleza da comunhão e da unidade entre irmãos. Não bastasse tudo isso, ao repousar nossa atenção na Oração Sacerdotal de Jesus no capítulo dezessete do Evangelho Segundo João, encontramos nosso Senhor orando para que os que criam nele e os que viriam a crer no futuro fossem unificados, ou seja, vivessem em unidade.

Ora, assim orou o Senhor Jesus: “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que virão a crer em mim pela palavra deles, para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” – (João 17:20,21). Veja que Jesus ora pela unidade dos seus discípulos, bem como para que um dia sejam reunidos a Ele.

Em sua Oração Intercessória, Jesus inclui todos os cristãos, até mesmo aqueles que iriam receber a fé no futuro. Isto demonstra também que Jesus estava levando em conta o grande fenômeno que aconteceria a partir do momento em que os discípulos começariam a pregar o Evangelho, ou seja, eles iriam ser instrumentos para a implantação da fé nas pessoas.

Jesus também ora para que seus discípulos sejam um fazendo um profundo paralelo com a Trindade, ou seja, Jesus chega a usar como paradigma para a unidade de seus discípulos a unidade que possui a Santíssima Trindade. É importante que se diga que ao fazer isso Jesus reconhece que, como seres humanos, temos muita dificuldade de vivermos relacionamentos verdadeiros uns com os outros. É fato que toda comunhão humana está sempre ameaçada.

Aqui é que encontramos o grande desafio: não devemos anular nossas particularidades; somos diferentes, fomos feitos assim pelo próprio Deus. Somos diferentes em maturidade, em percepção, em conhecimento, em personalidade, etc. É exatamente nessa diversidade que o amor atua. O desafio está em viver a unidade na diversidade!

Anote-se que viver em unidade não é apenas benéfico aos discípulos, mas também possui um significado importantíssimo para o serviço a Deus, ao passo que nossa unidade se torna um testemunho eficaz aos outros. Percebamos que Jesus declara: “Para que o mundo creia que tu me enviaste”. Ou seja, a unidade da Igreja do Senhor é um fator imprescindível para um testemunho eficaz diante de todos os homens.

A Igreja do Senhor, embora formada por pessoas diversas, deve ser um corpo bem articulado vivendo em total unidade. Mesmo sendo diversos, precisamos ser um, precisamos ter o mesmo propósito, precisamos observar a grandeza do que nos une e colocar de lado tudo aquilo que nos separa. Para quê separar, se podemos nos unir? Por que dar tanto valor ao que nos separa se podemos focar nossas atenções naquilo que nos une? Fomos resgatados das trevas pelo Senhor, reunidos na Igreja que é o Corpo de Cristo para vivermos – unidos – para a Sua Glória.

É Bom que o Homem Não Toque em Mulher (I Cor. 7:1)



Por Pr. Samuel Vitalino


Esse é o texto que eu estava devendo para vocês! Pois bem. Tentarei discorrer em todo capítulo em poucas palavras. Ajudará na sua compreensão se você estiver com a Bíblia aberta ao seu lado em I Coríntios 7.

Paulo começa o texto respondendo algumas perguntas que lhe foram feitas por carta dos Coríntios para ele (v. 1), e afirma então que é bom que o homem não toque em mulher. Não sabemos quais foram as perguntas dos Coríntios a Paulo, mas sabemos que haveria um problema hermenêutico muito sério se Paulo estivesse falando sob qualquer situação, pois Deus disse antes mesmo da queda que não é bom que o homem esteja só (Gênesis 2:18); mas graças a Deus o próprio Paulo se explica dizendo que havia algo específico na sua mente para ele declarar aquilo: por causa da angustiosa situação presente (Note o contexto em Vv. 25-29). Tratava-se de um momento específico e único na história.

Que momento era esse? Precisamos entender que Paulo tem em mente o sermão profético de Jesus ao escrever essa carta. Quando Jesus declara ali: ai das grávidas e das que amamentam naqueles dias (Mateus 24:19) na espera do cerco e conseqüente destruição de Jerusalém, Paulo entende corretamente que as perseguições daqueles dias seriam sentidas mesmo bem distante da cidade, como, no caso, Corinto. Então as palavras de Paulo eram de preservação para a possível fuga que aconteceria naquele tempo, ou naquela geração (Mateus 24:34; note ainda em I Co. 7 os versos 28, 36,37).

Mesmo assim, ele deixa claro que aquele não é um mandamento, mas uma sugestão (veja os versos 9, 25, 28, 36, 40), mostrando que não haveria nenhuma contradição. Os versos 2 a 9 ensinam isso de uma maneira muito especial, afirmando, inclusive, que o casal casado deveria praticar muito sexo para que Satanás não tente por causa da incontinência (v. 5).

Nos versos seguintes (10 a 24) precisamos entender bem o contexto da Igreja de Corinto. Como uma Igreja recém plantada por Paulo, muitos homens e mulheres de Corinto foram convertidos ao Senhor sendo já casados. É desses casos que Paulo está tratando aqui. Mas vejam que argumentos sérios ele trás.

Paulo ensina em vários lugares (e Jesus também) que o casamento é indissolúvel (Mateus 19:6, Romanos 7:2), e é isso que ele afirma aqui nos versos 10 e 11: A mulher não se separe do marido... e que o marido não se aparte da mulher. Mas note também que existe uma coisa tão séria que pode haver a possibilidade de separação, mas não de novo casamento: (se porém vier a separar-se, que não se case ou se reconcilie com o seu marido).

Mas o que poderia ser tão grave que algo indissolúvel poderia ser quebrado? A desigualdade do jugo entre o casal! Não é demais repetir que essa desigualdade veio pela porta da conversão e não do casamento. Mas como o casamento é uma coisa séria, indissolúvel e santa, mesmo no jugo desigual, ainda se deve tentar manter o casamento (Vv. 12-14), mas se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã (V. 15).

Por um lado vemos a gravidade do jugo desigual (ele aprofunda ainda mais esse assunto em II Coríntios 6:14-7:1) a tal ponto de ser outro assunto, além da relação sexual ilícita (Mateus 19:9) que permite o divórcio.

Por outro lado, Paulo mostra a gravidade ainda maior do casamento, pois mesmo quando se divorcia ou aparta por causa do jugo desigual, o crente terá que viver sem relacionamento, nem mesmo no Senhor, a não ser na morte da outra parte.

Veja se não é isso que ensina o V. 39: A mulher está ligada enquanto vive o marido (mesmo depois do divórcio permitido) contudo, morrendo o marido fica livre para casar com quem quiser, (e como se trata de um crente agora) mas somente no Senhor. (Cf. Romanos 7:2-4).

Irmãos(ãs) e filhos(as), saibam que esse assunto é muito duro e que é preciso muito amor para falar abertamente sobre ele, pois a maioria tentará correr atrás de subterfúgios para se esconder da verdade. Isso não é de hoje. Quando os discípulos ouviam Jesus falando sobre esses assuntos, eles disparavam: se essa é a condição do homem em relação à sua mulher, não convém casar (Mateus 19:10).

Mas Jesus ama o casamento. Ele começou a história da humanidade afirmando não ser bom para um homem estar só. Ele termina a Revelação numa linda festa de casamento entre ele e sua amada Igreja. Ele inicia seus milagres numa festa de casamento. Ele retrata seu relacionamento com a Igreja dessa forma. Sua Palavra afirma que digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula (Hebreus 13:4). Sendo assim, continua a minha luta para que os jovens e adolescentes dessa geração aprendam com os erros de seus pais para não cometerem os mesmos.

No amor do Senhor,

Pr. Samuel Vitalino

Fonte: E a Bíblia com isso? Via: A Pena Afiada

Pr. Ricardo Gondim apoia a união civil gay: “Nem todas as relações homossexuais são promíscuas”


‘Deus nos livre de um Brasil evangélico?’ Quem afirma é um pastor, o cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu crescimento estão as raízes da própria decadência.

Os evangélicos, diz Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os direitos homossexuais.

Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”, diz na entrevista a seguir.

Carta Capital: Os evangélicos tiveram papel importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais influenciável pelo discurso desse movimento?

RG:
Sim, mesmo porque, é notório o crescimento no número de evangélicos. Mas é importante fazer uma ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos de dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos do perfil religioso típico do brasileiro.

CC: Como o senhor define esse perfil?

RG
: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.

O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?

Porque esse projeto impõe não só a espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente da República. Isso fica muito claro no projeto da igreja Universal. O objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, pode facilitara expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam os meios.

O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?


O movimento brasileiro é filho direto do fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american way of life de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das principais. As lideranças daqui Ieem basicamente os autores norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial, o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência prestadora de serviços religiosos. de cura, libertação, prosperidade financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos, a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é de que Deus abre portas de emprego para os fiéis.

Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?

O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.

Uma igreja que, para se sustentar, precisa de campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.

Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?

Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os sentidos, ao Tea Party, à guerra.

O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?

Sou a favor. O Brasil é uni país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.

O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?

Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere, controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval, mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível a existência de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é bom e onipotente, e coisas ruins acontecem, então há algo errado com esse pressuposto. Minha resposta é que Deus não está no controle. A favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse, porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos, lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso, que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora da vida.

Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.

Não necessariamente. Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.

Fonte: Carta Capital e Libertos do Opressor! Via: Pastor Matias

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A secularização da Igreja




Por Wailton de Carvalho

Vivemos em uma época sem precedentes na história da raça humana. A tecnologia, crescente desde o pós-guerra, tem modificado radicalmente os métodos de produção industrial, forma de comprar e vender produtos, formas de lazer, hábitos e costumes, sem falar da disponibilidade da informação à velocidade da luz. Estima-se que hoje, a cada cinco anos, é dobrado todo o conhecimento humano, provocando profundas e irreversíveis mudanças na sociedade. Neste meio, temos uma igreja com crise de identidade que não sabe tratar o novo sem violentar os princípios de Deus.

Embora não seja uma unanimidade entre os que tentam definir o período em que estamos vivendo, termos como pós-modernidade ou pós-cristã estão sendo largamente aceitos, tendo seu início nos anos cinqüenta. As alterações em todas as áreas da sociedade têm sido movidas por um profundo desejo de liberdade, igualdade e paz baseadas na informação e sua materialização, gerando um conjunto de fatores que oferecem grandes riscos à Igreja de Cristo, dos quais gostaríamos de enfatizar a secularização.

Secularização significa viver apenas sob o prisma deste século, reduzindo nossos valores, convicções e esperança ao nível estipulado pela sociedade. As igrejas tornam-se instituições religiosas onde se ouve sobre princípios e valores éticos, honestidade, fidelidade, amor e um Deus que faz tudo para você. Os líderes são freqüentemente convidados para palanques, inaugurações de praças, monumentos públicos e outros eventos sociais. Seus membros acreditam que são cristãos por participarem destas entidades religiosas, não importando sua conduta, desde que seja notório a todos que ele cumpre com suas obrigações espirituais. Os ritos são sempre previsíveis, sendo ela pentecostal, carismática, ortodoxa ou católica, e superficiais. Os insatisfeitos, por não terem raízes, migram entre uma e outra instituição em busca de consolo. Termos como “pecado”, “arrependimento” e “santificação”, quando tratados, são sempre de forma superficial e terrena. A leitura bíblica e a oração são feitas com formalidade e restrita aos cultos religiosos, usados para firmar seus conceitos de orgulho, cobiça e poder.

Sintomas deste mal podem ser observados em nossas vidas mediante a observação de nossas ministrações, momentos devocionais e amor aos homens. O processo se inicia com paulatina redução de tempo dedicado à meditação (repare que não escrevemos leitura) e oração diante de Deus. As palavras reveladas vão aos poucos sendo substituídas por artigos retirados de revistas ou internet, ao invés de serem estes instrumentos de consulta durante a busca diante de Deus. Seu conteúdo deixa de falar das promessas futuras, pois estão muito distante de nós, e do pecado escondido, evitando desconforto e baixo astral. Nossos relacionamentos com os membros da comunidade se tornam cada vez mais condicionados aos momentos das reuniões, sendo as conversas relativas aos cuidados deste mundo como carros, filhos, casa, entre outros. Passamos a não ajudar os de nosso grupo por não sabermos de suas necessidades e os de fora por estarmos insensíveis a eles. Evangelizar torna-se função dos novos convertidos, acreditando que já fizemos muito para Deus neste sentido. Por fim, nos tornamos certos e seguros de nós mesmos.

É tempo de destronar Jezabel (I Reis 16 – 19) de nossas vidas. Há necessidade nestes dias de descobrirmos nossas sujeiras revestidas de falsa santidade, escondendo antigos e secretos pecados diante de Deus, sabendo que, caso contrário, a certeza futura que teremos é unicamente o juízo eterno do Pai. Temos adulterado, tornando as coisas do Pai profanas, dizendo ao mundo com nosso viver que há pouca esperança de solução para suas vidas na Igreja. As varas secas são retiradas para que as verdes tenham espaço, antes disso precisamos nestes dias de reconciliação com Deus, receber da seiva do Espírito Santo a fim sermos os Elias e os João Batistas para esta geração.

Quem foi David Wilkerson ?


Por Renato Vargens

David Wilkerson foi o fundador e presidente do “Desafio Jovem”, que é uma organização sem fins lucrativos; fundada em 22 de Setembro de 1971. Reverendo Wilkerson é autor de trinta livros de sua inspiração, visando o ministério para viciado em drogas, jovens e membros de gangues em Manhattan, no Bronx, e no Brooklyn. Sua história é contada na Cruz e o Punhal, um livro que bateu o recorde de venda. (A história tem sido lida aproximadamente por 50 milhões de pessoas em trinta línguas e 150 países desde 1963. Em 1969, o filme do mesmo título foi lançado e ainda é visto por milhares de pessoas).

Em quatro décadas de ministério evangelístico do Reverendo Wilkerson, que inclui: pregação, ensino e a autoria de vários livros, tem sido possível alcançar um número significativo de pessoas em todo o mundo. Durante todo esse tempo, tem-se também preservado uma das características fundamentais deste trabalho, que assistir aos mais carentes e necessitados entre a população, isto através de grande uma mobilização evangelística-social, cujo um dos objetivos é reintegrar os marginalizados à sociedade, proporcionado-lhe uma nova vida em Jesus Cristo. Até mesmo agora, aos 72 anos de idade, ele sai às ruas de Nova Iorque acompanhado de um assistente. Nessas ocasiões, ele também visita o Broadway e Oitava Avenida, evangelizando os transeuntes. Sua missão está sempre procurando o perdido, o desorientado e o derrotado, para pregar a eles sobre o Cristo vivo.

David Wilkerson, nascido em Indiana, no ano de 1931, casou-se em 1953 com Gwen Carosso. Teve dois filhos que são ministros e suas duas filhas são casadas. Eles têm 11 netos. Os Wilkersons vinham servindo ao Senhor na Pensilvânia, até que o Reverendo Wilkerson viu uma fotografia em uma revista sobre violência urbana, que mostrava vários adolescentes da Cidade de Nova Iorque assassinados. Movido pela compaixão, ele foi à cidade em fevereiro 1959. Foi assim que ele começou seu ministério de rua. Depois atuou como escritor, visando alcançar os chamados: "desesperados, confundidos e violentos nas ruas e do submundo".

Naquele ano, o Reverendo Wilkerson encontrava um desafio no seu ministério: eram os adolescentes do Brooklyn, Nova Iorque, mas ele, enfim alcançou a juventude e adultos com problemas globais através de seus 490 centros de reabilitação social. Estes são ministérios de recuperação baseados em um programa para viciados em drogas, os quais têm sido reconhecidos como os maiores centros de recuperação do mundo. Um estudo do Instituto Nacional do Governo dos Estados Unidos de Uso de Droga comprovou a recuperação através do Desafio, de Adolescentes e jovens na marca de 86%.

A Cruzada da Juventude do David Wilkerson, originada em 1967, dando início a um ministério evangelístico, caracterizado por esforços do Reverendo Wilkerson para alcançar os adolescentes e crianças que foram abandonadas, para prevenir que eles caminhem para uma vida de escravidão nas drogas, álcool ou na violência. Através deste ministério, CURA (Centro Urbano de Recuperação de Adolescentes) tem-se recuperado muitas vidas preciosas. O CURA foi um esforço para realizar o idealismo e o sacrifício de muitas pessoas, jovens e cristãos que souberam sobre este trabalho de paz, e desejavam ajudar os necessitados.

Em 1971, o ministério se expandiu, e o Reverendo Wilkerson, movido por uma chama missionária, saiu do Texas, sede de seu ministério e do Desafio Jovem, para uma Missão específica de transmitir a eterna mensagem de Cristo através dos seminários para um público cristão, com objetivo de prepará-los para a tarefa de resgatar outras vidas para Cristo. O Desafio Jovem serve como um ponto de partida para cruzadas do Reverendo Wilkerson, conferências dos ministros, livros e produção de vídeo, escolas bíblicas, evangelismo de rua, distribuição de literatura, investimentos em programas antidroga.

Ele continua como presidente do Desafio Jovem, ministrando palestras para centenas de milhares de pessoas que, regularmente, têm recebido cópias dos sermões e notícias do ministério. O Reverendo Wilkerson, pessoalmente, lê os pedidos de oração, auxiliado pela sua esposa Gwen, que o ajuda a ler as milhares de correspondências, que chegam mensalmente. Responde as cartas e intercede pelas necessidades nelas expressas, levando-as a Deus em oração.

Em 1986, o coração do Reverendo Wilkerson se moveu outra vez para levantar um ministério nos Tempos Squares. Ele chorou pedindo a Deus para fazer alguma coisa, e em um dia, pela manhã, sentiu o Senhor falando ao seu coração: "Você sabe que eu amo essa cidade". Naquele momento, a igreja “Time Square” foi idealizada. A igreja foi inaugurada em outubro 1987 e, desde então, está com as suas portas abertas. Primeiro em um auditório alugado e depois no Teatro do Hellinger, que o ministério adquiriu em 1989. A igreja está localizada no coração do Distrito de Manhattan. O teatro é belo, em contraste à pobreza e necessidades dominantes daquela área. E a congregação é composta de 8.000 pessoas, da Cidade de Nova Iorque: entre doutores, estudantes, professores, advogados, viciados e os desabrigados, enfim todas as classes.

David wilkerson faleceu nesta quarta feira em um acidente de carro. O Rev. David estava na estrada I 175 no Texas quando tentou uma ultrapassagem e teve seu carro atingido por uma carreta na direção oposta.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Desmoralização da Disciplina Eclesiástica

A Desmoralização da Disciplina Eclesiástica

Por Cleyton Gadelha

Muito se tem discutido sobre a necessidade de as igrejas locais praticarem o claro ensino bíblico da disciplina de membros que se mostrarem endurecidos e pecaminosos. Ananias e Safira (At.5), o imoral de 1 Cor.5 os falsos ensinadores de 2 João 1:10-11, e o faccioso de Tito 1:10, estabelecem clara convicção sobre essa doutrina. Textos é o que não faltam para assegurar a escrituricidade do assunto.

Entretanto, dentro da cristandade plural dos nossos dias, ações disciplinadoras têm perdido completamente sua eficácia, em razão de várias igrejas e pastores receberem como membros àqueles que vêm excluídos de outras comunidades co-irmãs.

O crente excomungado (apartado da comunhão) em uma igreja frustra o seu próprio processo disciplinar transferindo-se para outra igreja local, que, o receberá em sua comunhão, sem nenhum respeito pela ação disciplinar da igreja da qual o crente em estado de excomunhão é oriundo.

O efeito de tal prática é desmoralizante para a Igreja de Cristo e para os ministros do Evangelho. Já vi gente suspeitando que essa prática, em alguns casos, tem em vista o aumento de receita financeira por parte do pastor que desrespeita a decisão disciplinar de uma igreja co-irmã.

Os prejuízos causados por essa prática são muitos.

Primeiro: Torna trivial a prática de igreja desmoralizar igreja. Para Calvino um dos propósitos da disciplina eclesiástica é “Preservar a honra de Deus através da Igreja”.

Segundo: Promove o descaso da membrezia para com qualquer ação disciplinadora por parte da igreja local. Os crentes sabem que, se forem excluídos de sua igreja, serão recebidos por alguma outra ávida por números.

Fica perdido um dos propósitos da excomunhão, que é infundir na congregação o temor do pecado (1Tim.5:20). O objetivo de “evitar a corrupção dos piedosos” (Calvino), fica completamente comprometido.

Terceiro: Promove o endurecimento do membro excomungado, que perde uma das marcas mais importantes de um eleito que é um profundo respeito para com as igrejas de Cristo.

A excomunhão tem dois propósitos claros:

1) “… foi instituída a fim de que sejam afastados e expulsos da congregação dos crentes aqueles que, falsamente, simulando fé em Cristo, pela indignidade da vida e licenciosidade desenfreada de pecado, nada mais são do que um escândalo para a Igreja, sendo, portanto, indignos de se gloriar no nome de Cristo”. (Calvino).

2) Mas a excomunhão é também um meio de forçar o arrependimento “… embora a disciplina eclesiástica não nos permita viver com familiaridade com pessoas excomungadas ou ter íntimo contato com elas (1Cor.5:11), todavia devemos… pela exortação, ensino… (e) orações (pedir) a Deus para que elas possam (arrependidas) retornar a comunhão da Igreja”.

Ao desrespeitar a ação disciplinadora de uma igreja co-irmã, o pastor e a igreja recptora estão praticando uma ofensa ao Senhor da Igreja, pois frustram um processo recomendado por ele e pelos seus apóstolos, que deve ser exercido sobre pessoas endurecidas com, pelo menos, três objetivos:

1) “a fim de que eles não sejam contados entre os cristãos… como se a Igreja fosse uma conspiração de malfeitores e homens notoriamente ímpios. 2) A fim de que, por relacionamentos freqüentes, eles não corrompam outros pelo exemplo de uma vida perversa. E 3) Para que possam começar a se arrepender consternados pela vergonha…” (Richard de Rider citado por Heber Campos Jr./Fides Reformata Vol.X nº1/2005)

Portanto “a liderança da congregação local faz bem em lembrar-se de que o Senhor irá requerer de suas mãos uma prestação de contas. (…) Aquilo que o membro disciplinado faz, torna-se responsabilidade pessoal dele; aquilo que os líderes deixam de fazer é, inevitavelmente, responsabilidade deles…” (L. de Koster).

Calvino distinguiu três marcas nos eleitos: “Confissão de fé, exemplo de vida e participação nos sacramentos”, marcas que ligam visivelmente o crente a igreja de Cristo. Martin Bucer, e os calvinistas depois de Calvino, asseveravam que a disciplina eclesiástica é uma das marcas de uma verdadeira igreja de Cristo.

Essas marcas só se tornam visíveis no contexto de uma igreja local (visível). É no seu âmbito que o eleito faz declaração de sua fé, participa do batismo e da ceia do Senhor, e é também ali onde ele é submetido a disciplina, quando a marca de uma vida exemplar dá lugar a um endurecimento pecaminoso.

“Para o protestantismo, a igreja universal torna-se visível na congregação local, é ali que o poder das chaves é exercido e a disciplina administrada”.(L.deKoster) (Mt.16:19).

Se “Cristo governa a Igreja por meio da Igreja” (Ernest Kevan), o desrespeito praticado por pastores e igrejas que desconsideram as ações disciplinadoras de outras igrejas, é desrespeito contra o governo de Cristo.

As Igrejas e pastores que passam por cima de medidas disciplinatórias de igrejas co-irmãs estão em completo desacordo com o Novo testamento. Não faria sentido a Escritura ensinar a uma igreja local “… sobre a importância de manter a integridade da Igreja ao lidar com pecado persistente na congregação” (Franklin Ferreira/Alan Myatt) e ao mesmo tempo não julgar a insolência de uma outra igreja local que, abertamente, descredencia a decisão disciplinatória de outra.

“Em Mt.18:15-20 Jesus disse que um irmão em pecado deve ser confrontado, reprovado e excluído da igreja, caso não se mostre arrependido” (Teol.Sistemática Franklin Ferreira/Alan Myatt). Essa recomendação perde totalmente sua eficácia, se os pastores não tomarem a firme resolução de respeitarem as ações disciplinares de outras igrejas, praticando a troca de cartas de transferências, E-Mail’s, telefonemas, enfim buscarem, junto a igreja de origem o histórico de crentes que chegam.

Em caso de membros em situação de pendência disciplinar, recomendar que retornem e resolvam as pendências existentes, e só então, recebê-los como novos membros, nunca antes disso.

“Se os membros fossem aceitos nas igrejas baseadas simplesmente nas declarações destes que desejam ser membros haveria grande potencial para o mal. Pois então cada ‘Cristão carnal’ que tivesse sido excluído de uma igreja por impiedade ou heresia, poderia simplesmente ir para uma outra igreja, proclamando-se um cristão bom e espiritual, e teria que ser recebido como um membro”. (Davis W. Huckabee).

O episódio envolvendo Ananias e Safira em Atos 5:1-11 nos ensina a seriedade do pecado deliberado, enquanto 1 Coríntios 5:1-5 nos adverte para a gravidade do pecado tolerado. A atitude de desrespeitar uma igreja de Cristo, recebendo como membro uma pessoa excomungada pela mesma, desmoraliza a noção de seriedade que se deve ter para com o pecado, enquanto rouba-se de uma igreja de Cristo o respeito que lhe é devido.

“É uma triste verdade que muitas igrejas, em seu zelo por números, põem de lado a disciplina das igrejas co-irmãs quando propositalmente recebem membros excluídos de outras igrejas sem requerer que o membro excluído corrija a sua situação com a igreja anterior”. (Davis W. Huckabee).

É bom lembrar que, as verdadeiras igrejas estão diante do Senhor, os que promovem tal prática desmoralizante, certamente receberão severa reprovação dEle.

“… se cada igreja requeresse carta de recomendação das igrejas co-irmãs antes de aceitar um novo membro, e somente fizesse exceção a esta regra após uma completa verificação das circunstâncias… então diminuiria, e muito, a destruição das igrejas por pessoas mundanas que se mudam de igreja em igreja como andarilhos maldosos destruindo [ou contaminando] uma igreja após outra…” (D.W.Huckabee).

Na verdade os pastores deveriam ser exemplos para o rebanho de Cristo no cumprimento de 2 João 10-11 e não buscarem proveito numérico na desobediência.

“Não pode haver uma igreja sem disciplina eclesiástica” (Martin Bucer).

Fonte: Blog Fiel

Por que podemos ter certeza da salvação


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

Os estudiosos dizem que a Carta de Paulo aos Romanos é a cordilheira do Himalaia de toda a revelação bíblica. Se Romanos é a cordilheira do Himalaia, então, Romanos 8 é o pico do Everest. Em Romanos 8.29,30 Paulo faz cinco afirmações gloriosas, que são o fundamento da certeza da nossa salvação.

1. Deus nos conhece de antemão (Rm 8.29). Antes de Deus lançar os fundamentos da terra, acender as estrelas no firmamento e chamar à existência as coisas que não existiam, Deus já havia colocado o seu amor em nós, e nos conhecido como seu povo amado. O verbo conhecer tem o mesmo significado de “amar”. O amor de Deus é eterno, imutável e incondicional. Ele nos amou em Cristo, seu Filho amado, desde toda a eternidade.

2. Deus nos predestina para a salvação (Rm 8.30). Não fomos nós que escolhemos a Deus, foi ele quem nos escolheu. Nós amamos a Deus porque ele nos amou primeiro. Deus nos predestinou não porque previu que iríamos crer em Cristo, cremos em Cristo porque ele nos predestinou. A fé não é causa da eleição divina, é sua consequência. Eu não fui eleito porque cri, eu cri porque fui eleito. Deus não nos predestinou porque previu que iríamos ser santos. Nós fomos eleitos não por causa da santidade, mas para sermos santos e irrepreensíveis. A santidade não é a causa da eleição, mas seu resultado. Deus não nos elegeu para a salvação porque previu nossas boas obras, mas fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras. As boas obras não são a causa da predestinação, mas sua consequência. A nossa salvação é obra exclusiva de Deus para que toda a glória pertença a Deus.

3. Deus nos chama com santa vocação (Rm 8.30). Aqueles a quem Deus conhece e predestina, a esses também Deus chama e chama eficazmente. Há dois chamados: um externo e outro interno; um geral e outro específicio; um dirigido aos ouvidos e outro dirigido ao coração. Jesus diz que as suas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem. A voz de Deus é poderosa. Os eleitos de Deus podem até resistir a essa voz temporariamente, mas não finalmente. O mesmo Deus que nos elege na eternidade, tira as vendas dos nossos olhos, o tampão dos nossos ouvidos, retira o nosso coração de pedra e nos dá um coração de carne. Ele mesmo opera em nós o querer e o realizar, abrindo nosso coração, dando-nos o arrependimento para a vida e a fé salvadora.

4. Deus nos justifica conforme sua graça (Rm 8.30). Aos que Deus conhece, predestina e chama, também justifica. A justificação é um ato e não um processo. Acontece fora de nós, no tribunal de Deus, e não em nós. A justificação não tem graus, todos os que creem em Cristo estão justificados de igual modo diante do tribunal de Deus, por causa do sacrifício substitutivo de Cristo. Aqueles que estão justificados estão quites com a justiça de Deus e com as demandas da lei de Deus. Não pesa sobre eles mais nenhuma condenação. Toda a infinita justiça de Cristo é deposita em sua conta.

5. Deus nos glorifica para a bem-aventurança eterna (Rm 8.30). Aqueles que são amados e predestinados na eternidade e salvos no tempo desfrutarão da bem-aventurança eterna. Embora, a glorificação dos salvos seja um fato futuro, que se dará na segunda vinda de Cristo, na mente de Deus e nos decretos de Deus já é um fato consumado. Aqueles que crêem em Cristo e estão guardados nele têm a garantia do céu. Nada nem ninguém poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo. O apóstolo Paulo diz que aquele que começou a boa obra em nós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus. Que Deus seja louvado por tão grande salvação!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para que filiar-se a uma igreja?


Por Mark Brown e Larry Wilson

Alice estava lívida! Era a primeira vez que visitava aquela igreja, “e também a última”, pensou ela. A igreja tinha celebrado a Ceia do Senhor.

— Sou crente já faz quatro anos e o pastor teve o desplante de me mandar ficar de fora da comunhão! Fumegou ela.

— Ele disse que quem estivesse com problemas com Deus ou com a Sua igreja que tratasse de resolvê-los antes de poder participar da mesa do Senhor, e me incluiu nisso somente porque não sou membro de igreja. Que ousadia!

Não é raro em nossos dias que crentes sinceros em Cristo, como Alice, pensem que filiar-se a uma igreja seja uma questão de opção. E, diante de tantas outras opções — livros, fitas de áudio e vídeo, programas de rádio e TV, recursos da Internet, grupos paraeclesiásticos, etc. — filiar-se à igreja está lá no final da lista, se é que está na lista! Muitos jamais levaram em conta que o compromisso com uma congregação tenha lá toda essa importância, ou que seja assim tão agradável. Quase sempre ficam chocados quando ouvem que historicamente os cristãos consideram que seja essencial, e não opcional, filiar-se à igreja.

Seria arbitrária esta histórica convicção cristã? Seria legalista? O que é que a Bíblia tem a dizer sobre ser membro de uma igreja? Achamos que ela diz o suficiente. Portanto, considere conosco dez razões bíblicas por que todo cristão declarado deve filiar-se a uma igreja local.

Filiar-se à igreja é ordem de Jesus

Em primeiro lugar, o nosso Senhor Jesus Cristo ordenou aos Seus seguidores que se filiassem à igreja. Em Mateus 16.18, Jesus diz aos Seus discípulos: “eu edificarei a minha igreja”. Ele descreve a igreja como o templo da nova aliança, e todos os que confessam que Jesus é o Senhor são as pedras desse edifício (Mt 16.16; 1Pe 2.5; Ef 2.19-20).

Em Mateus 28.19-20, Jesus confirma e amplia a sua declaração anterior ao ordenar aos Seus seguidores que façam discípulos, batizando-os e ensinando-os depois. O cumprimento dessa grande comissão resulta na inclusão dos convertidos à igreja. Por que dizemos isso? Porque a ordenança do batismo faz parte da grande comissão. Conquanto o batismo do Espírito Santo nos acrescente à igreja invisível (1Co 12.13), não devemos manter invisível a nossa salvação, temos que expressá-la externamente (Rm 10.9-10). O batismo de água, externo e visível, simboliza esta realidade invisível.

Atos 2.41 descreve como a igreja apostólica pôs esse princípio em prática: “Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”. Houve um acréscimo a que? Atos 2.27 dá a resposta: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”. Essa era a igreja visível, os apóstolos acompanhavam atentamente quem eram os batizados e até os contavam.

Cristo ordenou que fôssemos batizados. Ao ordenar que sejamos batizados, ordena-nos que também sejamos acrescentados à igreja. Noutras palavras, Ele ordena que nos filiemos à igreja, deseja que o nosso relacionamento com Ele seja honesto e perceptível (Mt 10.32) e que seja também um relacionamento corporativo (Hb 10.24-25).

O Velho Testamento ensina a filiação eclesiástica

Em segundo lugar o Velho Testamento ensina que os crentes devem se filiar à igreja. Os israelitas eram o povo da velha aliança de Deus. Deus ordenara a circuncisão como selo daquela relação pactual, e como sinal de membro da comunidade do pacto (Gn 17.7, 10-11). O Novo Testamento identifica essa velha comunidade da aliança como “a igreja” (At 7:38 – TB[1]).

Se você fosse estrangeiro teria que ser circuncidado para se tornar membro de Israel antes de poder celebrar a Páscoa (Êx 12.43-44, 48). Noutras palavras, você teria que se “filiar à igreja” antes de poder participar da mesa do Senhor. Se não fosse circuncidado, não interessaria a sua história nem a sua fé subjetiva, você seria excomungado do meio do povo de Deus (Gn 17:14).

Pode ver o paralelismo com o Novo Testamento? O batismo é a circuncisão do Novo Testamento (Cl 2.11-12) e marca a sua entrada na nova comunidade do pacto, a igreja (Gl 3.27, 29; 6:15-16; Fp 3.3). A Ceia do Senhor é agora a nova Páscoa do pacto (cf. Mt 26.17-19; 1Co 5:7). Assim, da mesma maneira que era necessário ser circundado para se tornar membro de Israel antes de poder celebrar a Páscoa, do mesmo modo é necessário tornar-se membro da igreja antes de poder participar da Ceia do Senhor. Por isso é que, os que “foram batizados” e “acrescentados à igreja” eram os que participavam do partir do pão com os apóstolos (At 2.41-42; 47).

A filiação eclesiástica é inferência Neotestamentário

Terceira, o Novo Testamento pressupõe que todo convertido filia-se à igreja. A conversão inclui ser acrescentado à igreja local visível (At 2.41,47; 14.21-23). Era impensável que alguém pudesse abraçar a Cristo e optar depois por não se filiar à igreja do Senhor. Na verdade quem não era membro da igreja era considerando como incrédulo (Mt 18.17). O cristianismo bíblico é intensamente pessoal, sempre, mas nunca particular e individualista.

O Novo Testamento enfatiza vigorosamente o caráter corporativo ou grupal do cristianismo. Ele fala do ajuntamento dos crentes como sendo, por exemplo, o corpo de Cristo, a noiva de Cristo, a família da fé, o templo do Espírito Santo, a comunhão dos santos, a nação santa, o povo de Deus, a família de Deus, etc. Nos dias dos apóstolos, todo convertido filiava-se à igreja, senão o fizesse, não era considerado convertido.

A filiação eclesiástica é parte integrante da salvação

Quarta, o conceito bíblico de salvação envolve ser membro de igreja. Na Bíblia, vir a Cristo e à Sua igreja é uma coisa só, não duas. As pessoas hoje recebem a Cristo numa campanha de evangelização e só depois é que decidem se vão ou não se filiar a uma igreja. Algumas vezes nunca o fazem. A Palavra de Deus, no entanto, considera que vir a Cristo e filiar-se à Sua igreja são os dois lados de uma mesma coisa: assim como o lado de dentro e o lado de fora da salvação como um todo.

Internamente, você se volta para Deus e clama para que Ele lhe salve por meio do sangue e da justiça de Jesus Cristo.

Externamente, você se identifica como pertencendo a Cristo pela profissão da sua fé diante da igreja e na adoração, aprendizado e testemunho contínuos juntamente com a assembléia (Rm 10.9-10; Mt 10.32; At 2.41-42; Hb 10.25). Fazer parte de Cristo é, na Bíblia, fazer parte do corpo de Cristo (1Co 12.13, 27; Rm 12.5; Ef 5.29-30). Biblicamente, os cristãos servem a Cristo, não em isolamento auto-suficiente, mas como membros vivos do Seu corpo.

A filiação eclesiástica patenteia a ordem eclesiástica

Quinta, as tantas prescrições bíblicas sobre ordem na igreja deixam claro que Deus espera que os crentes se filiem às igrejas locais. Deus estabelece requisitos de admissão (At 2.47), provê meios de expulsão da igreja (Mt 18.17; 1Co 5.4-5), ordena que haja líderes (ou oficiais) como pastores, presbíteros e diáconos (Ef 4.11-12; At 14.23; 1Tm 3.1-13). Só este último fato já evidencia que os crentes terão que se filiar à igreja. Pois, como é que haveria oficiais se não houvesse membros para elegê-los e seguir? De onde é que viriam pastores, presbíteros e diáconos? Para que serviriam eles?

Em I Timóteo, depois de dar instruções sobre a oração no culto público (2.1-8), sobre as mulheres no culto público (2.9-15) e sobre a eleição de presbíteros e diáconos (3.1-13), o apóstolo Paulo explica: “para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (3.15). Tais regras seriam inúteis, se os crentes não fossem membros de igrejas locais organizadas.

Muitos mandamentos bíblicos denotam filiação eclesiástica

Sexta, há muitas outras instruções bíblicas que só podem ser obedecidas se você for membro de igreja. Cristo instrui os Seus seguidores para que celebrem a Ceia do Senhor (Lc 22.19). Mas a Mesa do Senhor está posta apenas para os que são membros batizados de Sua igreja (veja abaixo a segunda razão).

Deus ordena que os cristãos amem a seus irmãos e os sirvam (Gl 6.2; 1Pe 3.17; 1Jo 3.14). Mas como é possível reconhecer os irmãos? Alguns se dizem crentes, e não o são. Como é que os crentes podem reconhecer a outros se não for pela identificação de pertencerem a uma igreja visível que prega o evangelho?

O que prevalece hoje é um espírito de autonomia que despreza a autoridade. Isso não é nada novo (2Pe 2.10). Mas Deus ordena aos Seus filhos redimidos que “acateis com apreço os que [...] vos presidem no Senhor e vos admoestam” (1Ts 5.12) e que “obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles” (Hb 13.17). Mas como será isso possível se você não se filiou à igreja que eles supervisionam? De que outra maneira seria possível saber quem são aqueles a quem Deus colocou sobre você?

Poderíamos dar muitos outros exemplos, mas esses devem bastar para mostrar que existem muitos outros mandamentos bíblicos que os crentes só podem obedecer se estiverem filiados à igreja. Destarte, recusar-se a se filiar à igreja de Jesus Cristo torna a pessoa culpa de inúmeros pecados de omissão, e de desobediência ao Senhor.

O cuidado pastoral exige filiação eclesiástica

A nossa sétima razão relaciona-se à sexta, mas achamos que será útil citá-la em separado. Seria impossível cuidar biblicamente da ovelha de Cristo sem a filiação à igreja. Deus ordena que os presbíteros pastoreiem o Seu rebanho no exercício do cuidado e da supervisão pastoral. A igreja é o rebanho que o Senhor deixou aos cuidados deles (At 20.28; 1Pe 5.1-4). Eles têm que concentrar a atenção naqueles que se filiaram à igreja sobre a qual Deus os fez supervisores (1Co 5.12). Os que visitam à igreja, porém, não estão sob a jurisdição dos presbíteros. Se não se filiarem a ela, como é que poderão ser pastoreados adequadamente? Além do mais, o bom pastor conhece as suas ovelhas pelos seus nomes e é também conhecido por elas (Jo 10.3-4, 14). Os que estão sob o seu pastorado não precisariam fazer o mesmo (1Pe 5.1-4)? Como poderão pastorear o rebanho se não souberem quem faz parte dele?

Em Mateus 18.15-18 o nosso Senhor Jesus ensina aos Seus discípulos como devem lidar com o pecado e o conflito no corpo de Cristo. Se um cristão professo está em pecado e nele persiste teimosamente sem se arrepender, a igreja deverá excomungá-lo e considerá-lo como um incrédulo (cf. 1Co 5). Se se arrepender deverá ser restaurado (2Co 2.5-11). O objetivo principal da disciplina é o socorro e a restauração (Gl 6.1). Mas como seria possível essa prática à igreja se não houvesse uma distinção objetiva entre os que são “de dentro” e os que são “de fora” (1Co 5.12-13)? É impossível obedecer às instruções de Cristo sobre a supervisão pastoral e a disciplina eclesiástica se os crentes não se tornarem membros de igreja.

A vida prática da igreja abrange a filiação eclesiástica

Oitava, há muitas questões de ordem prática que a igreja não pode realizar bem sem a filiação eclesiástica objetiva. Deus ordena que “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1Co 14.40). As igrejas precisam levantar pastores, eleger presbíteros e diáconos, definir orçamentos, comprar propriedades, construir locais de reunião, etc. São decisões importantes. Mas sem membros objetivamente definidos, como seria possível decidir de modo justo — “com decência e ordem” — quem tem ou não o privilégio de votar?

O evangelismo bíblico exige a filiação eclesiástica

Nona, é impossível o evangelismo bíblico sem a filiação eclesiástica. A maior parcela do evangelismo de hoje reforça o tomar decisões. Jesus, no entanto, nos ordena a fazer discípulos. O medidor bíblico do sucesso evangelístico não está marcando um grande número de decisões professadas, só está alistando pessoas nos privilégios e nas responsabilidades de seguir a Cristo. Biblicamente o evangelismo só estará completo quando os convertidos estiverem matriculados na escola de Cristo e abraçados ao seio da família visível dos crentes (Mt 28.19-20; cf. 1Co 12:13; At 2.41, 47).

O amor de Deus clama pela filiação eclesiástica

Décima e última, o grande amor de Deus pela igreja convida os crentes a que se filiem à igreja. A Bíblia reforça repetidamente o quão vital e importante é a igreja para o Deus vivo e Trino.

A igreja estava no coração de Deus na Sua obra de criação (Ef 3.9-11). A igreja estava no coração de Deus, na Sua obra de salvação (Mt 16.18; Ef 5.25). A igreja tem a promessa da Sua presença especial (Hb 2.12; Mt 18.20). Se a igreja é tão importante para o Senhor, também não deveria ser para todos aqueles que O amam? Como é que você pode amar ao Senhor e ao mesmo tempo se desviar para longe daquilo que o Senhor ama? Será que isso não quer dizer que todo o crente tem que se identificar abertamente com a igreja de Cristo?

Sobre os autores: Os autores são pastores da Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC) nos Estados Unidos. O Rev. Brown é ministro da OPC em Westminster, Hollidaysburg (Pennsylvania) e o Rev. Wilson é o Secretário Geral do Comitê de Educação Cristã.

Fonte: Projeto Os Puritanos Via: Eleitos de Deus

Quando a liberdade cristã vira pedra de tropeço


Por André Sanchez

A Bíblia diz que Jesus Cristo nos deu a verdadeira liberdade. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou...” (Gl 5. 1). Essa liberdade é diretamente oposta à escravidão que vivíamos quando no pecado. No entanto, temos visto um grande número de crentes fazendo mau uso de sua liberdade. Usam a sua liberdade de forma destrutiva, como uma espada que fere e até mata pessoas.

Isso acontece quando a liberdade que Cristo nos deu é usada fundamentada no egoísmo. Quando consideramos que apenas o que importa é o exercer dos nossos direitos sem importar-se com nada nem ninguém. Deixe-me exemplificar esse tipo de mau uso da liberdade:

Há muito tempo venho vendo pessoas defendendo o uso “social” do álcool (falo aqui do contexto do Brasil). Dizem que a Bíblia proíbe apenas a embriaguez. Até certo ponto isso é verdade (o que fica difícil é saber onde começa a embriaguez). No entanto, a maioria dessas pessoas usam a sua liberdade de forma totalmente egoísta.

Fazem isso quando não analisam a cultura ao seu redor, quando não pensam nos fracos na fé, naqueles que não conhecem a Deus e que associam a bebida à embriaguez e, logo, alguém que bebe com alguém que não é exemplo de bom cristão. Quando não pensam nos [milhares] de alcoólatras que deixaram ou que ainda estão lutando contra a bebida e que precisam de um referencial. Quando não pensam nos mais jovens que podem ter propensão ao uso descontrolado e prejudicial do álcool...

As situações não se limitam ao uso do álcool. Avança além. Poderia citar mais algumas situações como exemplos: (uso de tatuagens, de piercing, a decisão de frequentar determinados lugares, a moda, a música, o uso das redes sociais na Internet etc.).

Paulo enxergava situações como estas de uma forma muito profunda. Via o bom uso da liberdade cristã como algo essencial: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos.” (1Co 8. 9). Paulo chega a afirmar que a liberdade o levava até a rejeitar, se necessário, os seus direitos mais dignos e básicos, em prol do bem estar e do crescimento do próximo: “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.” (1Co 8. 13)

No entanto, infelizmente, uma grande quantidade de crentes egoístas quer mesmo é exercer seus direitos, sua liberdade. Isso é muito triste, pois o nosso maior exemplo de abnegação, Jesus Cristo, não tem sido seguido quando a questão é abnegação, amor pelo próximo. O cristão que não é capaz de abdicar de seus direitos, da sua liberdade em favor do próximo, precisa rever seus conceitos!

Quando for fazer algo em sua vida, avalie sempre a repercussão que isso pode trazer e avalie se vale à pena fazer. Avalie se essa ação resultará em um mau testemunho, mesmo que seja um direito seu. Alguém será impactado negativamente com isso que vou fazer? Poderei afastar da fé pessoas iniciantes, que ainda não tem um sólido fundamento em suas vidas?

Tenho em meu coração uma palavra bastante dura de Jesus, mas que me deixa alerta com relação as minhas atitudes: “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mt 18. 6-7)

Irmãos, a nossa responsabilidade é grande perante as outras pessoas. Devemos ser luz e não pedras para tropeço! O que vale mais? O seu direito e liberdade ou o amor sacrificial pelo próximo?

O Dízimo e os Cristãos


No seu entender, o que a Bíblia ensina a respeito do dízimo no que se refere aos cristãos hoje?

Por R. C. Sproul

Há muitas pessoas que creem que o dízimo não é mais um encargo sobre os crentes porque é um mandamento do Antigo Testamento que não está especificamente repetido no Novo Testamento.

Embora isso fosse parte da lei do pacto de Israel no Antigo Testamento, não creio que tudo que Deus exige de seu povo no Antigo Testamento esteja cancelado se o Novo Testamento silencia a respeito. Eu diria que se o dízimo foi cancelado deveríamos ter um ensino explícito no Novo Testamento afirmando que o dízimo não está mais em vigor. O dízimo era uma responsabilidade central na economia da velha aliança, e teria sido transportado, principalmente quando entendemos que a comunidade da nova aliança foi estabelecida principalmente entre judeus, que continuariam a praticá-lo, a não ser que lhes dissessem que o dizimo não era mais necessário. Eu diria que na ausência de uma palavra de repúdio, o dízimo continua válido no Novo Testamento.

Quando Jesus estava na terra, e a nova aliança ainda não tinha sido estabelecida, ele abençoou os fariseus por seus dízimos. Eles dizimavam a hortelã e o cominho, o que significa que eles dizimavam até as menores coisas. A maioria dos dízimos no Antigo Testamento era paga com bens da agricultura ou do rebanho – era uma sociedade agrária. Mas os fariseus eram tão escrupulosos a respeito de dar os dez por cento a Deus que, se plantavam um pouco de salsa no quintal, eles dizimavam isso também. É como se você achasse dez centavos no chão e fizesse questão de entregar um centavo a Deus. Jesus disse que esses homens eram tão escrupulosos que pagavam até o último centavo, e Jesus os cumprimentou por isso (Lc 11.42).

Quando o Novo Testamento se refere a dar, fala em dar da sua abundância e do espírito de gratidão do seu coração. Sempre que as duas alianças ou pactos são comparados, particularmente no livro de Hebreus, somos ensinados que o Novo Testamento é uma aliança muito mais rica. Os benefícios que recebemos como cristãos, excedem em muitos os benefícios que o povo da velha aliança gozava. Mas também segue-se que as responsabilidades do povo do Novo Testamento também excedem as responsabilidades do povo do Antigo Testamento. Nós estamos numa situação melhor. Eu diria que o dizimo não é um alto padrão fundamental para o super-cristão, mas é o alicerce. É o ponto de partida para uma pessoa que está em Cristo e que compreende alguma coisa dos benefícios que recebe de Deus.

Fonte: Boa Pergunta (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999), R. C. Sproul, p. 285-286.

Via – Monergismo.com e: O PRINCIPAL DOS PECADORES

Só o que Deus Revelou Basta


Por C. H. Spurgeon

Não precisamos de nada mais do que aquilo que Deus achou por bem revelar. Certos espíritos errantes nunca estão em casa até que estejam viajando pelo exterior: têm fome de algo que nunca encontrarão "no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra" (Êx 20.4) enquanto tiverem o pensamento que têm agora. Nunca descansam, porque não querem ter nada que ver com uma revelação infalível, por isso, eles estão fadados a perambular através do tempo e da eternidade e a não encontrar nenhuma cidade em que possam descansar. Pois, no momento, eles se gloriam como se satisfeitos com seu último brinquedo novo, mas em poucos meses o esporte deles será quebrar em pedaços todas as noções que anteriormente prepararam com cuidado e exibiram com deleite. Sobem um morro apenas para descê-lo de novo. De fato, dizem que a busca da verdade é melhor do que a própria verdade. Gostam de pescar mais do que do peixe; o que pode bem ser verdade, visto que seus peixes são muito pequenos e cheios de ossos.

Esses homens são tão profícuos em destruir suas teorias, como certos indigentes em esfarrapar suas roupas. Mais uma vez começam de novo, vezes sem conta; sua casa está sempre com os alicerces expostos. Devem ser bons em inícios, pois desde que os conhecemos sempre estão começando. São como aquilo que roda no redemoinho, ou "como o mar agitado, incapaz de sossegar e cujas águas expelem lama e lodo" (Is 57.20). Embora sua nuvem não seja aquela que indica a presença divina, contudo está sempre andando à frente deles e suas tendas nem estão bem armadas e já é tempo de levantar de novo as estacas. Esses homens nem mesmo procuram certeza; seu céu é evitar toda verdade fixa e seguir toda quimera de especulação; estão sempre aprendendo, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade.

Quanto a nós, lançamos âncora no abrigo da Palavra de Deus. Eis aí nossa paz, nossa força, nossa vida, nosso motivo, nossa esperança, nossa felicidade. A Palavra de Deus é nosso ultimato. Aqui nós o temos. Nosso entendimento clama: "Encontrei"; nossa consciência afirma que aqui está a verdade; e nosso coração encontra aqui um suporte ao qual toda sua afeição pode se agarrar e, por isso, descansamos contentes.

A revelação de Deus é suficiente para nossa fé

O que poderíamos acrescentar se a revelação de Deus não fosse suficiente para nossa fé? Quem pode responder essa pergunta? O que qualquer pessoa proporia acrescentar à Palavra sagrada? Um momento de reflexão nos levaria a escarnecer das mais atraentes palavras de homens, se fosse proposto acrescentá-las à Palavra de Deus. O tecido não estaria em uma peça única. Você adicionaria remendos a uma veste real? Você guardaria a sujeira das ruas no tesouro do rei? Você juntaria as pedrinhas da praia aos diamantes preciosos da antiga Golconda? Qualquer coisa que não seja a Palavra de Deus posta diante de nós para que creiamos e preguemos como se fosse a vida do homem nos parece totalmente absurda, contudo, enfrentamos uma geração de homens que sempre querem descobrir uma nova força motriz e um novo evangelho para suas igrejas. A manta de sua cama parece não ser suficientemente longa, e eles querem pegar emprestado um metro ou dois de tecido misto e incongruente dos unitaristas, agnósticos ou mesmo dos ateístas.

Bem, se existe qualquer força espiritual ou poder dirigido aos céus, além daquele relatado nesse Livro, acho que podemos passar sem ele. Na verdade, deve ser uma falsificação tão grande que estamos melhor sem ela. As Escrituras em sua própria esfera são como Deus no universo--Todo-suficiente. Nelas estão reveladas toda a luz e poder que a mente do homem pode precisar em relação às coisas espirituais. Ouvimos falar de outra força motriz além daquela encontrada nas Escrituras, mas cremos que tal força é um nada muito pretensioso. Um trem está descarrilado, ou incapaz de prosseguir por outro motivo, quando chega a turma do conserto. Trazem locomotivas para tirar o grande impedimento. A princípio parece que nada se mexe: a força da locomotiva não é suficiente. Escutem! Um garotinho tem uma idéia. Ele grita: "Pai, se eles não têm força suficiente, eu empresto meu cavalo de balanço para ajudá-los". Ultimamente, recebemos a oferta de um considerável número de cavalos de balanço. Pelo que vejo, eles não têm conseguido muito, mas prometeram bastante. Temo que o efeito disso tenha sido mais maléfico que benéfico: eles já levaram pessoas a zombar e as retiraram dos lugares de culto que antes gostavam de freqüentar. Os novos brinquedos foram exibidos, e as pessoas, depois de olhá-los um pouco, foram adiante, à procura de outras lojas de brinquedos. Esses belos e novos nadas não lhes fizeram bem nenhum e nunca farão enquanto o mundo existir.

A Palavra de Deus é suficiente para atrair e abençoar a alma do homem ao longo dos tempos; mas as novidades logo fracassam. Alguém pode bradar: "Certamente, precisamos acrescentar nossos pensamentos a isso". Meu irmão, pense o que quiser, mas os pensamentos de Deus são melhores do que os seus. Você pode ter lindos pensamentos, como as árvores no outono soltam suas folhas, mas há alguém que sabe mais sobre seus pensamentos do que você e os julga de pouco valor. Não é verdade que está escrito: "O Senhor conhece os pensa-mentos do homem, e sabe como são fúteis?" (Sl 94.11). Comparar nossos pensamentos aos grandes pensamentos de Deus, seria total absurdo. Você traria sua vela para mostrá-la ao sol? O seu nada para reabastecer o todo eterno? É melhor calar diante do Senhor, do que sonhar em complementar o que ele falou. A Palavra do Senhor está para a concepção dos homens como um pequeno jardim, para o deserto. Mantenha-se no escopo do livro sagrado e estará na terra que mana leite e mel; por que tentar lhe acrescentar as areias do deserto?

Oração e Predestinação


Um diálogo entre aquele que ora e aquele que não ora

Por John Piper

Aquele que não ora: Entendo que você crê na providência de Deus. Estou certo? Aquele que ora: Sim.

Aquele que não ora: Isso significa que você crê, como declara o Catecismo de Heidelberg, que nada acontece por acaso, mas tão-somente pelo desígnio e plano de Deus?

Aquele que ora: Sim, creio que a Bíblia ensina isso. Jó orou: "Nenhum dos teus planos pode ser frustrado" (Jó 42.2). Existem vários textos como este.

Aquele que não ora: Então, por que você ora?

Aquele que ora: Não vejo o problema. Por que não devemos orar?

Aquele que não ora: Bem, se Deus ordena e controla tudo, o que Ele planejou no passado acontecerá, certo?

Aquele que ora: Sim.

Aquele que não ora: Logo, isso acontecerá, quer você ore, quer não. Correto?

Aquele que ora: Depende de haver Deus determinado que isso aconteça em reposta à oração. Se Deus predestinou que algo aconteça em resposta à oração, isso não acontecerá sem oração.

Aquele que não ora: Espere um minuto, isto é confuso. Você está dizendo que toda resposta à oração é predeterminada?

Aquele que ora: Sim, é. É predeterminada como resposta à oração.

Aquele que não ora: Isto significa que, se a oração não for apresen¬tada a Deus, a resposta deixará de acontecer?

Aquele que ora: Isso é correto.

Aquele que não ora: Assim, o acontecimento é contingente à nossa oração para que se realize?
Aquele que ora: Sim. Entendo que, por contingente, você está dizendo que oração é o verdadeiro motivo por que a resposta acontece e que sem a oração a resposta não aconteceria.

Aquele que não ora: Sim, é isso que estou dizendo. Mas, como pode uma resposta ser contingente à minha oração e ainda estar eternamente determinada e predestinada por Deus?
Aquele que ora: Porque a sua oração é tão predeterminada como a resposta.

Aquele que não ora: Explique.

Aquele que ora: Não é complicado. Deus ordenou providencialmente todos os acontecimentos. Ele nunca ordena um acontecimento sem uma causa. A causa é também um acontecimento. Por isso, a causa é ordenada de antemão. Consequentemente, você não pode dizer que o acontecimento se realizará, se a causa não acontecer, porque Deus ordenou as coisas de modo contrário. O acontecimento se realiza, se a causa acontece.

Aquele que não ora: Você está dizendo que respostas à oração são sempre ordenadas como efeitos da oração, que é uma das causas, e que Deus predestinou a resposta somente como um efeito da causa.

Aquele que ora: Isso está correto. Visto que tanto a causa como o efeito são ambos ordenados ao mesmo tempo, você não pode dizer que o efeito acontecerá, ainda que não haja a causa, porque Deus não ordena efeitos sem causas.

Aquele que não ora: Pode me dar alguns exemplos?

Aquele que ora: Com certeza. Se Deus predestinou que eu morra com um tiro de revólver, eu não morrerei se nenhuma bala for disparada. Se Deus predestinou que eu seja curado por meio de uma cirurgia, e eu não me submeto a tal tratamento, não serei curado. Se Deus predestinou que o fogo consuma a minha casa, por meio de um incêndio, se não há nenhum fogo, não há incêndio. Você diria: "Se Deus predestinou que o sol seja brilhante, ele será brilhante, quer haja fogo no sol, quer não"?

Aquele que não ora: Não.

Aquele que ora: Concordo. Por que não?

Aquele que não ora: Por que o brilho do sol resulta do fogo.

Aquele que ora: Certo! Isto é o que eu penso sobre as respostas à oração. Elas são o brilho, e a oração, é o fogo. Deus estabeleceu o universo de modo que, em grande medida, ele seja regido pela oração, da mesma maneira como estabeleceu o brilho de modo que, em grande medida, ele aconteça por meio do fogo. Isso não é lógico?

Aquele que não ora: Creio que sim.

Aquele que ora: Então, deixemos de argumentar sobre problemas e prossigamos com o que as Escrituras dizem: "Pedi e recebereis" (Jo 16.24); e: "Nada tendes, porque não pedis" (Tg 4.2).

sábado, 23 de abril de 2011

Obstáculos para Vir a Cristo


Por Arthur W. Pink

“Ninguém pode vir a mim” (João 6.44).

Ohomem natural é incapaz de “vir a Cristo”. Citemos João 6:44, “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer.” A razão pela qual “duro é esse discurso”, até mesmo para milhares que professam ser cristãos, é que eles fracassam completamente em compreender o terrível estrago que a queda provocou; e, o que é pior, eles mesmos não se dão contam da “chaga” que existe nos seus próprios corações (1 Rs. 8:38). Certamente se o Espírito já os tivesse despertado do sono da morte espiritual, e lhes dado ver alguma coisa do pavoroso estado em que estão por natureza, e feito sentir que suas “mentes carnais” são “inimizade contra Deus” (Rm. 8:7), então eles não mais discordariam dessa solene palavra de Cristo. Mas aquele que está espiritualmente morto não pode ver nem sentir espiritualmente.

Onde reside a total incapacidade do homem natural? Ela não está na falta das faculdades necessárias. Isso tem de ser bastante enfatizado, do contrário o homem caído deixaria de ser uma criatura responsável. Mesmo que os efeitos da queda tenham sido terríveis, eles não privaram o homem de nenhuma das faculdades que Deus originalmente lhe concedeu. É verdade que o pecado tirou do homem a capacidade de utilizar essas faculdades corretamente, ou seja, empregá-las para a glória do Criador. Entretanto, o homem caído possui ainda a mesma natureza, corpo, alma e espírito, que tinha antes da Queda. Nenhuma parte do ser do homem foi aniquilada, ainda que cada uma tenha sido contaminada e corrompida pelo pecado. De fato, o homem morreu espiritualmente, mas a morte não é a extinção do ser (aniquilação) – morte espiritual é a alienação de Deus (Ef. 4:18). Aquele que é espiritualmente morto está bem vivo e ativo no serviço de Satanás.

A incapacidade do homem caído (não regenerado) de vir a Cristo não reside em nenhum defeito físico ou mental. Ele tem o mesmo pé para levá-lo tanto a um local onde o Evangelho é pregado, como para caminhar até um bar. Ele possui os mesmos olhos que podem lhe servir para ler tanto as Escrituras Sagradas como os jornais. Ele tem os mesmos lábios e voz para clamar a Deus os quais usa agora em conversas fiadas e em canções ridículas. Assim, também, possui as mesmas faculdades mentais para ponderar sobre as coisas de Deus e sobre a eternidade, as quais ele utiliza tão diligentemente nos seus negócios. É por causa disso que o homem é “indesculpável”. É o mau uso das faculdades que o Criador lhe concedeu que aumenta a sua culpa. Que cada servo de Deus veja que essas coisas pesam constantemente sobre os seus ouvintes não convertidos.

1) A incapacidade do homem está na sua natureza corrompida.

Nós temos de ir bem mais a fundo se quisermos encontrar a fonte da incapacidade do homem. Devido à queda de Adão, e por causa do nosso próprio pecado, a nossa natureza se tornou tão corrompida e depravada que é impossível para qualquer homem “vir a Cristo”, amá-lO e serví-lO, estimá-lO mais que tudo neste mundo e submeter-se a Ele, até que o Espírito de Deus o regenere e implante nele uma nova natureza. A fonte amarga não pode jorrar água doce, nem a árvore má produzir bons frutos. Deixe-me tentar explicar isso melhor através de uma ilustração. É da natureza de um abutre alimentar-se de carniça; no entanto, ele tem os mesmos órgãos e membros que lhe permitiriam comer grãos, como fazem as galinhas, mas ele não possui nem a disposição nem o apetite para tal alimento. É da natureza da porca o chafurdar na lama; e apesar dela possuir pernas como a ovelha para levá-la à campina, lhe falta entretanto o desejo por pastos verdejantes. Assim acontece com o homem não-regenerado. Ele tem as mesmas faculdades físicas e mentais que o homem regenerado possui para empregar no serviço e nas coisas de Deus, mas não tem amor por elas.

“Adão… gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn. 5:3). Que terrível contraste há aqui com o que lemos dois versículos antes: “… Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez”. No intervalo entre esses dois versos, o homem caiu, e um pai caído pode gerar somente um filho caído, transmitindo-lhe a sua própria depravação. “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? (Jó 14:4). Por isso nós encontramos o salmista de Israel declarando, “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl. 51:5). No entanto, apesar de por natureza Davi ser um monte de iniquidade e pecado (como também somos nós), mas tarde a graça fez dele o homem segundo o coração de Deus. Desde que idade essa corrupção da natureza aparece nas crianças? “Até a criança se dá a conhecer pelas suas obras” (Pv. 20:11). A corrupção do seu coração logo se manifesta: orgulho, vontade própria, vaidade, mentira, aversão ao que é bom, são frutos amargos que cedo brotam no novo, mas corrupto, ramo.

2) A incapacidade do homem está na completa escuridão em que se encontra o seu intelecto.

Essa importante faculdade da alma foi destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente como a consciência estão corrompidas: “Não há quem entenda”(Rm. 3:11). O apóstolo solenemente lembra os santos, “Pois outrora éreis trevas” (Ef. 5:8), não somente estavam “em trevas”, mas eram as própria “trevas”. O pecado fechou as janelas da alma e a escuridão se estende por todo o lugar: ela é a região das trevas e da sombra da morte, onde a luz é como a escuridão. Lá reina o príncipe das trevas, onde não se pratica nada além das obras das trevas. Nós nascemos espiritualmente cegos, e não podemos ter essa visão restaurada sem um milagre da graça. Esse é o seu caso quem quer que você seja, se ainda não nasceu de novo” (Thomas Boston, 1680). “São filhos sábios para o mal, e não sabem fazer o bem” (Jr. 4:22).

“O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar”(Rm. 8:7). Existe no homem não regenerado uma oposição e aversão pelas coisas espirituais. Deus revelou a Sua vontade aos pecadores no tocante ao caminho da salvação, contudo eles não trilharão esse caminho. Eles sabem que somente Cristo é capaz de salvá-los, no entanto eles recusam se separar das coisas que obstruem o seu caminho até a Ele. Eles ouvem que é o pecado que mata a alma, no entanto o afagam em seu peito. Eles não dão ouvidos às ameaças de Deus. Os homens acreditam que o fogo há de consumir-lhes, e estão em grande tormento para evitá-lo; contudo, mostram com suas ações que consideram as chamas eternas como se fossem um mero espantalho. O mandamento divino é “santo, justo e bom”, mas o homem o odeia, e só o observa enquanto a sua respeitabilidade é promovida entre os homens.

3) A incapacidade do homem está na corrupção dos seus sentimentos.

“O homem, no estado em que se encontra, antes de receber a graça de Deus, ama tudo e qualquer coisa que não seja espiritual. Se você quiser uma prova disso, olhe ao seu redor. Não há necessidade de nenhum monumento à depravação dos sentimentos humanos. Olhe por toda parte. Não há uma rua, uma casa, e não somente isso, nenhum coração, que não possua uma triste evidência dessa terrível verdade. Por que no Dia do Senhor o homem não é encontrado congregando-se na casa de Deus? Por que não nos achamos mais freqüentemente lendo nossas Bíblias? O que acontece para a oração ser um dever quase que totalmente negligenciado? Por que Jesus Cristo é tão pouco amado? Por que até mesmo os seus seguidores professos são tão frios em seus sentimentos para com Ele? De onde procedem essas coisas? Seguramente, caros irmãos, nós não podemos creditá-las a outra fonte que não a corrupção e a perversão dos sentimentos. Nós amamos o que deveríamos odiar, e odiamos o que deveríamos amar. Não é outra coisa senão a natureza humana caída que nos faz amar esta vida mais do que a vida por vir. É um efeito da Queda o fato do homem amar o pecado mais que a justiça, e os caminhos do mundo mais que os caminhos de Deus”. (Sermão de C.H. Spurgeon em Jo. 6:44).

Os sentimentos do homem não regenerado são totalmente depravados e desordenados. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr. 17:9). O Senhor Jesus afirmou solenemente que os sentimentos do homem caído (não regenerado) são a fonte de toda abominação: “Porque de dentro do coração do homem, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, a malícia, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura” (Mc. 7:21,22). Os sentimentos do homem natural estão miseravelmente deformados, ele é um monstro espiritual. O seu coração se encontra onde deveriam estar os seus pés, seguro ao chão; seus calcanhares estão levantados contra os Céus, para onde deveria estar posto o seu coração (At. 9:5). Sua face está voltada para o inferno; por isso Deus o chama para converter-se. Ele se alegra com o que deveria entristecê-lo, e se entristece com o que deveria alegrá-lo; se gloria com a vergonha, e se envergonha da sua glória; abomina o que deveria desejar, e deseja o que deveria abominar (Pv. 2:13-15) (extraído do Boston’s Fourfold State).

4) Sua incapacidade está na total perversão da sua vontade.

“O homem pode ser salvo se ele quiser”, diz o arminiano. Nós lhe respondemos, “Meu caro senhor, nós todos cremos nisso; mas essa é que é a dificuldade – se ele quiser.” Nós afirmamos que nenhum homem deseja vir a Cristo por sua própria vontade; não, não somos nós que o dizemos, mas Cristo mesmo declara: “Contudo não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo. 5:40); e enquanto esse “não quereis vir” estiver registrado nas Escrituras nós não podemos ser levados a crer em nenhuma doutrina do livre arbítrio. “É estranho como as pessoas, quando falam sobre livre arbítrio, falam de coisas das quais nada compreendem. Um diz “Ora, eu creio que o homem pode ser salvo ser ele quiser”. Mas essa não é toda a questão. O problema é: é o homem naturalmente disposto a se submeter aos termos do Evangelho de Cristo? Afirmamos, com autoridade bíblica, que a vontade humana é tão desesperadamente dada ao engano, tão depravada, e tão inclinada para tudo que é mau, e tão avessa a tudo aquilo que é bom, que sem a poderosa, sobrenatural e irresistível influência do Espírito Santo, nenhum homem nunca será constrangido a buscar a Cristo.” (C.H. Spurgeon).

“Há uma corda de três pontas contra o céu e a santidade, que não é fácil de ser rompida; um homem cego, uma vontade pervertida, e um sentimento desordenado. A mente, inchada pela vaidade, diz que o homem não deve se humilhar; a vontade, inimiga da vontade de Deus, diz: ele não quer; as emoções corrompidas levantando-se contra o Senhor, em defesa da vontade corrompida diz: ele não irá. Assim a pobre criatura permanece irredutível contra Deus, até o dia do Seu poder, quando é feito nova criatura” (Thomas Boston).

Pode ser que alguns leitores sejam inclinados a dizer: “ensinamentos como estes desencorajam pecadores e os levam ao desespero”. Nossa resposta é: Primeiro, eles estão de acordo com a Palavra de Deus! Segundo, esperamos que Ele se agrade em usar essas verdades para levar alguns a desesperarem-se de qualquer ajuda que possam encontrar neles mesmos. Terceiro, esse ensino manifesta a absoluta necessidade da obra do Espírito Santo nessas criaturas depravadas e espiritualmente impotentes, se algum dia vierem salvificamente a Cristo. Então, até que isso seja claramente entendido, o Seu auxílio nunca será realmente buscado.