quinta-feira, 31 de março de 2011

Não há Segurança para os ímpios


Por Jonathan Edwards

Nem por um momento há segurança para os ímpios, pois não há meio visível de morte ao alcance. Não há segurança para o homem natural, que hoje tem saúde e não vê por qual meio deveria agora sair imediatamente do mundo através de qualquer acidente, não havendo perigo visível sob qualquer aspecto em suas circunstâncias. A múltipla e ininterrupta experiência do mundo em todos os séculos mostram que esta não é evidência de que o homem não está na beira da eternidade e que o próximo passo não será no outro mundo. A invisível e não premeditada forma das pessoas saírem do mundo são inumeráveis e inconcebíveis. Os homens não-convertidos andam sobre a cova do inferno numa cobertura podre, havendo incontáveis lugares fracos nesta cobertura que não suportarão o peso — e tais lugares não são visíveis.

As setas da morte voam invisíveis ao meio-dia; a visão mais aguçada não as pode discernir. Deus tem tantas maneiras inescrutáveis e diferentes de tirar os ímpios do mundo e de os enviar ao inferno que não há nada que indique que Deus tenha necessidade de estar às custas de um milagre, ou de sair do curso ordinário da sua providência para, a qualquer momento, destruir o ímpio. Todos os meios que há para os pecadores saírem do mundo estão nas mãos de Deus e estão de tal maneira universal e absolutamente sujeitos ao seu poder e determinação que não dependem nem da mera vontade de Deus se os pecadores vão a qualquer momento para o inferno, mais do que se nunca fossem usados ou estivessem relacionados com o caso.

A prudência e cuidado dos homens naturais em preservar a própria vida, ou cuidar dos outros para os preservar, não lhes garante um momento sequer. Para isso, a providência divina e a experiência universal também dão testemunho. Há a evidência clara de que a própria sabedoria dos homens não é garantia de livramento da morte. Se fosse, veríamos a diferença entre os sábios e prudentes do mundo, e os outros com respeito à propensão à morte prematura e inesperada. Mas como é de fato? "E como morre o sábio, assim morre o tolo!" (Ec 2.16).

Os esforços e maquinações que todos os ímpios usam para escapar do inferno, enquanto continuam rejeitando a Cristo e, assim, permanecem ímpios, nem por um momento os livra do inferno. Quase todo homem natural que ouve falar do inferno exalta-se de que escapará dele. Ele depende de si para segurança própria. Ele se gloria no que faz, ou no que pretende fazer. Toda pessoa projeta meios na mente sobre como evitar a condenação ao inferno, se gaba de ter maquinado bem para si e que suas manobras não falharão. Eles ouvem, de fato, que há poucos que se salvam e que a maioria dos homens que morreram antes foi para o inferno. Mas cada um imagina que dispõe de melhores meios para a própria fuga do que os outros. Ele não pretende ir àquele lugar de tormento. Ele fala para ele mesmo que pretende ser eficiente em seus cuidados e engendrar meios para não fracassar.

Mas os tolos filhos dos homens se iludem miseravelmente em seus esquemas e na confiança da própria força e sabedoria. Andam confiando em nada mais que sombra. Muitos daqueles que antes viviam por meio da graça e que hoje estão mortos, foram indubitavelmente para o inferno — não porque eles não eram tão sábios quanto os que agora vivem, não porque eles não projetaram meios para garantir a própria fuga. Se pudéssemos falar com eles e lhes perguntar, um por um, se eles algum dia esperavam, quando vivos que ouviam falar do inferno, ser objetos dessa miséria, nós, sem dúvida, ouviríamos uma resposta mais ou menos assim: "Não, nunca quis vir para cá. Tinha engendrado muitas outras maneiras em minha mente de me livrar disso. Pensei que tinha planejado bem. Pensei que meu esquema fosse bom. Pretendi ser eficiente em meu cuidado, mas me sobreveio inesperadamente. Não olhei para esta- situação naquela época e dessa maneira. Veio como ladrão. A morte me burlou. A ira de Deus foi muito rápida para mim. Maldita tolice a minha! Eu me gabava e me iludia com sonhos vãos do que faria no outro mundo. Enquanto eu falava: Paz e segurança, me sobreveio súbita destruição".

Deus se sujeitou a si mesmo sem obrigação, sob qualquer promessa, manter o homem natural fora do inferno por um momento. Deus seguramente não fez promessa de vida eterna, ou de libertação, ou de preservação da morte eterna, mas o que está contido no concerto da graça, as promessas que foram dadas em Cristo, em cujas promessas são baseadas em sim e amém. Mas certamente eles não têm interesse nas promessas do concerto da graça, pois não são filhos do concerto, não crêem em nenhuma das promessas e não se interessam pelo Mediador do concerto.
De forma que por mais que alguns imaginem e projetem acerca das promessas feitas aos homens naturais que buscam e interpelam seriamente, está claro e manifesto que todo o esforço que o homem natural faz em religião e por mais que toda a oração que se faça até que se que creia em Cristo, não está de forma alguma sob a obrigação de Deus guardá-lo da destruição eterna.

De maneira que é assim que os homens naturais são segurados na mão de Deus acima da cova do inferno. Eles mereceram o inferno incandescente e já estão sentenciados. Deus é horrivelmente provocado. Sua ira contra eles é tão grande quanto os que de fato sofrem a execução da ferocidade de sua ira no inferno, e eles não fizeram nada para pelo menos aplacar ou enfraquecer essa ira, nem está Deus no mínimo sujeito por promessa, guardá-los um momento sequer. O Diabo espera por eles, o inferno escancara a boca para eles, as chamas se juntam e flamejam sobre eles e de bom grado os agarram e os engolfam. O fogo contido nos seus corações se debate para incandescer. Eles não têm interesse em um Media-dor, não há meios ao alcance que lhes possa servir de segurança. Em suma, eles não têm refúgio, nada a que se agarrar. Tudo que os preserva a cada momento é a mera vontade arbitrária e a misericórdia não obrigatória e não ligada ao concerto de um Deus irado.

Feito à imagem do homem


Por Jorge Fernandes Isah

Há a falsa premissa de que todos os caminhos levam a Deus; e de que Deus pode ser tocado e alcançado pelo esforço humano, seja qual for, desde que haja sinceridade e empenho e alguma dose de sacrifício no homem para se achegar, pois ele ama a diversidade e os esforços de união da humanidade [ecumenismo]. Ainda outro diz ser Deus amor, a tal ponto que nenhuma das suas criaturas, mesmo o diabo e seus anjos, perecerá, pois Deus não pode negar a si mesmo, logo, todos, sem exceção, serão salvos [universalismo]. Temos outra mentira: a de que Deus amou o homem a tal ponto que se colocou em seu próprio nível, descendo de sua condição de Deus para a de um "deus", de tal forma que não pode intervir em nada na criação, estando tão impotente como um espectador diante de um filme [teísmo aberto].

Não citarei outras premissas equivocadas e falsas, pois estas são suficientes para exemplificar o meu argumento. Vejamos o que elas têm em comum: um "Deus" amoroso mas permissivo com o pecado e o erro.

Aos que são pais, ficará claro que os argumentos das três doutrinas são um absurdo [e não é necessário sê-lo para perceber o equívoco]. Por exemplo, qual de nós, em sã consciência, não puniria o filho que, furtiva e sorrateiramente, tomou dinheiro da nossa carteira? Alguns, talvez, não fizessem nada na primeira vez, seja lá o temor que tivessem para não puni-lo. Acontece que o filho, livre do castigo, iria uma segunda, terceira, quarta, quinta vez até a carteira, sempre surrupiando valores maiores, num crescente grau de delinquência. Por mais negligentes que sejam os pais, chegará um momento que o abuso passará de todos os limites, e ele dará um basta à situação [ainda que os motivos não sejam morais, mas meramente financeiros]. Portanto, mesmo que o pai seja irresponsável e não ame o filho, chegará um momento em que tomará a atitude de não sofrer mais o dano, denunciá-lo e puni-lo. Ainda que a pena seja a própria impossibilidade do filho continuar o seu crime [por exemplo, colocando o dinheiro em um cofre-forte]. Em certo sentido, não permitir que ele continue a praticá-lo é, em si mesmo, uma atitude ativa de penalizar-lhe a não desenvolver e satisfazer o seu desejo perverso.

E no caso de Deus?

Há de se considerar alguns pontos: primeiro, não se pode tirar nada de Deus. Segundo, Deus é autoridade, e por ele todas as coisas foram criadas e sustentadas. Logo, alegar passividade ou omissão da sua parte é ilegítimo e uma injúria. Terceiro, Deus é santo, e convir com o pecado ou o mal afetaria a sua santidade, o que faria dele um ser mutável. Se um pai, por mais relapso e fraco, chegaria ao ponto de não permitir mais os abusos do filho, o que levaria os adeptos dessas três doutrinas [entre outras] a acreditar que o Deus Todo-Poderoso o permitiria?

Mas alguém pode dizer: "O pai pode, simplesmente, conviver com os furtos do filho sem se importar ou tomar alguma providência que o impeça de continuá-los. Sendo conivente com eles...". Realmente, seria uma hipótese, que o tornaria no homem frouxo, amoral, omisso, negligente e cúmplice do filho. Ele seria o co-autor da subtração, o estranho caso de alguém colaborar e participar do crime contra si mesmo. E aí está a questão: alguém, que se diz cristão, e em sã consciência, pode alegar que Deus agiria assim?

Este é o ponto: para Deus ser o que os ecumênicos, universalistas e teístas-abertos reivindicam, teria de ser imoral, fraco, negligente, permissivo, participante do pecado e do mal; a transgredir sua própria lei; a infringir danos a si mesmo. O problema é fazer de Deus um formador de quadrilhas, a se associar ao crime. Por não punir o infrator, ele se tornaria em partícipe, que colaboraria de alguma forma na conduta típica do filho, o furto. Isso o faria ainda mais criminoso do que este; um criminoso qualificado, visto ter uma atuação pessoal e própria na qualificação do delito, ou seja, ele seria o fator estimulador, que incitaria os homens a cometê-lo, visto não puni-los, tendo o poder de fazê-lo. Assim Deus violaria sua própria lei, fazendo-se réu de si mesmo. É claro que o juiz não pode ser réu no mesmo processo, então, quem o seria?

Além de quebrar a sua própria lei, ele criaria um código moral inútil, que seria rasgado a cada delito cometido, ao ponto do pecado ser um delírio, uma divagação, uma intolerável e inadmissível possibilidade dentro da impossibilidade. Fazendo de "Deus" um artesão imperfeito, injusto, cínico... mas além disso o mantenedor do caos, ao se aproximar dele sem impedi-lo, ou ao se aproximar dele sem os meios suficientes para impedi-lo. No primeiro caso, ele seria dissoluto, no segundo, incapaz.

Quando ecumênicos, universalistas, teístas-abertos e outros, mesmo que se digam cristãos, dizem que o Cristianismo bíblico faz de Deus o autor do pecado, podemos replicar-lhes que os seus conceitos tornam-no o praticante do pecado. A Bíblia diz que Deus é o criador de todas as coisas, materiais e imateriais, boas e más, de sorte que nada, absolutamente nada, escapa-lhe do controle e da criação. Deus idealizou o pecado e o mal dentro de um plano perfeito, sábio e santo: o decreto eterno. Porém, ele não faz o mal, por simplesmente não poder fazê-lo, sendo bom. Ele não pode criar o caos, porque é o Deus ordeiro. Nem cometer o pecado, porque é santo. Em sua perfeição, não há imperfeição. Em sua imutabilidade, não há sombra de variação. Em seu poder, não há fraqueza. Em sua sabedoria, não há tolice. Quem pratica o mal e o pecado são suas criaturas, anjos e homens, segundo o seu poder e autoridade, mas não por sua ação direta. O fato de Deus ser efetivo e atuante em tudo não o torna no sujeito ativo de tudo [com isso não quero dizer que Deus seja passivo, mas ele não é o agente ativo do acontecimento, ainda que esteja a agir ativamente para que ele ocorra segundo o seu plano]. Com isso, estou a dizer que o homem nunca é passivo em seu pecado. Mesmo quando negligente ou omisso, o homem é ativo em pecar ou em concordar com o pecado. O grau de culpabilidade não o exime do dano. Dependerá sempre de sua decisão. E sua escolha o tornará réu do crime ou não.

Porém as doutrinas não-bíblicas fazem de Deus, em algum aspecto, o autor do crime, ainda que seja na condição de um espectador, uma testemunha de vista, um voyeur sádico.

Assim, só há duas religiões: a divina e a humana. Uma se contrapõe à outra. Infelizmente, alguns crentes e denominações cristãs têm se apegado a parte da verdade e não à sua totalidade, unindo-a ao paganismo e ao sincretismo para construir uma cosmovisão demoníaca e anticristã, onde Deus é um mero espectador, um observador lânguido a dar longos bocejos, ou a assentir tacitamente os desvios das suas criaturas.

Esse padrão é muito parecido com o da mitologia geral, em que deuses se misturam entre os homens como se fossem iguais, igualmente errando sem que possam mudar em nada o seu destino ou das suas criaturas. Em suas fraquezas, incertezas e confusões como poderiam julgar ou punir? Esse conjunto de ideias é como erguer casas no pântano ou na areia... desmoronarão irrevogáveis à menor investida, sem qualquer resistência.

Dentro da cosmovisão bíblica é impossível conservarem-se harmoniosas, racionais e lógicas. Pois elas partem do pressuposto de que o mundo pode ser entendido a partir dele mesmo, como se fosse auto-explicável, e de que não é necessário Deus para torná-lo inteligível e aplicável, mas de que o seu significado está muito além dele... de maneira que nem mesmo ele pode compreendê-lo.

O objetivo é um só: criar um conjunto uniforme de ideais que se oponha ao Cristianismo bíblico; operando a partir do ponto de vista relativista, pragmático e imanentista, colocando o homem como o ser supremo, o centro do universo; ou quando não, ele se encarregará de colocar outro em seu "trono", de forma que será escravo de si pelos meios mais sórdidos e nefastos de se auto-subjugar: a rebeldia contra Deus e o amor pelo pecado.

Desta forma, a religião humanista [e nela, de certa forma, está contido o arminianismo] subverte algo do Cristianismo para moldar a síntese de que todas as concepções são legítimas, de que todos os caminhos são aceitáveis, vistos que eles ensinam e se preocupam apenas com o bem-estar do homem ou a liberdade de desejar e operar a autodestruição sem as consequências advindas dela: a condenação e o sofrimento eternos.

A cosmovisão que declara o verdadeiro estado de depravação e iniquidade do homem tem de ser combatida a fim de se resguardar a integridade humana e a sua absolvição diante de um tribunal que não julga e de um juiz comprometido com a injustiça. A cosmovisão a declarar que somente Cristo é a única possibilidade de reconciliação do homem com Deus, sendo ele o Verbo encarnado, pelo qual os pecados não nos são imputados, é exclusivista, e tem de ser erradicada. Um deus desobrigado consigo mesmo; ainda mais irresponsável que suas criaturas, as quais abusam da sua tolerância de consentir com aquilo que deveria impedir, é o arquétipo correspondente às muitas formas de auto-idolatria humana.

Não há lugar para a biblicidade, nem para Deus como o ser supremo, justo e santo, que irá julgar esse mesmo homem. Por isso, criou-se a imagem de um "Deus" paspalhão, um sentimentalóide tosco e tolo, que acaba por se sujeitar ao padrão estabelecido pelo homem e que o próprio homem desconhece quais serão as suas consequências. Esse "Deus" não é reconhecido na Escritura, nem em momento algum é visto ou descrito por ela; o que os levará, primeiramente, à necessidade de relativizar e desqualificar o texto bíblico como a fiel palavra de Deus; colocando-o somente como mais um manual ético-moral entre tantos outros criados pela mente humana, e que nem mesmo deve ser observado, tendo-se em vista a sua contextualização cultural e temporal; cujo prazo de validade expirou.

Com isso, estão a dizer que a Escritura está ultrapassada, de que não há mais contato entre a verdade e o mundo atual... a verdade não tem mais lugar no presente século; tornou-se obsoleta, em um código que não exprime nenhuma sintonia com os nossos dias, não sendo mais do que a alternativa pífia para as mentes mais conservadoras, tacanhas e sub-desenvolvidas. E inclui-se também e, urgentemente, a necessidade de se destruir qualquer aspecto sobrenatural e histórico em suas páginas.

Num mundo subjetivo, onde as "verdades" são mutáveis e adaptáveis a todas as formas de corrupção, qualquer defesa da Bíblia, como a palavra fiel e inspirada de Deus, deve ser combatida. E o Estado, com a falsa premissa de ser laico, acaba por ser antireligioso, mas não o suficiente para impedir que "técnicas religiosas" se convertam em métodos "científicos" aplicados à satisfação humana. A prova está na aceitação pacífica do yoga, da acupultura e da ecologia [o culto secular da deusa "Gaia"... olha a mitologia aí, novamente] como o padrão aceitável de espiritualidade e civilidade humana. Qualquer referência ao Absoluto deve ser substituído por conceitos paliativos, que, quando muito, entretêm e prolongam os desejos e esperanças inalcansáveis. Eles sustentam a expectativa de que são possíveis, quando sua realização é improvável, e não passam de vãs promessas.

Assim todas as formas que possam se fundir ao humanismo são aceitas, exceto o Cristianismo Bíblico, ortodoxo e histórico, o qual não é antropocêntrico, mas teocêntrico, e por isso, tem de ser destruído.

Presenciamos a união entre o secular e o religioso com o único objetivo de erradicar o Deus biblico; e, para isso, têm de criar uma forma diluída ou descaracterizada da verdade; iludindo os incautos de que a mentira pode, em último caso, substituí-la eficientemente. Formas aparentemente cristãs são criadas como sabotadores, intrusos que invadirão a seara do Senhor e disseminarão o veneno da incredulidade e da dúvida; ou da incerteza como única convicção a se defender.

Custe o que custar, a esperança tem de morrer. Nem que para isso tenha-se de criar um "Deus" covarde. Feito à imagem e semelhança do homem.

Fonte: KÁLAMOS

terça-feira, 29 de março de 2011

Uma análise exegética de LOVE WINS de Rob Bell


Por Kevin DeYoung

Após todo o alvoroço que precedeu o lançamento da obra, Kevin DeYoung lê e revisa Love Wins [O Amor Vence] - um dos livros mais comentados dos últimos tempos que trata da existência do inferno e da redenção daqueles que morreram sem Cristo.

Algumas pessoas podem se impressionar com a quantidade de versos bíblicos que Rob Bell usa em sua obra. Mas há menos conteúdo do que a primeira impressão de nossos olhos. Seguidas vezes, os pilares da teologia de Rob Bell se sustentam em erros exegéticos. A seguir uma lista parcial de dez destes erros, que não seguem nenhuma ordem específica:

1) Bell cita Salmos 65, Isaías, Sofonias, Filipenses 2 e Salmos 22 para provar que todas as pessoas se reconciliarão com Deus no final. O que ele não menciona é que algumas destas promessas são feitas ao povo de Deus, outras são promessas generalizadas de redenção às nações que se voltarão ao Senhor e outras profetizam que todos reconhecerão que Jesus Cristo é o Senhor (o que não quer dizer que todos terão a fé que salva) no último dia. Nenhuma destas passagens embasa aquilo que Bell defende.

2) Bell lista várias passagens que citam uma restauração no final dos tempos – Jeremias 5, Lamentações 3, Oséias 6 e 14, Sofonias 2 e 3, Isaias 57, Joel 3, Amós 9, Naum 2, Zacarias 9 e 10 e Miqueias 7 (pp. 86-87). Qualquer pessoa familiarizada com estes profetas sabe que eles sempre concluem sua profecia com uma promessa de uma bênção futura. E qualquer pessoa que conhece estes profetas deve saber também que estas promessas são para o povo de Deus que está sob Pacto, nas bases da fé e do arrependimento, cumpridas em Cristo.

3) Bell parece ver que tais promessas de restauração estão atreladas a um Pacto, e faz uma ginástica exegética para provar que a restauração não é somente para o povo de Deus. Ele cita Isaias 19, onde está profetizado que um altar ao Senhor será levantado no meio da terra do Egito. Bell conclui que nenhuma falha é permanente em seus efeitos e que suas más consequências podem ser corrigidas (pp. 88-89). Mas Isaias 19 não tem nada a ver com oportunidades pós-morte de arrependimento. O texto fala do plano de Deus para humilhar o Egito, onde o povo de Israel clamou a Deus por libertação. “E ferirá o Senhor aos egípcios; feri-los-á, mas também os curará; e eles se voltarão para o Senhor, que ouvirá as súplicas deles e os curará.” (Isaias 19:22). Deus nunca prometeu que toda a nação do Egito seria salva. O que ele realmente promete, assim como os profetas fizeram por várias vezes, é que se eles clamassem ao Nome do Senhor, ele teria misericórdia deles. Não há nenhuma indicação de que isso ocorreria no além.

4) Bell não faz o menor esforço para entender João 14:6 em seu contexto. Depois de reconhecer que Jesus é o caminho, a verdade, a vida e o único caminho para o Pai, Bell rapidamente acrescenta: “O que ele não diz é como, ou quando ou de que maneira funciona o mecanismo que leva as pessoas a Deus por meio de Jesus. “Ele sequer diz que aqueles que vêm ao Pai por meio de Jesus saberão que estão chegando ao Pai exclusivamente por meio dele. Ele simplesmente diz que tudo o que Deus está fazendo para conhecer, redimir, amar e restaurar o mundo está acontecendo por meio de Jesus” (p. 154). Até mesmo uma lida superficial de João 14 nos mostra que a conclusão no verso 16 se refere à fé. O capítulo começa dizendo “credes em Deus, crede também em mim.” O verso 7 fala a respeito de conhecer a Deus. Versos 9 e 10 explicam que vemos e conhecemos o Pai ao crer que Jesus está no Pai e o Pai está nele. Versos 11 e 12 falam sobre a fé, novamente. Ir ao Pai por meio de Jesus significa ir ao Pai por meio da fé em Cristo. Essa interpretação se alinha com o propósito do Evangelho de João (Jo 20:31).

5) Bell pensa que a pergunta do homem rico: “Que devo fazer para herdar a vida eterna?” não tem nada a ver com a vida após morte. Ele não está perguntando como chegar ao céu depois que morrer (p. 30). Ele simplemente quer saber como participar das coisas boas que Deus fará em um mundo vindouro (pp. 31, 40). Novamente, Bell ignora todo o contexto que aponta para o contrário daquilo que ele defende. Levando em consideração que a ressurreição era tema de debate nos dias de Jesus (ver Marcos 12:18-27), o jovem rico provavelmente está dizendo: “Como posso ter a certeza de que serei salvo no dia da ressurreição final?” Ele está pensando na vida após morte. Por isso ele usa a palavra “herdar” e Marcos 10:13-16 dá uma resposta aos questionamentos de Bell acerca de “quem entrará no Reino”. Além disso, o verso 30 deixa claro que algumas das bençãos resultantes de seguir a Jesus virão na vida porvir – aquilo que Jesus se refere como “a vida eterna no mundo vindouro.” Se a vida eterna é equivalente ao mundo vindouro (p. 31), então Jesus é o mestre da redundância. Mas os dois termos não são idênticos. Vida eterna aqui significa vida que dura para sempre.

6) Bell coloca bastante ênfase nas passagens em que Paulo fala sobre disciplina. Paulo entregou Himeneu e Alexandre a Satanás para que aprendessem a não blasfemar. Ele disciplinou um homem em Corinto para que seu espírito pudesse ser salvo no dia do Senhor. Portanto, conclui Bell, as falhas não são permanentes (pp. 89-90). Mas declarar o propósito e a esperança da disciplina (como fez Paulo) é uma coisa; supor que o arrependimento ocorreu de fato, é outra coisa; e pensar que qualquer coisa neste texto nos dá uma brecha para crermos em um arrependimento pós-morte, é deduzir algo que o texto não diz.

7) Às vezes, Bell simplesmente ignora os versos que contrariam sua tese. Ao dizer que devemos ser muito cuidadosos ao julgar de maneira negativa o destino eterno das pessoas, Bell cita as palavras de Jesus em João 3:17 que dizem que “ele não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo.” (p.160). Estas palavras, de acordo com Bell, são “um mistério gigantesco, expansivo e generoso”, que nos levam a esperançosamente concluir que “afinal, o Céu é cheio de surpresas.” As especulações universalistas de Bell teriam sido silenciadas de forma significativa se ele continuasse lendo as palavras de Jesus no verso 18: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” Igualmente, de acordo com João 3:36 “quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

8 ) A visão que Bell tem de Apocalipse é tão superficial que ignora as duras passagens que ele não quer enxergar. Bell explica que Apocalipse é um livro escrito pelo povo de Deus em tempos em que estavam sendo perseguidos. Portanto, o livro descreve várias coisas erradas sendo corrigidas e pessoas prestando contas por seus erros (p. 112). Mas ele diz que “a carta não termina com sangue e violência” (p.112). Termina com o mundo permeado pelo amor de Deus (p.114). Não se trata de um mau resumo, mas os três pontos que ele extrai desta narrativa são problemáticos. Primeiro, ele explica os julgamentos recordando-nos de que as pessoas sempre rejeitam o amor e a alegria em frente deles e “escolhem viver os seus próprios infernos pessoais, todo o tempo” (p. 114). Mas até mesmo uma leitura superficial de Apocalipse nos mostra julgamentos severos sendo decretados diretamente do trono de Deus. Eles são derramados de taças sobre toda a terra. Cristo vem em um cavalo de guerra com uma espada afiada em sua boca. O texto não diz que os ímpios estão sofrendo em vida pelas más decisões que tomaram. Eles lamentam porque aquele a quem eles transpassaram está voltando nas nuvens para exigir sua recompensa (Apocalipse 1:7).

Segundo, Bell sugere que talvez os portões do inferno “nunca se fecharão” porque novos cidadãos continuarão chegando na cidade até que todos sejam reconciliados com Deus (p. 115). Esta interpretação claramente se contrasta com o resto de Apocalipse 21 e 22, que enfatiza várias vezes que haverá pessoas anátemas que serão deixadas para fora da cidade (21:8, 27; 22:3, 14-15, 18-19). O tema do julgamento divino está bem claro no final do livro. Além disso, aqueles que passarão pelo julgamento serão jogados no lago de fogo, onde o tormento é eterno (20:10; 21:8). Em nenhum lugar vemos a idéia de uma segunda chance pós-morte; tudo indica que haverá um julgamento irreversível decretado sobre cada alma no final dos tempos.

Terceiro, de acordo com Bell, o anúncio “Eis que faço novas todas as coisas” sugere novas possibilidades. Consequentemente, isso indica que devemos deixar as portas abertas, pois o destino eterno de cada pessoa ainda não foi determinado (p. 116). Novamente, esta suposição não encontra nenhum respaldo no texto, onde as coisas novas do céu se referem a um novo estado de santidade, um novo mundo, uma nova existência livre de dores, e uma nova proximidade com Deus. O céu não se fará novo porque as pessoas que estão no inferno terão uma segunda chance para se arrepender.

9) O que Bell faz com Sodoma e Gomorra deveria arrepiar até mesmo seus defensores mais ferrenhos. Na verdade, tal abordagem gera dúvidas quanto ao interesse de Bell em estudar o texto de maneira séria. Embasado em Ezequiel 16:53, Bell argumenta que, uma vez que o destino de Sodoma será restaurado, o destino eterno de todos será igualmente restaurado (p. 84). Deveria ser óbvio, porém, que a restauração descrita em Ezequiel é da cidade de Sodoma, não dos indivíduos que nela habitavam e que já foram julgados em Gênesis 19. As pessoas que foram julgadas com fogo e enxofre 1500 antes não estavam tendo uma segunda chance para o arrependimento após a morte. Somente a cidade será restaurada. Além disso, o propósito da restauração de Sodoma é envergonhar Samaria (Ez 16:54), para que esta cidade pagasse pela abominação de seus atos (Ez 16:58). Isso não se encaixa com a visão que Bell tem de Deus e do julgamento. E se isso não fosse suficiente, suas outras opiniões sobre Sodoma são ainda piores. Porque Jesus disse que haveria menos rigor para Sodoma no dia do juízo do que para Cafarnaum (Mateus 11:23-24), Bell conclui que há esperança para todas as outras “Sodomas e Gomorras” (p. 85). Bell se utiliza de uma passagem sobre julgamento – o julgamento de Cafarnaum que, de tão ruim, será pior do que o de Sodoma – para embasar seu universalismo. As advertências de Jesus não falam nada sobre uma nova oportunidade para Sodoma. A escritura fala sobre o triste destino da incrédula Cafarnaum.

10) Não nos surpreende que Bell frequentemente recorre às promessas paulinas em Efésios 1 e Colossenses 1 de que Deus está reconciliando ou unindo todas as coisas em Cristo (p. 149). Estas são as passagens favoritas dos universalistas, mas elas não transmitem o significado que o universalistas desejam que elas tenham. Vejamos Efésios 1, por exemplo. Paulo disse que o plano de Deus na plenitude dos tempos é o de unir todas as coisas em Cristo, coisas no céu e na terra (Efésios 1:10). A palavra grega traduzida como “unir” é longa: anakephalaiōsasthai. Quer dizer somar, reunir em um ponto central, juntar. É como um autor finalizando o ultimo capítulo de seu livro, ou um maestro conduzindo uma orquestra da cacofonia à sinfonia. É uma promessa gloriosa, já iniciada em alguns aspectos pela Palavra de Cristo. Mas concluímos pelo resto de Efésios que Paulo não espera que todas as pessoas se reconciliem com Deus. Ele cita os filhos da desobediência e filhos da ira no capítulo 2. No capítulo 5 ele deixa claro que a imoralidade sexual e a avareza não têm lugar no Reino de Cristo. Em Efésios 5:6 ele adverte que a ira de Deus vêm sobre os filhos da desobediência. A união de todas as coisas não implica na salvação de todas as pessoas. Quer dizer que tudo no universo – céu e terra, o mundo spiritual e o mundo físico – será, finalmente, submetido ao senhorio de Cristo, processo no qual alguns estarão louvando alegremente seu amado Salvador, e outros encontrarão a justa punição por sua perversão. No final, Deus vence.

Conclusão

Uma última consideração a respeito da exegese de Bell: Bell tem a reputação de ser brilhante e criativo, e provavelmente é em certos aspectos. Mas o modo como usa a Bíblia não demonstra nenhuma destas caracteríticas. Na verdade, sua abordagem é ingênua e rasa. Ele simplifica todas as coisas, seja para fazer a teologia tradicional parecer rídicula e inconsistente, ou para construir toda uma teologia em cima de um texto fora de seu contexto. Não se esforça para interpretar metáforas, gênero literário ou simbolismos. Não faz o menor esforço para harmonizar sua teoria a qualquer passagem que possa comprometer sua nova interpretação da Bíblia. Ele ama a tradição judaica, mas demonstra pouca familiaridade com o enredo e o formato do Antigo Testamento. Seu estilo pode ser atraente para alguns, mas leia as passagens com seus próprios olhos, utilizando-se de uma Bíblia de estudo respeitada ou um comentário bíblico básico. Você passará a questionar seriamente a maneira como Bell se utiliza das Escrituras.

OS REFORMADOS E O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO


Por Joelson Gomes

Você pode ser regenerado, um filho de Deus, um verdadeiro crente e ainda não ter recebido o batismo com o Espírito Santo” (D. Martyn Lloyd-Jones). [1]

Renovados e tradicionais têm travado uma batalha a respeito do Batismo com o Espírito Santo faz tempo. Uns dizem que isso acontece no momento da conversão e só (tradicionais). Outros são ousados e dizem que não, que este Batismo pode acontecer depois da conversão, e que esta era visão dos teólogos reformados (renovados). Os tradicionais ficam de cabelo em pé e acusam os renovados de hereges, quem tem razão afinal de contas?

Para alegria de uns e choque de outros quero começar dizendo que os reformados foram os primeiros a ensinar o conceito de Batismo com o Espírito Santo como algo que acontece após a conversão.

Como? Pois é. Foram os Puritanos dissidentes da Igreja da Inglaterra no século XVII, e criadores da Igreja Congregacional, que começaram a dar ênfase a este tipo de operação do Espírito Santo na vida do convertido.[2] Este ensinamento do Batismo com o Espírito Santo como uma operação do mesmo após a conversão está diretamente ligado a doutrina dos grandes teólogos reformados conhecidos hoje.

John Stott, escrevendo sobre a interpretação de Martyn Lloyd-Jones sobre as expressões: “vocês receberam o Espírito de adoção” e “testemunho do Espírito”, em Rm. 8: 15-16, afirma:

"Em consonância com Thomas Goodwin (Congregacional inglês) e outros puritanos, ele acredita que a primeira expressão seria “uma forma ou tipo muito especial de segurança”, uma certeza mais emocional do que intelectual, proporcionada depois da conversão (embora não essencial para a salvação) e que conferiria um profundo sentimento de confiança no amor do nosso Pai. Semelhantemente, ele interpreta o testemunho do Espírito (que ele identifica com o “batismo” e com o “selo” do Espírito) como uma experiência peculiar e transbordante que confere “uma absoluta segurança”".[3]

E Augustus Nicodemus também fala sobre o mesmo assunto:

"Ao expor Ef. 1:13, “fostes selados com o Santo Espírito da promessa”, Lloyd-Jones segue a interpretação de alguns teólogos puritanos (Thomas Goodwin, John Owen, Charles Simeon, Ricahard Sibbes), e do famoso Charles Hodge de Princenton, que defendiam que esse “selo” não é a mesma coisa que a conversão, e pode ocorrer depois. A principal ênfase de Lloyd-Jones em sua exposição da passagem é que esse “selo” é algo que pode ser experimentado sentido e identificado pelos crentes, e que não se trata de algo que já ocorreu automaticamente com todos eles na sua conversão. Como demonstração, ele menciona experiências de personagens famosos na história da igreja, como John Flavel, Jonathan Edwards, D.L. Moody, Christmas Evans, George Whitefield e John Wesley... Lloyd-Jones identifica esse “selar” do Espírito com o “batismo” do Espírito, experimentado pelos apóstolos no dia de Pentecostes, e ainda pelos samaritanos. Cornélio e sua casa, e os discípulos de João Batista em Éfeso".[4]

Eu sei você deve estar se perguntando se esse tipo de ensino é tão antigo assim, porque ninguém lhe avisou? O que será destas publicações que colocam esse ensinamento sobre a obra do Espírito Santo como coisa nova, invenção de Pentecostais? Bem, vamos aos fatos. Olhe como João Calvino interpretava At. 19:1-5. Será que Paulo rebatizou com água aqueles irmãos ou foi outra classe de batismo que aconteceu ali?

"Por minha parte, concedo que estes discípulos já haviam sido batizados com o verdadeiro batismo de João, o qual era idêntico ao de Cristo; mas nego que tenham sido batizados de novo por Paulo. O que quer então dizer estas palavras: “foram batizados em nome de Jesus”? Alguns interpretavam isto dizendo que São Paulo somente os instruiu na verdadeira doutrina. Eu prefiro entender de uma maneira mais simples; quer dizer, que ele fala do Batismo do Espírito Santo, e quer dizer que lhes forma concedidas as graças visíveis do Espírito Santo pela imposição das mãos. Estas graças não raras vezes recebem nas Escrituras o nome de batismo"(Institutas IV. 15. 18).

E deixe mais uma vez Lloyd-Jones lhe responder: “Lembro-lhes que esta doutrina não é nova. considerá-la como tendo se originado neste presente século (XX) indica a medida da ignorância do movimento evangélico moderno. Nós a vimos no ensino dos puritanos do século dezessete”.[5]
As vezes escutamos afirmações dogmatizadoras que os puritanos não defendiam estas idéias. Mas, isso é faltar com a verdade. Você confirmar isso nos escritos da lavra de puritanos e seguidores desta tradição reformada como: John Preston, Thomas Brooks, Robert Haldane, Charles Spurgeon, além dos já citados.[6]

E agora um testemunho ocular de entre os crentes morávios já em 1727:

"Lemos no livro de Atos muitos derramamentos do Espírito Santo, como em Samaria, em Éfeso e até mesmo no caso dos gentios. A história da igreja também está repleta de registros de derramamentos especiais do Espírito Santo, e de fato o dia 13 de agosto de 1727 foi um dia de derramamento do Espírito Santo. Vimos a mão de Deus e suas maravilhas, e fomos todos...batizados com o Espírito Santo. O Espírito Santo veio sobre nós e naqueles dias grandes sinais e maravilhas aconteceram em nosso meio. A partir daquele momento dificilmente passava um dia sem que percebêssemos suas operações poderosíssimas entre nós. Uma grande fome da palavra de Deus se apossou de nós, de modo que precisávamos de três cultos por dia...Todos queriam em primeiro lugar, que o Espírito Santo estivesse no controle total. Egoísmo, vontade própria e toda Desobediência desapareceram, e uma torrente avassaladora de graça levou-nos todos para o oceano do Amor divino".[7]

Pois é, esse é o ensino antigo dos reformados. Foi no século XX que este ensino foi esquecido dando origem as interpretações erradas da história que encontramos hoje de pessoas que se dizem “reformados”.[8] Este ensino está totalmente arraigado na tradição reformada, a interpretação de que o Batismo com o Espírito Santo é só o momento da conversão, e que são a mesma coisa sempre, é que é uma novidade que apareceu no século XX.[9]

Você pode achar que a conversão e Batismo com o Espírito Santo são a mesma coisa, mas não diga que este é um ensino reformado e que quem acredita diferente não é reformado.

NOTAS

[1] Citado em BANISTER, Doug. A Igreja da Palavra e do Poder (São Paulo: Vida, 2001), p. 204.
[2] Vd.: PACKER, J.I. Na Dinâmica do Espírito (São Paulo: Vida Nova, 1991), p. 22. “Esses calvinistas, que eventualmente criaram a igreja congregacional, davam muita ênfase a experiência religiosa, especialmente a experiência da conversão”. [MATOS, Alderi Souza de. “Os Avivamentos Norte-americanos”, em Ultimato (ano XXXIII, n°266- Viçosa, MG. Set/Out. 2000), p. 32].
[3]
Romanos (São Paulo: ABU, 2000), p. 284.
[4] Cheios do Espírito (São Paulo: Os Puritanos/Cultura Cristã, 1998), pp. 58-59 (Destaque dele).
[5]
O Supremo Propósito de Deus (São Paulo: PES, 1996) p. 271.
[6]
Para este assunto veja: LLOYD-JONES, D. Martyn. Os Filhos de Deus (São Paulo: PES, 2002), pp. 416-424.
[7]
Citado em BANISTER, Doug. p. 58 (Grifos meus).
[8] Lloyd-Jones dá uma farta lista de exemplos deste ensino em teólogos reformados em Os Filhos de Deus, pp. 443-465.
[9]
LLOYD-JONES, D. Martyn. O Supremo Propósito de Deus, pp. 259-260.

Fonte: Ortopraxia

segunda-feira, 28 de março de 2011

Como seria o mundo sem o Calvinismo?


Por Abraham Kuyper

Para provar isto, perguntem-se o que a Europa e a América teriam se tornado, se no século 16 a estrela do Calvinismo não tivesse subitamente nascido no horizonte da Europa Ocidental. Neste caso, a Espanha teria esmagado a Holanda. Na Inglaterra e Escócia, os Stuarts teriam executado seus planos fatais. Na Suíça, o espírito de indiferença teria prosperado. Os primórdios da vida neste novo mundo teriam sido de um caráter completamente diferente. E como seqüência inevitável, a balança do poder na Europa teria retornado a sua primeira posição. O Protestantismo não teria sido capaz de manter-se na política. Nenhuma resistência adicional poderia ter sido oferecida ao poder romanista conservador dos Hapsburgos, dos Bourbons e dos Stuarts; e o livre desenvolvimento das nações, como visto na Europa e América, simplesmente teria sido impedido. Todo o continente americano teria permanecido sujeito à Espanha. A história de ambos os continentes teria se tornado uma história muito triste, e sempre permanece uma questão se o espírito do Ínterim de Leipzig[1] não teria sido bem-sucedido, por via de um protestantismo romanizado, ao reduzir o norte da Europa novamente ao controle da velha hierarquia.

O Heroísmo do Espírito Calvinista

A devoção entusiástica dos melhores historiadores da segunda metade deste século à luta da Holanda contra a Espanha, um dos mais belos objetos de investigação, somente explica-se pela convicção de que se o poder da Espanha naquele tempo não tivesse sido quebrado pelo heroísmo do espírito calvinista, a história da Holanda, da Europa e do mundo teria sido tão penosamente triste e negra quanto agora; graças ao Calvinismo, ela é brilhante e inspiradora. O professor Fruin corretamente observa que: “Na Suíça, na França, na Holanda, na Escócia e na Inglaterra, e onde quer que o Protestantismo teve de estabelecer-se na ponta da espada, foi o Calvinismo que prosperou”.

O Cântico da Liberdade vira realidade, com o Calvinismo

Traga à memória que esta mudança na História do mundo não poderia ter sido realizada exceto pelo implante de outro princípio no coração humano, e pela descoberta de outro mundo de pensamento para a mente humana; que somente pelo Calvinismo o salmo de liberdade encontrou seu caminho da consciência perturbada para os lábios; que ele tem conquistado e garantido para nós nossos direitos civis constitucionais; e que, simultaneamente a isto, saiu da Europa Ocidental aquele poderoso movimento que promoveu o reavivamento da ciência e da arte, abriu novas avenidas para o comércio e negócios, embelezou a vida doméstica e social, exaltou a classe média a posições de honra, produziu filantropia em abundância, e mais do que tudo isto, elevou, purificou e enobreceu a vida moral pela seriedade puritana; e então julguem por si mesmos se expulsarão ainda mais este Deus dado pelo Calvinismo aos arquivos da História, e se é apenas um sonho imaginar que ele ainda tenha uma bênção para trazer e uma esperança brilhante para desvendar para o futuro.

O Calvinismo inspira a Vitória

A luta dos Boers[2] na Transvaal[3] contra um dos mais fortes poderes deve freqüentemente lembrar vocês de seu próprio passado. Naquilo que foi alcançado na Majuba,[4] e recentemente por ocasião do confronto de Jameson, o heroísmo do velho Calvinismo foi de novo brilhantemente evidenciado. Se o Calvinismo não tivesse sido passado de nossos pais para seus descendentes africanos, nenhuma república livre teria surgido no sul do Continente Negro. Isto prova que o Calvinismo não está morto – que ele ainda carrega em seus germes a energia vital dos dias de sua primeira glória. Sim, assim como um grão de trigo do sarcófago dos Faraós, quando novamente confiados a guarda do solo, traz fruto a cem vezes mais, assim o Calvinismo ainda carrega em si um poder maravilhoso para o futuro das nações. E se nós, cristãos de ambos os continentes, ainda em nossa santa luta, ainda estamos esperando realizar ações heróicas marchando sob a bandeira da cruz contra o espírito dos tempos, somente o Calvinismo nos equipa com um princípio inflexível, pela força deste princípio, garantindo-nos uma vitória segura, embora longe de ser uma vitória fácil.

Notas:
[1] Este Ínterim (provisório) foi feito em 1548 por Melanchton e outros sob o comando de Maurício da Saxônia. As cerimônias R. C. foram declaradas adiaphofron, e a “Sola” de Lutero foi evitada. Foi uma modificação muito mediadora do Ínterim de Augsburgo, imposto no mesmo ano. Ínterim significa “Acordo provisório”, neste caso entre os Católicos romanos e os Protestantes alemães.
[2]
A maneira correta de grafar é boere, plural de boer, fazendeiro, modo pejorativo de os ingleses se referirem aos descendentes dos holandeses na África do Sul.
[3] Kuyper faz referência à Guerra dos Boers, na África do Sul (1880-1902), na qual os descendentes de holandeses lutaram contra o Império Britânico para garantir a independência daquele país. Kuyper apela à semelhança daquele levante com a Guerra de Independência dos Estados Unidos (1776).
[4] Majuba: Essa cidade foi palco de derrota dos ingleses, em fevereiro de 1881, o que garantiu o auto-governo ao Transvaal (então república, mais tarde uma das províncias da África do Sul).


Fonte: Calvinismo, Abraham Kuyper, Ed. Cultura Cristã, págs.48-50 Via: Blog dos Eleitos

quinta-feira, 24 de março de 2011

Mulheres podem ser pastoras?


Por Thomas Schreiner

Se alguém me perguntar se as mulheres podem servir no ministério, minha resposta será sempre: “Sim, claro! Todos os crentes são chamados a servir e a ministrar uns aos outros.”

Mas eu responderia de forma diferente se a pergunta fosse feita mais precisamente: “Existe alguma função do Ministério em que as mulheres não podem servir?” Eu diria que o Novo Testamento ensina claramente que as mulheres não devem servir como pastores (que o Novo Testamento também chamadas superintendentes ou anciãos/presbíteros). Fica claro no Novo Testamento que os termos pastor, superintendente, e presbítero referem-se ao mesmo cargo (cf. Atos 20.17,28; Tito 1.5,7; 1 Pedro 5.1-2), e para o restante deste ensaio vou usar os termos “presbítero” e “pastor” indiferentemente para designar essa função.

A proibição de Paulo em 1 Timóteo 2.12

O texto fundamental que estabelece que as mulheres não devam servir como presbíteros é 1 Timóteo 2.11-15. Nós lemos no versículo 12: “Eu não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre homem.” Nesta passagem, Paulo proíbe as mulheres de se envolverem em duas atividades que caracterizam o ministério dos presbíteros: o ensino e o exercício da autoridade. Vemos isso nas qualificações para o cargo, entre outros lugares: os presbíteros devem ter a capacidade para ensinar (1Tm 3.2; 5.17, Tito 1.9, cf. Atos 20.17-34) e liderar a igreja (1Tm 3.4-5;). As mulheres são proibidas de ensinar aos homens e de exercer autoridade sobre eles e, portanto, segue-se que elas não devem servir como presbíteros.

Essa proibição vigora ainda hoje?

O mandamento de que mulher não ensine a homens ou exerçam autoridade sobre eles foi escrito estar em vigor ainda hoje? Muitos afirmam que Paulo proibiu as mulheres de servirem como presbíteros, porque as mulheres nos dias de Paulo eram iletradas e, portanto, elas não tinham a capacidade de ensinar bem aos homens. Argumenta-se ainda que as mulheres fossem responsáveis pela falsa doutrina que estava atrapalhando a congregação para a qual Paulo escreveu a carta de 1 Timóteo (1Tm 1.3, 6.3). De acordo com essa leitura, Paulo apoiaria mulheres servirem como “pastoras”, após serem devidamente instruídas a ensinar a sã doutrina.

A proibição é fundamentada na criação e não em circunstância

Estas tentativas de relativizar a proibição de Paulo devem ser julgadas falidas. Paulo poderia ter facilmente escrito: “Eu não quero que as mulheres ensinem ou exerçam autoridade sobre os homens porque elas são ignorantes”, ou “Eu não quero que as mulheres ensinem ou exerçam autoridade sobre os homens porque elas estão espalhando falsos ensinamentos.” No entanto, qual o motivo que Paulo realmente dá para o seu mandamento no versículo 12? O raciocínio de Paulo para o mandamento está no versículo seguinte: “Pois primeiro foi formado Adão, depois Eva” (v. 13). Paulo nada diz sobre a falta de educação ou sobre mulheres estarem promulgando falso ensino. Em vez disso, ele apela para a ordem da criação, para a boa e perfeita vontade de Deus ao formar os seres humanos. É imperioso observar que a referência à criação indica que o mandamento é uma palavra transcultural, uma proibição que é obrigatória para a igreja de todos os tempos e em todos os lugares. Ao dar esta proibição, Paulo não apela para a criação caída, às consequências que dizem respeito à vida humana como um resultado do pecado. Ao contrário, ele fundamenta a proibição na criação totalmente boa que existia antes de o pecado entrar no mundo.

O argumento da criação não pode ser descartado como culturalmente limitado. Além disso, o Novo Testamento contém muitos recursos semelhantes aos da ordem da criação. Por exemplo, a homossexualidade não está de acordo com a vontade de Deus, porque é “contrário à natureza” (Rm 1.26), isto é, que viola o que Deus pretendia quando ele fez o ser humano como homem e mulher (Gn 1.26-27). Da mesma forma, Jesus ensina que o divórcio não é o ideal divino uma vez que, na criação, Deus fez um homem e uma mulher, o que significa que um homem deve ser casado com uma mulher “até que a morte nos separe” (Mt 19.3-12). Assim, também, o alimento deve ser recebido com gratidão, pois é um dom da mão criadora de Deus (1Tm 4.3-5).

Em 1 Timóteo 2.11-15, Paulo especificamente fundamenta sua proibição das mulheres de ensinar e exercer autoridade, na ordem da criação, ou seja, que Adão foi feito primeiro e depois Eva (Gn 2.4-25). A narrativa de Gênesis é cuidadosamente calculada, e Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo, ajuda-nos a ver o significado de Eva ter sido criada depois de Adão. Críticos ocasionalmente objetam que o argumento não é válido uma vez que os animais foram criados antes dos seres humanos. Mas eles perdem o ponto de Paulo. Somente os seres humanos são criados à imagem de Deus (Gn 1.26-27), e, portanto, Paulo comunica a importância de Deus criar o homem antes da mulher, ou seja, que o homem é responsável por liderar.

Paulo dá uma segunda razão pela qual as mulheres não deveriam ensinar ou exercer autoridade sobre os homens em 1 Timóteo 2.14: “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” A argumentação de Paulo aqui não é que as mulheres são mais propensas ser enganadas do que os homens, porque em outro lugar, ele elogia as mulheres como professoras de mulheres e crianças (Tito 2.3, 2Tm 1.5; 3.14-15), que ele não recomendaria, se as mulheres, por natureza, estivessem propensas a serem enganadas. É provável que Paulo estivesse pensando mais uma vez no relato da criação, pois a serpente subverteu a ordem criada ao enganar Eva e não Adão (assim subvertendo a liderança masculina), embora, provavelmente, Adão estava com Eva quando ocorreu a tentação (Gn 3:6). O versículo 14 não ensina nada sobre as mulheres serem iletradas, o engano é uma categoria moral, já a falta de educação é sanada com a instrução.

O engano de Eva não pode ser atribuído à fraqueza intelectual, mas foi devido à sua rebeldia, o desejo de ser independente de Deus. Além disso, a referência ao engano aqui não indica que as mulheres de Éfeso, desempenhavam um papel fundamental na difusão de ensino falso, pois os falsos mestres nomeado em 1 Timóteo são todos homens (1 Tm. 1.20). Na verdade, se as mulheres tivessem sido proibidas de ensinar porque eram defensoras da falsa doutrina, temos a estranha e muito improvável situação de que todas as mulheres cristãs de Éfeso foram enganadas pelo falso ensino. Pelo contrário, o ponto de Paulo é que a tentação de Satanás sobre Eva, em vez de sobre Adão, subvertia a liderança masculina, pois ele tentou e enganou a mulher, mesmo estando Adão presente com Eva quando a tentação ocorreu. Na verdade, apesar de Eva ter sido enganada pela serpente primeiro, a principal responsabilidade pelo pecado caiu sobre os ombros de Adão. Isto é evidente em Gênesis 3, pois o Senhor fala primeiro com Adão sobre o pecado do primeiro casal, e isso é confirmado por Romanos 5.12-19, onde o pecado da raça humana é atribuída a Adão e não a Eva.

Em resumo, 1 Timóteo 2.12 proíbe as mulheres de ensinar ou exercer autoridade sobre os homens na igreja. Este mandamento é fundamentado na ordem da criação e é confirmado pela inversão de papéis que ocorreu a queda. Não é, portanto, um contexto cultural ou uma proibição limitada que já não se aplicaria às igrejas de hoje.

O testemunho de outras partes da Escritura

O que aprendemos sobre os papéis do homem e da mulher na criação

O que vemos acerca dos papéis de homens e mulheres no resto da Escritura confirma esta leitura de 1 Timóteo 2:11-15. O livro do Gênesis nos dá seis elementos que evidenciam a responsabilidade dada aos maridos na liderança do casamento: 1) Deus criou Adão primeiro e depois Eva, 2) Deus deu o mandamento de não comer da árvore a Adão e não a Eva; 3) Adão foi quem deu nome à “mulher” tal como ele deu nome aos animais, significando a sua autoridade (Gênesis 2.19-23) e 4) Eva é designada como auxiliadora de Adão (Gn 2.18); 5) A serpente enganou Eva e não Adão, assim subvertendo liderança masculina (Gn. 3.1-6) e 6) Deus veio a Adão em primeiro lugar, mesmo tendo Eva pecado primeiro (Gn 3.9, cf. Rm. 5.12-19).

O que aprendemos nos ensinamentos bíblicos sobre o casamento

Tal leitura do Gênesis se encaixa perfeitamente com o que encontramos sobre o casamento no Novo Testamento. Maridos têm a responsabilidade primária de liderança, e as esposas são chamadas a se sujeitar à liderança de seus maridos (Ef 5.22-33; Cl 3.18-19; 1 Pd 3.1-7). O convite à esposa para submeter-se não está fundamentado em meras normas culturais, pois uma mulher é convidada a sujeitar-se ao marido como a Igreja é convidada a submeter-se a Cristo (Ef 5.22-24). Paulo designa o casamento como um “mistério” (Ef 5.32), e o mistério é que o casamento espelha o relacionamento de Cristo com a Igreja. O mandato para homens servirem como pastores (e não mulheres), então, se encaixa com o padrão bíblico de liderança masculina e autoridade dentro do casamento.

É fundamental observar que um papel diferente para as mulheres não significa inferioridade das mulheres. Mulheres e homens são igualmente criados à imagem de Deus (Gênesis 1.26-27). Eles têm acesso igual à salvação em Cristo (Gl 3.28), e eles são co-herdeiros da grande salvação que é nossa em Jesus Cristo (1 Pd 3.7). Os escritores bíblicos não difamam a dignidade, inteligência e personalidade das mulheres. Vemos isso mais claramente quando reconhecemos que, como Cristo se submete ao Pai (1 Coríntios 15.28), assim as mulheres se submetem aos seus maridos. Cristo é de igual dignidade e valor com o Pai, e por isso a sua submissão não pode ser entendida como sinalização de sua inferioridade.

O que aprendemos em outras passagens sobre mulheres na igreja

O texto de 1 Timóteo 2.11-15 não é o único texto que exige um papel diferente para homens e mulheres na igreja. Em 1 Coríntios 14.33-36, Paulo ensina que as mulheres não devem falar na igreja. Esta passagem não proíbe as mulheres de falar qualquer coisa na congregação, Paulo até incentiva as mulheres a orar e profetizar na igreja (1 Coríntios 11.5). O princípio de 1 Coríntios 14.33-36 é que as mulheres não devem falar de tal maneira que se rebelem contra a liderança masculina ou tomem para si autoridade indevida, e este princípio corresponde com o ensino de 1 Timóteo 2.11-15 de que as mulheres não deveriam ensinar nem exercer autoridade sobre os homens.

Outro texto que aponta na mesma direção é de 1 Coríntios 11.2-16. Já vimos que Paulo nessa passagem permite que as mulheres orem e profetizem na assembléia. É imperativo ver que a profecia não é o mesmo dom do ensino. Estes dons são distintos no Novo Testamento (1 Coríntios. 12.28). Mulheres serviram como profetas no Antigo Testamento, mas nunca como sacerdotes. Da mesma forma, serviram como profetas no Novo Testamento, mas nunca como presbíteros. Além disso, 1 Coríntios 11.2-16 deixa claro que, ao profetizarem, elas deviam se adornar de tal maneira que demonstrasse que elas estavam submissas a uma liderança masculina (1 Coríntios 11.3). Isso se encaixa com o que temos visto em 1Tm 2.11-15. Mulheres não são as líderes da congregação, e, portanto, não devem ser reconhecidas como professoras e líderes. A questão fundamental em 1 Coríntios 11.2-16 não é o adorno das mulheres. Estudiosos não têm certeza, neste caso, se o adorno descrito representa um véu ou uma forma específica de usar o cabelo. Tal adorno era necessário na época de Paulo porque significava que as mulheres eram submissas à liderança masculina na igreja. Hoje, a forma como uma mulher usa o seu cabelo, ou se ela usa um véu, não significa que ela seja submissa à liderança masculina. Assim, devemos aplicar o princípio (mesmo não aplicando a prática cultural da época) no mundo de hoje: as mulheres devem ser submissas à liderança masculina, que se manifesta em não servir como pastores e mestres dos homens.

Conclusão

As escrituras ensinam claramente sobre o papel singular das mulheres na igreja e em casa. Elas são iguais aos homens em dignidade e valor, mas elas têm um papel diferente durante esta jornada na terra. Deus lhes deu muitos presentes diferentes com que podem ministrar para a igreja e para o mundo, mas elas não foram criadas para servir como pastores. O Senhor não deu seus mandamentos para punir as mulheres, mas para que possam servi-lo com alegria segundo a Sua vontade.

Fonte: iPródigo

Os 4 Pontos do Novo Calvinismo


Por Filipe Niel

No meu último post eu mencionei o tempo que passei em Orlando na conferência do ministério “The Resurgence”, e toquei brevemente na palestra do Pastor Mark Driscoll em que ele esboçou o que ele crê serem os 4 pontos do Novo Calvinismo. Vou aproveitar este espaço para apresentar em primeira mão as quatro marcas que Mark Driscoll acredita definirem este movimento sólido que vem sendo chamado de Novo Calvinismo.

Se você nunca ouviu falar sobre Calvinismo, eu te aconselho a ler este e este artigo. Se você nunca ouviu falar sobre o Novo Calvinismo, eu te aconselho a ler este e este artigo.

Agora que você já sabe o que é o Calvinismo e o que é este movimento que tem sido chamado de Novo Calvinismo, deixe-me apresentar os quatro pontos que o Driscoll crê serem os definidores deste movimento.

1. Teologia Reformada: Não sei se preciso explicar este ponto, mas por teologia reformada ele quer dizer os 5 solas (Somente as Escrituras, Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé e Glória Somente a Deus) e a cosmovisão da Reforma de que existe um Deus Todo-Poderoso e Soberano, que em sua soberania escolheu na eternidade passada aqueles que seriam salvos por sua graça. Este Deus misericordioso e justo, decidiu que seu próprio Filho pagaria pelos pecados daqueles que ele escolheu para serem salvos. Na cruz, Jesus Cristo recebeu os nossos pecados, e pelo dom da fé nos é imputada a justiça de Cristo. Somos salvos não por méritos nossos, mas sim pelo que Cristo fez na cruz em nosso favor. É óbvio que a Teologia Reformada não se restringe a este parágrafo, mas estas são as linhas gerais e essenciais da Teologia daqueles que fazem parte deste Novo Calvinismo. Se você quer ler mais sobre este assunto, recomendo que você leia este artigo.

2. Relacionamentos Complementares: Aqui o Driscoll defende que homens e mulheres são iguais em natureza e valor, mas possuem papeis diferentes tanto no lar quanto na igreja. O Novo Calvinismo é composto de Igrejas, Ministérios e indivíduos que entendem que a liderança da igreja e do lar foi desenhada por Deus para ser desempenhada por homens. Ao mesmo tempo este não é um movimento chauvinista que excluí e humilha a mulher, pelo contrário, é claro aos membros deste movimento que as mulheres não devem se submeter aos homens de uma forma geral, mas sim cada uma ao seu marido. Driscoll defende que à mulher é dado o título de ajudadora, título esse que apenas Deus e a mulher recebem em toda a Bíblia. Se você quer saber mais sobre este assunto, recomendo que você leia este e este artigo.

3. Ministério Cheio do Espírito Santo: Cada vez mais membros deste Novo Calvinismo adotam uma posição não cessacionista com relação aos dons espirituais, ou seja, cada vez mais adeptos deste movimento chegam ao entendimento de que dons como o dom de línguas ainda estão ativos e podem ser dados pelo Espírito aos crentes de hoje. Isso não significa que todos os Novos Calvinistas falem em línguas e nem que todos eles sejam não cessacionistas, (na mesma conferência o Dr. R. C. Sproul esteve presente e deixou claro que é um cesacionista) mas quer dizer sim que grande parte das pessoas deste movimento crê na contemporaneidade dos dons, e que dentro das regras estipuladas por Paulo em 1 Coríntios 14 os dons podem sim estar presente na igreja cristã de hoje.

4. Prática Missional: Em resumo, isso significa que nossa vida deveria ser intencional. A decisão de onde vamos morar, onde vamos comprar pão, sair para jantar e muitas outras decisões que tomamos deveriam ser tomadas com a intenção de espalharmos Cristo na cultura em que estamos envolvidos. Devemos ler a Bíblia e o jornal do dia, e então usarmos a Bíblia como lente da leitura do jornal e como fonte de explicação das notícias do jornal. Precisamos nos engajar na cultura em que estamos inseridos, lembrando que todas as igrejas são influenciadas pela cultura, a pergunta é pela cultura de qual Século a sua igreja está sendo influenciada? Esta é a visão do Driscoll e um dos pontos definidores deste movimento chamado Novo Calvinismo, se você quer saber mais sobre o que significa ser “Missional” recomendo que você leia este e este artigo.

Estes são os quatro pontos que o Driscoll apresentou como sendo as marcas do Novo Calvinismo, ele reconheceu que nem todos que são parte deste movimento compartilham dos quatro pontos, confessou que ele e a Mars Hill tem lutado para entender e aprender o que significa ser uma Igreja Cheia do Espírito, nos chamou a aprendermos com aqueles de quem discordamos e a mirarmos nossas armas para fora do “arraial” evangélico, naqueles que são verdadeiramente inimigos do evangelho.

Espero ter sido útil.

Fonte: FILIPE NIEL

quarta-feira, 23 de março de 2011

Corações em Chamas: A Piedade Reformada


Por Philip Ryken

O calvinismo é bastante conhecido e respeitado por sua teologia. Mas o que podemos dizer a respeito de sua piedade?

Algumas vezes nos é dito que calvinistas não são bons cristãos. De acordo com uma crítica: “Nada vai levar tanto ao orgulho e a indiferença como a afeição pelo calvinismo. Nada destruirá a santidade e a espiritualidade como o apego pelo calvinismo fará. As doutrinas do calvinismo irão destruir e matar tudo: oração, fé, zelo e santidade.”

Talvez seja verdade que alguns que se chamam calvinistas não sejam tão bons cristãos – os “chamados afastados” algumas vezes são mesmo chamados. Mas se eles não são bons cristãos, também não serão bons calvinistas, porque um verdadeiro entendimento da teologia reformada resulta em uma experiência cristã vibrante que irá encher a sua vida espiritual de vitalidade. Longe de esfriar o calor da piedade, as doutrinas da graça ajudam a causar crescimento.

Em nenhum lugar isso é tão claro como na vida de João Calvino, em toda sua paixão por Cristo. “Esforce-mo-nos”, escreveu Calvino em Golden Booklet of the True Christian Life, “para alcançar um alto grau de santidade até que cheguemos a perfeição da bondade que buscamos e perseguimos em vida, mas que só obteremos quando libertos da mentalidade terrena e sejamos admitidos por Deus em Sua comunhão.” Em outras palavras, nós devemos lutar por uma santidade contínua, mesmo se o objetivo não for alcançado, devemos nos esforçar até vermos o Senhor em Sua Glória.

O calvinismo é completamente comprometido com o calor da piedade pessoal porque é completamente comprometido com a Bíblia. Somente nas Escrituras, disse Calvino, “podemos encontrar a principal raiz da transformação de nossas vidas.”

É a Escritura que nos mostra o caráter justo de nosso santo Deus, e nos fala para sermos santos assim como Ele é santo (vide Lv 20.26; 1Pe 1.15)

São as Escrituras que nos ensinam a justiça requerida por Deus na sua santa lei. São as escrituras que proclamam o evangelho de Jesus Cristo, pois Ele se tornou nossa santidade pela fé (ver 1 Co 1.30). São as Escrituras que testificam da obra do Espírito, cuja santidade nos conforma a Cristo. E são as Escrituras que nos chamam para perseverarmos “na santidade sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14)

Também são as Escrituras que nos ensinam as doutrinas distintivas da teologia Reformada, comumente conhecidas como Calvinismo. Essas doutrinas não nos impedem de procurarmos por santidade, como muitas vezes é dito, mas na realidade nos impulsionam para uma vida de mais santidade. Mais ainda, essas doutrinas fazem da santidade um alvo totalmente possível ao basear nossa experiência de vida cristã na graça poderosa de nosso Deus.

Talvez a melhor doutrina para começar seja mesmo a depravação total. Como Calvino, calvinistas crêem que nada que façamos é completamente bom. O pecado distorceu todos os aspectos de quem somos. Nossas mentes, corações, vontades e até mesmo nossos corpos foram corrompidos pela nossa iniqüidade.

Essa doutrina pode não parecer muito encorajadora. Entretanto, o conhecimento do pecado nos leva ao arrependimento – que é o primeiro passo para a santidade. Somente quando vermos quão longe da santidade estamos, nós iremos a Deus por sua Graça. Só, e somente só, nós estaremos prontos para a obra justa que o Senhor requer. Não há santidade sem arrependimento, e não há arrependimento sem conhecimento do pecado. Ou seja, a doutrina da depravação total é fundamental para a santidade no evangelho.

A segunda doutrina distinta da fé Reformada é a eleição. Essa verdade ensina que o que acontece na nossa salvação é determinado por uma decisão prévia de Deus. Eleição é o decreto de Deus em amor por sua soberania para que nossa salvação não seja baseada em nada que façamos, mas somente em sua misericórdia. A graça de Deus é a escolha de Deus.

Críticos dizem que essa doutrina elimina qualquer incentivo para a santidade pessoal. Se fomos escolhidos por Deus desde a eternidade, nossa salvação está segura. Então por que se perturbar em viver uma vida justa?

Essa crítica é uma perigosa distorção daquilo que a Bíblia ensina. Longe de eliminar a necessidade da santidade pessoal, a doutrina da eleição nos chama para uma vida de santidade. Nós fomos escolhidos em Cristo justamente para o propósito da santidade.

Para ver isto, nós temos que seguir a lógica paulina do início de Efésios. Aqui, o Apóstolo agradece a Deus por ter nos escolhido em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4a). Mas por que Deus nos deu essa bênção? Qual foi seu propósito ao nos escolher em Cristo? É justamente para que nos apresentemos santos e irrepreensíveis diante dEle (Ef 1.4b)

A doutrina da eleição, então, é um chamado a santidade. Deus nos escolheu para sermos santos em Jesus. Paulo faz essencialmente o mesmo argumento em Romanos, quando diz que fomos “predestinados para sermos conforme a imagem de Seu filho” (Rm 8.29). Nós fomos chamados por Deus para sermos como Jesus, de acordo com seu padrão de justiça. Ao invés de nos tornar orgulhosos e presunçosos, a graça da predestinação é a base para nossa santificação.

A terceira doutrina distintiva é a soberania de Deus. Em uma certa extensão, todo cristão diz crer nessa doutrina. Entretanto, só os calvinistas têm uma compreensão boa da soberania de Deus, ao não limitar o controle de Deus sobre as escolhas humanas, mas crendo que Ele “preserva e governa todas as criaturas e suas ações” (Catecismo Breve de Westminster, Resposta 11)

Algumas pessoas dizem que uma visão tão grande da soberania de Deus elimina qualquer senso de responsabilidade humana, incluindo nossa responsabilidade para o crescimento espiritual. Mas o calvinismo entende que esta não é a lógica da Bíblia. “Desenvolvam a vossa salvação com temor e tremor”, Paulo escreve aos Filipenses (Fp 2.12). Mas com que base o apóstolo faz esta exortação? Seria por que tudo depende de nós, então devemos desenvolver nossa própria santidade? Nunca seremos completamente salvos?

Ao contrário, Paulo nos diz para desenvolvermos nossa salvação “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2.13). A obra graciosa de nosso soberano Deus estabelece a base para uma vida de serviço e devoção a Deus. João Calvino escreveu: “A santidade não é um mérito pelo qual nós alcançamos comunhão com Deus, mas um presente de Cristo, que nos capacita para nos inclinarmos a Ele e O seguirmos”

Finalmente a graça soberana de nosso Deus é base para uma vida de oração, que é o coração de toda vida piedosa. Oração não é o caminho para ganharmos algo que Deus não quer nos dar – ou um modo de fazermos Deus fazer algo que Ele não quer fazer. Ao invés disso, é um modo de rendermos nossa própria vontade ao propósito soberano de Deus. Nós oramos de acordo com as promessas de Deus, pedindo o que somente Ele pode fazer, e então esperamos que Ele responda. Somos todos calvinistas quando oramos, pois em oração nos submetemos à soberania de Deus, confiando em Seu plano gracioso para nossas vidas.

Fonte: iPródigo